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Tartaruga verde: a espécie das ilhas oceânicas brasileiras
Vista aérea do Parna Marinho de Fernando de Noronha-PE
Cicatrizes de vulcões adormecidos, pequenas porções de rochas erodidas pelo tempo repousam no meio do Oceano Atlântico Sul como verdadeiros oásis para a biodiversidade marinha. Isoladas da plataforma continental brasileira, desejadas e temidas pelos navegadores essas cicatrizes foram, ao longo dos séculos, mudando sua vocação. Visitadas por exploradores e cientistas serviram de locais para degredados, de presídio, de bases militares e estações de pesca. No Brasil, até o final da década de 1970, não existiam políticas próprias que garantissem a proteção desses ambientes marinhos, bem como sua biodiversidade. A ilha da Trindade/ES, o Atol das Rocas/RN e o Arquipélago de Fernando de Noronha/PE se tornaram referências importantes para pesquisa científica e transformadas em unidades de conservação marinha. Apesar das peculiaridades de cada ilha, algumas evidências são comuns a todas: tratam-se de locais com excepcionais atributos cênicos e importantes áreas para abrigo, crescimento e reprodução de tartarugas marinhas. Fernando de Noronha em particular, devido as suas impressionantes paisagens, é um cobiçado destino turístico para mergulho, observação de aves, tartarugas marinhas e golfinhos rotadores.
A tartaruga-verde (Chelonia mydas) é a única espécie que se reproduz nas ilhas oceânicas brasileiras. A Ilha da Trindade, no leste do Brasil, abriga a principal área de desova, o Atol das Rocas, no Nordeste do Brasil, a segunda área em concentração e por último, em menor número Fernando de Noronha. A tartaruga-verde é classificada na categoria Em Perigo pela União Internacional para a Conservação da Natureza-IUCN. No Brasil a última avaliação do estado de conservação apresentada pelo ICMBio em 2018 a classificou como Quase Ameaçada (não publicada). O Dr. Archie Carr, um dos precursores de estudos com tartarugas marinhas, a considerou “o réptil mais valioso do mundo, não por sua carne, gordura ou outros valores de consumo, mas sim pelo valor estético e de não consumo como ecoturismo e estudos científicos”. As ilhas são, ainda, importantes área de alimentação para juvenis de tartarugas-verdes e tartarugas-de-pente (Eretmochelys imbricata). Em Fernando de Noronha, devido a um passado predatório de captura de fêmeas e de coleta de ovos, a população de tartarugas-verdes foi reduzida drasticamente, tornando fundamental que a pesquisa científica possa embasar os esforços de conservação em longo prazo.
Ilha de Trindade/ES
Atol das Rocas/RN
Fernando de Noronha/PE
O Arquipélago de Fernando de Noronha é formado por 21 ilhas, ilhotas e rochedos, ocupando uma área total de 26 km2. Da mesma forma que o Atol das Rocas é banhado pelo braço norte da corrente sul equatorial, que fornece águas claras e mornas. Foi descoberto por Américo Vespúcio em 1503, e desde então sofreu intensa pressão antrópica. Abriga duas Unidades de Conservação Marinha, a Área de Proteção de Ambiental criada em 1986 e o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha decretado em 1988. De acordo com antigos moradores, as tartarugas marinhas fizeram parte do cardápio local até o final dos anos 70. Existem registros de desova em nove praias: Leão, Sancho, Cacimba do Padre, Quixabinha, Bode, Americano, Boldró, Conceição e Sueste, algumas com ocorrências esporádicas. O TAMAR iniciou seus trabalhos de pesquisa em 1984, sendo a quarta estação implantada, ainda sob a gestão do EMFA (Estado Maior das Forças Armadas). A Base Avançada foi construída em 1988 pelo antigo IBDF, estrategicamente localizada entre a Baía do Sueste, importante área de alimentação de juvenis de tartarugas marinhas e a Praia do Leão principal área de desova, tornando-se o embrião do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, unidade de conservação federal administrada pelo ICMBio/MMA. Além de desenvolver pesquisa e conservação de longo prazo, supervisiona pesquisas e monitoramento através de parceiros e de universidades.Créditos das Fotos: Lisandro Almeida, Carlos Secchin e Claudio Bellini.