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Boa Nova é destino para observadores de aves
Parque na Bahia abriga 450 espécies, algumas endêmicas e ameaçadas
Parque na Bahia abriga 450 espécies, algumas endêmicas e ameaçadas
Sandra Tavares
sandra.tavares@icmbio.gov.br
Brasília (29/9/2015) - Na boa relação que mantém com a comunidade do entorno, o Parque Nacional (Parna) de Boa Nova , unidade de conservação administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no sudoeste da Bahia, descobriu a sua maior vocação: o turismo de observação de aves.
A visitação já ocorria na região antes mesmo da criação do parque e do Refúgio de Vida Silvestre (Revis) de Boa Nova , mas ganhou força com o surgimento das duas unidades de conservação, que têm o apoio dos moradores locais. Além dos banhos de cachoeira, a observação de aves atrai muita gente ao local.
Em 2012 o parque realizou, junto com as ONGs Save Brasil e Conservação Internacional (CI), curso de formação de condutores de visitantes e estruturou trilhas. "Instalamos sete placas metálicas com informações sobre os atrativos. Boa Nova é mundialmente famosa como destino de observação de aves, com registro de quase 450 espécies, algumas endêmicas e ameaçadas", explica Osmar Barreto Borges, analista ambiental e ex-chefe do parna.
Agora, a SAVE Brasil está implementando no parque o projeto Cidadão Cientista, que visa promover a observação e o monitoramento de aves no Brasil como ferramenta de conservação das espécies e seus habitats. A ideia é atrair a comunidade para esse tipo de atividade, de acordo com o conceito de ciência cidadã, que contribui para a formação de um grupo de aliados da conservação.
Ao todo são 4 grupos-piloto: a Reserva Natural Salto Morato (PR), por meio dos observadores de aves do Paraná; o Parque Estadual da Cantareira (SP), pelo Centro de Estudos Ornitológicos; o Parque Nacional da Tijuca (RJ), via Clube de Observadores de Aves do Rio (COA-RJ); e o Parque de Boa Nova, pelo Clube de Observadores de Aves da Bahia (COA-BA).
Segundo o analista ambiental Edson Ribeiro Luiz, analista ambiental que coordena essa pesquisa em Boa Nova, além dos monitoramentos realizados periodicamente junto aos grupos-piloto, esse projeto também promove ações de comunicação e articulação com a equipe da plataforma web eBird, gerida pelo Laboratório de Ornitologia da Universidade de Cornell (EUA), onde os dados coletados serão armazenados e disponibilizados ao público.
Apoio da comunidade
Recém-criada – a UC é de junho de 2010 –, desde o início Boa Nova conta com um forte apoio da comunidade local. Entre os avanços paulatinos e "modestos", segundo Osmar, que passou pela gestão do parque e hoje é lotado no Ministério do Meio ambiente, estão a instalação da sede, o desenvolvimento de ações de educação ambiental e o estabelecimento de um pelotão de brigada de prevenção e combate a incêndios florestais.
Ele aponta ainda outros avanços, como o monitoramento dos ilícitos ambientais em parceria com a Diretoria de Meio Ambiente do município de Boa Nova, a sinalização de trilhas e atrativos turísticos, a formação de condutores de visitantes, a implantação de viveiro de mudas e estabelecimento do programa de restauração florestal.
"Conseguimos promover a alocação de veículos e equipamentos de escritório e para a brigada. Todos esses avanços foram impulsionados por um frutífero trabalho de parcerias com a prefeitura municipal, governo estadual e ONGs que atuam na região", celebra Osmar.
Com o objetivo de otimizar recursos e pessoal, o parque atua em diversas frentes desde 2013, em estreita parceria com o Refúgio de Vida Silvestre (Revis) de Boa Nova, o que produziu avanços e evitou descontinuidade na gestão. "Operações de fiscalização, criação do conselho consultivo, regularização fundiária, educação ambiental são ações que têm sido executadas em conjunto com o Revis de Boa Nova", frisa Osmar.
