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Centro TAMAR/ICMBio promove painel de Especialistas em budiões e peixes recifais
Vitória (26/06/23) – Especialistas em budiões e outros peixes recifais, gestores e pescadores artesanais se reuniram por dois dias – 20 e 21 de junho – na Universidade Federal do Espírito Santo para atualizar as informações científicas sobre essas espécies ameaçadas de extinção. Ao dar boas-vindas aos especialistas, o Coordenador do Centro TAMAR/ICMBio, Joca Thomé, reforçou os objetivos do evento técnico, bem como destacou os desafios na implementação do Plano de Recuperação, pontuando o papel do Centro na avaliação dos relatórios de monitoramento no âmbito dos PGL-Planos de Gestão Local dos Budiões nas RESEXs do sul da Bahia. O evento contou com a parceria dos centros marinhos do ICMBio Cepnor e Cepene e foi viabilizado com recursos do Programa GEF Mar, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
O objetivo do encontro foi ampliar o conhecimento sobre a biologia e ecologia dos budiões. identificando as lacunas de conhecimento e de monitoramento para avaliação e diagnóstico das populações destas espécies, bem como definir estratégias para enfrentar os desafios existentes para a implementação do Plano de Recuperação dos Budiões no mar do leste, especialmente no Banco dos Abrolhos.
O diretor do Departamento de Gestão Compartilhada de Recursos Pesqueiros, da Secretaria Nacional de Bioeconomia, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Gilberto Sales, proferiu diálogo sobre aspectos institucionais relacionados às espécies de budiões, os planos e programas de conservação e gestão dedicados a elas e o papel do Painel de Especialistas reunido ali, ocasião em que reforçou a importância dos espaços de gestão estarem em contato contínuo com os especialistas e usuários das diversas espécies, sejam eles pesquisadores, gestores ou pescadores.
“Eventos como este são considerados muito importantes. O governo federal se envolveu na busca por alternativas de gestão para os budiões, incluindo a criação de um plano de recuperação, a participação nos planos de ação do ICMBio e no Plano de Conservação da Biodiversidade do Mar do Leste (Plano Abrolhos)”, afirmou Gilberto.
O pesquisador e especialista da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Matheus Freitas, apresentou o Plano de Recuperação dos budiões, e explicou que os budiões apresentam área de ocorrência quase restrita a águas jurisdicionais brasileiras, possuem subpopulações relativamente abundantes.
Ele enfatizou preocupações como a pesca esportiva, ligada ao turismo, bem como a pesca comercial intensiva em locais como Caravelas, Corumbau e Alcobaça, na Bahia. “A pesca em Barra de Caravelas por exemplo, com rede, pesca budiões jovens, não se dando a oportunidade ‘de a criança crescer’”, referindo a tamanhos muito pequenos da espécie budião-azul pescada. Dados de 2015 estimaram que a população global declinou 50% nos últimos 24 anos, sendo o primeiro alvo o budião-azul, seguido do verde e do papagaio.
Mas quando a gestão compartilhada da pesca é feita, dentro de UCs de uso sustentável, considerando aspectos socioeconômicos locais, a chance do cenário mudar é significativa. Mas, frisou Matheus, “para haver sucesso é necessário um monitoramento ano a ano, contínuo”.
Outra especialista convidada foi Natália Roos, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que falou sobre ‘Budiões: paradigmas emergentes e o contexto das espécies brasileiras’. Em seu doutorado ela analisou o que influencia a distribuição de espécies em diferentes recifes, indicando, por exemplo, que o budião-azul tem preferência por áreas com elevada cobertura de corais. A espécie Sparisoma frondosum (budião-batata) mostrou-se mais generalista. Ela também apresentou dados mostrando a pressão da pesca esportiva em estados como RJ e BA.
Por meio de monitoramento das redes sociais Face, Insta e Youtube de pescadores esportivos, ela constatou que Salvador é o líder na pesca esportiva, que pressiona indivíduos grandes – o que compromete o futuro dessas espécies. Sensos visuais feitos de 2003 a 2008 revelaram que a abundância tem diminuído, até mesmo dentro de Unidades de Conservação, sendo o manejo da pesca uma das principais ações de proteção.
