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Começa nesta quarta subida ao Pico da Neblina
Expedição ao ponto culminante do País, protegido pelo parque nacional, no Amazonas, faz parte do projeto “10 picos, 10 travessias”, que integra as comemorações dos 10 anos do ICMBio
Ramilla Rodrigues
ramilla.rodrigues@icmbio.gov.br
Brasília (12/07/2017) – Na língua yanomami, yaripo quer dizer serra dos ventos. É assim que os indígenas dessa etnia se referem ao Pico da Neblina, o ponto culminante do País, com seus 2.995 metros de altura. Ele é considerado um local sagrado para os índios. Localizado no norte do Amazonas, na fronteira com a Venezuela e Colômbia, o pico faz parte da Cordilheira das Guianas.
O
Parque Nacional do Pico da Neblina
foi criado em 1979 com o objetivo de proteger a riqueza natural da região amazônica, que inclui também o Pico 31 de Março (2.974 metros de altitude), sendo uma atração muito visada por praticantes de montanhismo. No entanto, divergências com indígenas e agências de ecoturismo inviabilizaram as visitas desde 2003.
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O Parque Nacional do Pico da Neblina volta a receber montanhistas no próximo dia 12 (quarta-feira) para uma expedição experimental. Até o dia 24 de julho, haverá uma expedição que leva 5 dias até o topo do Brasil que faz parte do Projeto 10 Picos 10 Travessias, um dos eventos que celebra os 10 anos do ICMBio. Entre os objetivos, está a realização do monitoramento socioambiental e diagnóstico da trilha, com levantamento dos pontos críticos onde será necessária a instalação de melhorias para garantir a segurança dos visitantes quando o uso público for oficialmente.
São 23 participantes, dentre eles 13 indígenas e profissionais vinculados a instituições apoiadoras da proposta do ecoturismo yanomami. Eles chegarão a São Gabriel da Cachoeira no dia 12; no dia 14 é esperada a chegada à comunidade de Maturacá. No dia 24, está previsto o retorno do grupo. A Assembleia da Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes - AYRCA encerra as atividades, sendo o ecoturismo uma das principais pautas a serem discutidas, de 25 a 27 de julho.
“Este é um momento emblemático para o Parque. Além do turismo ecológico ser um dos objetivos básicos de um parque nacional, a proposta do ecoturismo foi iniciada com uma demanda do povo yanomami e é resultado de um trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos, coordenado pelos gestores da UC. É consequência de muito diálogo e da ação conjunta das comunidades e associações yanomami e de representantes das instituições parceiras", explica a gestora da unidade, Luciana Uehara. A ideia é que a atividade, que é parte de um esforço de trazer novamente o uso público ao Parque, reforce ao Ministério Público que o Parque está preparado para receber visitantes outra vez.
Reabertura ao turismo
Das 23 etnias indígenas que habitam a região conhecida como Cabeça de Cachorro, 13 (Baniwa, Baré, Carapanã, Dessana, Kobewa, Kuripaco, Tukano, Tuyuca, Werekena , Yanomami, Piratapuuya e Yepamasâ) habitam a região do Parque Nacional do Pico da Neblina.
Os yanomami atuavam como guias para agências locais de turismo que exploravam atividades sem autorização dos órgãos federais responsáveis pela unidade, que possui sobreposição com terras indígenas. O Ministério Público, atendendo às reivindicações dos índios, que alegavam ameaça à soberania e relações de trabalho injustas, suspendeu a visitação em 2003 até que um parecer assegurasse a autonomia ianomâmi.
Em 2012, o ICMBio criou o conselho gestor do parque, assegurando participação às representações indígenas, do Exército Brasileiro (por se tratar de área fronteiriça) e membros da sociedade civil. No ano seguinte, a equipe do parque implementou a Câmara Temática do Ecoturismo, com a finalidade de capacitar as comunidades locais quando a atividade de turismo fosse implantada.
A gestão do parque atua em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Instituto Socioambiental (ISA), a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo de São Gabriel da Cachoeira (Sematur), a Associação das Mulheres Yanomami - Kumirayoma e a Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (Ayrca).
Atualmente, essas organizações unem esforços para colocar em prática o plano de visitação da unidade, norteados pela Instrução Normativa (IN) nº 03/2015 da Funai que versa sobre atividade com fim turístico em terras indígenas, já que 70% do território do parque tem sobreposição com essas áreas. A gestão da UC pretende incorporar a iniciativa ao Plano de Manejo do Parque Nacional do Pico da Neblina e ao Plano de Gestão Territorial e Ambiental da Terra Indígena Yanomami, diretrizes que possibilitarão a gestão compartilhada do território.
As parcerias viabilizaram a capacitação dos indígenas para atuar no ecoturismo, respeitando e valorizando a cultura local, bem como a participação das mulheres e anciões. Os indios vão poder atuar como guias terrestres e condutores de visitantes, assim como na produção de alimentos e artesanato indígenas.
Os anciões poderão atuar como recepcionistas dos turistas, de modo que seus conhecimentos tradicionais enriqueçam ainda mais a experiência dos visitantes. “O ecoturismo é uma forma importante de geração de renda em atividades sustentáveis e foi uma demanda que partiu dos próprios indígenas”, comenta Uehara.
Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280