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História, cultura, conhecimento e biodiversidade: exposição revela todas as faces do Vale do Peruaçu
Exposição Luís Beethoven Piló - Foto: Cristiano Ferreira
A riqueza cultural, histórica, o vasto conhecimento científico, resguardado por cada espeleotema das imponentes cavernas da região, e todas as belezas que encantam quem visita o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu estão sendo revelados na nova exposição permanente Luís Beethoven Piló. O espaço, inaugurado no dia 21 de junho, reuniu seus entusiastas, além da comunidade local, dos indígenas que vivem no entorno e de diversos pesquisadores que participaram do III Seminário Científico de Pesquisas do Vale do Peruaçu.
“No início de 2021, colocamos esse projeto no papel. De lá para cá, foi um longo processo porque havia muitas pessoas envolvidas e o Luís Beethoven Piló era um dos maiores idealizadores dessa exposição, ele acabou nos deixando e por isso fizemos essa homenagem. A gente tentou por todo o percurso envolver as lideranças locais, as comunidades. Desde a concepção, a gente envolveu as pessoas da região, discutindo e tendo ideias, até desenvolvermos esse espaço de acolhimento e ambientação”, disse o geocientista e um dos coordenadores e curadores da exposição, Daniel Menin.
O visitante que passar pelo Centro do Visitantes do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e da Gruta do Janelão, principal atrativo do parque, poderá ver de perto réplicas de instrumentos utilizados pelos povos indígenas que ocuparam a região há milhares de anos, além de diversas fotografias das riquezas naturais do parque e dos rostos das pessoas que vivem ali e que ajudam na proteção e conservação desse território, candidato a Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
Entre os painéis disponibilizados pela exposição, diversos trabalhos científicos traduzidos em uma linguagem simplificada para que todos os visitantes compreendam seus resultados e entendam a importância do local para novas descobertas sobre as variações climáticas e seus impactos na flora e na fauna, o papel das ações locais para conservação da biodiversidade do Peruaçu, as primeiras ocupações humanas na região, entre outras temáticas. Nos tablets disponibilizados, entrevistas com pesquisadores e comunitários reforçam a relevância do parque nacional.
"Sou da comunidade do Fabião I, sou moradora há 30 anos. A exposição permanente está sendo uma realização para todos da comunidade. A gente fez parte da criação do parque e da APA Cavernas do Peruaçu. Estamos nos sentindo realizados, ver os nossos antepassados ali sendo representados está sendo bem marcante. Eu fico muito feliz porque quando o parque foi criado, a gente achou que não ia ter nada voltado para a comunidade, hoje a gente está vendo essa realização. Estou muito feliz, espero que os nossos ancestrais também estejam muito orgulhosos da gente”, afirmou Indiana Nascimento.
Na exposição, os visitantes poderão observar uma maquete que levou seis meses para ser construída, feita a partir de uma imagem de satélite de alta resolução, comprada no Japão. A imagem foi tratada por um laboratório da Universidade de São Paulo (USP) e depois transformada em uma maquete 3D. “A impressora trabalhou diariamente, durante seis meses, fazendo esse trabalho. É uma maquete em branco que foi feita para ter projeções de mapas diferentes. É possível vermos as trilhas, as cavernas, a vegetação mudando ao longo das estações do ano, além das inundações históricas, que hoje são datadas, e que também são uma das formas de se estudar as mudanças do clima”, contou Daniel Menin.
Segundo o espeleólogo Vitor Moura, responsável pelo projeto arquitetônico do espaço, ao lado da também arquiteta e espeleóloga Luciana Alt, “a exposição é uma oportunidade de retornar para a comunidade do entorno do Peruaçu os resultados das pesquisas e o que foi acumulado de conhecimento em função dessas décadas de estudos. Esse projeto também é uma forma de ajudar os condutores a transmitirem aos visitantes todas essas valiosas informações relacionadas à região”.
Para a chefe do Núcleo de Gestão Integrada do Peruaçu, Dayanne Sirqueira, a exposição funcionará como elo entre as UCs, a comunidade local e os visitantes. Além disso, ela diz que “é de suma importância mostrar o que vem sendo pesquisado e descoberto sobre a região da APA e do parque, o que traz a possibilidade de difundir ainda mais o conhecimento”.
Potencial turístico e científico
Criado em 1999, o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu compreende os municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões, na região norte de Minas Gerais. Formado por grandes extensões de matas, cânions, cavernas e grutas, o local abrange três biomas brasileiros: a Caatinga, o Cerrado e a Mata Atlântica. Com mais de 80 sítios arqueológicos, a unidade de conservação federal preserva diversas pinturas rupestres, datadas entre 500 e até 11.000 anos atrás, além de mais de 1400 cavernas, algumas delas abertas à visitação.
O local possui uma enorme relevância científica para diversas áreas da ciência. Na área de geologia, as formações das cavernas são estudadas para entender as mudanças do clima ao longo do tempo, o que, segundo o professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGC/USP), que também atuou na coordenação e curadoria da exposição, Francisco William da Cruz (Chico Bill), é muito importante porque as mudanças climáticas que hoje estão acontecendo na região podem indicar a necessidade de remediações tanto na área do parque como em seu entorno.
“Tanto o Vale do Peruaçu como a região norte de Minas estão passando por um período de seca que já dura 40 anos. Há uma tendência na diminuição de chuvas e na vazão de rios. Mas, além disso, a gente percebeu que há um outro problema, que agrava a situação, que é um aumento na temperatura da região. Esse aumento faz com que parte da água da chuva evapore antes de conseguir penetrar no solo, porque se você aumenta a temperatura, você vai aumentar a evaporação. Então, a temperatura do Vale do Peruaçu e do norte de Minas Gerais está aumentando acima da média global. A média global está em torno de 1.5º C e aqui está 2.5º C, aqui é uma das regiões que mais aquecem no planeta, explicou Chico Bill.
Segundo Chico Bill, as informações obtidas em diversas pesquisas no parque dão um recado claro para que os tomadores de decisões em políticas públicas, tanto a nível nacional quanto local, desenvolvam iniciativas que possam mitigar as mudanças do clima, como a redução na emissão de carbono, reflorestamento e controle de desmatamento.
Para quem quiser conferir a exposição recém-inaugurada, além de todo o cenário exuberante da unidade de conservação mineira, o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu fica aberto para visitação de terça a domingo, das 8h às 18 horas. A entrada nos atrativos é permitida somente até as 14h, exceto no Arco do André, que tem entrada permitida até às 12h. A UC conta com um grupo de condutores ambientais treinados e credenciados pelo ICMBio para garantir uma experiência segura e única. A condução é obrigatória em todas as visitas.