Conselho e Plano de Manejo
O Conselho Consultivo do Parque Nacional de Boa Nova foi criado há pouco mais de um mês. A Portaria nº 40 foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) no dia 27 de agosto. Ele trata, também, da estruturação do conselho do Revis de Boa Nova.
O modelo de gestão do parque foi discutido regularmente no âmbito do Conselho Municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Boa Nova (Commarh), cujas sugestões eram sempre acatadas do ponto de vista técnico. "O Commarh contribuiu com discussões e ações relacionadas à educação ambiental, regularização fundiária, uso público e visitação na UC", relembra Osmar.
O parque, também, estabeleceu parcerias com universidades para a elaboração do Plano de Manejo (documento que orienta as várias formas de uso da unidade). Segundo Osmar, os resultados dos muitos projetos de pesquisa que estão sendo realizados na UC vão começar a ser publicados e certamente ajudarão a compor base de dados que facilitará a montagem do plano no futuro.
Proteção
O parque forma um arco sobre a cidade de Boa Nova e é cortado por inúmeras estradas vicinais, além da BR-030 (Brasília-Maraú). A sua área total é formada por terras que ainda não foram regularizadas e se encontram em mãos de proprietários privados.
Esse fator colabora para a prática de ilícitos ambientais. "Saídas frequentes de monitoramento e ao menos uma grande operação de fiscalização anual têm surtido efeitos positivos principalmente nos casos de combate ao desmatamento", explica o ex-chefe do parque, ao destacar também o trabalho da brigada anti-incêndio florestal.
Regularização
No interior do parque nacional, foram identificadas cerca de 200 propriedades com pelos menos 500 moradores. Com a população do entorno girando em torno de 12 moradores, a relação é, segundo Osmar, "muito boa".
"Já foi realizado um diagnóstico socioeconômico dos proprietários no interior do Parque e estão sendo cadastradas algumas propriedades-chave para serem indenizadas por meio de recursos de compensação ambiental e compensação de reserva legal", informa Osmar. Segundo ele, possivelmente as primeiras propriedades serão regularizadas até o final de 2016.
Educação ambiental
Abrangendo, principalmente, o município de Boa Nova e, também, as cidades de Manoel Vitorino e Dário Meira, o Parque Nacional de Boa Nova foi criado em 2010 em área com ambientes naturais bastante fragmentados. A UC conta com cinco polígonos separados unidos por quatro blocos do vizinho Revis de Boa Nova.
O parque participa regularmente dos programas educativos junto às escolas locais por meio da realização de palestras, de saídas de campo guiadas, de campanhas educativas, da distribuição de mudas e do acompanhamento de manejo do fogo nas propriedades.
"Participamos de eventos comemorativos da cidade, sempre numa perspectiva educativa. Tanto que contribuímos regularmente com matérias para o jornal local Gamboa", diz o ex-chefe do parque.
Pesquisa
O parque recebe constantemente equipes de pesquisadores, em geral interessados em sua riqueza biológica. "Acompanhamos as pesquisas prestando auxílio aos pesquisadores quando é possível. A produção de conhecimento sobre a sociobiodiversidade do parque é fundamental para basear as ações de gestão e para a projeção da importância da própria UC. Já foram inclusive descritas algumas espécies vegetais novas", garante Osmar.
No momento, pesquisadores coordenam um grande projeto de pesquisa botânica pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) com o Royal Botanic Gardens, Kew. Já foram descritas algumas espécies novas de plantas como resultado do projeto em Boa Nova. Outras pesquisas estão sendo realizadas sobre os insetos, em particular, formigas.
Espécies novas
Entre as espécies novas descobertas a partir de pesquisas desenvolvidas no Parque Nacional de Boa Nova estão Physeterostemon gomesii Amorim & R.Goldenb.(Melastomataceae), Pouzolzia saxophila Friis, Wilmot-Dear & A. K. Monro (Urticaceae) e Sobral & E.Lucas (Myrtaceae), todas espécies endêmicas do parque, ou seja, que só ocorrem lá.
