Notícias
Ações para proteger primatas da Amazônia
Bioma, cujo dia é celebrado nesta terça-feira (5), é o principal nicho de descobertas de macacos nos últimos trinta anos. Entre eles, estão três espécies criticamente ameaçadas de extinção
Ramilla Rodrigues
ramilla.rodrigues@icmbio.gov.br
Brasília (05/09/2017) – O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é responsável por mais de 60 milhões de hectares na Amazônia, distribuídos em 125 unidades de conservação. Além das ações de proteção, o ICMBio vem alcançando, por meio de seus centros nacionais de pesquisa, resultados importantes na pesquisa da biodiversidade do bioma.
O Brasil é o país com maior diversidade dos primatas do mundo, sendo que 16% das espécies conhecidas se encontram em solo brasileiro e é na Amazônia o principal polo de pesquisa do grupo. Só nas últimas três décadas, uma espécie nova de primata é descoberta no bioma por ano. Mas as espécies enfrentam pressões: caça de subsistência, perda de habitat e doenças causadas pelo contato com os humanos são alguns dos desafios que tornam os primatas amazônicos cada vez mais ameaçados.
Sob coordenação do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação dos Primatas Brasileiros (CPB) e com a parceria do Centro Nacional de Pesquisa da Biodiversidade Amazônica, o ICMBio implantou na região o Plano de Ação Nacional (PAN) dos Primatas Amazônicos. “É um grande salto, pois os primatas eram o último grande grupo de animais que ainda não tinha um plano de ação bem definido”, explica o coordenador do CPB, Leandro Jerusalinsky.
O PAN, elaborado em maio, congrega 15 espécies de primatas amazônicos ameaçados, dentre eles o cuxiú preto (
Chiropotes satanas
) e o caiarara ka’apor (
Cebus kaapori
), este último constado na lista dos 25 primatas mais ameaçados do mundo. O Plano congrega diretrizes para planejar o ordenamento territorial a fim de diminuir pressões por habitat e promover o crescimento da população e também estudar como as mudanças climáticas podem afetar os animais. “Também temos a necessidade de estudar doenças que afetam os primatas, como o recente surto de febre amarela e parasitas nos animais causados pela poluição da água pelo esgoto dos seres humanos”, conta Jerusalinsky.
Sauim-de-coleira
Outra espécie bastante ameaçada é o sauim-de-coleira (
Saguinus bicolor
). Na última avaliação, o pequeno primata endêmico da região de Manaus foi classificado como criticamente em risco de extinção, ou seja, a categoria de maior risco para espécies selvagens. Desde 2011, o ICMBio possui um Plano de Ação Nacional (PAN) da espécie, que é coordenado pelo CPB. “O PAN do Sauim de Coleira é um caso de grande sucesso, pois já conseguimos atingir 2/3 das ações planejadas somente no primeiro ciclo”, explica Jerusalinsky. Além das ações de viabilidade da população e da formalização de um corredor ecológico na região de Paraquequara (ligando dois locais com populações relevantes da espécie), o ICMBio atua também na conscientização ambiental.
O sauim-de-coleira é uma espécie com território bastante restrito e basicamente vive na área metropolitana de Manaus, a 11ª mais populosa do país. Por esse motivo, o Centro Nacional de Pesquisa da Biodiversidade Amazônica (Cepam) também atua na educação ambiental. O Cepam promove um projeto que consiste em exposição fotográfica nas escolas da rede municipal de Manaus abordando a biologia do primata e as principais ameaças. “Neste momento, trabalhamos a sensibilização dos alunos. A arte é uma forma de atingir nosso objetivo e fazer com que os estudantes reflitam sobre a responsabilidade da conservação”, diz a responsável pela educação ambiental do Cepam, Íris Alves.
Diversidade
A Amazônia é uma das regiões com maior diversidade de primatas no mundo, abrigando cerca de 20% de todos os táxons descritos do grupo, incluindo – total ou parcialmente – a distribuição de 16 espécies ameaçadas de extinção em nível nacional (três Criticamente em Perigo, três Em Perigo e 10 Vulneráveis), oito Quase Ameaçadas e 13 com Dados Insuficientes para sua adequada avaliação.
