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A arte de unificar conhecimentos
Publicado em
05/12/2018 18h45
Atualizado em
07/12/2018 16h17
Seminário do Programa Monitora abre diálogo de saberes para monitoramento da biodiversidade.
Ramilla Rodrigues
ramilla.rodrigues@icmbio.gov.br
Monitorar a biodiversidade é um conjunto de atividades que permite avaliar as respostas de populações e ecossistemas às práticas de conservação e aos impactos sofridos pela natureza e assim criar estratégias de conservação.
Essas práticas não são aprendidas apenas na letra dos livros ou na Academia. Os pesquisadores podem aprender muito com a forma com que as populações tradicionais percebem e utilizam os recursos ambientais. São casos que ocorrem em diversas unidades de conservação: às vezes, é com a sabedoria dos anciões e dos pajés, que os pesquisadores conseguem resultados mais significativos para seus estudos. Eles conhecem como, quando e onde encontrar as espécies-alvos de um monitoramento.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) está inserido neste modelo participativo de monitoramento. Sob essa ótica, começou nesta terça-feira (4), o I Seminário Ciclo de Construção Coletiva dos Aprendizados e Conhecimentos do Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade, em Brasília (DF). O evento vai até quinta-feira (6) e conta com gestores de UCs, representantes de órgãos governamentais, pesquisadores e comunitários que realizam práticas de monitoramento participativo. O Seminário faz parte do Programa Monitora, criado em 2011 pelo ICMBio como um aprimoramento do modelo de monitoramento que começou em 2007, com a criação do Instituto.
O Seminário traz palestras, painéis, mesas redondas dialogadas e apresentações temáticas ligadas ao monitoramento da biodiversidade e tem o propósito de aproximar as experiências nas mais de 90 unidades de conservação que realizam o monitoramento participativo.
O monitoramento participativo se ancora em diversas teorias e práticas da Etnobiologia, que é o ramo da biologia que realiza uma ponte entre o conhecimento acadêmico e as culturas visando a aplicação científica dos saberes cultivados por populações tradicionais. “Todos nós aprendemos e geramos conhecimento. Quem vive nos lugares, quem pesca, quem caça, quem coleta também têm o seu conhecimento com sistematização e forma de transmissão diferentes. Buscamos a arte de unir esses conhecimentos e entendendo que todos são válidos”, diz a Coordenadora Geral de Pesquisa e Monitoramento da Biodiversidade (CGPEQ/DIBIO), Kátia Torres. “Precisamos de fóruns, linguagem adequadas e a conexão para consolidar esses conhecimentos e que eles tragam resultados para a gestão”, complementa.
O Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) é parceiro do ICMBio desde 2014 no monitoramento. Eles auxiliam o ICMBio na implementação dos protocolos de monitoramento junto aos gestores, parceiros e comunitários. Eles realizam essa atividade tanto em protocolos já existentes quanto apoiam na construção de protocolos complementares, que é como são chamados os que são construídos juntos à comunidade.
“Há cinco anos estamos gerando informações e o Seminário traz as várias experiências e discute as melhores técnicas e ferramentas para trabalhar as informações com as comunidades locais para a construção coletiva do conhecimento. Com essa sistematização, podemos trabalhar como elas podem gerar ganhos de gestão”, avalia a coordenador do IPÊ, Fabiana Prado.
O caso das tartarugas-cabeçudas
A tartaruga-de-cabeça-grande do Amazonas (
Peltocephalus dumerilianu
) é uma espécie de quelônio que vive no Pará, Amazonas e Roraima. O cabeçudo, como o réptil também é chamado, foi uma das espécies-alvos do monitoramento da equipe do professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Juarez Pezzutti. O trabalho foi realizado no Parque Nacional do Jaú na metade da década de 90. “Essa era uma espécie difícil de capturar usando as técnicas tradicionais que os biólogos aprendem na faculdade então fomos atrás de como os habitantes locais trabalhavam”, conta Pezzutti.
Foi por meio da técnica de captura conhecida como “baliza” que os pesquisadores capturaram um número considerável de espécimes suficientes para levantar dados como habitats, proporção macho-fêmea e até o índice de infestação por parasitas. “Os quelônios são uma questão nevrálgica para os povos amazônicos, pois, ao passo que são culturalmente importantes para esses povos, existe uma insegurança jurídica sobre o tema, já que não são recursos pesqueiros”.
Outro bom exemplo de monitoramento participativo é o que ocorreu com o pirarucu na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Com a colaboração da comunidade, foi possível realizar de maneira mais efetiva o monitoramento por avistamento, poupando recursos gastos em outros métodos.
Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280
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