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Encontro Brasileiro de Bibliometria e Cientometria debate o tema Ciência Inclusiva e Global
Nesta terça-feira (23), a Biblioteca Central da Universidade de Brasília (UnB) sediou a cerimônia de abertura do 9º Encontro Brasileiro de Bibliometria e Cientometria (EBBC). O evento acontece na Faculdade de Ciência da Informação da UnB entre os dias 23 a 26 de julho e vai reunir pesquisadores de diversos campos relacionados aos Estudos Métricos da Informação.
A cerimônia de abertura do EBBC teve a participação de Márcia Abrahão Moura (reitora da UnB), Rogerio Henrique de Araújo Júnior (vice-diretor da FCI/UnB), Tiago Braga (Diretor do Ibict), Michelli Pereira da Costa (Coordenadora do PPGCINF/UnB), João Maricato (FCI/UnB) e Ronnie Brito (Vice-presidente do EBBC/Ibict).
João Maricato, presidente do EBBC, destacou a importância do evento, um dos principais eventos globais sobre Estudos Métricos da Informação. “Esse é o principal evento de métricas da ciência no Brasil e um dos maiores do mundo nessa temática. A edição atual conta com um recorde de aproximadamente 240 inscritos. A área de bibliometria e cienciometria é reconhecidamente relevante, especialmente para o planejamento de políticas científicas, com uma comunidade bastante expressiva, experiente e bastante atuante”.
Tiago Braga, diretor do Ibict, destacou a importância do tema para a formulação de políticas públicas e impacto no desenvolvimento nacional. “Existem diversos níveis de evolução até a ciência se transformar em uma ciência que promova, de fato, uma melhoria das condições de vida, sejam elas sociais, ambientais ou econômicas. A valorização da forma como se mede a ciência é fundamental para que a gente tenha de fato uma soberania nacional”, avalia.
O 9º EBBC reúne os principais pesquisadores de diversos campos interessados em métricas de informação, oferecendo um espaço interdisciplinar para a discussão de tópicos relacionados à produção, comunicação, acesso, uso e avaliação da informação em ciência, tecnologia e inovação. De acordo com a organização, o evento teve a submissão de mais de 160 trabalhos nas áreas de bibliometria e cientometria, com a presença de pesquisadores de mais de 45 instituições.
Nesta edição, o tema do evento é “Ciência Inclusiva e Global: dados, métricas e infraestruturas”. Para Maricato, o tema remete à ideia de que a ciência só é global se ela incluir efetivamente o sul global, em contraposição aos domínios científicos exercidos pelas nações com maior poder econômico, geralmente localizadas no hemisfério norte. “A gente destaca a necessidade de métricas mais adequadas para avaliar a ciência de países tão centrais e a importância de investir em infraestruturas nacionais de C&T mais adequadas às realidades do sul global”, explica.
O 9º EBBC é organizado pela UnB, em parceria com o Ibict e com o apoio de diversas instituições científicas. O evento promove uma ampla programação com palestras, oficinas, fórum doutoral, debates, apresentações de trabalhos científicos e premiação de melhores teses e dissertações.
Conferências de abertura
O evento de abertura do 9º EBBC contou com as conferências “On the importance of open science infrastructures”, com Vincent Lariviere (Universidade de Montreal, Canadá) e “Tecnologia responsável e descentralização do conhecimento científico”, com Nina Da Hora (Instituto da Hora/Unicamp). A mediação foi de Ronaldo Ferreira Araújo, professor da UFAL.
Vincent Lariviere apresentou dados sobre a ciência aberta que mostram o crescimento das publicações de artigos científicos em acesso aberto em todo o mundo. De acordo com o pesquisador, é preciso avançar ainda mais. “A ciência ainda é uma atividade muito fechada e não é tão inclusiva. Menos de ¼ dos artigos científicos do mundo estão em acesso aberto”, explica.
De acordo com Lariviere, é necessário promover o acesso aberto, mas também existe a necessidade de se pensar outras métricas para avaliar o impacto científico e promover práticas científicas mais inclusivas. “A publicação de artigos científicos está alta. Estamos publicando demais, mas isso não significa que estamos fazendo mais ciência”.
Nina da Hora, que participou de forma remota, apresentou questionamentos e reflexões acerca dos avanços da tecnologia e o uso da Inteligência Artificial (IA), como os debates sobre ética, limites e regulação, os perigos da IA na fraude de trabalhos científicos, a falta de transparência dos dados e resultados de artigos, e o papel vital da diversidade (étnico/racial, de gênero, de classe) na concepção e aplicação da IA.
“A tecnologia digital foi pensada desde o início como uma concentração de poder de grandes empresas. Existe uma promessa de descentralização de acesso aberto, que contrasta com a concentração de poder em grandes empresas de tecnologia que dominam as ferramentas de IA”, diz Nina da Hora.
Para a pesquisadora, a IA promove avanços como a automatização de processos científicos, mas ela destaca que é necessário ter rigor na revisão de artigos científicos e pensar no desenvolvimento de infraestruturas abertas, códigos e dados abertos para descentralizar o acesso à produção e ao conhecimento científico. Além disso, ela destaca a necessidade de aproximação da ciência com a sociedade civil.
“Precisamos desenvolver tecnologias responsáveis e abertas, mas descentralizar o conhecimento científico está fortemente associada à ideia de aproximar espaços acadêmicos da sociedade. Porque conforme os problemas vão surgindo e as questões estão se tornando mais complexas, tem se tornado óbvio a necessidade de sairmos das nossas esferas, bolhas acadêmicas, para conversar e escutar e desenvolver em conjunto com a sociedade civil”, finaliza a pesquisadora.
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