Pesquisas em andamento
PROJETOS
Aplicação do protocolo Monitora de monitoramento avançado de aves na REBIO do Gurupi
A falta de padronização nas metodologias de monitoramento tem trazido dificuldades para comparações entre áreas e mesmo para comparações da mesma área quando diferentes esforços de amostragem são empregados ao longo do tempo. De forma a propor uma padronização de protocolos para grupos taxonômicos representativos, o Programa Monitora vem construindo com a comunidade acadêmica um amplo portfólio de métodos a fim de atender este objetivo. Sendo assim, para comunidades de aves florestais em unidades de conservação federais é proposto o método preconizado em Bispo et al. (2016). O método baseia-se em 36 estações fixas distribuídas igualmente em três transecções. Cada estação é distante 200 metros da seguinte e são amostradas entre os 20 minutos que antecedem o nascente até 3 horas após. Nas amostragens, a cada estação fixa, são registrados todos os contatos com aves, sejam auditivos ou visuais, a uma distância inferior a 50 metros por 10 minutos. Cada estação fixa é amostrada cinco vezes por campanha. Entreas diversas UCs federais do Brasil, a Reserva Biológica do Gurupi foi escolhida para ser a pioneira na aplicação deste método.
Foto: Randson Paixão
Em 2017 inicia-se o monitoramento avançado de aves na Rebio do Gurupi. O protocolo amostral segue o descrito em Bispo et al. (2016), com campanhas amostrais anuais intercaladas entre o verão e o inverno, de forma a observar também a magnitude da influência da sazonalidade sobre a comunidade de aves no Centro de Endemismo Belém.
A Rebio do Gurupi é uma unidade de conservação de proteção integral com uma área de 271.000 ha, localizada nos municípios de Bom Jardim, Centro Novo do Maranhão e São João do Carú, no estado do Maranhão. A reserva é contígua a três áreas indígenas, Alto Turiaçu, ao norte, e Caru e Awa a oeste. Embora a unidade seja contígua a Terras Indígenas, o seu entorno é marcado por grandes pastagens e fragmentos florestais bastante impactados pelo corte seletivo e por eventuais incêndios. A própria unidade apresenta, ainda, grandes áreas alteradas por ocupação humana e queimadas.
A Rebio do Gurupi é uma unidade de conservação de grande importância e singularidade. É a única unidade de conservação de proteção integral no extremo oriental da Amazônia ou Centro de Endemismo Belém, região a leste do rio Tocantins em contato com o oceano Atlântico, com a Zona dos Cocais e com o Cerrado. A unidade apresenta muitos endemismos e pelo menos 14 espécies de aves formalmente ameaçadas.
Com três campanhas realizadas até então (em 2020 não houve amostragem devido ao Estado de Emergência em Saúde), cerca de 250 espécies de aves já foram registradas, ao longo de mais de seis mil registros. E novas ocorrências poderão ser adicionadas para a unidade. Após a quarta campanha os resultados que caracterizam a comunidade nesse momento inicial de seu monitoramento serão apresentados em forma de artigo científico.
Responsável: Marcos de Souza Fialho (marcos.fialho@icmbio.gov.br)
Eficácia do controle de abelhas africanizadas em locais de nidificação de psitacídeos no Refúgio de Vida Silvestre e na Área de Proteção Ambiental da Ararinha Azul
A competição com as abelhas africanizadas (Apis mellifera) influencia a ocupação das cavidades usadas pelos psitacídeos para nidificação, limita a sua capacidade reprodutiva e pode impactar no restabelecimento de populações naturais. A presença das abelhas exóticas invasoras é considerada uma das ameaças à reintrodução da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii). Com vistas a aumentar a disponibilidade de cavidades, buscamos verificar a eficácia de diferentes tratamentos para controle de abelhas africanizadas na planície aluvial do Refúgio de Vida Silvestre e Área de Proteção Ambiental da Ararinha Azul. Foram selecionadas como unidades amostrais 114 árvores que possuíam ocos ocupados por enxames ativos de abelhas africanizadas.
