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Capacitação busca conciliar a conservação de morcegos e o controle antirrábico em Minas Gerais
Entre 9 e 10 de novembro, uma capacitação voltada para agentes de controle agropecuário e agentes de saúde de municípios do norte de Minas Gerais buscou difundir ações de conservação de morcegos, além de melhores práticas de identificação e manejo destes animais. O controle de morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue) é uma atividade muito importante, mas se for mal-conduzida pode gerar impactos negativos tanto para os próprios morcegos, quanto comprometer os ecossistemas cavernícolas, pois são usados produtos químicos que podem ser tóxicos para vários animais troglóbios. Além disso, identificar corretamente quais são as espécies de morcegos é um princípio básico tanto para o manejo, quanto para questões de vigilância epidemiológica.
A ação envolveu cerca 40 municípios e 90 agentes que estão na linha de frente de contato com morcegos, seja porque visitam fazendas e lidam com esses animais ou porque atendem casos de morcegos encontrados em cidades. Segundo o professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Enrico Bernard, “esse público foi identificado como prioritário para a conservação dos morcegos no Brasil e precisa receber as informações mais corretas sobre as melhores práticas de identificação e manejo destes animais”.
Morcegos não são vilões
“Investimos em mostrar para os participantes que morcegos são um grupo extremamente rico em espécies, não são todos iguais, e que essa riqueza e diversidade precisa ser considerada para a adoção de medidas de controle antirrábico. Mostramos também que morcegos não são vilões, pelo contrário, prestam importantes e valiosos serviços de polinização, dispersão de sementes, e controle de populações de insetos, incluindo várias pragas agrícolas. Os benefícios proporcionados por esses serviços superam em muito os eventuais prejuízos trazidos por um número muito reduzido de morcegos doentes’, afirmou Enrico.
De acordo com o professor, um dos maiores desafios relacionados à conservação e manejo de morcegos é lidar com a desinformação e o preconceito que rondam os animais e que frequentemente causam pânico desnecessário na população. “Quando entendemos quem são estes animais, e principalmente, entendemos as causas que levam a um desequilíbrio ambiental e a um crescimento exagerado da população de morcegos hematófagos, podemos então ver que a culpa não é dos morcegos, mas sim da maneira como nós, humanos, estamos interagindo com a biodiversidade. Precisamos desfazer a ideia errada de que o contato com um morcego é uma sentença de morte. A raiva é uma doença grave, nunca deve ser negligenciada, mas é uma doença evitável”, concluiu Enrico Bernard.
Integração da saúde humana, animal e ambiental
Para a professora e pesquisadora de morcegos da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) Thallyta Maria Vieira, a capacitação foi extremamente importante para a promoção da saúde na região do norte de Minas Gerais, pois abordou de maneira integrada a saúde humana, animal e ambiental, promovendo o trabalho em equipe multiprofissional.
“A iniciativa busca estimular a formação de uma rede colaborativa entre os municípios, o Instituto Mineiro de Agropecuária, a Superintendência Regional de Saúde, pesquisadores e a sociedade. A colaboração é fundamental para fortalecer as ações de vigilância e educação em saúde, garantindo uma resposta mais eficaz a possíveis desafios epidemiológicos”, disse Thallyta.
Milton Formiga é servidor da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais e atua no controle da raiva animal. Segundo ele, alguns dos principais desafios que a região enfrenta em relação aos morcegos são a ausência de dados sobre as espécies existentes, a falta de parcerias voltadas para as atividades de controle e prevenção da raiva animal, o falso conceito de que os morcegos são perigosos, vilões ou transmissores de doenças, além da ausência de manutenção das ações de educação em saúde para as comunidades que vivem na região.
“A ação de capacitar é essencial para que possamos atualizar as informações de prevenção da raiva e promover ações de trabalho em conjunto com duas entidades: Agentes de Controle de Endemias do Município (ACEM) e Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA- MG). Com essa construção acontecendo, é possível termos uma resposta melhor ao trabalho de educação voltada para conservação, respeito e aquisição de informações sobre o que chamamos de risco epidemiológico para a raiva. Todos os meses, em nosso setor, recebemos cerca de 250 notificações de acidentes com animais potencialmente transmissores da raiva e 0,7% são por morcegos. Parece um valor pequeno, mas não quando se trata de um universo de 3 mil casos por ano em nossa área de atuação”, comentou Milton.
PAN Cavernas do Brasil
A capacitação é uma das 44 ações previstas no Plano de Ação Nacional para Conservação do Patrimônio Espeleológico Brasileiro (PAN Cavernas do Brasil), que são distribuídas em quatro objetivos específicos visando cumprir o objetivo geral: prevenir, reduzir e mitigar os impactos e danos antrópicos sobre o patrimônio espeleológico brasileiro, espécies e ambientes associados, em cinco anos. O PAN contempla 169 táxons nacionalmente ameaçados de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, prazo de execução, formas de implementação, supervisão e revisão.