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Cecav inicia inventário das cavernas do Parque Nacional do Pico da Neblina
Brasília (16/03/2011) – O Centro Nacional de Conservação e Pesquisa de Cavernas (Cecav), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), acaba de concluir o balanço da primeiro expedição de reconhecimento do patrimônio etnoespeleológico do Parque Nacional do Pico da Neblina, no Amazonas.
A expedição ocorreu entre os dias 8 e 19 de dezembro nas serras Quatá (complexo de serras Baruri, Paruri na língua Yanomami) e do Gavião (Moxihepiwei, na língua Yanomami), região do entorno da serra onde se localiza a parte mais alta do Pico da Neblina. Durante esse tempo, foram identificadas e cadastradas cinco cavernas ao longo de 60 quilômetros de linhas de prospecção.
O trabalho faz parte do projeto Levantamento Etnoespeleológico no Parque Nacional do Pico da Neblina, que teve início em 2010 e seguirá em 2011 com o apoio da Diretoria de Biodiversidade do ICMBio. Para este ano, estão previstas expedições à região do rio Maiá e Morro dos Seis Lagos, numa primeira tentativa de inventariar as cavernas da região do Alto Rio Negro, de extrema relevância devido à pouca existência de estudos espeleológicos nestas áreas.
O projeto Levantamento Etnoespeleológico tem o objetivo de gerar conhecimento sobre a ocorrência de cavernas dentro do Parque Nacional Pico da Neblina, para posteriormente propor medidas de proteção dessas cavidades e compor o etnozoneamento e o Plano de Manejo da Unidade, bem como registrar o etnoconhecimento dos Yanomami residentes nas comunidades próximas, seus mitos e histórias relacionadas a estas cavidades.
O projeto é desenvolvido por equipe multidisciplinar, composta por analistas ambientais do Cecav Cepam (Centro de Conservação e Pesquisa da Biodiversidade da Amazônia) e do Parque Nacional do Pico da Neblina, além de parceiros Yanomami, residentes nas comunidades de Maturacá e Ariabú, no interior do Parque, e conhecedores das cavidades existentes na região.
EXPEDIÇÃO – A expedição teve conhecimento e autorização das lideranças Yanomami durante assembléia realizada em julho de 2010, além de receber proteção espiritual do cacique Joaquim Figueiredo, em cerimônia simples, porém emocionante, na comunidade Ariabú. A proteção de deve à relação mítica que os Yanomami têm com as cavernas, locais sagrados e habitados por entidades espirituais que, avisadas da presença do homem branco, ajudam a garantir a segurança daqueles que irão explorar esses ambientes subterrâneos.
“Antes de sairmos em busca das cavernas, o cacique disse que deixou um sinal (uma luz) na cabeça de cada um de nós, para que fossemos identificados pelos espíritos. Assim, todas as cavernas do planeta onde haja esses espíritos receberão uma fumaça avisando que os exploradores irão com um sinal de luz na cabeça, para que não haja mal algum a eles”, disse a analista Marcia Barbosa Abraão, do Parna Pico da Neblina.
“O mais interessante é que nós, espeleólogos, historicamente exploramos cavernas com uma iluminação na cabeça, desde as antigas carbureteiras até as modernas e potentes lanternas de cabeça com leds, mas no momento do ritual sequer estávamos com essa iluminação ou comentamos sobre elas, ou seja, sem saber disso o cacique Joaquim nos apresentou ao mundo espiritual exatamente como os espeleólogos entram numa caverna", salientou o analista José Carlos Reino, do Cecav.
Diante de outras experiências do passado, mal sucedidas na divulgação indiscriminada de informações estratégicas, problemas com propriedade intelectual e de proteção ao conhecimento tradicional, a equipe envolvida no projeto vem trabalhando na elaboração de um documento-base com especial atenção ao uso, proteção, descarte ou revelação de dados geográficos gerados, de modo a proteger a confidencialidade de informações assim consideradas pelo Povo Yanomami.
Dessa forma, o projeto prevê a apresentação dos resultados obtidos de maneira compreensível aos indígenas, para então levantar eventuais riscos envolvidos na divulgação das informações, de modo que a decisão final quanto a sua divulgação seja tomada em assembléia representativa dos Povos Yanomami.
Ao final, espera-se que o material produzido possa dar origem a publicações que deverão ser feitas em português e Yanomami, já que a comunidade indígena pretende usar essas informações como material de consulta e aprendizagem nas escolas locais.
Ascom/ICMBio
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