As colmeias foram tratadas com aplicação de descargas de gás carbônico e/ou pulverização de inseticidas. Como resultados preliminares, uma unidade amostral controlada com T3 (Fipronil a 0,072%) foi reocupada por uma nova colmeia de abelhas africanizadas e necessitou de reaplicação do tratamento. Na árvore #155, o uso de T2 (Permetrina a 3,49%) removeu a colônia e decorridos 154 dias do tratamento foram observados nove casais de aratinga-de-testa-azul (Thectocercus acuticaudatus) empoleirados. No entanto, não houve atividade reprodutiva no local. A coleta de dados irá continuar nos períodos de nascimento e crescimento dos filhotes nos meses de fevereiro a abril. Esperamos aumentar o número de cavidades para reprodução de maracanãs, e consequentemente ararinhas-azuis, e selecionar o melhor tratamento para ser aplicado na extensão das Unidades de Conservação da ararinha-azul.
Responsável: Camile Lugarini (camile.lugarini@icmbio.gov.br)
Impacto do controle das abelhas africanizadas sobre as populações de abelhas nativas no Refúgio de Vida Silvestre e na Área de Proteção Ambiental da Ararinha Azul
As abelhas africanizadas competem nos ecossistemas por locais para nidificação, competindo com outras espécies, incluindo os psitacídeos, o que pode causar a diminuição de cavidades disponíveis para reprodução das espécies ameaçadas. Neste caso, é indicado o manejo da espécie exótica a partir de tratamentos químicos e físicos. Esse é o manejo que está sendo adotado no Refúgio de Vida Silvestre e Área de Proteção Ambiental da da Ararinha Azul para evitar possível competição na reprodução da população reintroduzida de ararinha-azul (Cyanopsitta spixii). Por outro lado, as abelhas nativas sem ferrão (Meliponinae: Apidae) apresentam uma grande importância dos ecossistemas devido a sua eficiência na polinização. Entretanto, encontram-se em acelerado processo de desaparecimento por perda de habitat, desmatamento e uso de inseticidas.
Considerando que os tratamentos químicos podem ser persistentes no ambiente por meses e com elevada toxicidade para as abelhas nativas sem ferrão, o objetivo deste trabalho é observar o impacto dos compostos químicos para as abelhas nativa. Estão sendo levantados, em 12 áreas amostrais, os ninhos de abelhas nativas presentes em cavidades pré-existentes. As áreas foram percorridas antes da aplicação dos tratamentos e estão em processo de reamostragem após a aplicação do manejo da abelha exótica invasora. Como resultados preliminares, observamos que houve uma redução dos números de ninhos dentro do período de meia-vida dos compostos químicos, mas posteriormente a isso, o número de ninhos aumentou em algumas áreas. Esperamos observar estes impactos com maior precisão a partir da aplicação dos compostos novamente.
Responsável: Camile Lugarini (camile.lugarini@icmbio.gov.br)
Estimativa de densidade populacional de aves ameaçadas da REBIO Guaribas, Usina São João, REVIS Mata do Buraquinho, RPPN Gargaú e Mata da Sucupira pelo método de Amostragem de Distâncias (Distance Sampling)
No Brasil há uma grande lacuna de conhecimento sobre o tamanho populacional das espécies de aves. Essa é uma informação muito importante e tal situação dificulta a avaliação do real estado de conservação das aves brasileiras. Para muitas espécies avaliadas no país o critério "tamanho populacional" nem pode ser adotado, dada a inexistência desta informação, o que leva à aplicação de outros critérios como: distribuição geográfica, fragmentação e qualidade do habitat. A obtenção de estimativas de densidade populacional ao longo do tempo permite também identificar tendências populacionais e contribui para a avaliação da probabilidade de extinção de espécies.
Este projeto tem como objetivo investigar a detectabilidade de aves ameaçadas do Centro de Endemismo Pernambuco (CEP) em alguns fragmentos florestais da Paraíba. Os dados obtidos pelas estimativas de densidade populacional das espécies contribuirão com o processo de avaliação do estado de conservação das aves brasileiras e com a ação 2.9 do Plano de Ação Nacional (PAN) para Conservação das Aves da Mata Atlântica.
