Notícias
Desafios da ciência: especialistas se reunirão na busca por minimizar impactos humanos durante pesquisas em cavernas
Rodrigo Ferreira (Drops) em atividade de campo - Foto: Marconi Silva
O Brasil já ultrapassou o número de 25 mil cavernas registradas no Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas (Canie), sistema que reúne dados geoespaciais atualizados desses ambientes naturais. Assim como os novos registros, as pesquisas em torno das cavidades naturais subterrâneas vêm crescendo ao longo do tempo e, cada vez mais, novas descobertas ressaltam sua importância, seja a partir de novos microrganismos encontrados ou das projeções de futuro do nosso planeta, a partir dos estudos paleoclimáticos. Embora as cavernas ofereçam uma infinidade de informações valiosas para a ciência, a fragilidade de seu ecossistema impõe que medidas para minimizar impactos sejam definidas até mesmo para os pesquisadores, que estão na linha de frente das atividades de conservação. Para reduzir as intervenções humanas durante pesquisas científicas, uma ação que faz parte do Plano de Ação Nacional para Conservação do Patrimônio Espeleológico Brasileiro (PAN Cavernas do Brasil) buscará reunir cientistas de diversas áreas na elaboração de um manual de boas práticas de uso científico interventivo em cavernas.
Geólogos, biólogos, paleontólogos, turismólogos, historiadores, esses são alguns dos profissionais que estarão mobilizados para debater o “modo de fazer ciência” em cavernas. A oficina, que está em fase de planejamento, permitirá que cada pesquisador exponha as peculiaridades de suas pesquisas e que juntos possam desenvolver um manual que norteie as atividades científicas nesses frágeis ecossistemas, é o que explica o professor do Centro de Estudos de Biologia Subterrânea da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e articulador dessa ação do PAN Cavernas do Brasil, Rodrigo Lopes Ferreira. “Premissas específicas precisam ser discutidas e é importante que os diferentes profissionais discutam sobre as especificidades do seu trabalho para que eles possam compartilhar uns com os outros as peculiaridades e o que deve ser observado quando vão realizar seus estudos”, afirmou.
Segundo Rodrigo, “a premissa principal que todo pesquisador deve ter é compreender que aquela caverna não está ali para lhes servir. Trata-se de um ambiente frágil, que a gente tenta acessar da melhor forma para retirar informações que poderão ser úteis até mesmo com o intuito de protegê-la. Então, não faz sentido uma pesquisa cuja intenção é proteger acabar danificando ainda mais”.
Os principais prejuízos de um estudo científico interventivo mal conduzido
Rodrigo explica que “as cavernas são frágeis e irreplicáveis, não existe uma idêntica a outra. Então, se um pesquisador for desenvolver algum estudo ou trabalho técnico naquele ambiente, ele deverá alterar o mínimo possível. Se eu for virar uma pedra, eu preciso ter o cuidado de desvirar depois. Se eu vou passar por uma região, é importante verificar a sensibilidade daquele lugar para me certificar que não tenho outras alternativas de deslocamento e, assim, não danificar, por exemplo, algum espeleotema, disse o professor.
“Uma escavação não planejada da forma correta pode danificar completamente o ecossistema de uma caverna, assim como uma coleta mal conduzida pode alterar completamente um sítio arqueológico ou paleontológico, explicou Rodrigo. De acordo com ele, existem diversos prejuízos que muitas vezes não são intencionais, que acontecem por desconhecimento. Cada pesquisador preocupado com sua área, acaba não se informando em relação a outras áreas e não toma os devidos cuidados não por intenção, mas por falta de conhecimento. Essa é a importância de colocar os diferentes atores que trabalham em cavernas para conversar.
A importância do estímulo à pesquisa
Existe uma infinidade de estudos e de benefícios que as cavernas podem nos trazer, como a descoberta de novas espécies, de microrganismos, eventualmente, descoberta de fármacos que algum microrganismo possa produzir e até a cura de uma doença. Além disso, as cavernas podem abrigar populações importantíssimas de morcegos, que prestam diversos serviços ecossistêmicos de dispersão, alimentação de insetos, consumo de praga agrícola”, disse Rodrigo Lopes.
O professor ressalta que a pesquisa precisa ser estimulada em cavernas porque elas guardam uma infinidade de informações que vão ser cruciais para a compreensão dos ecossistemas dos quais elas fazem parte, até para compreensão de outros fatores que afetam a vida humana.
PAN Cavernas do Brasil
Além do curso de conservação e recuperação de cavernas, o PAN Cavernas do Brasil possui 43 ações, que são distribuídas em quatro objetivos específicos, visando cumprir o objetivo geral: prevenir, reduzir e mitigar os impactos e danos antrópicos sobre o patrimônio espeleológico brasileiro, espécies e ambientes associados, em cinco anos. Além disso, contempla 169 táxons nacionalmente ameaçados de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, prazo de execução, formas de implementação, supervisão e revisão.