Notícias
Estudo sobre o microclima nas cavernas do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu (MG) auxiliará na gestão do uso público
Desde 2016, o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav) vem conduzindo um projeto de monitoramento microclimático em sete cavidades do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu para compreender a suscetibilidade que diversos processos subterrâneos têm em relação às variações no microclima. Entre as principais contribuições trazidas pela pesquisa estão aquelas relacionadas à gestão do uso público em unidades de conservação que abrigam cavernas turísticas.
“A maioria das cavernas monitoradas no Peruaçu são aquelas que recebem visitantes, e o zoneamento microclimático realizado por esta pesquisa pode oferecer contribuições relevantes para uma futura revisão do plano de uso destes atrativos. O percurso interno e as definições de capacidade de carga atuais não contemplaram parâmetros microclimáticos, visto que este monitoramento não existia à época da elaboração do plano de manejo da unidade. Acreditamos que os produtos resultantes desse estudo poderão subsidiar novas análises de definição de percursos, definição de novas áreas de visitação, restrição a áreas sensíveis, aumento ou redução do número de visitantes, aumento ou redução do tempo de visitação e aumento ou redução de pontos de parada na trilha, por exemplo”, explica o analista ambiental do ICMBio/Cecav, Mauro Gomes.
Mauro explica que outra linha de ação do projeto aprimorou a base conceitual a ser aplicada e proporcionou, em 2021, a publicação da tese de doutorado “Microclima da Lapa de Antônio Pereira (Ouro Preto, MG): monitoramento espeleoclimatológico e zoneamento termohigrométrico cavernícola”. A tese definiu o zoneamento climático da cavidade em função do comportamento da temperatura e umidade, bem como identificou interferências nestes parâmetros decorrentes da visitação turístico-religiosa.
Em relação ao Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, uma publicação a ser concluída em 2024 pretende ser um dos primeiros registros de monitoramento microclimático de longa duração do país. O projeto, desenvolvido em parceria com a UFMG e PUC Minas, também apresenta outro fator de ineditismo que é a realização da caracterização espeleoclimática de sete cavernas monitoradas simultaneamente.
Ampliação das áreas de estudo
A metodologia desenvolvida vem sendo adaptada para ser empregada em diferentes regiões do país, o que possibilitará o desenvolvimento de estudos comparativos. O Brasil possui uma grande diversidade de cavernas, com dimensões variadas, desenvolvidas em litologias distintas, localizadas em diferentes biomas, altitudes e latitudes, bem como inseridas em áreas com diferentes tipos de usos e cobertura do solo.
“Devido aos resultados obtidos em Ouro Preto e nas cavernas do Peruaçu, já está execução uma nova etapa do projeto que pretende realizar o monitoramento microclimático em duas cavernas do Parque Nacional da Furna Feia (RN). Como os equipamentos foram instalados antes da abertura oficial dos roteiros turísticos no interior das cavernas, serão obtidos elementos mais consistentes para estabelecer a relação entre o uso da caverna e possíveis variações nos parâmetros climáticos”, conta Mauro.
De acordo com o analista ambiental, o zoneamento microclimático também pode servir de subsídio para o desenvolvimento de estudos de avaliação de impactos em estruturas de espeleotemas, bem como aqueles relacionados à riqueza, abundância e distribuição espacial da fauna cavernícola.
Segundo Mauro, outro aspecto importante a ser destacado, principalmente em cavernas turísticas, é que o microclima cavernícola é relativamente sensível às atividades humanas. A presença de pessoas, sobretudo em ambientes com baixa circulação de energia, pode desequilibrar o sistema e provocar impactos relevantes.