Ao longo de 10 anos realizaremos censos mensais nos fragmentos da REBIO Guaribas, Usina São João, REVIS Mata do Buraquinho, RPPN Gargaú e Mata da Sucupira. Em cada área serão percorridos dois transectos de 2 km a pé, no período de maior atividade das aves (entre 5:30 e 8:30 h), a uma velocidade constante (entre 1 e 1,5 km/h). Os avistamentos serão registrados com auxílio de binóculos e máquinas fotográficas, e as distâncias perpendiculares das aves detectadas em relação ao transecto serão obtidas com trena manual e trena a laser. Os dados serão coletados por Analistas Ambientais do CEMAVE, com a colaboração de integrantes do Programa de Voluntariado do ICMBio. Os resultados serão analisados no programa DISTANCE, versão 6.0, com a aplicação de diferentes filtros e funções matemáticas, até se obter a função de detecção que melhor represente as distâncias observadas em campo. O estudo é fomentado pelo ICMBio.
Esperamos obter uma boa série de dados de densidade populacional das espécies-alvo, que poderá contribuir com as duas políticas públicas voltadas à conservação de aves mencionadas acima (PAN das Aves da Mata Atlântica e Avaliação de Espécies Ameaçadas). Além disso, trata-se de um projeto de baixo custo e de longo prazo, que possibilitará comparar as densidades populacionais das espécies estudadas na escala temporal (nos mesmos fragmentos) e espacial (com outros fragmentos de Mata Atlântica fora da UCs).
Responsável: Diego Mendes Lima (diego.lima@icmbio.gov.br)
Linhas de pesquisa 1, 2, 5 e 7
Implementação do Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves dos Campos Sulinos - pesquisa e conservação do cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata)
O projeto visa ampliar o conhecimento sobre os parâmetros populacionais e sanitários de espécies de aves campestres contempladas no Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves dos Campos Sulinos, com ênfase para o cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata), espécie criticamente ameaçada de extinção no Brasil. Atualmente a única população conhecida da espécie no país limita-se ao Parque Estadual do Espinilho e entorno, onde existem hoje menos de 100 indivíduos. Baseado em evidências, uma população diminuta pode ainda permanecer na Serra do Sudeste (Rio Grande do Sul), onde acreditava-se que a espécie estava extinta localmente. O presente projeto também envolve expedições de prospecção para esta região.
Basicamente a pesquisa constituiu-se de estudo populacional, epidemiológico e de prevalência das doenças de Passeriformes que ocorrem naturalmente nos Campos Sulinos, com ênfase no criticamente ameaçado de extinção cardeal-amarelo, cuja necessidade de manejo integrado para a conservação da espécie tem sido avaliada. Populações manejadas de Gubernatrix cristata mantidas sob cuidados humanos vinculadas ao Programa de Cativeiro para a recuperação da espécie coordenado atualmente pela AZAB também são analisadas, a fim de estabelecer seu estado sanitário e reprodutivo atual nos ambientes in situ e ex situ. A sanidade das aves é investigada com exames hematológicos e pesquisa de agentes infecciosos por técnicas de biologia molecular (PCR e posterior sequenciamento). O desenvolvimento da pesquisa (captura, identificação das aves, seus territórios, bem como coletas de amostras) dos Passeriformes de vida livre dos Campos Sulinos ocorre nos município de ocorrência natural do cardeal-amarelo, no qual a população vem sendo monitorada (ex. Barra do Quaraí), e também em Lavras do Sul/RS, onde o método de busca aleatória nas áreas potenciais de ocorrência de cardeais-amarelos também integra a metodologia de estudo em campo. Esta pesquisa é realizada em parceria com as seguintes instituições: PUC RS, UFPR, USP, FURG, MCN/SEMA RS, SEMA RS (Parque Estadual do Espinilho).
Os resultados obtidos visam a elaboração de base de dados para avaliação da saúde das populações, incluindo parâmetros demográficos, hematológicos, bioquímicos e microbiológicos da espécie criticamente ameaçada de extinção Gubernatrix cristata, em vida livre e em cativeiro, além de investigar a saúde de populações de Passeriformes em áreas previstas para potencial soltura experimental da espécie (manejo integrado para a conservação). Esta pesquisa gera valores de referência para o monitoramento e avaliações futuras dessas aves campestres, além de potencialmente embasar decisões de manejo do Programa de Cativeiro do Cardeal-amarelo (reintrodução, revigoramento populacional, pareamentos, entre outras), contribuindo nas iniciativas de conservação previstas no Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves Ameaçadas dos Campos Sulinos.
