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Pesquisadores descobrem nove espécies em cavernas brasileiras
Novas espécies de Ctenorillo (Isopoda). Foto Cardoso et al. 2024
Em março, o artigo "Unveilling a didden diversity: descriptions of nine new species fo Ctenorillo Verhoeff, 1942 (Isopoda, Armadillidae) discovered in Brazilian caves and their importance for conservation" publicado na revista científica Zoosystema, revelou a descoberta de nove novas espécies de Ctenorillo Verhoeff, 1942 (Isopoda, Armadillidae) em cavernas brasileiras. Segundo os pesquisadores, isso comprova uma grande diversidade do gênero na América do Sul. Esse grupo de crustáceos isópodes terrestres são popularmente chamados de tatuzinhos-de-jardim ou tatus-bola, pois têm a capacidade de fechar em uma forma totalmente esférica em situações de perigo.De acordo com o artigo, a maioria das espécies recentemente identificadas são encontradas em áreas de conservação e, portanto, estão legalmente protegidas. No entanto, atenção especial deve ser dada a C. iuiuensis Cardoso & Ferreira, n. sp., uma espécie troglóbia, que possui características ecológicas distintas e cujo seu habitat está limitado a uma única caverna, atualmente não protegida.
De acordo com o artigo, a maioria das espécies recentemente identificadas são encontradas em áreas de conservação e, portanto, estão legalmente protegidas. No entanto, atenção especial deve ser dada a C. iuiuensis, uma espécie troglóbia que possui características ecológicas distintas e cujo habitat está limitado a uma única caverna, atualmente não protegida.
“As espécies de Ctenorillo são encontradas na África e América do Sul. Recentemente (2023), seis novas espécies foram descritas para a Colômbia, e com o nosso trabalho outras nove espécies foram descritas para o Brasil. Com ambos os resultados, o número de espécies foi duplicado e a diversidade do gênero mostrou-se maior na América do que na África. Isso mostra o quanto ainda não conhecemos sobre a verdadeira distribuição, não só dessas espécies, mas também de outros isópodes terrestres”, explicou uma das autoras do artigo, a bióloga e doutora em biologia animal, Giovanna Cardoso.
Segundo Giovanna, embora o trabalho descreva um grande número de espécies, esse número reflete que o Brasil ainda possui muitas regiões pouco exploradas, além de um grande potencial para gerar o conhecimento. “Esse trabalho representa um importante direcionamento dos esforços para o conhecimento da diversidade e a conservação dos seus ambientes, mas este é apenas uma das etapas desse importante trabalho”, afirmou Giovanna.
Para o biólogo, doutor em ecologia, professor da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e coordenador do Centro de Estudos em Biologia Subterrânea (CEBS/UFLA), Rodrigo Lopes Ferreira, que também participou do estudo, “a ferramenta mais efetiva para conservar uma caverna no Brasil é quando são descritas novas espécies, especialmente as troglóbias endêmicas. Isso porque, assim que são avaliadas, elas acabam sendo incluídas na Lista de Espécies Ameaçadas, o que, consequentemente, leva à necessidade de determinar a conservação dessas cavernas onde elas são encontradas. Além disso, quanto mais espécies nós descobrimos, mais conseguimos entender como esses ecossistemas são estruturados”.
A importância dos taxonomistas
Um dos desafios do país do ponto de vista da pesquisa e de ações em prol da conservação das espécies e seus habitats, segundo Rodrigo, é a carência de taxonomistas. Esses pesquisadores são os responsáveis por conduzir o processo de comparação das espécies encontradas com aquelas já conhecidas pela ciência e, ao concluir que se trata de novas espécies, descrevê-las oficialmente. O processo de descrição envolve ainda a submissão de um artigo a uma revista científica reconhecida internacionalmente. Só após ser avaliado e aprovado por outros taxonomistas (a chamada revisão por pares), o trabalho é publicado e a espécie nova passa a ser oficialmente reconhecida.
“Sem esse tipo de trabalho, fica muito difícil sabermos se determinadas espécies são novas ou não. Além disso, no caso das cavernas, que são ambientes ainda pouco explorados, há uma quantidade enorme de novas espécies. O que conseguimos descrever ainda é um número baixo comparado ao que potencialmente existe. Ainda precisamos de muito mais recursos humanos para explorar ainda mais essa área”, afirmou.
Há 18 anos, o alerta sobre a baixa quantidade de taxonomistas existentes em todo mundo foi divulgado pelo Secretariado da Convenção de Diversidade Biológica, durante a COP-8, em Curitiba/PR. Na ocasião, estipulou-se que existissem no máximo 6 mil profissionais no mundo. No caso do Brasil, o levantamento apontava para 171 taxonomistas em atividade. Atualmente, segundo Rodrigo, a falta desses profissionais continua sendo uma realidade, diante de toda a diversidade de espécies presentes no país.
Em 2021, um estudo coordenado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) mostrou que o Brasil lidera a lista de países com maior potencial para descoberta de novas espécies de animais vertebrados terrestres. O resultado da pesquisa foi publicado no conceituado periódico Nature Ecology and Evolution, uma das principais publicações científicas do mundo.
Resultados de diversas iniciativas
Segundo Giovana Monticelli, o artigo possui material proveniente de diversos projetos. Além disso, grande parte destes trabalhos foi financiado por meio de recursos de compensação ambiental que financiam a pesquisa cientifica e contribuem para trabalhos de descrição de espécies. “Outra parte deste material encontrava-se depositado na coleção científica ISLA-UFLA, sendo proveniente de coletas realizadas por empresas que realizam licenciamento e monitoramento ambiental. Por isso, é importante destacar a importância das coleções científicas e que muitas espécies ali preservadas aguardam sua formal descrição. Muitas vezes campanhas de coleta são realizadas para novas áreas de estudo e, mesmo em áreas relativamente bem conhecidas, novos esforços amostrais podem revelar espécies desconhecidas”, explicou a bióloga.