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A tartaruga verde: o ativo da Base do Centro TAMAR/ICMBio em Fernando do Noronha-PE
Uma história pode ser contada e recontada por diversas pessoas e sob ângulos igualmente únicos. Um lugar paradisíaco, de forte apelo visual, sempre esteve no imaginário do sonho do lugar que qualquer pessoa gostaria de conhecer, seja um brasileiro, seja um estrangeiro. Assim é o Arquipélago de Fernando de Noronha, em Pernambuco.
Um ativo importantíssimo salta aos olhos para quem chega, para além de toda a beleza cênica indescritível, e demais exemplares da rica biodiversidade: a Chelonia mydas, ou tartaruga-verde - que só ocorre majoritariamente nas ilhas oceânicas brasileiras - ali em Noronha-PE, e em Atol das Rocas-RN, e Trindade e Martim Vaz-ES (cerca de 200 desovas ocorrem no norte da Bahia). A temporada 2023-24 começou com a primeira fêmea subindo neste sábado à noite (02.12), na praia do Leão, e sendo identificada. Na manhã do mesmo dia, a equipe do Centro Tamar/ICMBio havia realizado, em parceria com a operadora Atlantis Divers, o mergulho autônomo para captura, biometria e marcação. A operação rendeu a captura de dois indivíduos juvenis de Eretmochelys imbricatta (tartaruga-de-pente) e o avistamento de um adulto (102cm de carapaça) de Chelonia mydas (tartaruga-verde), que já possuía marca. Os dados serão lançados no Banco de Dados para a Conservação de Tartarugas Marinhas (BDCTAMAR), do Centro TAMAR/ICMBio.
Analista ambiental Claudio Bellini com adulto de Chelonia mydas em mergulho para captura, marcação e biometria em Fernando de Noronha-PE.Para estudar a ecologia das populações de tartarugas marinhas é necessário realizar a marcação, medição, observação e coleta de tecidos. Para isso é necessária a captura ou recaptura dos animais, ocasião em que ocorre a identificação do indivíduo por meio da aplicação de marcas (anilhas metálicas cuja distribuição fica a cargo do Centro Tamar/ICMBio).
Tal ativo, cujo valor ambiental é incalculável, fica sob os cuidados de um Centro Especializado do ICMBio que conta com uma Base que se constitui num verdadeiro laboratório de pesquisa a céu aberto - o Centro TAMAR/ICMBio e sua Base Avançada em Fernando de Noronha.
Ali técnicos e analistas, assim como bolsista selecionado para as ações de monitoramento reprodutivo, atuam em sinergia, parceria e muita dedicação. Poucos conhecem a rotina de profissionais como estes, que passam noites percorrendo praias durante toda a temporada reprodutiva buscando encontrar esses animais pré-históricos (fêmeas mais especificamente) que sobem para a desova.
Analista ambiental Claudio Bellini com 1a Chelonia mydas da temporada reprodutiva 2023-24 na praia do Leão, em Fernando de Noronha-PE.Ele saem à noite muitas vezes sem hora para voltar, com os equipamentos necessários para o monitoramento que envolve a biometria (tomada das medidas e peso do animal) e a marcação da tartaruga-verde (alicates e marcas que irão identificar o indivíduo todas as vezes que ele retornar às praias). Todo esse trabalho acontece nas praias do Sancho, Leão e Sueste - protegidas dentro do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha-PE.
São noites tendo o céu, a lua e as estrelas como testemunhas desse tão importantíssimo trabalho. Se a Chelonia mydas (tartaruga-verde) vem sendo conservada a longo de décadas de atuação do Centro TAMAR, antes na estrutura do IBAMA (1991 a 2007) e atualmente na estrutura do ICMBio (2007-até o momento), há que se reverenciar o legado daqueles que abriram a trilha da pesquisa, do monitoramento, do conhecimento, do diálogo com a sociedade acerca desse importante ativo - que é a tartaruga viva e a importância de se manter sua população em crescimento, trazendo informações e gerando conscientização acerca das ameaças que comprometem o estado de conservação delas.
