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Brasil e Moçambique trocam experiências sobre pesca
Publicado em
26/08/2019 19h40
Atualizado em
27/08/2019 16h56
Comitiva visitou a Reserva Extrativista Marinha de São João da Ponta, a APA Costa dos Corais e o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene) de 13 a 21 de agosto.
Comitiva de Moçambique no Cepene em Tamandaré (Foto: Enrico Marone/Rare)
Brasil e Moçambique trocaram experiências sobre pesca durante às visitas na Reserva Extrativista Marinha de São João da Ponta, no Pará, e no litoral sul de Pernambuco na APA Costa dos Corais e o no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene). O intercâmbio de cooperação técnica envolveu o Ministério do Mar, Águas Interiores e Pescas de Moçambique, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), CONFREM e a Rare. De 13 a 21 de agosto, eles trocaram experiências e aprendizados sobre as Unidades de Conservação e o modelo de gestão participativa da pesca artesanal no setor costeiro e marinho brasileiro. O resultado foi uma troca importante de informações sobre os desafios e soluções para promover uma pesca de pequena escala mais consciente e sustentável.
Na Resex do Pará, a delegação moçambicana visitou os manguezais da Resex de São João da Ponta. O estuário do Amazonas e manguezais foram recentemente eleitos sítios Ramsar devido à importância deste cinturão verde para a conservação socioambiental e manutenção do equilíbrio climático global, já que os manguezais conseguem armazenar carbono até quatro vezes mais que florestas tropicais. Na sede da Associação Mocajuim, parceiros e lideranças comunitárias mostraram como é feita a gestão compartilhada da pesca nas unidades de conservação de uso sustentável. O pescador João Lima fez a demonstração do uso da basqueta para o transporte de caranguejos. Joaquim Tembe, do governo de Moçambique, considerou a prática de manejo muito eficiente por reduzir drasticamente a mortalidade de caranguejos. Segundo ele, a prática do uso da basqueta poderá ser adotada no país africano.
Os analistas ambientais do ICMBio explicaram como funcionam as unidades de conservação de uso sustentável, desde a criação das RESEXs, a definição dos seus limites e importância da gestão integrada através dos mosaicos de unidades de conservação, que considera a conectividade entre elas. O ICMBio disponibiliza hoje uma plataforma digital com inúmeros dados sobre as unidades de conservação brasileiras. O painel dinâmico pode ser acessado
aqui.
Conservação marinha na APA Costa dos Corais
No dia 17 de agosto, a comitiva chegou em Pernambuco para visitar o Centro de Pesquisas e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene). Lá, conheceram a APA Costa dos Corais, que é a maior unidade de conservação federal costeiro marinha do Brasil, que se estende por mais de 120 km pelo litoral de Pernambuco e Alagoas. Numa iniciativa pioneira no Brasil, foi delimitada uma área fechada no mar em frente ao Cepene, onde nenhuma atividade pode ser realizada, para promover a recuperação dos recifes e dos estoques pesqueiros. Pescadores locais são os fiscais desta área que tem 300 hectares e que existe há 20 anos. Mauro Maida e Beatrice Padovani, pesquisadores do UFPE e parceiros da Rare no projeto Pesca para Sempre, contaram sobre a importância da saúde dos recifes de coral para manter a sustentabilidade pesqueira no nordeste brasileiro. ⠀⠀⠀⠀
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Na colônia de pescadores de Tamandaré Z5, a comitiva pode ouvir dos coordenadores da campanha Pescar Conservar Prosperar, Severino Ramos e Cícera Estevão, suas experiências e resultados dos trabalhos com a lama de camarão na APA Costa dos Corais e a proposta de criação da Pró-Resex Rio Formoso. Ainda na colônia, Severino Santos, do Conselho Pastoral da Pesca (CPP), explicou como funcionam os benefícios sociais e a política de seguridade social como seguro defeso, aposentadoria e auxílio doença, garantidas ao pescador pelo governo brasileiro.
APA Costa dos Corais e a cidade de Tamandaré (Foto: Enrico Marone/Rare)
Peixe Boi Marinho - uma experiência bem-sucedida de conservação
A APA Costa dos Corais é o habitat dos peixes-bois marinhos. Analistas do ICMBio explicaram como funciona a gestão da unidade e a conservação do peixe-boi, que tem sido uma experiência bem-sucedida. O trabalho começou em 1994 e já reintroduziu 46 animais na natureza. Pescadores, capacitados para o turismo de base comunitária, levaram a comitiva para navegar no rio Tatuamunha, para observar os peixe-boi no rio. A iniciativa pioneira da Associação Peixe-Boi traz os pescadores para o lado da conservação e gera renda para mais de 50 famílias. Hoje a APA recebe mais de 1 milhão de visitantes por ano, criando oportunidades e desafios para compatibilizar os diversos usos na área. Em Moçambique, 20% da renda do turismo vai para as comunidades locais que promovem o ecoturismo.
Além de proteger o habitat desta mamífero marinho ameaçado de extinção, a APA garante os meios de vida para cerca de 20 mil pescadores e pescadoras artesanais. A campanha Pescar Conservar Prosperar, numa parceria entre Cepene, Instituto Recifes Costeiros e Rare, realizou o mapeamento da lama de camarão e o rastreamento dos barcos de pesca para promover o melhor ordenamento da pesca de camarões e assim garantir a sustentabilidade dos estoques. Após este rico intercâmbio técnico-científico, as boas práticas de pesca e gestão participativa do espaço costeiro e marinho no Brasil poderão ser replicadas em Moçambique, servindo como referência para um sistema de gestão compartilhada dos recursos pesqueiros. Todos juntos por uma pesca responsável.
Delegação de Moçambique, equipe da CONFREM e do ICMBio na sede da Rare em Belém (Foto: Rare)
A experiência de Moçambique
Moçambique é um país banhado pelo oceano Índico com um litoral que se estende por mais de 2.400 km. A pesca é uma importante atividade econômica no país sendo a pesca artesanal responsável por cerca de 90% da produção nacional de pescado, envolvendo 150 mil pescadores e 350 mil pessoas indiretamente neste setor. Por isso, o governo moçambicano tem investido esforços na iniciativa chamada pescador cidadão para garantir o acesso dos pescadores artesanais no sistema nacional de seguridade social. Com apoio da Rare já foram cadastrados mais de 1.500 pescadores, trazendo esta categoria de profissionais para a economia formal. Com isso, os contribuintes ficam mais resilientes aos desastres naturais decorrentes das mudanças climáticas como os ciclones Idai e Kenneth que assolaram o país em 2019.
Iniciativa da Rare
A iniciativa foi promovida pela Associação Rare do Brasil no âmbito do programa Pesca para Sempre. Participaram da missão as instituições brasileiras como CONFREM (Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos Extrativistas Costeiros e Marinhos); as Secretarias de Estado do Pará como Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (SEDAP), de Justiça e Direitos Humanos (SEJUDH), de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS), ICMBio/CEPENE e Instituto Recifes Costeiros (IRCOS). O governo moçambicano estava representado pela Administração Nacional de Pescas de Moçambique (ADNAP), Instituto Nacional de Desenvolvimento da Pesca e Aquicultura (IDEPA), Instituto Nacional de Investigação Pesqueira (IIP), Administração Nacional de Áreas de Conservação (ANAC), Direção Provincial de Pescas Sofala.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) relacionados:
Comunicação ICMBio
(61) 2028 9280
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