A pesquisa é fruto de parcerias do Centro Tamar com a e Universidade de Exeter, no Reino Unido, Fundação Pró-Tamar, e conta com recursos do Funbio e programa GEFMar.
Sandra Tavares
sandra.tavares@icmbio.gov.br
Pesquisadores brasileiros, associados com a Universidade de Exeter, no Reino Unido, iniciam agora a fase de interpretação dos dados gerados após terem sido instalados quatro transmissores via satélite em tartarugas da espécie Dermochelys coriacea (de couro) em Regência, Linhares-ES, em novembro de 2017. Os próximos passos serão mapear as principais áreas de uso e rotas migratórias da espécie, também considerando informações de um estudo anterior quando outras três tartarugas-de-couro foram rastreadas na região (2005-2006).
Entre as análises e cruzamentos de dados que estão sendo realizados, estão insights sobre o comportamento internidal (período entre as desovas, onde as tartarugas geralmente ficam próximas à costa) e migrações pós-reprodutivas da espécie. Esses resultados são importantes para a definição das principais áreas de uso e ameaças as quais as tartarugas possam estar sujeitas. Outras informações ecológicas importantes envolvem a análise de dados de comportamento de mergulho e estratégias de forrageio (alimentação),e analise de isótopos que permite identificar por onde a tartarugas se alimentou, ou seja por onde ela passou antes desse monitoramento.
Segundo o Coordenador do Tamar, Joca Thomé, os dados, gerados ao longo desse tempo pelas 4 tartarugas-de-couro rastreadas, irão responder questões identificadas como prioritárias no Plano de Ação Nacional (PAN) para Conservação das Tartarugas Marinhas no Brasil, coordenado pelo Centro Tamar e executado por uma série de instituições parceiras.
“Estamos bem otimistas em relação a esses dados que a telemetria vem trazendo, pois o PAN conta com mais de 50 ações voltadas para a conservação destes animais no Brasil. Cabe à nós, Centro Tamar, juntamente com os parceiros e executores do PAN, identificar, mapear e caracterizar áreas de alimentação e de uso; avaliar a conectividade entre as áreas utilizadas pelas tartarugas marinhas e identificar áreas onde as tartarugas estejam sujeitas à ameaças como capturas incidentais em pescarias”, explica Joca. Tais dados também ajudam nas articulações internacionais para esses animais transfronteiriços.
Monitoramento -
As tartarugas, batizadas de Cabocla, Botocuda, Brenda e Fubica, foram rastreadas por até 8 meses, e pararam de emitir sinais em momentos distintos, desde a instalação dos transmissores, em novembro de 2017. Cabocla, por exemplo, foi rastreada por 71 dias. E durante o período internidal (período entre uma desova e outra – pois uma tartaruga marinha chega a fazer entre 3 e 4 desovas por temporada na mesma praia) permaneceu próxima a costa, gerando importantes informações sobre o uso do habitat e comportamento internidal. “Ela foi flagrada desovando após perder o transmissor, que pode ter enganchado numa rede, por exemplo”, frisa a pesquisadora Liliana Colman.
Já a tartaruga batizada de Botocuda foi rastreada por 110 dias e gerou importantes informações de comportamento internidal e de migrações pós-reprodutivas. Após deixar as praias do Espírito Santo, no final de dezembro/2017, ela se deslocou para mar aberto atravessando o Oceano Atlântico em sentido à África até parar de transmitir sinais, em março deste ano (2018).
Brenda transmitiu sinais por apenas quatro dias e foi vista desovando novamente sem o transmissor outras vezes durante a temporada. “Não sabemos o que pode ter acontecido com o equipamento, que pode ter se desprendido do animal, por exemplo”, frisa Liliana.
Já Fubica transmitiu sinais por aproximadamente 8 meses. “Uma informação importante é que durante a migração pós-reprodutiva esta tartaruga utilizou diversas áreas no Oceano Atlântico Sul, incluindo a área da Plataforma de Rio Grande, local com intensa pressão de pesca, e também a área econômica exclusiva pertencente a outros países, como o Arquipélago Inglês de Tristan da Cunha, localizado no Atlântico Sul. Isso mostra a variedade de ameaças a que estas gigantes dos mares estão sujeitas e a magnitude dos desafios para vencê-las”, frisou a pesquisadora doutoranda.
Histórico -
A pesquisa em andamento é fruto de parcerias com a Fundação Pró-Tamar, através de recursos do Funbio e programa GEFMar, e conta com bolsa de pesquisa do Programa Ciência sem Fronteiras, do CNPq – o que permitiu a parceria com a University of Exeter, no Reino Unido. O monitoramento teve início em novembro/2017 e contou também com o apoio da Rufford Foundation e British Chelonia Group.
O monitoramento integra a pesquisa de doutorado da bióloga Liliana Poggio Colman, pela Universidade de Exeter, na Inglaterra, intitulada "Ecologia e conservação das tartarugas-de-couro no Brasil”. O doutorado conta com financiamento do Programa Ciência sem Fronteiras, do CNPq, e executado sob orientação do Professor Brendan Godley, da mesma universidade, e um dos cientistas mais reconhecidos pelo uso da telemetria por satélite relacionada à ecologia migratória das tartarugas marinhas.
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