Do Centro TAMAR não tem como não honrar aqueles que iniciaram todo este trabalho e que vem até os dias de hoje contribuindo para a formação de quem veio depois – equipe de servidores, bolsistas e terceirizados extremamente dedicados. Para Claudio Bellini, analista lotado na Base do Centro TAMAR/ICMBio em Fernando de Noronha, é preciso ter consciência sobre esse importante ativo – a tartaruga.
“A história está aí para nos mostrar que uma base com o ativo importantíssimo que possui como é Noronha, continua firme. O trabalho continua e se aperfeiçoa com todos aqueles que quiserem e puderem vir a somar conosco”, diz ele referindo-se ao modelo adotado para a base de capacitar servidores e bolsistas nas ações de campo a cada temporada reprodutiva.
Placas do Centro TAMAR/ICMBio
Placa sobre a espécie Chelonia mydas na praia do Leão, em Fernando de Noronha-PE.Nos dias 27 e 28 de novembro o técnico ambiental do Centro TAMAR/ICMBio João Camargo e os analistas ambientais Cláudio Bellini e Sandra Tavares supervisionaram a instalação de placas com informações sobre a espécie Chelonia mydas (tartaruga-verde) nas praias do Sancho, Leão e Sueste, no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha.
As placas foram uma demanda da equipe de Uso Público do Parque, e elaboradas pela Econoronha – concessionária que faz a gestão das áreas de visitação do parque. O Centro TAMAR/ICMBio levantou todas as informações que constam nas placas. A Base Avançada do Centro TAMAR/ICMBio em Fernando de Noronha-PE ganhou também uma placa de identificação, assim como do seu abrigo que fica na praia do Leão.
Participação no Conselho da APA e Parna Marinho de Fernando de Noronha
Analista ambiental Claudio Bellini na reunião do conselho da APA e PARNA de Fernando de Noronha-PE. Para além da Chelonia mydas, tartaruga-verde, a Base Avançada do TAMAR/ICMBio conta com desafios importantes a serem abraçados, como auxiliar e apoiar o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e a APA de mesmo nome na gestão do Conselho Consultivo do Parque, participando de importantes tomadas de decisão, juntamente com os conselheiros/membros.
No dia 29.11 o analista ambiental do Centro TAMAR/ICMBio Claudio Bellini participou da última reunião do ano do conselho consultivo da APA e Parna de Fernando de Noronha, que juntos integram o ICMBio Noronha, ocasião em que o coordenador do Projeto Golfinho Rotador, José Martins, apresentou proposta de ordenamento do turismo náutico, visando garantir que o fluxo de embarcações no arquipélago não impacte negativamente a conservação da biodiversidade marinha local, bem como os pouco mais de 2700 golfinhos existentes na Baía dos Golfinhos, no arquipélago.
Somente em 2023, 90 embarcações de turismo e de pesca já operaram em Fernando de Noronha, contra 71 em 2018 e 59 em 2007. Na proposta apresentada está a necessidade de cadastramento por parte do ICMBio, de todas as embarcações que operam na APA de Fernando de Noronha (pesca, passeio, canoa, entre outros), bem como que seja dada uma capacitação pelo ICMBio a todos os prestadores de serviços do gênero (náuticos, mergulho e aluguel de equipamentos) sobre as normas que devem ser seguidas.
Os conselheiros foram informados sobre o período de 15 de janeiro a 31 de maio, como período interditado para visitação nas praias de Cacimba do Padre, Quixabinha, Bode, Americano e Boldró, no horário das 19h00 às 05h00, em virtude da temporada reprodutiva da Chelonia mydas (tartaruga-verde). Outro informe foi que eventos de porte que envolvam instalação de estruturas físicas, no período de 15.12 a 14.01 e 01.06 a 15.07, requerem autorização do Centro TAMAR/ICMBio, em virtude dos possíveis impactos sobre essas áreas de desova. Os conselheiros definiram ainda o calendário de reuniões do próximo ano (2024).
Coordenador do Projeto Golfinho Rotador apresentou proposta de ordenamento do fluxo náutico em Fernando de Noronha-PE. Trabalho do Projeto Golfinho Rotador, em Fernando de Noronha-PE.