O especialista da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Maurício Hostim, apresentou sobre ‘Avaliação de duas décadas na estrutura de comunidade de peixes recifais das ilhas de Guarapari/ES’, revelando como resultado geral da avaliação, que não há diferença estatística na abundância dos budiões entre os períodos amostrados, mas olhando para as diferentes espécies são percebidas tendências, sendo que muitas espécies que estão diminuindo não necessariamente são alvo da pesca, em virtude de todo um processo de degradação que está acontecendo nos ambientes. Apesar dos resultados obtidos, nenhum budião foi incluído na lista de espécies ameaçadas divulgada pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente (IEMA) do Espírito Santo.
Cadu, Carlos Eduardo Ferreira, da Universidade Federal Fluminense (UFF), proferiu a palestra ‘Padrões de abundância temporal de budiões nas ilhas oceânicas e Arraial do Cabo/RJ’, ocasião em que ele mostrou tendências populacionais de espécies de budiões na RESEX Marinha Arraial do Cabo e nas ilhas oceânicas de Trindade (ES), Noronha e Atol das Rocas (RN). “Em Rocas, onde não tem pesca e onde predomina o Sparisoma amplum (budião verde/vermelho), é a única área que não apresentou tendência de declínio para essas espécies, declínio este que se observa nas populações de budiões desde a década de 90”, frisou Cadu.
Fabiana Hackradt, da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), durante sua fala acerca da ‘Ecologia e biologia das espécies de budiões no extremo sul da bahia’, enfatizou que uma maior diversidade genética é considerada essencial para a sobrevivência diante de adversidades ambientais. “Essa região, especialmente o sul da Bahia, é conhecida por abrigar uma alta diversidade genética”. Ela apresentou informações sobre sua atuação no Conselho da RESEX Corumbau e da importância das trocas de conhecimento realizadas com os pescadores.
Carlos Hackradt, também da UFSB, falou sobre o ‘projeto Budiões: dados de monitoramento populacional e pesqueiro no sul da Bahia’ indicando que o Projeto Budiões, coordenado pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), tem como principal objetivo preencher lacunas do conhecimento científico sobre os budiões, com informações geradas pela realização de censos visuais e monitoramento de desembarques pesqueiros.O Projeto Budiões é uma iniciativa multidisciplinar que alinha pesquisa científica com ações de educação ambiental e divulgação científica, fomentando novas formas de gerar desenvolvimento sustentável para as comunidades costeiras ao longo de mais de 9 mil quilômetros de costa, propondo e discutindo novas políticas públicas para uma gestão mais eficiente dos recursos naturais.
O coordenador do Cepene, Leonardo Messias, falou sobre os ‘Métodos de monitoramento com dados independentes da pesca”, trazendo informações sobre métodos de monitoramento remoto, com destaque para o radar e câmeras sub-aquáticas) e aplicação dos resultados gerados, como subsídio à criação de áreas protegidas. Projeto experimental de monitoramento remoto da pesca artesanal na APA Costa dos Corais incluiu a implementação de radar para auxiliar na coleta de informações.
O palestrante Carlos Henrique Lacerda, em sua fala sobre ‘Budiões nos recifes rasos da Costa do Descobrimento’, apresentou resultados de três frentes de pesquisa e monitoramento: 1) Monitoramento Ambiental da Costa do Descobrimento; 2) Reef Check; e 3) Pesca. Durante o debate em plenária, confirmou-se que os dados das áreas onde tiveram mais anos de monitoramento estão localizadas na Resex Corumbau e demonstram tendência de declínio das populações de budiões. Ele ressaltou a importância da participação da comunidade no processo de monitoramento. “Pois quanto mais envolvidos estiverem, mais viável será a repetição do monitoramento”.
