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Pesquisador do Centro TAMAR/ICMBio consolida estudo de 35 anos de monitoramento das tartarugas-verdes do Arquipélago de Fernando de Noronha
Por mais de três décadas, o Arquipélago de Fernando de Noronha tem sido palco de um dos mais extensos e importantes estudos de conservação de tartarugas-verdes (Chelonia mydas) no mundo. À frente dessa pesquisa está o analista ambiental do Centro TAMAR/ICMBio, Claudio Bellini, cuja dedicação na Base Avançada e trabalho incansável têm sido fundamentais para a recuperação dessa espécie ameaçada.
Desde o início da década de 1980, quando o TAMAR se estabeleceu em Noronha, a população de tartarugas-verdes estava à beira da extinção. A ocupação humana e o uso da espécie como recurso alimentar ao longo de aproximadamente 480 anos haviam reduzido drasticamente o número de ninhos.
No entanto, graças aos esforços de conservação iniciados em 1984, com a capacitação em manejo do oceanólogo Marcelo Cabeda do Território Federal pelo atual Coordenador do Centro TAMAR Joca Thomé ainda estudante da FURG, à proibição da caça ilegal e à proteção dos ninhos, a situação começou a mudar.
Bellini, que lidera a pesquisa desde 1991, utilizou dados de monitoramento de praias coletados entre 1988 e 2022, totalizando 35 anos de observações contínuas. Este é um dos maiores conjuntos de dados contínuos conhecidos em ilhas oceânicas no mundo. "As contagens anuais de ninhos são frequentemente empregadas para estimar o tamanho da população. Entender os parâmetros ecológicos específicos desta população é crucial para a conservação de espécies de vida longa como as tartarugas marinhas", ressalta Bellini.
Os resultados do estudo são animadores. Nos primeiros cinco anos de monitoramento (1988-1992), a média anual de ninhos foi de 38,6. Nos últimos cinco anos (2018-2022), esse número saltou para 285,6 ninhos, um aumento de 7,39 vezes. "Os dados sugerem que a população de tartarugas-verdes está se recuperando, especialmente a partir da segunda década após o início dos esforços de conservação", explica Bellini.
A criação do Parque Nacional Marinho em 1988, que incluiu as principais praias de desova, como a Praia do Leão e a Praia do Sancho, consolidou a proteção da espécie no arquipélago. No entanto, Bellini alerta que ainda há muito a ser feito. "Documentar um aumento no recrutamento de fêmeas em função do número de filhotes sobreviventes pode levar muito tempo. Ainda existem lacunas no conhecimento da ecologia desta população, como a identificação de áreas específicas de alimentação e rotas migratórias das fêmeas."
Apesar dos sinais encorajadores de recuperação, o pequeno tamanho da população e a distribuição restrita dos ninhos, aliados às ameaças da pesca, lixo nos oceanos e mudanças climáticas, fazem com que essa população continue dependente de ações de conservação. "A proteção e a pesquisa de longo prazo desta população de tartarugas-verdes devem continuar", conclui Bellini.
O trabalho de Claudio Bellini, do Centro TAMAR/ICMBio, da Fundação Projeto Tamar, da comunidade de Fernando de Noronha/PE, além dos inúmeros voluntários, bolsistas e pesquisadores durante o árduo e solitário patrulhamento em campo é um exemplo inspirador de como a dedicação e a ciência podem reverter o declínio de espécies ameaçadas e garantir um futuro mais sustentável para a biodiversidade marinha.
Comunicação Centro TAMAR/ICMBio
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