Segundo a pesquisadora Lidyanne Aona, da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), existem, pelo menos, quatro espécies novas que estão sendo descritas a partir de coletas realizadas pelo projeto. "Os resultados estão sendo estudados em trabalhos de iniciação científica e de conclusão de cursos de alunos da UFRB. A expectativa é que essas pesquisas auxiliem na construção do inventário florístico do Parque Nacional de Boa Nova nos próximos três anos", frisa Aona.
Estudos vão de extração madeireira a formigas
No estudo "Concepções dos moradores do entorno do Parque Nacional de Boa Nova, Bahia, Brasil, sobre a preservação e conservação da biodiversidade, com enfoque na extração madeireira na região", de Pedro Filipe Menezes Cardoso analisa, por meio de entrevistas, as concepções sobre conservação da biodiversidade do ponto de vista de nove moradores do entorno do Parque. A pesquisa identifica as ações antrópicas (produzidas pelo homem), como a extração madeireira, e as relaciona com projetos de educação ambiental.
Nesse sentido, foi constatada a necessidade de se incentivar práticas de educação ambiental com o objetivo de promover as mudanças necessárias para combater a falta de conhecimento sobre a importância da conservação da biodiversidade. O estudo mostrou que, de modo geral, os moradores do entorno do parque estão respeitando as leis que proíbem a utilização e exploração de recursos naturais nas áreas pertencentes à unidade.
Em dois estudos produzidos por pesquisadores no Parque Nacional de Boa Nova, o foco são as formigas e o papel delas no ecossistema de mata de cipó, comum no sudoeste da Bahia, onde se localiza a unidade de conservação.
A pesquisadora Tamiris Andrade Nascimento, em seu trabalho "Na trilha das formigas do Parque Nacional de Boa Nova: uma estratégia de ensino para a construção de um novo olhar sobre a conservação da biodiversidade", teve apoio de alunos do 6º ano do ensino fundamental de uma escola municipal no município de Boa Nova. O objetivo foi verificar o potencial de ensino e aprendizagem sobre o estudo in situ (no local) sobre a biologia e comportamento das formigas, numa atividade de trilha realizada na unidade de conservação.
Os alunos aplicaram questionários, tiveram aula teórica preliminar e fizerem intervenções no parque. O estudo possibilitou um novo olhar dos estudantes em relação à conservação da biodiversidade e sobre a contribuição das formigas para esse fim, além do enfoque de que é satisfatória a utilização de unidades de conservação no ensino e aprendizagem.
O pesquisador Anselmo Souza está estudando comunidades de formigas em diferentes fitofisionomias do parque. Estudos sobre esses animais no bioma Mata Atlântica, sobretudo na região sudoeste da Bahia, ainda são escassos.
A proposta é investigar comunidades de formigas - consideradas um dos melhores grupos de invertebrados bioindicadores para avaliação e monitoramento ambiental – buscando compreender qual o papel delas como dispersores secundários de sementes, modificando a distribuição inicial de sementes efetuada por dispersores primários e como elas influenciam na distribuição espacial das populações de plantas.
Já no estudo "Macrofauna associada à bromélia terrícola Aechmea bromeliifolia (rudge) baker na Mata de Cipó de Boa Nova, Bahia, Brasil", Vanderlan Sousa Santos verificou a diversidade e abundância de famílias de macroinvertebrados associados à bromélia terrícola Aechmea bromeliifolia em um fragmento de Mata de Cipó no entorno do Parque Nacional de Boa Nova.
Macroinvertebrados são animais que não possuem vértebras visíveis a olho nú e que habitam o fundo dos rios, debaixo de pedras, nos caules de plantas aquáticas, e são uma importante fonte de alimento para os peixes. Estes organismos são os mais abundantes nos rios e incluem vários grupos de animais, como anelídeos, crustáceos, moluscos, sendo os insectos os mais representados. Os pesquisadores costumam usar com padrão o fato deles ficarem retidos numa rede fina de aquário (malha entre 0,2 mm e 0,5 mm).
Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280