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De volta aos tempos das caravelas
Área preservada por unidades de conservação federais no fundo da Baía de Guanabara mantém características naturais da época do início da colonização
Elmano Augusto
elmano.cordeiro@icmbio.gov.br
Brasília (04/08/2016) – Percorrer canais, rios e manguezais da APA de Guapi-Mirim e da Esec da Guanabara é como voltar aos tempos das caravelas, no início do século XVI, quando os colonizadores portugueses desembarcaram na costa do Rio de Janeiro, diante de uma natureza intacta, pródiga e diversa.
A região permanece preservada como há 500 anos. Nem parece fazer parte da Baía de Guanabara, que ganhou fama nesses tempos de Olimpíadas pela sujeira e poluição da raia onde serão disputadas as provas de vela. Muito desse estado de conservação se deve ao esforço e dedicação dos servidores do ICMBio.
Já na saída do barco, na sede do Núcleo de Gestão Integrada (NGI) da APA/Esec, em Guapimirim, dá para se ver o resultado do trabalho de preservação realizado diuturnamente pelos servidores. O verde dos manguezais se espalha a perder de vista e delimita os estreitos canais que se formam ao longo do rio Guapi-Macacu, que desemboca na baía.
Durante o percurso, uma profusão de aves, de várias cores e tamanhos, faz a festa. Ao som do motor do barco, batem as asas, pulam de galho em galho, nas árvores mais altas.
“Nas duas unidades de conservação, já foram registradas 240 espécies de aves, 140 de peixes, 40 de mamíferos e 40 de répteis”, lista, de cabeça, Maurício Muniz, chefe da APA. “A região da APA e da Esec é a arca de noé da Baía de Guanabara”, emenda Kliton Serra, chefe da estação ecológica.
Dentre as aves, destaca-se o colhereiro, pernalta e de pescoço longo. O nome se deve ao formato de colher de seu bico. Com ele, a ave revolve o fundo dos ambientes aquáticos em busca de alimento, geralmente peixes, crustáceos, insetos e moluscos.
No período reprodutivo, o colhereiro exibe uma bela plumagem cor-de-rosa: quanto maior a ingestão de crustáceos, mais rosadas ficam suas penas. “Essa ave tem uma importância muito grande porque é um bioindicador, ou seja, a sua presença mostra que o ambiente está em boas condições de conservação. Ela só vive em áreas saudáveis”, avisa Klinton.
Toda essa mistura de rios, mangues, aves faz com que a região seja chamada de Pantanal Fluminense, numa comparação com o Pantanal Matogrossense, famoso pelas zonas úmidas repletas de pássaros e outros animais. Para ajudar mais nas semelhanças, há na APA jacarés-do-papo-amarelo, que costumam ser vistos mais comumente à noite.
Tudo isso leva as pessoas a quererem conhecer a região e estimula as atividades de visitação, que é permitida na APA. Assim, o Núcleo de Gestão Integrada (NGI) da APA/Esec estuda a adoção de um projeto de ecoturismo como uma forma de gerar emprego e renda para a comunidade. Pescadores e catadores de caranguejo da região já começam a ser treinados para atuar como condutores de visitantes. Afinal, ninguém melhor que eles para trilhar os labirintos formados pelos rios e desvendar as belezas naturais da região.
Se hoje o quadro é de harmonia e equilíbrio, houve um tempo, no entanto, em que esse paraíso natural incrustado no fundo da Baía de Guanabara correu perigo. Entre os anos 70 e início dos 80, antes de criação das unidades de conservação, a região foi alvo de desmatamento indiscriminado. Cerca de mil hectares de vegetação de mangue foram arrancados a golpes de facão e levados em caminhões para as olarias, onde viraram lenha para abastecer os fornos.
Adilson Fernandes, o Russo, o piloto do barco, lembra bem dessa época. “Trabalhava como motorista de caminhão, fazia o transporte da madeira. Vi muito mangue ser derrubado, virar carvão. Hoje, tô do outro lado, preservando os manguezais. Tô pagando meus pecados”, sorri ele, que é colaborador do ICMBio e atua na área de fiscalização da APA e da Esec.
Os manguezais da baía só tiveram sossego depois da criação das unidades de conservação. Com o trabalho de fiscalização que impede as ações de desmatamento, o mangue brotou de novo. Nesse processo, a natureza fez a sua parte, mas o homem deu uma forcinha. Os servidores do ICMBio, com o apoio de moradores e parceiros da região, promoveram o replantio de cem hectares de manguezais.
Comunicação ICMBio
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