Informações demográficas e sanitárias estão subsidiando o desenvolvimento da tese de doutorado de parceira da Universidade Federal do Paraná (Bianca Resseti Silva).
Responsável: Andrei Langeloh Roos (andrei.roos@icmbio.gov.br)
Monitoramento de aves marinhas e oceânicas ameaçadas
O projeto visa ampliar o conhecimento sobre os parâmetros populacionais, sanitários e reprodutivos atuais das espécies de aves marinhas em algumas das áreas-chave para as populações ameaçadas no país. Este projeto envolve tanto aves marinhas ameaçadas que se reproduzem em ilhas oceânicas brasileiras, quanto aves da ordem Procellariiformes que se reproduzem em ilhas oceânicas fora do território brasileiro, mas por sua característica migratória, utilizam o país durante parte de seu ciclo biológico.
Para a maioria das Unidades de Conservação (UCs) federais insulares envolvidas neste projeto de pesquisa a metodologia básica inclui a contagem de ninhos seguindo metodologia publicada por Mancini et al. (2016). Quando a fenologia das espécies de aves marinhas já é compreendida para a UC, o esforço amostral inclui a contagem ao menos anual, coincidindo com o período de maior atividade reprodutiva. Parâmetros sanitários, de prevalência de plástico nas aves e outras informações demográficas e fisiológicas (obtidas através do anilhamento/recuperação de marcadores, registro de padrões de mudas de penas, e outros) também fazem parte das análises previstas nesta pesquisa, a ser realizada em longo prazo por tratar-se de monitoramento contínuo dos parâmetros escolhidos. Esta pesquisa é conduzida pelo CEMAVE desde 2010, e tem sido possível com o trabalho conjunto de várias instituições: FURG, UFRGS, PUC RS, UFAL, USP, MNRJ (UFRJ), UNB, R3 Animal, Projeto Albatroz, equipes das UCs do ICMBio e outras.
Os resultados obtidos contribuirão para subsidiar medidas de proteção à essas espécies nas ilhas onde se reproduzem, bem como avaliar o impacto e influência das ameaças já identificadas com as quais convivem. Os dados obtidos com o monitoramento em longo prazo complementam as informações necessárias para a avaliação do estado de conservação das populações estudadas e são cruciais para subsidiar ações de conservação e decisões de gestão ou manejo nas UCs.
Informações demográficas e sanitárias publicadas a partir de dados obtidos deste trabalho contínuo:
I. Hurtado, R. H., Serafini, P. P., Vanstreels, R. E. T., Olsen, K. M., & Durigon, E. L. (2012). Northernmost record of Brown Skua Stercorarius antarcticus (Lesson 1831) at Maranhão state, northern Brazil. Boletín Chileno de Ornitología, 18(1-2), 52-56.;
II. Ometto, T., Durigon, E. L., De Araujo, J., Aprelon, R., de Aguiar, D. M., Cavalcante, G. T., ... & Neto, I. S. (2013). West nile virus surveillance, Brazil, 2008–2010. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 107(11), 723-730.;
III. Livro Vida marinha de Santa Catarina / organizador Alberto Lindner. – Florianópolis: Ed. da UFSC, 2014. 128 p;
IV. Vieira, B. P., Dias, D., Rocha, H. J. F., & Serafini, P. P. (2015). Birds of the Arvoredo Marine Biological Reserve, southern Brazil. Check List, 11(1), 1532.;
V. Leal, G. R., Serafini, P. P., Simão-Neto, I., Ladle, R. J., & Efe, M. A. (2016). Breeding of White-tailed Tropicbirds (Phaethon lepturus) in the western South Atlantic. Brazilian Journal of Biology, 76(3), 559-567.;
VI. Mancini, P. L., Serafini, P. P., & Bugoni, L. (2016). Breeding seabird populations in Brazilian oceanic islands: historical review, update and a call for census standardization. Ornithology Research, 24(2), 94-115.;
VII. Vieira, B. P., & Serafini, P. P. (2016). GUIDELINES FOR MANAGING SEABIRDS IN THE ARVOREDO MARINE BIOLOGICAL RESERVE, SOUTHERN BRAZIL. Biodiversidade Brasileira, (1), 174-189.;
VIII. MICHELETTI, T.; FONSECA, F.S.; MANGINI, P.R.; SERAFINI, P.P; et al. 2020. Terrestrial Invasive Species on Fernando de Noronha Archipelago: What We Know and the Way Forward. In: LONDE, V. (Ed) Invasive Species: Ecology, Impacts and Potential Uses. 1. ed. New York: Nova Science Publishers. Cap. 3, p. 51-94. ISBN: 978-1-53617-890-6.;
IX. SARAIVA, M.M.S.; LEON, C.M.C.G.; SILVA, N.M.V.; RASO, T.F.; SERAFINI, P.P.; GIVISIEZ, P.E.N.; GEBREYES, W.A.; OLIVEIRA, C.J.B. 2020. Staphylococcus sciuri as a Reservoir of mecA to Staphylococcus aureus in Non-migratory Seabirds from a Remote Oceanic Island. MICROBIAL DRUG RESISTANCE. Mary Ann Liebert, Inc. DOI: 10.1089/mdr.2020.0189.
