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Analista do ICMBio narra a emoção de inaugurar a travessia
Paulo Faria, da Coordenação de Uso Público, participou do grupo de caminhantes
Brasília (24/06/2003) – O analista ambiental Paulo Faria, da Coordenação de Uso Público do ICMBio, em Brasília, fez parte do grupo de 20 pessoas que participou da caminhada inaugural da trilha Sete Quedas. Ele compartilhou todos os momentos da jornada de 23 quilômetros, dormiu no acampamento montado ao lado das Sete Quedas e, como os demais membros do grupo, não escondeu, ao final, a emoção de ter vivenciado essa experiência. Leia, seguir, o seu relato da aventura no Cerrado.
"Começamos a chegar ao Centro de Visitantes do parque pouco antes das 7h do sábado (22), com o dia já claro. Revisamos os equipamentos e o trajeto que percorreríamos, alongamos os músculos e articulações que seriam exigidos nos próximos dois dias, assinamos os termos de conhecimento de risco (protocolo do passeio), pegamos nosso guia de bolso, que nos orientaria na travessia, e seguimos para o início da aventura.
Éramos 20 caminhantes, de diversas idades e condições físicas, divididos em dois grupos – os dez que optaram em andar num ritmo mais rápido seguiriam na frente, capitaneados por mim, e os dez que optaram caminhar mais vagarosamente, seguiriam logo atrás, guiados pela Carla Guaitanele, chefe do parque. A idéia era reduzir os grupos, para melhorar a interação com a natureza.
O grupo, no geral, era heterogêneo – colegas do ICMBio, condutores locais de turismo, jornalistas que fariam reportagem sobre a aventura inaugural da trilha, parceiros locais, estrangeiros em sua primeira incursão pelo cerrado brasileiro, atletas profissionais e outros amigos do parque nacional, todos ansiosos pela aventura.
Uns seguiriam com mochilas cargueiras, com todo o equipamento de camping, suprimentos, primeiros socorros e instrumentos de navegação, outros apenas com uma mochilinha de ataque com suprimentos, já que suas barracas seriam montadas no camping por profissionais de São Jorge, que podem ser contratados para isso, aliviando a carga da caminhada e tornando a travessia mais leve.
Começamos o percurso em trajeto sobreposto à trilha dos cânions, caminhando cerca de quatro quilômetros até o Cânion 1. Lá, os dois grupos se encontraram e curtiram o primeiro banho no rio Preto, com direito à vista incrível do cânion e à exibição de papagaios e periquitos e de um casal de araras-canindé.
Logo depois, partimos rumo ao rio Preto, quatro quilômetros à frente. O trajeto é entremeado de veredas e cerrados rupestres. Seguimos por trechos paralelos ao rio até que nos deparamos com o primeiro desafio do dia – a primeira travessia do rio. Tiramos os calçados e fizemos a travessia tranquilamente, já que o nível da água fica baixo nesta época do ano. Mesmo assim, a turma não resistiu e investiu em mais um mergulho.
Após essa breve pausa, seguimos para a trilha das Fiandeiras, trilha histórica da época do garimpo, por onde a travessia das Sete Quedas segue até próximo à área de camping, oito quilômetros à frente. Esse é o trecho mais longo da caminhada e não conta com água fresca disponível para consumo. Por isso, antes de seguir em frente, aproveitamos para reabastecer nossas garrafas d'água ainda no rio Preto.
Nesse trecho, enfrentamos o sol mais forte, já que se aproximara do meio-dia, e um suave declive que nos acompanharia por quase todo o trecho. Esse declive, inimigo das nossas pernas, acabou nos presenteando com um dos visuais mais belos de toda a travessia – à medida que subíamos, o vale do rio Preto ia se revelando, com a visão das Sete Quedas e com os famosos morros do Buracão e da Baleia crescendo ao fundo.
No meio do caminho das Fiandeiras, ainda paramos para o almoço-lanche, em um dos poucos pontos com sombra neste pedaço da aventura. Lá, cerca de 12 quilômetros do início da trilha, muitos já apresentavam sinais de cansaço e puderam aproveitar um pequeno riacho, com a água já quase parada, para recarregar as baterias.
Quilômetros à frente, chegamos ao fim da trilha das Fiandeiras e ao trecho que nos levaria à área de descanso, depois da subida mais íngreme de todo o percurso (apenas 50 metros, mas que, pelo esforço que exige de nossas pernas, é como se fosse cem vezes mais longo). Atingimos, então, o labirinto de rochas esculpidas pela ação do vento e da água, e, seguindo a sinalização da travessia, desembocamos no camping das Sete Quedas aproximadamente às 14h, onde armamos nossas barracas. O segundo grupo levaria aproximadamente mais uma hora para nos encontrar no local.
Extasiados pela beleza da paisagem e com alguns colegas já bem cansados, o final do primeiro dia de caminhada nos brindou com as águas do rio Preto, onde podemos, desta vez, aproveitar, mais tranquilamente, para tomar banho, dar um bons mergulhos. Com o cair da tarde, pude apreciar um dos mais belos pores-do-sol que já vi em minha vida, compartilhado com todos os parceiros e parceiras de caminhada de cima da cachoeira das Sete Quedas, onde subimos, a partir do camping, por uma pequena trilha.
Com a chegada da noite, as rochas que permeiam a área de camping viraram mesas. O jantar foi regado a causos contados pelos integrantes do grupo que moram na região e iluminado pela maior lua cheia do ano, a chamada superlua, provocada pela maior aproximação do satélite com o planeta Terra. A temperatura agradável, com leve brisa e o barulho de cachoeiras ao fundo, embalaram nossa noite de sono.
No domingo (23), com o nascer do sol, já estávamos de pé, levantando acampamento para o início do segundo dia de caminhada. Após degustarmos um café da manhã bem reforçado, nos despedimos das Sete Quedas com uns mergulhos nas piscinas naturais. E seguimos para cumprir o trecho que exige muito esforço, com três quilômetros de subida. O ritmo foi reduzido, já que muitos colegas estavam bastante cansados.
Na subida, sempre que olhávamos para trás, podíamos nos despedir do vale do rio Preto e da aventura incrível, que terminaria algumas horas depois no Posto da Mata Funda, base avançada do Parque Nacional, onde um carro do ICMBio nos apanharia, para levar de volta ao Centro de Visitantes, de onde havíamos saída para a caminhada no dia anterior.
A trilha ainda seguiria por mais três quilômetros por uma estrada, com a vista incrível do Jardim de Maytréa e dos morros da Baleia e Buracão. O trecho deve ser percorrido apenas a pé pelos grupos de trilheiros, mas, por ser um passeio inaugural e com logística própria, quebramos o protocolo para acelerar nosso retorno à base.
Algumas bolhas nos pés, pequenas arranhões, cansaço físico e pele queimada de sol não foram suficientes para atrapalhar o sentimento de missão cumprida. Os novos amigos levariam consigo, além de belas fotografias, o mais importante: recordações de uma aventura que marcou a abertura de uma das mais belas travessias da região central do país."