No segundo dia, os gestores da Resex Corumbau, Paula Soares Pinheiro e do NGI Abrolhos/ICMBio, Erismar Novaes Rocha , falaram sobre as Resex de Corumbau e de Cassurubá e apresentaram os resultados do monitoramento das espécies de budiões. O programa de monitoramento da pesca dos budiões em Corumbau foi implementado, envolvendo bolsistas e pescadores. “Houve avanços significativos na obtenção de informações, embora ainda haja desafios a enfrentar. O debate entre os participantes, após a fala de Erismar sobre ‘Gestão do PGL – Budiões – Monitoramento na Resex de Cassurubá/BA’, destacou o ‘gap’ temporal entre o envolvimento dos pescadores em 2018, e a publicação da portaria em 2021, além de algumas lacunas na coleta de dados, principalmente durante o inverno.
O evento contou com a presença de pescadores das reservas extrativistas marinhas que pescam essas espécies, com o foco de ouvir das comunidades tradicionais informações acerca do conhecimento ecológico local, do cenário atual da atividade e como eles avaliam o futuro. Os pescadores locais Alex Lírio de Oliveira e Lucas Santa Bárbara (Resex Cassurubá) e Urislan Espírito Santo e Breno Rocha de Jesus (Resex Corumbau) falaram sobre o ‘Conhecimento ecológico local de pescadores de budiões no Banco dos Abrolhos’.
Os pescadores da Resex Corumbauagradeceram a oportunidade de participar das discussões que afetam suas vidas e disseram que estão abertos a participação em eventos futuros, não apenas na coleta de dados e execução, mas também nas tomadas de decisões que impactam suas vidas. No debate da plenária foi destacado que, apesar de eventuais rupturas e desconfianças causadas por decisões tomadas sem a participação dos pescadores, ficou clara a necessidade de superação de tais divergências e de se promover uma maior proximidade entre pesquisadores e pescadores.
Já para os pescadores da Resex Cassurubá, as populações de budiões estão estáveis, tanto em tamanho pequeno, médio quanto grande. E ressaltaram que está em alta a demanda de pesca de budiões na região, principalmente devido à necessidade de emprego, uma vez que a cidade não oferece muitas oportunidades.
O grupo participante do Painel pôde, ao final do evento, contribuir de forma colaborativa em uma planilha contendo as ações necessárias para implementação do Plano de Recuperação dos Budiões, agrupadas em três linhas gerais: Pesquisa e Monitoramento; Fiscalização; e Comunicação. Para cada ação elencada, foi avaliado o que já existe, o que falta para a ação avançar, um ponto focal, colaboradores, nível de prioridade e potenciais fontes de recurso.
Ficou definido que, sobre o Plano de Recuperação dos budiões, os consensos: a manutenção do Plano; realização de força tarefa para atuação no porto de Alcobaça/BA, nas diversas infrações locais; a busca por financiamentos de longo prazo; a inclusão nas condicionantes ambientas de licenciamentos, de atividades de monitoramentos de longo prazo; articulação entre instituições para efetividade do plano de recuperação e fiscalização do desembarque de budiões inteiros em Barra de Caravelas/BA.
Saiba mais - Os Budiões, ou peixes-papagaio, são peixes marinhos pertencentes à Tribo Scarini, da Família Labridae. Este grupo é composto por aproximadamente 100 espécies, distribuídas em 10 gêneros. No Brasil, 10 espécies têm ocorrência conhecida, sendo cinco delas alvo de extenso estudo e monitoramento por especialistas: budião-azul (Scarus trispinosus), budião-banana (Scarus zelindae), budião-bandeira (Sparisoma amplum), budião-cinza ou bobó (Sparisoma axillare) e budião sinaleiro (Sparisoma frondosum). Conheça o Plano de Recuperação de quatro, das cinco espécies que ocorrem no Brasil.
Participaram também do evento Antônio Lezama (MMA), Rodrigo Leão (UFRJ), João Luiz Gasparini e Joelson Fernandes (UFES), Nilamon Leite (Doutorando UFES), além dos integrantes da equipe Centro Tamar Allyne Mayumi, Marcello Lourenço, Roberto Sforza, Marília Mesquita, Lorena Oliveira e Karina Nunes dos Santos.
TAMAR/ICMBio
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