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Artigo avalia hidrodinâmica de três sistemas cársticos de Pains (MG)
Estudar e compreender ainda mais os sistemas cársticos locais, atuando na conservação e proteção dos recursos hídricos e do patrimônio espeleológico, esse foi o principal objetivo do artigo “Comportamento hidrodinâmico e hidrodispersivo de um hidrossistema neoproterozóico altamente carsificado indicado por testes de rastreadores e abordagem de modelagem”. A pesquisa foi realizada na região cárstica do Alto São Francisco, especificamente na província cárstica de Arcos-Pains-Doresópolis (MG), e contou com apoio do ICMBio/Cecav, por meio do Termo de Compensação Espeleológica (TCCE - nº 03/2018), firmado entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Gerdau.
Considerada uma área prioritária no Plano de Ação Nacional para a Conservação do Patrimônio Espeleológico Brasileiro (PAN Cavernas do Brasil), o trabalho desenvolvido na região focou tanto na conservação do patrimônio espeleológico quanto na proteção do aquífero cárstico. De acordo com um dos autores do projeto, membro do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Geologia e da Sociedade Excursionista e Espeleológica (SEE) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Pedro Assunção, “na área é comum a ocorrência de rochas carbonáticas (calcários e dolomitos) da Formação Sete Lagoas (Grupo Bambuí), apresentando paisagens incríveis de um relevo cárstico típico, com dolinas, lapiás, sumidouros, surgências e cavernas”.
Desenvolvimento do projeto
Pedro explica que o artigo buscou entender a hidrodinâmica de três sistemas cársticos na bacia do rio São Miguel, por meio do mapeamento geomorfológico e geoestrutural, da técnica de traçadores fluorescentes e modelagem das curvas dos traçadores. “Conseguimos perceber que os três sistemas possuem comportamento hídrico distintos entre si e respondem diferentemente às condições climatológicas. Os contextos geológico-estrutural e espeleogenéticos são os fatores determinantes que condicionam o fluxo nos sistemas”, afirmou.
O estudo foi realizado durante dois anos como mestrado acadêmico, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais (PPG-ECRN), do Departamento do Geologia da UFOP. Em campo foram realizadas duas campanhas de testes de traçadores no período de seca (setembro 2020) e chuva (abril 2021), para avaliar a influência das variações climatológicas no hidrodinâmica dos sistemas. A duração dos testes variou entre uma e três semanas dependendo do período sazonal.
Resultados obtidos
Segundo Pedro Assunção, “do ponto de vista acadêmico e científico, a pesquisa contribuiu para um entendimento detalhado dos sistemas cársticos, associando técnicas consolidadas na hidrogeologia cárstica, tais como traçadores fluorescentes, mapeamento de feições cársticas e estruturais e modelagem. Além disso, a técnica de modelagem para interpretação dos testes quantitativos de traçadores, utilizando de softwares criados para este intuito, ainda não foi aplicada no Brasil”.
Já do ponto de vista ambiental e social, o autor conta que “os resultados e produtos obtidos na pesquisa, como o mapa dos sistemas cársticos com as direções e velocidades do fluxo subterrâneo, contribuição ao mapa de áreas vulneráveis do aquífero, identificação de áreas de recarga e descarga, são ferramentas úteis na gestão dos recursos hídricos a serem utilizadas pelo poder público para tomadas de decisões”.
O projeto foi coordenado pelo professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro da Sociedade Excursionista e Espeleológica (SEE), da UFOP, Paulo Galvão. Também são coautores os membros do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Geologia, Thiago Lucon, Tássia Marques e Felipe Costa, do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo (USP), Bruno Doi e o do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear / Comissão Brasileira de Energia Nuclear, Peter Fleming.