AVALIAÇÃO DO RISCO DE EXTINÇÃO DE PRIMATAS E XENARTRAS BRASILEIROS
O CPB coordena a avaliação dos táxons de Primatas e Xenartros (tatus, preguiças e tamanduás) com ocorrência no Brasil desde o primeiro ciclo, em 2012, e tem colaborado na estruturação deste processo desde 2009. Neste segundo ciclo de avaliação, que teve início em 2018, o CPB vem trabalhando na edição das fichas no sistema SALVE, na revisão dos registros de ocorrências dos táxons avaliados e na execução de oficinas de avaliação, conforme detalhado abaixo:
Avaliação do Risco de Extinção de Xenarthra (tatus, preguiças e tamanduás)
Neste segundo ciclo de avaliação, que está em andamento, 25 espécies de tatus, tamanduás e preguiças brasileiros foram avaliadas. A oficina ocorreu em Novembro de 2018 em Cabedelo/PB. Dessas 25 espécies, 1 foi categorizada como Em Perigo (EN), 3 Vulnerável (VU), 14 Menos Preocupante (LC), 5 Dados Insuficientes (DD) e 2 táxons foram avaliados como Não Aplicável (NA) para a avaliação brasileira. Atualmente, as fichas das espécies avaliadas estão sendo revisadas e os resultados da oficina estão em fase de revisão e validação.
Avaliação do risco de extinção dos primatas
Como a Ordem Primates, que contempla todos os primatas com ocorrência no Brasil, foi alvo de várias revisões taxonômicas, incluindo a descrição de novas espécies, neste segundo ciclo de avaliação do estado de conservação de primatas, a equipe do CPB realizou uma minuciosa revisão taxonômica em parceria com a comunidade científica, que resultou na lista taxonômica utilizada neste processo de avaliação. Além disto, neste segundo ciclo, a equipe do CPB realizou a revisão dos registros de ocorrência de diversos táxons e têm trabalhado na revisão das informações das fichas e informações geográficas dos táxons avaliados. Em setembro de 2019 foi realizada a oficina de avaliação dos primatas, que contou com a participação da equipe CPB e colaboradores da comunidade científica.
Nesta oficina foram avaliados 128 táxons de primatas, sendo 116 em nível de espécie e 12 em nível de subespécie. Desse total, 4 foram categorizados como Criticamente Em Perigo (CR), 19 Em Perigo (EN), 12 Vulnerável (VU), 9 Quase Ameaçada (NT), 77 Menos Preocupante (LC), 6 Dados Insuficientes (DD) e 1 táxon foi avaliado como Não Aplicável (NA) para a avaliação brasileira. Agora, a equipe CPB vem trabalhando na preparação das fichas e registros de ocorrência para a etapa de Validação.
A equipe do CPB já vinha trabalhando desde 2018 na preparação de todo material de suporte para a avaliação, assim, todas as informações do primeiro ciclo (fichas, fotos, mapas e registros de ocorrência) foram incluídas no Sistema de Avaliação do Estado de Conservação da Biodiversidade – SALVE; e mais de 6000 registros de ocorrência de primatas foram revisados (validados, corrigidos, retirados ou incluídos) na base de dados do SALVE. Além disto, foram realizadas estimativas e modelagens de perda de habitat para 67 táxons de primatas, visando auxiliar na aplicação dos critérios ou subcritérios utilizados para a avaliação, especialmente aqueles de redução populacional inferida a partir da perda de habitat, conforme descrito abaixo:
Estimativas de perda de hábitat para subsidiar a avaliação:
A perda de habitat é a principal ameaça aos primatas no mundo afetando negativamente o tamanho das populações, sendo, portanto, uma informação chave para avaliação do seu estado de conservação. Conforme consta no guia da IUCN para avaliação do estado de conservação das espécies, na ausência de informações demográficas, é possível inferir a redução populacional a partir de outras informações, como a porcentagem de perda de habitat onde a espécie ocorre, para aplicação dos critérios “A1”, “A2” e “A4”.
Assim, considerando que 69% dos táxons de primatas avaliados como ameaçados no primeiro ciclo foram categorizados utilizando o critério “A”, com base em dados indiretos de perda de hábitat, a equipe CPB trabalhou em dois tipos de análises para estimativas diretas de perda de habitat dentro da extensão de ocorrência (EOO) dos táxons de interesse:
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Estimativas de perda de hábitat calculadas para o passado: neste contexto, foi calculada a perda de habitat, dentro da EOO do táxon, com base nos arquivos do MAPBIOMAS 3.1 (coleção 2017), considerando a diferença de aproximadamente 3gerações. Este cálculo foi obtido subtraindo-se a quantidade de pixels denominados como hábitat para os primatas, ou seja, daqueles classificados como Floresta, Floresta Natural, Formação Florestal, Formação Savânica e Mangue, entre os Mapas de Cobertura e Uso de Solo da imagem mais antiga, considerando o tempo geracional (ano início) e do mapeamento mais atual na época da análise (2017).
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Modelagem de estimativa de perda de habitat (passado + futuro): em parceria com a equipe do INPE, a equipe do CPB utilizou os dados de modelagens de competição pelo uso do solo ao longo do tempo, GLOBIOM-Brasil (Global Biosphere Management Model - Soterroni et al, 2018) para estimar a perda de hábitat numa janela temporal que incorporou passado e futuro. O GLOBIOM é um modelo global de equilíbrio parcial que simula a competição pelo território entre os principais setores da economia, agricultura, bioenergia e silvicultura sujeitos a restrições de recursos, tecnologia e leis, e que utiliza diferentes variáveis, tais como oscilações de PIB dos países, pressão por commodities, tendências alimentares e crescimento populacional (Soterroni et al, 2019). Estas análises de perda de habitat foram realizadas para uma janela temporal que contemplou o período de 2000 a 2050, sendo possível adequar a janela temporal para o intervalo de 3 gerações específico para cada táxon e com maior percentual de perda.
As estimativas e modelagens de perda de habitat realizadas pela equipe do CPB foram importantes para subsidiar as discussões sobre a aplicação das categorias e critérios para 67 táxons, sendo decisivas ou de grande contribuição para a definição da categoria de risco de extinção de 37 táxons de primatas. Numa próxima etapa, a equipe deste centro irá aplicar estas análises de perda de habitat para todos os táxons de primatas brasileiros.