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Estudo que avalia impacto de operações marinhas no comportamento e migração da tartaruga-oliva começa segunda fase
Aracaju-SE (19/12/22) – Como as tartarugas se comportam quando estão no mar? Que áreas elas preferem frequentar? E por quais razões? Essas são algumas perguntas que um estudo se propõe responder. A pesquisa visa levantar os deslocamentos realizados por tartarugas marinhas da espécie oliva (Lepidochelys olivacea) e que são importantes para a compreensão de comportamentos vitais, a exemplo do uso das áreas e recursos disponíveis, estratégias de migração entre áreas de forrageio, identificação e dimensionamento de sítios reprodutivos a como os animais utilizam os seus diferentes habitats.
O litoral de Sergipe é uma das principais áreas de reprodução de tartarugas marinhas no Brasil e concentra, nacionalmente, os maiores números de ninhos da tartaruga-oliva, Lepidochelys olivacea. O estado conta também com o histórico de atividades voltadas à exploração de petróleo e gás em águas costeiras, com 26 plataformas inclusive as mais antigas na exploração marinha pela Petrobras no Brasil. Essas estruturas passam hoje por uma série de intervenções voltadas à sua desativação.
De modo a avaliar o efeito que as obras de desativação das plataformas podem ter no comportamento das tartarugas marinhas, o IBAMA, com a participação do Centro TAMAR-ICMBio, definiu a necessidade de um programa de monitoramento da tartaruga-oliva por meio de telemetria.
A telemetria por satélites consiste no uso de transmissores que, fixados nas tartarugas, emitem sinais de localização que são captados por uma rede de satélites, o que que permite o rastreamento dos animais em escala global. Essa técnica gera informações que podem ser aplicadas tanto para a ecologia e conservação das espécies, quanto para a avaliação de impactos ambientais.
O estudo, a ser desenvolvido em três fases, foi iniciado em 2021 e está hoje no início de sua segunda fase. A primeira fase consistiu no rastreamento de dez tartarugas-oliva cujo resultado com os deslocamentos dos animais foi reunido em um relatório preliminar apresentado para análise. A segunda fase do estudo, desenvolvida ao longo de 2022, e a terceira fase será executada durante 2023. Ao final do estudo serão rastreadas 30 tartarugas marinhas.
Para as dez tartarugas monitoradas na primeira fase do estudo, foram observadas três estratégias principais de deslocamento, desenvolvidas após deixar a área de reprodução no litoral de Sergipe. A primeira estratégia, adotada por quatro tartarugas, consistiu no deslocamento em direção sul, principalmente para o litoral da região sudeste do Brasil, e envolveu migrações costeiras de até, aproximadamente, 1600 quilômetros, para áreas na plataforma continental do Rio de Janeiro e São Paulo, assim como porção oceânica ao largo de Vitória, além de uso de área no sul da Bahia.
A segunda estratégia envolveu deslocamentos costeiros para a região norte do Brasil, no litoral do Pará, alcançando também a Guiana Francesa. Essas migrações compreenderam distâncias de até 2500 quilômetros e foram registradas para quatro tartarugas. A última estratégia geral observada foi o movimento inicialmente costeiro para o norte e depois oceânico em direção à África envolvendo distâncias de até 2800 quilômetros, até o final da transmissão dos sinais. Esse deslocamento foi observado para duas tartarugas e devido o fim das transmissões das localizações, não foi possível saber se alcançaram suas áreas de forrageio. A primeira tartaruga da segunda fase do estudo, iniciada em dezembro de 2022, continua na área de reprodução no litoral de Sergipe.
Segundo o analista ambiental Erik Allan Pinheiro dos Santos, que coordena a Base do Centro TAMAR/ICMBio em Aracaju-SE, os resultados obtidos até o momento corroboram e ampliam as informações obtidas em estudos pretéritos a exemplo dos conduzidos em 2006 (Silva et al. 2011) e 2014 (Santos et al. 2019), “em especial com a confirmação do litoral da Guiana Francesa como área de forrageio para os animais que reproduzem no Brasil, o que levanta questões quanto a sobreposição de áreas de uso e a conectividade entre essas duas importantes áreas para a tartaruga-oliva no Atlântico”.
O potencial e importância dessas pesquisas, cujos resultados podem embasar análises diversas sobre esses animais ameaçados de extinção, e a obtenção de tais informações são um desafio, em especial quando se trata de espécies altamente migratórias como as tartarugas marinhas.
De modo a alcançar esse objetivo, o rastreamento dos movimentos das tartarugas marinhas por meio da telemetria por satélites evoluiu muito desde os primeiros estudos na década de 1980 e hoje a técnica é considerada como padrão para esse tipo de investigação.
Comunicação TAMAR/ICMBio
(27) 3222-1417/4775