Tem-se ainda que tal riqueza não é suficientemente conhecida, como se depreende pelo fato de que neste bioma têm se concentrado as descobertas de novas espécies e de que a região ainda abriga áreas de acesso bastante difícil para realizar investigações sobre limites de distribuição ou aspectos ecológicos dos primatas, por exemplo.
Por outro lado, a crescente pressão sobre a região amazônica, com extensões de áreas desmatadas que já superam os 20% da cobertura florestal original e numerosos projetos de infraestrutura planejados ou em implantação, ameaça diretamente a sobrevivência das populações de primatas.
Considerando que a perda e a fragmentação de habitats têm sido elencadas como as principais ameaças para a biodiversidade e que os primatas neotropicais são essencialmente arborícolas, não chega a surpreender a concentração de táxons ameaçados no chamado Arco do Desmatamento, situado na porção sul e leste da Amazônia brasileira.
Em países vizinhos, tais como Peru, Colômbia e Venezuela, os impactos se repetem ou são ainda mais graves, aumentando os riscos aos numerosos primatas amazônicos que compartilhamos. Neste contexto, as UC e outras áreas protegidas (por exemplo, Terras Indígenas) presentes na região são, certamente, importantes refúgios que poderão contribuir para a sobrevivência dessas espécies.
O papel destas áreas é ainda mais relevante pelo fato de, até o momento, apenas um primata amazônico ameaçado estar enfocado por um Plano de Ação Nacional específico para sua conservação – o sauim-de-coleira, Saguinus bicolor –, enquanto os demais carecem de estratégias específicas consolidadas.
Esforços para compilação e geração de dados sobre primatas em áreas protegidas da Amazônia têm revelado, além da persistência de uma série de lacunas de conhecimento nos mais variados campos – taxonomia, ecologia, manejo, uso, etc. –, a existência de um descompasso entre o volume de informações gerado, e o que tem sido consolidado em publicações científicas ou, principalmente, disponibilizado aos gestores de áreas protegidas e outros tomadores de decisões.
Primatas em UCs
O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB), em parceria com outros Centros e UCs do ICMBio e com o apoio de universidades e instituições de pesquisa, vem desenvolvendo desde 2009 o projeto "Primatas em Unidades de Conservação da Amazônia".
Conhecido como Puca, o projeto reúne primatólogos do ICMBio em todas as Unidades de Conservação (UCs) com a finalidade de gerar informações para gestão das unidades. Desde 2009, o grupo atua em expedições gerando publicações científicas sobre a situação dos primatas em 15 UCs.
”O Puca também trabalha no sentido de gerar informações sobre espécies classificadas como ‘Dados Insuficientes’, o que nos permite conhecer mais sobre a conservação de espécies”, diz o coordenador do CPB, Leandro Jerusalinsky. Com as informações, o Puca já subsidiou planos de manejo e programas de monitoramento de espécies e também o PAN Primatas Amazônicos.
A iniciativa tem como objetivo inventariar e monitorar a diversidade de primatas com ocorrência em UC da Amazônia Legal e diagnosticar a situação dessas populações, visando subsidiar a avaliação do estado de conservação das espécies, a elaboração de planos de ação para a conservação dos táxons ameaçados de extinção e a criação e gestão das UC por meio de informações e orientações para seus planos de manejo, por exemplo.
Como resultados desse projeto, já foram realizadas atividades em 15 unidades de conservação em praticamente todas as regiões da Amazônia, redescoberta a espécie de sauim
Saguinus fuscicolis cruzlimai
, amplaiada a distribuição conhecida de cinco espécies de primatas (
Aotus vociferans, Callimico goeldii, Saguinus imperator, Callicebus purinus, Callicebus dubius
), publicada cartilha de protocolos para coleta de dados sobre primatas em UC da Amazônia, além de diversos artigos científicos e resumos em congressos.
Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280