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Acordo trará 50 ararinhas-azuis para o Brasil
Publicado em
25/06/2018 17h35
Atualizado em
26/06/2018 17h54
Ministro do MMA assinou memorando de entendimento neste domingo na Bélgica.
Cinquenta ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) – extinta na natureza há quase duas décadas – deverão migrar em breve da Alemanha para o Brasil, para compor a população que vai repovoar o sertão baiano a partir de 2019. O acordo para que isso aconteça foi assinado neste domingo (24) pelo ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, com organizações conservacionistas da Bélgica (Pairi Daiza Foundation) e da Alemanha (Association for the Conservation of Threatened Parrots), numa reunião na Bélgica, onde estão quatro das 158 ararinhas-azuis existentes hoje no mundo – todas elas em cativeiro.
A previsão é que os animais estejam em território nacional no primeiro trimestre de 2019. “A assinatura desse documento é um marco histórico da luta pela preservação das espécies”, afirmou Duarte. No dia 28 de junho, Edson Duarte participará da inauguração do Centro de Preparação para Reprodução e Reintrodução da Ararinha-Azul em Berlim, na Alemanha, criado especialmente para preparar as ararinhas-azuis para o retorno ao Brasil.
Para que os animais sejam recebidos no país, a ACTP e o Pairi Daiza irão construir também um centro de reintrodução da espécie no município de Curaçá (BA), na unidade de conservação criada neste mês pelo governo. A parceria entre instituições privadas nacionais e internacionais e o governo brasileiro tem viabilizado diversas ações previstas no Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação da Ararinha-azul, que tem como objetivo o aumento da população manejada em cativeiro e a recuperação e a conservação do habitat de ocorrência da espécie.
A transferência das aves deve ocorrer no primeiro trimestre de 2019 – uma vez que o centro estiver pronto – e as primeiras solturas poderão ser feitas a partir daí. “Até 2022 esperamos ter a ararinha-azul reintroduzida com sucesso na natureza”, diz a veterinária Camile Lugarini, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e responsável pelo Plano de Ação Nacional para Conservação da Ararinha-Azul.
Será um processo cauteloso. As primeiras solturas serão feitas em conjunto com maracanãs (Primolius maracana), uma outra espécie, com hábitos semelhantes aos da ararinha – ambas, por exemplo, utilizam ocos de caraibeira (ipê-amarelo) para fazer seus ninhos. Antes de desaparecer, o último macho de ararinha-azul chegou a formar par com uma fêmea de maracanã.
Pesquisadores do ICMBio, em parceria com a população local, vêm estudando o comportamento das maracanãs para aprender mais sobre a espécie e, com base nisso, planejar a liberação e o monitoramento das ararinhas que estão por vir. “Acredito que muito do que estamos aprendendo com as maracanãs servirá para a ararinha-azul”, aposta Camile. A criação das áreas protegidas era essencial, mas ainda é necessário arrumar a casa para receber as araras, ressalta. A paisagem é muito impactada pela criação de cabras, que interferem com a cobertura vegetal da qual as aves dependem para fazer seus ninhos e se alimentar.
As 50 aves que virão ao Brasil estão sob a guarda da Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP), uma organização privada sem fins lucrativos que hoje mantém 90% das ararinhas-azuis em cativeiro do mundo – após o fechamento de uma instituição no Catar, que transferiu seu plantel para Berlim no início deste ano. “É uma responsabilidade enorme”, disse Martin Guth, presidente da ACTP, que pagará pelo novo centro de criação e reprodução na Bahia.
Produzir as aves não será problema, garante o diretor científico da associação, Cromwell Purchase, que está ansioso para iniciar a reintrodução. “Todas as peças estão começando a se encaixar, do jeito que a gente sonhava. É fantástico".
Sobre as ararinhas
Descoberta no início do século 19 pelo naturalista alemão Johann Baptist von Spix, e exclusiva da Caatinga brasileira, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) teve sua população dizimada pela captura e tráfico de animais silvestres. O último exemplar conhecido na natureza desapareceu em outubro de 2000, e até hoje não se sabe se morreu ou foi capturado por alguém. Desde então, os poucos exemplares que restaram em coleções particulares vêm sendo usados para reproduzir a espécie em cativeiro. Quase todos no exterior. A ararinha é endêmica da Caatinga e considerada uma das espécies de aves mais ameaçadas do mundo. Em 2000, a espécie é classificada como Criticamente em Perigo (CR) possivelmente Extinta na Natureza (EW), restando apenas indivíduos em cativeiro.
Naturalmente rara, a ararinha só existia originalmente numa pequena região do interior de Juazeiro e Curaçá, no norte da Bahia, onde o governo federal criou no início deste mês duas unidades de conservação: o Refúgio de Vida Silvestre (com 29,2 mil hectares) e a Área de Proteção Ambiental da Ararinha-Azul (com 90,6 mil hectares), destinadas à reintrodução e proteção da espécie e para conservar o bioma da caatinga. Um centro de reprodução será construído no local para receber as 50 araras da Alemanha e produzir os filhotes que serão liberados na natureza.
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Com informações do Estadão e do MMA
Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280