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Criada primeira reserva para proteger uma única espécie aquática
Ninho da Tartaruga protegerá o cágado-do-Paraíba, um dos quelônios mais ameaçados do mundo
Ninho da Tartaruga protegerá o cágado-do-Paraíba, um dos quelônios mais ameaçados do mundo
Brasília (11/04/2016) – A luta contra a extinção de espécies ameaçadas acaba de ganhar mais um aliado: a Reserva Ninho da Tartaruga. Localizada às margens do rio Carangola, no município de Tombos, em Minas Gerais, a área foi adquirida com o objetivo de promover a conservação do cágado-de-hogei (
Mesoclemmys hogei
), também conhecido como cágado-do-Paraíba – um dos 25 quelônios (animais com casco) mais ameaçados do planeta.
A conquista é fruto do trabalho do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (RAN/ICMBio), em parceria com a Fundação Biodiversitas. A Ninho de Tartagura é a primeira reserva natural dedicada à preservação de uma única espécie aquática.
Desde 2008, o RAN estuda a população do cágado no rio Carangola. A comprovação de que essa população enfrentava um declínio crescente fez com que os pesquisadores do centro e da Biodiversitas buscassem estratégias de conservação da espécie. A apresentação da pesquisa em um encontro anual da Turtle Conservation Alliance (TSA), em agosto de 2015, chamou a atenção dos grupos de conservacionistas para o problema.
Envolvimento de vários parceiros
A proposta de criação de uma reserva foi, então, viabilizada pela Rainforest Trust, Wildlife Conservation Society e Turtle Survival Alliance, que financiaram a compra de cem hectares de terras no trecho de maior ocorrência do cágado, no rio Carangola. “Trata-se da primeira reserva dedicada a uma espécie da fauna dulcícola (de água doce) em nosso país”, informa a bióloga Gláucia Drummond, superintendente-geral e presidenta da Fundação Biodiversitas.
Marcos Coutinho, biólogo e pesquisador do RAN, disse que a reserva abrange 6 quilômetros do rio Carangola, em uma área-chave para conservação do cágado. O local, além de concentrar uma das últimas populações no rio Carangola, parece ser também um sítio de nidificação (feitura de ninhos) da espécie. “A criação da reserva permitirá o desenvolvimento de um trabalho de longo prazo, condição básica para a recuperação de estoques de espécies em declínio populacional”, enfatiza ele.
Outras instituições parceiras, como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG) e a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), têm contribuído para a conservação do cágado. Destaque especial vai para o Centro de Estudos Ecológicos e Educação Ambiental (Ceco-Carangola) e a Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG – Unidade Carangola).
Entidades criaram comitê de proteção
Desde 1992, essas duas instituições vêm exercendo papel fundamental na proteção do cágado na bacia do rio Carangola, apoiando pesquisas e sendo protagonistas na criação do Comitê Integrado de Proteção ao Cágado. “O Comitê Pró-Cágado visa promover a conservação da espécie por meio da prevenção e do combate às causas que ameaçam a espécie”, explica o presidente do Ceco e também diretor da UEMG-Carangola, professor Braz Cosenza, ao ressaltar que a criação da reserva tem uma enorme relevância regional, uma vez que irá contribuir para o melhor planejamento do uso do solo na bacia do rio Carangola.
Gláucia Drummond, da Biodiversitas, explica que as experiências em implantação de áreas protegidas demonstram de forma evidente que o relacionamento com as comunidades do entorno dessas áreas deve ser priorizado. “Não se faz uma reserva sem o apoio da comunidade local”, afirma ela, que já tem os pescadores da região como importantes aliados que entenderam sobre a importância da conservação da espécie e definiram áreas de exclusão de pesca no rio Carangola por serem locais de maior concentração dos cágados.
“Nossa intenção é promover a conservação, desenvolver o conhecimento científico e auxiliar a população local a se adequar às novas realidades, por meio de programas de Educação Ambiental, incentivo ao reflorestamento de nascentes, matas ciliares e corpos d’água, difundindo técnicas e métodos que possam ampliar e gerar alternativas de renda e melhoria da qualidade de vida da população da região”, completa a presidente da Biodiversitas.
O pesquisador Marcos Coutinho, do RAN/ICMBio, reforça a ideia, ao falar sobre a conservação do cágado-do-Paraíba. “A proteção e o manejo do habitat, associados ao estímulo à participação das comunidades local, traz uma esperança para a recuperação da espécie”, disse ele.
Políticas de proteção
Mesoclemmys hogei
, popularmente conhecido como cágado-de-hogei ou cágado-do-Paraíba, figura na lista nacional de espécies da fauna ameaçadas de extinção (Instrução Normativa do Ministério do Meio Ambiente, No 444 de 14 de dezembro de 2014. Trata-se do único quelônio de água doce ameaçado no Brasil, com risco de extinção considerado extremamente crítico.
O cágado-do-Paraíba está entre as espécies contempladas no Plano de Ação das Espécies Aquáticas Ameaçadas de Extinção da bacia do rio Paraíba do Sul – PAN-PS, coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais (Cepta) e pelo RAN, ambos vinculados ao ICMBio.
O rio Carangola é um dos sítios da Alliance for Zero Extinction ou Aliança para Extinção Zero (AZE), uma iniciativa global que tem como estratégia a proteção dos últimos refúgios de espécies ameaçadas de extinção.
Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280