Dóceis moradoras de Noronha: as mabuias
Mabuia (Euprepis atlanticus)Impossível não permanecer em Noronha por um tempo curto que seja e não percebê-las: denominadas mabuias (Euprepris atlanticus), elas estão por toda parte do arquipélago tornando-se um dos símbolos do lugar.
Doçura e simpatia difíceis de esquecer, elas possuem coloração cinza escuro e pintas minúsculas de bolinhas claras. Sua capacidade de regeneração da cauda é um detalhe a parte, pois ao se sentirem ameaçadas, elas soltam suas caldas. É um réptil endêmico de Fernando de Noronha-PE (encontrado apenas no arquipélago), não possui dentes nem veneno, e se alimenta de pequenos insetos e frutos. Os seus principais predadores são gatos e garças.
A reprodução desses répteis acontece de julho a janeiro, período também mais visitado na ilha. O acasalamento gera um ou dois ovos depositados nas cavidades secas das pedras. Um mês depois, uma ou duas nascem. Nos meses de chuva, de fevereiro a junho, são vistos poucos filhotes.
Teiú: misto de ameaça e beleza
Teiús (Salvator merianae)No arquipélago existe, ainda, a espécie invasora do gênero de répteis Salvator, da família Teiidae, mais conhecida como teju ou tejú (Salvator merianae), com uma população estimada entre 7 e 12 mil lagartos adultos na ilha principal - com 1.840 hectares, sendo considerado o maior lagarto da América do Sul.
Ele já reside na ilha há quase um século, quando foi introduzido para fazer o controle dos ratos trazidos pelos europeus. Os teiús em Fernando de Noronha são portadores, ainda, de uma bactéria Salmonella enterica, representando uma ameaça principalmente por conta da contaminação, uma vez que ela é encontrada nas fezes do réptil, representando, com isso, riscos a outras espécies nativas, ao ecossistema e aos moradores e turistas.
O analista ambiental do RAN/ICMBio, Carlos Abrahão, estuda a espécie desde 2014 e, juntamente com os estudos da médica veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Taysa Rocha, tem embasado tecnicamente o projeto de manejo do teiú no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha - aprovado pelo ICMBio em 2022.
“Este manejo visa principalmente a conservação da biodiversidade de Fernando de Noronha, especialmente a fauna ameaçada, como é o caso da Chelonia mydas (tartaruga verde) e dos endêmicos e ameaçados Trachylepis atlântica (Mabuia) e Amphisbaena ridley (cobra-cega-de-noronha)” frisa Carlos.
Segundo ele, a ideia é ir removendo os animais de pequenas áreas e mantendo armadilhas de monitoramento nas áreas já limpas, para que novos indivíduos não as reinfestem. “O manejo será repetido todo ano, numa época específica, ampliando a cada ano o manejo para uma nova área”, explica Abrahão.
Diversas outras espécies de aves e invertebrados também podem ser diretamente impactadas pelos teiús. “Se com meu trabalho conseguimos criar uma perspectiva de manejo para o controle do teiú em partes da ilha principal, o trabalho da Taysa ajudou a identificar quais das armadilhas e iscas disponíveis eram mais eficientes na captura dos teiús e, principalmente, serviu para demonstrar na prática que é possível livrar toda uma área de teiús adultos em pouco tempo” explica o analista ambiental.
Estas áreas são escolhidas por sua importância na conservação da biodiversidade do arquipélago, como a existência de ninhos de tartarugas ou a possibilidade de instalação de ninhais de aves que fazem ninhos no solo. As mabuias e cobras-cegas também se beneficiam da erradicação dos teiús nestas áreas.
“Com o passar dos anos e com a melhoria dos métodos de captura e da eficácia da equipe, esperamos que um dia seja possível rumarmos para a erradicação do teiú no arquipélago. Por enquanto, estamos fazendo todo o possível para evitar que as espécies já vulneráveis ou ameaçadas cheguem num nível crítico de conservação”, celebra Carlos.
Centro TAMAR/ICMBio
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