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Nova obra mapeia a consolidação da Ciência Aberta no Brasil a partir das experiências de instituições públicas
A recém-lançada publicação Ciência Aberta no Brasil: conquistas e desafios propõe uma leitura transversal e articulada do cenário brasileiro da Ciência Aberta, reunindo reflexões e experiências institucionais que revelam a complexidade, os avanços e as lacunas ainda presentes na transição para um modelo científico mais aberto, colaborativo e responsável.
Organizado por Fabiano Couto Corrêa da Silva (UFRGS), Ketlen Stueber (Ibict) e Washington Luís Ribeiro de Carvalho Segundo (Ibict), o livro conta com coedição da Editora Letra1 e do Programa SciELO Brasil, com apoio do Ibict, e está disponível em formato digital e de acesso aberto.
Para o Coordenador-geral de Informação Científica e Técnica do Ibict, Washington Segundo, o livro representa mais do que um registro, é um chamado à ação. “Como coordenador dessa área no Ibict, me sinto imbuído do espírito e da missão de parceiros como SciELO, Fiocruz, RNP, CAPES, CNPq, CONFAP, IBGE, INCT de Ciência Cidadã, ABEC, UFG e UFPR. Celebro o avanço aqui descrito como afirmação do caminho percorrido até aqui e reafirmo nosso compromisso em seguir construindo, de forma colaborativa e estruturada, um ecossistema de pesquisa que realmente seja transparente, acessível e inclusivo para o nosso país”.
A pesquisadora Ketlen Stueber, diz que a obra surgiu da necessidade de reunir diferentes relatos sobre o protagonismo de instituições, projetos e pesquisadores que são referência no assunto no Brasil. “Juntos, listamos uma série de instituições e, em cada uma delas, pensamos em nomes que poderiam contribuir. No desenho original da obra, elencamos mais de vinte instituições, tivemos o retorno de catorze. Isso significa que o Movimento Ciência Aberta em nosso país existe e é maior do que imaginamos! Há desafios ao mesmo tempo que temos potencial para estruturar uma nova cultura de pesquisa cada vez mais aberta, transparente e colaborativa”.
A obra reúne catorze capítulos, que abordam os processos de institucionalização da Ciência Aberta a partir de diferentes esferas de atuação do sistema nacional de ciência e tecnologia. A perspectiva é plural: o livro dá voz a instituições de fomento, agências de governo, universidades, redes colaborativas, infraestruturas de dados e grupos de pesquisa que vêm, cada um a seu modo, incorporando princípios e práticas abertas ao seu cotidiano técnico, político e científico.
O pesquisador Fabiano Couto destaca que a obra revela o crescimento do Movimento Ciência Aberta no Brasil. “O livro mostra que o Movimento é mais diverso e vigoroso do que muitas vezes se imagina. Ao reunir essas experiências, fica evidente que temos um ecossistema em formação, que articula políticas, tecnologias e práticas. Ao mesmo tempo, ainda há muito a ser feito para consolidar uma cultura de Ciência Aberta que seja efetivamente inclusiva e institucionalizada”, afirma.
Segundo o organizador, mais do que uma compilação de experiências isoladas, a publicação se propõe como um panorama da construção coletiva da Ciência Aberta no país. Essa construção se materializa em grandes eixos transversais que perpassam os relatos: a formulação de políticas públicas, a criação e consolidação de infraestruturas tecnológicas, e a indução cultural para novas formas de produção e comunicação da ciência.
Políticas públicas e articulação interinstitucional
Diversos capítulos destacam a importância dos compromissos assumidos pelo Brasil nos Planos de Ação da Open Government Partnership (OGP) como impulso estratégico para o avanço da Ciência Aberta no país. Essa agenda propiciou o surgimento de instrumentos como o LattesData, o Observatório da Ciência Aberta e diretrizes de avaliação mais alinhadas à transparência e à responsabilidade social da pesquisa. As experiências relatadas indicam que, mesmo sem uma política nacional unificada, há um processo de governança emergente em curso, sustentado por redes de colaboração entre agências como CNPq, CAPES, Ibict, CONFAP, RNP e outras instituições de pesquisa.
Infraestruturas e gestão de dados
Outro ponto de convergência entre as experiências apresentadas é o esforço para criar ou fortalecer infraestruturas digitais voltadas ao compartilhamento de dados de pesquisa, preprints e outros objetos científicos. Plataformas como BrCris, Arca Dados, SciELO Preprints, SciELO Data, e o trabalho articulado de repositórios institucionais e temáticos mostram o quanto o país tem avançado em soluções técnicas de visibilidade, interoperabilidade e preservação. Ainda que em diferentes estágios de maturidade, essas iniciativas revelam um movimento coordenado para tornar os dados científicos mais acessíveis, reutilizáveis e auditáveis.
Cultura científica e comunicação aberta
Um terceiro eixo que se destaca na obra é o desafio cultural. A Ciência Aberta, como mostram vários capítulos, não se faz apenas com plataformas e decretos: ela exige mudanças profundas nos modos de fazer ciência, nas formas de avaliação da produtividade acadêmica, no papel dos periódicos e no diálogo com a sociedade. A atuação da ABEC Brasil, da Fiocruz, das universidades, e das redes de ciência cidadã, como a Civis, ilustram esse esforço de transformação cultural e pedagógica, onde a formação de pesquisadores e a inclusão de novos sujeitos na produção de conhecimento ganham centralidade.
Com contribuições de mais de 30 autores e autoras, a obra representa uma oportunidade para compreender a pluralidade de caminhos adotados pelas instituições brasileiras na construção de uma ciência mais transparente, participativa e democrática.
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https://doi.org/10.5281/zenodo.15149338