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Espeleotemas do Vale do Peruaçu (MG) intensificam o alerta acerca das mudanças climáticas
Espeleotemas do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu (MG) - Foto: Cristiano Fernandes
Potencial turístico, histórico e arqueológico, laboratório natural de diversas pesquisas científicas, que trazem respostas e que alertam sobre a necessidade de novos rumos. O Vale do Peruaçu, localizado no norte de Minas Gerais, enfrenta um longo período de seca que já dura mais de 40 anos. Segundo pesquisadores, a região é uma das que mais aquecem em todo o planeta, com alta na temperatura média de 2.5º C, que está acima da média global, de 1.5º C. Para chegarem a conclusões como essa, foi realizada uma pesquisa com espeleotemas, formações de cavernas que possuem composição química e crescimento associadas às mudanças do clima ao longo do tempo.
Segundo o professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGC/USP), Francisco William da Cruz Júnior (Chico Bill), há uma relação muito forte entre a química do espeleotema e a diminuição da infiltração da água da chuva no solo. Foi por meio dessas formações rochosas, que os pesquisadores identificaram que as últimas quatro décadas foram as mais secas dos últimos 700 anos. “Com os espeleotemas, você tem a possibilidade de olhar mais para o passado e ver o quão grave é essa situação de seca. O que os espeleotemas estão ajudando a entender que se trata de condições de déficit hídrico sem precedentes na história”, diz o professor da USP.
O professor conta que essa mudança de temperatura passou a ser observada a partir dos anos 70, tornando-se cada vez mais intensa e notória. “A temperatura foi aumentando a um ponto que começou a comprometer os recursos hídricos, os rios e os poços para abastecimento. As lagoas e as nascentes do rio Peruaçu estão secando, e toda a população em volta tem observado essas diferenças, que antes eram mais difíceis de notar, mas que agora estão ficando cada vez maiores e visíveis a qualquer morador da região. A água está ficando cada vez mais escassa”, porque a alta temperatura faz com que uma parte da chuva evapore antes mesmo de infiltrar no solo, o que modifica também a composição química e crescimento dos espeleotemas de cavernas locais”, afirmou Chico Bill.
Medidas para mitigar impactos climáticos
A região do Vale do Peruaçu conta com duas unidades de conservação: o Parque Nacional (Parna) e a Área de Proteção Ambiental (APA) Cavernas do Peruaçu. Ambas têm como intuito garantir a preservação da biodiversidade. Enquanto no Parna é permitida visitação de turistas, além da realização de pesquisas científicas e do desenvolvimento de atividades recreativas, educativas e de interpretação ambiental, a APA tem como intuito ordenar o processo de ocupação humana e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
Na região, a própria criação das unidades de conservação, responsáveis por resguardar mais de 1400 cavernas, já é uma importante iniciativa de proteção. No entanto, Chico Bill explica que para enfrentar e mitigar os impactos das mudanças climáticas, que já atingem todo o mundo, são necessárias políticas públicas ainda mais contundentes, tanto a nível nacional quanto local. “Entre as iniciativas podemos destacar a redução na emissão de carbono, o reflorestamento e controle de desmatamento”, afirmou o professor.
Parque Nacional Cavernas do Peruaçu poderá se tornar Patrimônio Mundial Natural
Neste ano, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) aprovaram a candidatura do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu à Lista do Patrimônio Mundial Natural. Com o reconhecimento, a instituição busca proteger essas áreas consideradas excepcionais do ponto de vista da diversidade biológica e da paisagem, desenvolvendo ações com diversos parceiros governamentais e não governamentais para implementar uma gestão coordenada.
Segundo a Unesco, a nomeação do parque atende a todos os requisitos técnicos descritos nas Diretrizes Operacionais para a Implementação da Convenção do Patrimônio Mundial. Os atributos que fundamentam a nomeação da unidade demonstram um alto grau de conservação, uma vez que toda a propriedade está integralmente inserida em uma área de proteção desde sua criação, em 1999.