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Mapeamento de dolinas poderá orientar ações de manejo na 13ª maior caverna do Brasil
Mapeamento de dolinas - Foto: Cristiano Ferreira
Um artigo de autoria do analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav), Cristiano Ferreira, traz importantes informações sobre dolinas encontradas na Área de Proteção Ambiental (APA) Nascentes do Rio Vermelho (GO). Por meio de um método pouco utilizado no Brasil, os resultados do trabalho intitulado “UAV-based doline mapping in Brazilian karst: A cave heritage protection reconnaissance” poderão orientar ações de manejo da bacia da região, especialmente da área de recarga da Gruna da Tarimba, uma das maiores cavidades naturaisl do Brasil, localizada em Buritinópolis e Mambaí (GO) e que possui aproximadamente 11,1 km.
Atualmente, a unidade de conservação federal goiana está em fase de elaboração de seu plano de manejo, documento elaborado a partir de diversos estudos e que norteia o ordenamento do uso e acesso aos recursos naturais da região. “O mapeamento de dolinas pode ser muito útil neste processo, tendo em vista que indica as áreas de maior vulnerabilidade à contaminação e degradação dos sistemas espeleológicos locais. Considerando que dentre os objetivos da APA está a proteção de suas cavernas, avaliamos ser essencial mapear não apenas as galerias subterrâneas como as bacias que capturam as águas superficiais para o meio cavernícola, ou seja, as dolinas”, afirma Cristiano Ferreira.
Diferenciais do método utilizado
Segundo Cristiano Ferreira, o método utilizado consiste basicamente na deteção de depressões no terreno com o uso de modelos digitais de elevação (MDE). “Geralmente são utilizados MDEs de escala mais abrangente, de acesso gratuito (SRTM e etc.) e que têm problemas para detectar feições de menor tamanho ou que tenham se formado recentemente. O uso do drone em uma área relativamente extensa (50km²) foi algo realmente inédito porque possibilitou trabalharmos com imagens de altíssima resolução temporal e espacial. Entretanto, com a maior resolução também veio maior quantidade de ruído, de objetos potencialmente fakes associados a depressões ou possíveis dolinas. Limpar essa amostra gigantesca de objetos foi outro desafio, que implicou na adoção de estratégias bem diferentes. Usamos as dolinas que já conhecíamos na região para criar uma assinatura morfológica do que deveria ser considerado verdadeiro pelo nosso sistema e, assim, identificar objetos semelhantes. Fizemos mais ou menos o mesmo com uma pequena amostra de dolinas fake, criadas artificialmente no processo de tratamento do MDE e que fomos a campo nos certificar da sua inexistência. Dessa forma, passamos a ter uma base do que consideramos verdadeiro e outra do que era falso e rodamos uma matriz de confusão para filtrar nossa amostra e posteriormente inspecionar visualmente cada uma das possíveis dolinas”, contou.
O papel das dolinas
As dolinas são formas de relevo negativas, que muitas vezes se assemelham a funis, tigelas ou baldes. Elas concentram a água das chuvas para meio subterrâneo, colaborando decisivamente para a recarga dos aquíferos.
Essas depressões que ocorrem no solo podem ter tamanhos variados, desde poucos metros até quilômetros de diâmetro, variando conforme os tipos de rochas do local e outros aspectos ambientais. A ocorrência de depressões na superfície indica que a erosão está ocorrendo no subterrâneo, de forma oculta, por debaixo de nossos pés, induzindo o rebaixamento do terreno.
As dolinas representam importantes pontos de recarga dos aquíferos cársticos, funcionando como verdadeiras “calhas” das águas superficiais para o armazenamento subterrâneo. Dependendo do contexto ambiental, podem ser fundamentais para o equilíbrio e aporte hídrico para sistemas de cavernas alagadas
Outra possível contribuição que esse trabalho poderá trazer é o mapa de potencial ocorrência de cavernas, baseado na presença de dolinas ainda não checadas em campo. Segundo Cristiano, em geral, onde há dolinas há cavernas, no mínimo numa taxa de 50%, conforme as observações de campo. Além disso, como boa parte das depressões identificadas ainda não foram validadas, esse processo vai demonstrar a taxa de acerto da pesquisa, que estima-se ser bem alta.
Originalmente o estudo foi concebido e conduzido no âmbito do projeto de mestrado desenvolvido junto à Universidade de Brasília (UNB), no Departamento de Geografia com o professor Rogério Uagoda. Após a defesa da dissertação, foi dada continuidade aos trabalhos com dolinas na área. Inicialmente, o trabalho contou com apoio do Termo de Compensação Espeleológica (TCCE 01/2018) celebrado entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Atualmente, outro projeto (TCCE 01/2022) tem como objetivo principal mapear as feições cársticas na APA Nascentes do Rio Vermelho. Além de Cristiano Ferreira, a pesquisa contou com a participação de Yawar Hussain , Rogério Uagoda , Tiago Castro Silva e Rejane Ennes Cicerelli.