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Crime contra fauna choca população do sudeste do Pará
Com os detidos, polícia encontrou cabeças, patas e peles cortadas de felinos, como a onça pintada, e aves confinadas em gaiolas. Caso ocorreu no entorno da Flona de Carajás
Brasília (31/08/2016) – Uma operação na cidade de Curionópolis, sudeste do Pará, desbaratou esquema de caça ilegal e venda de partes de animais silvestres. Cerca de 30 homens do 23º Batalhão da PM, Grupamento Tático Operacional (TGO) e da Policia Rodoviária encontraram numa residência diversos animais abatidos, carcaças e aves em gaiolas, além de armamentos e munições.
O fato causou grande comoção na comunidade. Num freezer, havia cinco cabeças de onças pintadas, cinco couros com cabeças de onça pintada e uma de onça preta, 25 patas de felinos, outras partes e carcaças de várias espécies de felinos e de um jacaré e várias espécies de aves nativas mantidas em cativeiro.
Três pessoas foram presas em flagrante. Tudo indica que elas integram uma quadrilha especializada em tráfico de animais. Duas delas pagaram fiança e foram liberadas na segunda-feira (29). Apenas uma continua presa. Foram apreendidas ainda armas e munições e aplicadas multas que, somadas, chegam a 594 mil. O crime foi lavrado pela Delegacia de Parauapebas.
Sob custódia do ICMBio
O material de fauna apreendido ficou sob custódia do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e foi periciado pelo Centro de Perícia Cientifica Renato Chaves, na terça-feira (30). Em seguida, será preservado e liberado para aproveitamento cientifico em pesquisas e análises genéticas que podem contribuir para o conhecimento de populações de onças no Brasil e para educação ambiental. O Ibama, que conta com um serviço de inteligência, continua à frente das investigações para identificação e punição de outros envolvidos.
Um dos detidos relatou em depoimento à polícia que tinha o costume de caçar e que a caça era de um amigo. Porém, para o perito criminalista e as outras autoridades, o caso está ligado a tráfico ilegal de animais silvestres. “Temos um padrão de corte de cabeça, de couro com cabeça até a pata, temos patas, temos testículos, que nos induz a crer numa possível ação de biopirataria aqui na região. Além dos crânios dissecados, que servem como troféu", disse o perito.
Segundo a polícia, há prática de caça profissional na região, embora não existam estatísticas oficiais. Os órgãos ambientais e de segurança pública reconhecem que ocorre, também, abate clandestino de animais silvestres, provocado pela caça esportiva ou muitas vezes a mando de fazendeiros para defender seus rebanhos.
Caso de maior vulto
Ainda segundo os policiais, atos ilícitos desse porte, envolvendo animais ameaçados de extinção, como felinos, fogem a todos os casos já registrados na região. Para eles, este foi o maior crime contra a fauna já identificado no sudeste do Pará. Algumas áreas das unidades de conservação (UCs) da região de Carajás estão sob constante pressão populacional e rodeados fazendas e pastos, onde há remanescentes de florestas.
Para Frederico Drumond, chefe da Floresta Nacional (Flona) de Carajás, o crime extrapola, em muito, a caça de subsistência e proteção de animais de fazenda. “A quantidade de animais, os cortes de pele, as carcaças, as cabeças de uma espécie ameaçada de extinção preparadas para a venda mostram que o caso é mais grave. Até porque, no caso de felinos, como a onça pintada, na maior parte do tempo são animais solitários e territorialistas e 16 onças pintadas foram abatidas em um território muito grande, e não em uma pequena área de extensão”, disse ele.
Segundo Drumond, quando um animal como a onça pintada, que precisa de território grande para sobreviver, é retirada da natureza dessa forma há um impacto muito negativo, pois é uma animal que já tem população reduzida. “Embora exista a fiscalização, a proteção é insuficiente para combater as inúmeras ações de predar os recursos da floresta. Paralelamente ao trabalho de fiscalizar e punir, o ICMBio realiza um trabalho de conscientização. Se as pessoas se conscientizarem que essas práticas são erradas, a fiscalização não será necessária”, afirmou o chefe da Flona.
Comunicação ICMBio -
(61) 2028-9280 - com informações de Erika Sarmanho, do Centro de Visitantes do Mosaico de Carajás