Responsável: Patrícia Pereira Serafini (patricia.serafini@icmbio.gov.br)
Linhas de pesquisa 1, 2, 5, 6, 7 e 8
Monitoramento populacional da arara-azul-de-lear
Coordenado pelo CEMAVE, o monitoramento populacional (censo) da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) tem como objetivo principal estimar o número de aves na natureza. É um dos mais longos projetos de monitoramento de aves ameaçadas no país e vem sendo realizado de forma sistemática, anualmente, desde a criação do Programa de Conservação e Manejo da Arara-azul-de-Lear, em 2001. O engajamento social na conservação dessa ameaçada ave e do seu ambiente é a engrenagem principal deste projeto, que já contou com a participação de mais de 150 colaboradores e voluntários, muitos deles da própria região de ocorrência da espécie. Com os resultados desse projeto avaliamos a tendência populacional e a efetividade das ações de conservação aplicadas, na expectativa de que esta população continue a prosperar.
Responsável: Antônio Eduardo Araújo Barbosa (antonio-eduardo.barbosa@icmbio.gov.br)
RETER-Trindade: recuperação do ecossistema terrestre da Ilha da Trindade visando evitar a extinção de espécies ameaçadas
A ilha da Trindade abriga espécies e ambientes insulares únicos no mundo e, portanto, é considerada um hotspot de biodiversidade no sudoeste do Oceano Atlântico. No entanto, a introdução de espécies exóticas invasoras e incêndios ocorridos nos últimos séculos comprometeram o ecossistema terrestre da ilha. A vegetação sofreu um severo impacto negativo a partir da introdução de plantas, porcos e cabras, e do uso do fogo, que alteraram a paisagem e devastaram florestas e pteridófitas endêmicas. Com a destruição das árvores, aves marinhas ameaçadas como o atobá-de-pésvermelhos (Sula sula), extinto localmente, e as endêmicas criticamente ameaçadas (CR) fragata-de-Trindade (Fregata trinitatis) e fragata-grande (Fregata minor nicolli), que utilizavam a vegetação arbórea para nidificação, já não são vistas se reproduzindo no local há décadas. As peculiaridades do ambiente insular, ao mesmo tempo que aumentam a biodiversidade através do isolamento geográfico, potencializam ameaças introduzidas repentinamente. Esse é o caso de Mus musculus, camundongo exótico com alto potencial invasor, que chegou à ilha da Trindade através dos porões de embarcações e, atualmente, ocorre com grande abundância na ilha, inclusive nas áreas reprodutivas da grazina-deTrindade (Pterodroma arminjoniana CR). Nesse contexto, o presente projeto visa recuperar condições naturais da ilha existentes previamente à colonização humana, através do fortalecimento e união de instituições envolvidas na conservação da ilha da Trindade, e do essencial apoio da Marinha do Brasil através do PROTRINDADE.
