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Telemetria de tartarugas marinhas: aplicação das tecnologias por satélite gera informações para identificação de áreas críticas de uso no mar
A identificação dos movimentos migratórios e das áreas críticas* utilizadas pelas tartarugas marinhas é de grande importância para a definição de estratégias e políticas públicas voltadas à sua conservação. Exemplos claros da aplicação deste conhecimento espacial sobre as espécies é a avaliação técnica visando à criação de unidades de conservação, ou ainda, análises da disposição de empreendimentos em relação às áreas de uso, como base para avaliação de alternativas locacionais.
Para animais transfronteiriços e oceânicos como as tartarugas marinhas, é um desafio monitorar em tão larga escala e, ainda, integrar os resultados de diferentes estudos. E quando isso é possível, pode-se visualizar o conjunto de unidades de conservação no bioma marinho-costeiro e como ele se dispõe em relação aos deslocamentos dos animais, o que ressalta o potencial estratégico dessas áreas para as ações de conservação.
Em 2022, o analista ambiental da Base Avançada do TAMAR/ICMBio em Aracaju-SE, Erik Allan Pinheiro dos Santos, integrou equipe de pesquisadores que teve artigo publicado na Revista BioBrasil, do ICMBio, debatendo exatamente a amplitude dos movimentos realizados pelos quelônios marinhos e sua relação com as unidades de conservação.
Intitulado ‘Identificação de Áreas Críticas para Tartarugas Marinhas e sua Relação com Unidades de Conservação no Brasil’, a publicação mostra à sociedade a importância da telemetria para a compreensão do comportamento das tartarugas marinhas no litoral brasileiro. O artigo pode ser lido na íntegra no link: https://revistaeletronica.icmbio.gov.br/BioBR/article/view/2038
A pesquisa unificou os resultados de variados esforços de monitoramento de tartarugas marinhas por meio da telemetria por satélites, o que possibilitou a obtenção de informações espaciais sobre quatro das cinco espécies que ocorrem no litoral brasileiro (Caretta caretta, Lepidochelys olivacea, Eretmochelys imbricata e Dermochelys coriacea). O conjunto dos dados analisados originara-se de 160 transmissores (do inglês Platform Transmitter Terminal-PTTs), instalados entre os anos de 2005 e 2018 por 10 diferentes projetos, tanto de pesquisa científica como programas de monitoramento, executados como condicionantes do licenciamento ambiental federal.
Apesar dos amplos movimentos identificados, as Áreas Principais de Uso corresponderam a 3% da distribuição total e localizaram-se, em sua maioria, na costa do Pará, Ceará e Rio Grande do Norte; ao longo da margem leste da plataforma continental do Nordeste, até Salvador, Bahia; no sul da Bahia e Espírito Santo; na plataforma de São Paulo e no estuário do Rio de la Plata, entre o Uruguai e Argentina.
Os movimentos das tartarugas intersectaram 89,6% das Unidades de Conservação Marinhas consideradas que incluíram áreas protegidas pelos governos federal, estadual e municipal. (52 das 58 UCs), porém, apenas 21,5% das Áreas Principais de Uso sobrepuseram Unidades de Conservação (UCs = 15). Dentre estas, se destacam: APA Plataforma Continental do Litoral Norte, localizada na porção norte da Bahia, APA Costa dos Corais, no litoral sul de Pernambuco, APA dos Recifes de Corais, no Rio Grande do Norte, e a APA Ponta da Baleia-Abrolhos, na Bahia.
Os resultados evidenciam a importância das Unidades de Conservação para as tartarugas marinhas, assim como, apontam a necessidade dessas áreas adotarem medidas para a redução de ameaças, em especial a captura incidental por pescarias. Os resultados apresentaram, também, grande potencial para contribuir com as análises de impactos ambientais de empreendimentos marinhos diversos, dentro ou fora dos limites de Unidades de Conservação.
Telemetria
A telemetria por satélites consiste no uso de transmissores que, fixados nas tartarugas, emitem sinais de localização que são captados por uma rede de satélites, o que permite o rastreamento dos animais em escala global. Essa técnica tem se mostrado uma ferramenta inestimável para o estudo da ecologia espacial das tartarugas marinhas e tem possibilitado esclarecer comportamentos críticos desses animais, possibilitando que sejam propostas medidas mais precisas para a sua conservação. As pesquisas com telemetria por satélite de tartarugas marinhas, realizadas no Brasil, iniciadas em 2001, visam avaliar as interações antrópicas, a exemplo do risco de captura acidental em pescarias ou outras atividades offshore, além da biologia dos animais, comportamento de fêmeas durante e após o período reprodutivo, entre outros.
Alguns Resultados
Os dados considerados no estudo envolveram, predominantemente, o rastreamento de fêmeas adultas (n = 159), além de um subadulto de D. coriacea. A espécie com o maior número de transmissores instalados foi L. olivacea, com 71 (44%), seguida de E. imbricata com 63 PTTs (40%), C. caretta com 16 PTTs (10%) e D. coriacea, com 10 PTTs (6%), (Fig. 1).
Os movimentos identificados compreenderam as regiões oceânicas desde a Bacia de Cabo Verde até a Bacia Argentina, assim como desde a Bacia de Angola até a região do estuário do Rio de la Plata e Guiana Francesa (Fig. 2).
Apesar da amplitude dos movimentos identificados, a maior densidade de áreas de uso ocorreu ao longo da plataforma continental e porção oceânica adjacente ao talude continental (Fig. 3).
Perspectivas futuras
A telemetria de tartarugas marinhas por satélites tem se consolidado como uma das metodologias aplicáveis durante o licenciamento ambiental de empreendimentos marinhos diversos, em especial pesquisas sísmicas marinhas e construção de portos, uma vez que o método permite avaliar o comportamento e distribuição dos animais em relação às áreas dos empreendimentos. Tal aspecto tem favorecido a execução de novos estudos e o continuado ganho de conhecimento sobre os movimentos desses animais.
Após a execução desta primeira análise, que integrou os resultados de 10 pesquisas pretéritas totalizando 160 animais rastreados, novos estudos foram executados, em especial no Espírito Santo, Sergipe, assim como no litoral do Rio de Janeiro. Estimativa inicial indica que pelo menos 300 transmissores já foram instalados em tartarugas marinhas no Brasil e, ao se considerar os estudos realizados em outros países nos quais as tartarugas migraram para o Brasil, tem-se uma ideia do desafio envolvido na consolidação das informações.
Desta forma, torna-se claro que a composição deste quadro, que ilustra a complexidade das áreas de uso das tartarugas marinhas, é tarefa continuada e que demandará periódica atualização das informações disponíveis, novas análises e diálogo com as instituições de pesquisa, nacionais e internacionais, além das empresas executoras dos programas de monitoramento.
Nesse sentido, o Centro TAMAR planeja a execução de um fórum ou workshop para integração de informações e início da consolidação de um sistema de informações espaciais, agrupando estas informações que tem o potencial de apoiar variadas pesquisas e subsidiar a tomada de decisões, contribuindo para o aprimoramento das políticas de proteção às espécies ameaçadas de extinção.
TAMAR/ICMBio
27-3222-1417