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CPB estuda contato entre macacos-pregos no São Francisco
Hidrelétrica vira "ponte" para espécies irmãs, o que pode gerar híbridos
Victor Souza
victor.souza@icmbio.gov.br
Brasília (10/09/2013) – O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), acaba de realizar a primeira expedição de campo do projeto que estuda o caso de macacos-pregos que atravessam o rio São Francisco, entre os Estados de Alagoas e Bahia, utilizando pontes artificiais da Usina Hidroelétrica de Paulo Afonso (BA).
Intitulado “Efeito da implantação de conexão artificial por meio de barramento hidroelétrico nos padrões de deslocamento, dispersão e de possível hibridação em populações de primatas ameaçados de diferentes espécies”, o projeto nasceu de uma preocupação dos analistas ambientais do CPB quanto ao risco da geração de híbridos através do contato – possibilitado por estruturas artificiais como as barragens hidroelétricas – entre espécies irmãs de primatas cujos hábitats são separados pelo rio São Francisco.
“De modo geral, os grandes delimitadores das distribuições das espécies de primatas no Brasil são os médios e grandes rios. Assim, muitas vezes, encontramos espécies irmãs vivendo lado a lado, separadas apenas por um curso d’água”, cita o relatório sobre o projeto. “Em contato, essas diferentes espécies são capazes de gerar híbridos, comprometendo assim o valor de conservação dessas populações”, continua o documento, alertando que na Bahia há o macaco-prego-de-peito-amarelo ( Sapajus xanthosternos ), citado na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.
Apesar de registrar relatos consistentes, a expedição liderada por três analistas ambientais do CPB (Amely Martins, Marcos Fialho e Mônica Montenegro) não pôde comprovar o uso das pontes artificiais pelos primatas, mas realizou a captura de alguns deles, que foram examinados, submetidos à coleta de material biológico e marcados, para que pesquisadores locais possam acompanhá-los e identificar os padrões de movimentação desses animais.
Descoberta
Durante a expedição, houve uma descoberta na região. “Curiosamente, os animais encontrados não apresentavam o padrão fenotípico (fisionômicos) das espécies esperadas, no caso, macaco-prego ( Sapajus libidinosus ) do lado alagoano e macaco-prego-de-peito-amarelo na ilha de Paulo Afonso. Tudo leva a crer que se trata de uma população levemente diferenciada de macaco-prego-galego (Sapajus flavius), espécie que teoricamente só deveria estar presente em áreas de Mata Atlântica ao norte do rio São Francisco”, explica o relatório do CPB.
Segundo o documento, a confirmação do status taxonômico desaa população só será possível pelo uso de ferramentas moleculares, o que já está previsto para o doutorado de Amely Martins, coordenadora do projeto. “A realização de estudos genéticos é imprescindível para que se possa responder algumas perguntas fundamentais para a conservação dessas espécies, como questões relacionadas à identidade taxonômica ou sobre a existência de híbridos naturais”, salienta Amely.
Outra viagem, de maior duração, será realizada no mês de maio, a fim de coletar mais amostras de animais ao longo do Monumento Natural (Mona) do Rio São Francisco – Unidade de Conservação (UC) do ICMBio situada entre Alagoas, Bahia e Sergipe –, e para tentar confirmar a travessia dos macacos sobre o chamado “Velho Chico” através das pontes da Usina de Paulo Afonso, investigando os fatores que permitem que isso ocorra e como inibi-los.
Este trabalho de campo do CPB contou com a mobilização e a colaboração de diversas entidades, como a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), o Corpo de Bombeiros de Paulo Afonso, a Fundação Delmiro Gouveia (Fundeg), o ICMBio local (por meio do Mona do Rio São Francisco), além da participação dos pesquisadores da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Maria do Socorro da Silva e Wallace Batista.
Comunicação ICMBio
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