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Apoio à produção extrativista sustentável
A quarta reportagem da série dos 10 anos do ICMBio traz ações socioambientais, com destaque para o projeto de beneficiamento de castanha e açaí das mulheres da Resex do Rio Cajari (AP)
Ramilla Rodrigues
ramilla.rodrigues@icmbio.gov.br
Brasília (24/08/2017) – No sul do Amapá, próximo ao rio Cajari, a economia das comunidades locais é impulsionada, sobretudo, pelo extrativismo de produtos florestais como a castanha e o açaí. Acidentes como quedas e ataques de animais peçonhentos fazem do trabalho uma atividade perigosa, delegada majoritariamente aos homens da comunidade.
No entanto, de uns dez anos para cá, com o apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em especial da Reserva Extrativista (Resex) do Rio Cajari, localizada nos municípios de Laranjal do Jari e Mazagão, na mesorregião sul do estado, essa realidade está mudando.
Antes, ganhar o “seu dinheirinho” era um sonho improvável para muitas mulheres que não acreditavam em obter sucesso na coleta da castanha tanto quanto os homens. Para outras, foi preciso ganhar coragem para empreender quando tentativas anteriores não vingaram.
Associações criadas
A partir de 2009, o ICMBio, recém-criado, passou a ajudar as mulheres da localidade a se organizaram em associações com o objetivo de tornar o beneficiamento da castanha uma atividade lucrativa e estimular políticas que favorecessem a geração de renda e trabalho para elas, de forma a alterar seu contexto social e econômico.
Assim, foram formadas duas associações: a Associação de Mulheres Moradoras e Trabalhadoras da Cadeia de Produtos da Sociobiodiversidade no Alto Resex Cajari (Amobio) e a Associação das Mulheres do Alto Cajari (Amac).
No início, a castanha era vendida in natura (
foto abaixo
) sem qualquer processo de beneficiamento que agregasse valor e aumentasse o preço do produto final. “A única fábrica de beneficiamento era insuficiente para atender às demandas da comunidade”, conta o chefe substituto da Reserva Extrativista do Rio Cajari, Raimundo Nonato Gomes.
Inclusão no PAA
Com o apoio da Resex, esse quadro começou a mudar. Primeiramente, as extrativistas foram capacitadas a participar do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que busca combater a fome e a desnutrição ao mesmo tempo em que fortalece a agricultura familiar e os pequenos produtores. Desse modo, as mulheres extrativistas conseguiram criar as condições para transformar a castanha-do-brasil em biscoitos e bombons.
Atualmente, as extrativistas comercializam parte dos produtos fabricados na Resex. Além dos biscoitos e bombons, a produção inclui açaí, cará e outros gêneros alimentícios para entidades cadastradas por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os alimentos também podem entrar nos itens da cesta básica distribuída pelo Governo e como parte da merenda escolar das crianças em mais de trinta escolas públicas.
Como consequência, as mulheres da Resex do Rio Cajari obtiveram melhoria na renda e maior participação no processo produtivo. O faturamento bruto anual, por pessoa, saltou de R$ 3 mil em 2009 para R$ 6,5 mil em 2014. Não houve só aumento na produção, mas o incremento de outros derivados da castanha (bombons) e também a elevação média no valor dos produtos, ampliando ainda mais a renda das trabalhadoras.
“É uma expectativa de vida para as mulheres e é uma lástima quando não podemos cadastrar trabalhadoras devido às limitações do contrato”, conta a representante da Amobio, Miranilce Araújo. Outro grupo, a AMAC, produziu vídeo contando como ocorreu todo esse processo da inclusão das extrativistas na produção (
Clique aqui para assistir
).
Parceria decisiva
O ICMBio atuou como um grande parceiro em todo esse processo, auxiliando tanto na articulação das associações quanto na elaboração das propostas do Projeto Carbono Cajari, que impulsionou a produção sustentável local, além de contribuir para a aproximação das associações com órgãos governamentais, como no caso do PAA. “Estimulamos muito a participação feminina, a valorização da mulher e o seu empoderamento numa comunidade que ainda é muito patriarcal”, afirmou o chefe da Resex.
O trabalho é reconhecido pelas extrativistas, o que aproxima ainda mais a unidade de conservação das populações que residem no seu interior ou no entorno. “Temos o ICMBio como um grande parceiro na construção, esforço e consolidação da Amobio e também da produção que temos hoje”, ressaltou Miranilce.
O ICMBio prestou apoio técnico no sentido de organizar o extrativismo na região com o mapeamento dos castanhais, possibilitando a população ter conhecimento do potencial produtivo da castanha-do-brasil e consequentemente extrair frutos de melhor qualidade sem agressões desnecessárias ao meio ambiente. A sensação da comunidade é que há o acesso cada vez maior à quantidade e qualidade de castanha do que em períodos anteriores.
Novos aliados
As mulheres extrativistas de castanha são apenas um dos vários casos de sucesso que o ICMBio construiu ao longo dos seus dez anos. O trabalho, principalmente a estrutura de fomento e elaboração de diretrizes da produção sustentável, é de responsabilidade da Coordenação de Produção e Uso Sustentável (Coprod/CGPT), da Diretoria de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial em UCs (Disat).
A expectativa é ampliar o fomento às iniciativas de produção sustentável por meio de parcerias com outras instituições públicas e do terceiro setor, como o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid).
Em maio, o ICMBio, junto com a Usaid, Funai e o Serviço Florestal Americano (USFS), promoveu uma oficina para planejar a inserção da castanha no mercado varejista. O objetivo foi o de diversificar mercados para as produtoras, de modo a diminuir a dependência do mercado institucional.
“As oficinas de cadeia de valor buscam investir não apenas na cadeia de produção, mas também para melhorar a variação dos preços ao longo da cadeia econômica, buscando ampliar os benefícios econômicos para as populações”, explica o coordenador da Coprod, João da Mata.
Neste mês de agosto, em conjunto com o IEB, o ICMBio promoveu o encontro Formar Castanha, primeiro curso de manejo comunitário desse produto florestal.
A Coordenação de Produção e Uso Sustentável do ICMBio também colabora com informações técnicas sobre editais de fomento como o Ecoforte 1 e 2, que são promovidos pela Fundação Banco do Brasil. Além disso, estimula a participação no recente edital lançado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de R$ 150 milhões para produção sustentável.
Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280