Entre as principais ações previstas neste projeto está o fornecimento de ninhos artificiais para reprodução das fragatas endêmicas e do atobá-de-pé-vermelho na ilha da Trindade. Serão instalados 40 ninhos artificiais para aves marinhas em locais de maior potencial identificados (através do mapeamento dos solos ornitogênicos). Também está prevista a avaliação do impacto e de ações de controle de espécies exóticas invasoras. Estão sendo analisadas as relações tróficas dos camundongos na ilha da Trindade, estimada a contribuição da flora nativa para sua dieta e testados métodos para estimar sua densidade e distribuição. A identificação das espécies vegetais exóticas na Ilha da Trindade, bem como o mapeamento da distribuição espacial a fim de subsidiar sua remoção mecânica também fazem parte deste trabalho, notadamente de espécies exóticas com elevado potencial invasor. Têm sido monitoradas ainda as populações de aves marinhas ao longo da Cadeia Vitória-Trindade (CVT) e na ilha da Trindade, informações com potencial para subsidiar o estabelecimento (zoneamento e gestão) das Unidades de Conservação criadas ao longo da CVT (APA) e da ilha da Trindade (MONA). Estão sendo realizadas também cinco (5) expedições para marcação e recaptura de aves marinhas com anilhas metálicas com foco em Pterodroma arminjoniana e Gygis alba. Por fim, para determinação do status taxonômico da fragatas endêmicas e ameaçadas da Ilha da Trindade, serão analisadas sequências gênicas e calculadas métricas de diferenciação populacional das fragatas da ilha de Trindade em relação a uma população conspecífica do Oceano Pacífico e uma do Oceano Índico utilizando material biológico de no mínimo dez (10) F. trinitatis e dez (10) F. m. nicolli. O Programa RETER-Trindade tem o CEMAVE como parte da equipe desde sua concepção, é coordenado pela FURG e tem sido possível com o trabalho em conjunto com várias instituições, tais como UFRGS, UFAL, UnB, MNRJ (UFRJ), equipes das UCs do ICMBio e outras.
Os resultados obtidos contribuirão para subsidiar e testar a efetividade de medidas de proteção e manejo para a conservação das espécies ameaçadas na ilha da Trindade, bem como avaliar o impacto e influência das ameaças já identificadas com as quais convivem. Os dados obtidos com o monitoramento em longo prazo complementam as informações necessárias para a avaliação do estado de conservação das populações estudadas e trazem dados cruciais para subsidiar a continuidade de ações de conservação e decisões de gestão ou manejo nas UCs (MONA das Ilhas de Trindade e Martim Vaz e do Monte Columbia, APA do Arquipélago de Trindade e Martim Vaz).
Responsável: Patrícia Pereira Serafini (patricia.serafini@icmbio.gov.br)
Linhas de pesquisa 1, 2, 3 e 7
A observação de aves nas unidades de conservação federais do Brasil: panorama atual, potencialidades e desafios
O turismo ecológico, de natureza ou ecoturismo demanda viagens e visitas a espaços naturais uma vez que sua principal motivação é o desejo e/ou necessidade de contato das pessoas com a natureza, com a observação passiva da flora, fauna, paisagem e aspectos cênicos do entorno. É o tipo de turismo que mais tem crescido no mundo e possui grande interface com as áreas naturais protegidas em Unidades de Conservação. Sendo um dos tipos de turismo de natureza, a observação de aves (birding ou birdwatching em inglês) tem sido considerada uma das atividades turísticas mais sustentáveis e de grande compatibilidade com as áreas protegidas, por possuir características ambientalistas, como a conscientização ambiental, a promoção sustentável dos recursos e o envolvimento das populações locais, além de um grande potencial econômico. Embora seja uma atividade de baixo impacto, a ausência de regulação, controle e/ou de estruturas adequadas pode criar situações de impactos e conflitos com a gestão das áreas protegidas.
Por ser uma atividade relativamente recente no Brasil, ainda não temos uma avaliação detalhada da atividade a nível nacional, do seu perfil econômico, tampouco da sua interface com as áreas protegidas e a capacidade das áreas protegidas em receber tal atividade turística. Contudo há um aumento na demanda e proposição de novos destinos para a observação de aves, os quais incluem várias unidades de conservação, fazendo-se necessário a conciliação da atividade de observação de aves com os objetivos de conservação das áreas protegidas.
Diante desse cenário, e como forma a aliar o objetivos de conservação da biodiversidade das unidades de conservação com os objetivos de valorização da biodiversidade e educacionais através da regulação do uso publico das áreas protegidas, esse projeto se propõe a fazer uma avaliação da atividade de observação de aves nas unidades de conservação federais do Brasil e identificar as potencialidades e desafios para implementação da atividade no rol de serviços das UCs.