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Censo contabiliza 1.700 araras-azuis-lear
Publicado em
23/08/2018 19h30
Foi a primeira vez que o levantamento foi realizado nos cinco dormitórios utilizados pela espécie na região do Raso da Catarina, na Bahia.
Durante o período de 7 a 10 de agosto, pesquisadores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Cemave, Esec Raso da Catarina, Resex Canavieiras e APA Chapada do Araripe), da Fundação Biodiversitas, do INEMA e da Qualis Ambiental, além de 15 voluntários, realizaram o censo simultâneo anual da arara-azul-de-lear, na região do Raso da Catarina, Bahia. Essa união de esforços possibilitou, pela primeira vez, a realização do censo nos cinco dormitórios atualmente utilizados pela espécie: Serra Branca (localizada no sul da Esec Raso da Catarina), Estação Biológica de Canudos, Fazenda Barreiras, Baixa do Chico (Terra indígena dos Pankararés) e Barra do Tanque. “Isso possibilitou chegarmos a uma estimativa mais aproximada do tamanho real da população de araras-azuis-de-lear na natureza”, comemora Emanuel Barreto, analista ambiental do Cemave. A espécie é endêmica da caatinga.
O censo seguiu a metodologia padrão estabelecida pelo Cemave, com seis contagens a partir de um ponto fixo, sendo três ao amanhecer (quando as araras saem dos dormitórios para as áreas de alimentação) e três ao entardecer (quando elas retornam aos dormitórios) e totalizou um número médio de 1694 araras-azuis-de-lear. Para a Bióloga Tania Maria Alves da Silva, da Fundação Biodiversitas, “participar do censo é sempre uma mistura de emoção e expectativa na esperança de que o número de indivíduos esteja aumentando, o que felizmente é constatado a cada ano”.
Em todos os pontos de contagem estabelecidos havia pelo menos dois recenseadores munidos de binóculos, máquinas fotográficas e rádios de comunicação. De acordo com o analista ambiental Osmar Borges, da ESEC Raso da Catarina, “a comunicação entre os recenseadores é importante para evitar duplicidade de contagem, especialmente nos locais com grande concentração de araras”.
De acordo com o Biólogo Thiago Filadelfo, da Qualis Ambiental, uma decisão importante neste censo foi a inclusão do dormitório situado na Barra do Tanque, em Euclides da Cunha, pois ele possui característica diferente dos demais dormitórios. “É o único dormitório onde as araras dormem em árvores, um hábito comportamental desconhecido para a arara-azul-de-lear até pouco tempo”.
Marianna Pinho, especialista em Meio Ambiente e Recursos Hídricos, destacou a participação do INEMA no censo. “Para a Diretoria de Biodiversidade do INEMA, que participa do censo pelo segundo ano consecutivo, esta foi uma excelente oportunidade de envolvimento direto com a conservação da arara-azul-de-lear, considerando que a espécie é endêmica do estado da Bahia. A parceria com o ICMBio na execução desta atividade permite conhecer melhor a biologia da espécie, ter contato com representantes das instituições envolvidas e assim contribuir de maneira mais efetiva na conservação da espécie”.
O envolvimento de outras unidades de conservação do ICMBio, além da própria Esec Raso da Catarina, foi importante para fortalecer a parceria com o Cemave e outras instituições. Para Flávia Domingos, analista ambiental da APA Chapada do Araripe “participar do censo foi uma experiência enriquecedora e gratificante, tanto profissional quanto pessoal. Fiquei muito feliz por poder participar desse importante esforço para a conservação da espécie. Contribuiu ainda para o fortalecimento da relação entre o Cemave e a unidade de conservação proporcionando ambiente de aprendizado, troca e parceria”.
O censo também foi uma oportunidade de treinamento para voluntários cadastrados no Programa de Voluntariado do ICMBio. Para o estudante de Ciências Biológicas Ellie Pereira “o censo foi uma excelente oportunidade e o aprendizado será muito útil para minha carreira de Biólogo”. Para Patrick Avelino, estudante de Engenharia de Pesca, “quando recebi o convite para participar como voluntário não tive como recusar, pois, embora não seja minha área de atuação profissional, é um privilégio conhecer a arara-azul-de-lear e o ambiente onde ela vive”. Um dos voluntários mais antigos, Alex Frank, é um dos mais empolgados com o projeto de conservação da arara-azul-de-lear. “Já participei de vários censos e é muito gratificante participar desse trabalho e estar em contato com a natureza. Sou grato ao ICMBio por dar oportunidade a outras pessoas. Meu filho Israel participou no ano passado e este ano meu pai, que tem 70 anos, participou pela primeira vez”.
Endêmica da Caatinga
Endêmica da Caatinga
A arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) é uma espécie endêmica da caatinga, com ocorrência nas regiões do Raso da Catarina e do Boqueirão da Onça, no Bahia. Embora descrita em 1856, só foi descoberta na natureza no ano de 1978. Utiliza cavidades em paredões de arenito para pernoite e nidificação, partindo diariamente, ao amanhecer, para as áreas de alimentação. No final da tarde, os bandos retornam aos seus abrigos, chegando logo após o pôr do sol ou ainda mais tarde. Seu principal alimento é o coco da palmeira licuri (Syagrus coronata), mas também se alimenta de outros frutos e sementes da caatinga e de milho. A espécie é categorizada como Em Perigo de extinção e está contemplada no Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves da Caatinga.