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Brasil e Argentina reforçam parceria na gestão de parques
Publicado em
08/06/2016 16h57
Atualizado em
08/06/2016 22h08
Objetivo é aprimorar ações conjuntas nos parques nacionais do Iguaçu e do Iguazu, unidades de conservação vizinhas, com atenção especial às populações de onças-pintadas
Brasília (08/06/2016) - Nessa terça-feira (7), o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Cláudio Maretti, e outras autoridades ambientais do Brasil e da Argentina deram mais um importante passo para aprofundar o intercâmbio entre profissionais que atuam no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná e administrado pelo ICMBio, e no Parque Nacional do Iguazu, localizado em solo argentino e gerido pela Administración de Parques Nacionales (APN).
O compromisso de parceria foi firmado durante o encontro Conservação sem Fronteiras: áreas protegidas próximas a limites internacionais, promovido pelo WWF-Brasil, por meio do Programa de Conservação da Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos no Corredor Binacional do Parque Nacional do Iguaçu e Parque Nacional do Iguazu. Além do ICMBio, o evento contou com a parceria da APN, da Fundación Vida Silvestre Argentina e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Esse trabalho conjunto entre os países vizinhos já está rendendo bons frutos, como a pesquisa científica que vem sendo realizada pela bióloga brasileira Marina Xavier e seu colega argentino Agustín Paviolo sobre a onça-pintada – ou yaguareté, a depender de que lado da fronteira eles estão trabalhando. Eles se interessam pela distribuição, comportamento, fatores genéticos, tudo o que envolve a espécie.
Maior carnívoro da América do Sul
A onça-pintada é o maior carnívoro da América do Sul, o terceiro maior felino vivente do mundo e o único representante do gênero Panthera (que inclui leões, leopardos e tigres) no continente americano. A perda e a extensa fragmentação dos seus hábitats, somada à caça, têm causado grandes prejuízos às populações da espécie.
Os dois pesquisadores também têm em comum o fato de estudarem esses felinos em um dos últimos remanescentes da Mata Atlântica, na ecorregião do Alto Paraná, que engloba os dois parques nacionais, o do Iguaçu, no município de Foz do Iguaçu, no Brasil, e o Iguazu, na província de Missiones, na Argentina. Ambos locais de ocorrência das onças, separados apenas pelo rio que dá nome aos parques, mudando-se apenas uma letra na grafia da palavra.
Mariana atua na área desde 2009 por meio do Projeto Carnívoros do Iguaçu, pelo lado brasileiro, e Agustín, desde 2003, por meio da iniciativa IBS/Ceiba, da Argentina. Esta união é apenas uma mostra de como a cooperação técnica e científica entre os dois países pode gerar resultados valiosos para o meio ambiente comum.
Carta de intenções
Uma carta de intenções assinada pela administração dos parques nacionais de ambos os países estreitou os laços da cooperação. Isso significa que nos próximos anos os profissionais ligados às duas unidades de conservação atuarão de modo estratégico para que a gestão dessas áreas protegidas siga a trilha da convergência.
Isso vai implicar em intercâmbios cada vez mais frequentes e profundos, um plano operacional comum e na harmonização de seus planos de manejo. A meta é olhar também para o entorno dos parques, envolvendo comunidades, empreendimentos e políticas públicas que possam influir na proteção das áreas naturais.
Trata-se de uma experiência sem precedentes no Brasil e que pode influir o trabalho em conjunto de outras unidades de conservação que compartilham áreas naturais com outros países, como é o caso do Parque Nacional do Tumucumaque, no Amapá, que faz divisa com a Guiana Francesa e compartilha biodiversidade e problemas comuns.
“No caso do Brasil e da Argentina, vários fatores contam a favor. Ambos os parques são Patrimônios Naturais Mundiais, reconhecidos pela Unesco, órgão vinculado à Organização das Nações Unidas, já têm histórico de trabalharem juntos e pouca assimetria em termos institucionais”, lembrou um estudioso das iniciativas internacionais que envolvem áreas protegidas contíguas, Pedro da Cunha Meneses, que participou do encontro.
Na América Latina existe somente um caso de parque em que a gestão está repartida entre dois países. É o Parque Internacional La Amistad, na divisa entre Costa Rica e Panamá. No mundo todo, eles somam 31 unidades que atuam desta maneira.
Além das fronteiras
“No caso dos parques brasileiros, não precisamos necessariamente de um status transfronteiriço. Se tivermos um bom plano de manejo comum às duas unidades, com enfoque de ações bem definido, compartilhamento técnico e compromissos institucionais, já conseguiremos fazer um bom trabalho”, sinalizou o presidente do ICMBio, Cláudio Maretti.
Para a coordenadora do Programa Mata Atlântica do WWF-Brasil, Anna Carolina Lobo, além de ter um foco claro no compartilhamento da gestão dentro das UCs, é preciso também lançar um olhar para o entorno dos parques nacionais. “Não adianta proteger o interior das unidades de conservação se do lado de fora existe um avançado processo de degradação ambiental e social”, disse.
Segundo ela, o caminho é incentivar a união dos esforços científicos, mas também estimular negócios sustentáveis nas cercanias dos parques nacionais, envolver as universidades e escolas públicas para promoção de um debate qualificado e integrar as comunidades ao processo de gestão das áreas.
Comunicação ICMBio – (61) 2028-9280 – com WWF-Brasil (Nathália Helena Enlarge e Jaime Gesisky)