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Painel discute estratégias de integração ciência e sociedade
Promover a aproximação entre a ciência e a sociedade nas políticas de CT&I. Esse foi o tema central do painel “Eixo IV - Futuros Compartilhados: Modelos Colaborativos para Integração Ciência/Sociedade”, realizado nesta terça-feira (30), durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia.
O painel abordou a diversidade na ciência e a integração da CT&I às necessidades sociais, refletindo sobre a valorização do conhecimento de povos tradicionais e a participação de grupos historicamente marginalizados, como comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas, mulheres, negros e pessoas com deficiência.
O professor de ciências sociais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Marko Monteiro, iniciou o debate apresentando diferentes modelos teóricos e normativos sobre o tema da mesa. Para ele, promover a aproximação entre a ciência e a sociedade vai muito além da popularização da ciência e da participação popular, e inclui a valorização de diversas formas de produção de conhecimento.
“Promover essa aproximação não é óbvio e não é linear. Não se resume a divulgar mais a ciência e nem chamar atores a opinar. Incorporar grupos e indivíduos envolve mudanças institucionais. Para alcançar esses objetivos que promovam a redução de desigualdades e melhorias, é preciso buscar novos arranjos de políticas cientificas”, afirma.
O professor da Unicamp apresentou algumas recomendações para que a ciência seja um espaço mais plural, como a formação de pessoas com orientação transdisciplinar, a criação de editais que comportem as especificidades de projetos colaborativos, a criação de espaços seguros para experimentações transdisciplinares paralelas aos projetos tradicionais, novas formas de avaliação científica e o apoio financeiro a regiões fora dos eixos Sul e Sudeste.
A pesquisadora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) e coordenadora do INCT de Ciência Cidadã, Sarita Albagli, criticou a visão do pensamento ocidental que separa a ciência da sociedade. “Essa ideia é errada. A sociedade é vista como algo externo à ciência. Algo a ser dominado e estudado. Essa é uma separação iluminista da ciência moderna”, disse.
A pesquisadora enfatizou a ciência aberta e a ciência cidadã como ferramentas para a agenda de desenvolvimento social e de lutas por direitos. No Brasil, ampliam-se as iniciativas nesse campo e sua adoção engloba amplo espectro de abordagens, atores e ações, envolvendo desafios teóricos e metodológicos. “As sociedades e grupos não querem mais ser apenas objetos de pesquisa, objeto de consulta, nem fonte de matérias-primas, querem sim estar à mesa nas decisões”, ressaltou.
De acordo com a pesquisadora do Ibict, a ciência aberta promove a transparência, o acesso aberto aos dados científicos e a colaboração entre pesquisadores e comunidades locais. Já a ciência cidadã promove o engajamento social na pesquisa, sobretudo em questões de relevância social, ambiental e territorial, com soluções e processos científicos que atendam às necessidades das comunidades.
Em seguida, a professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Gabriela Di Giulio, refletiu sobre os desafios teóricos da temática e apresentou experiências de projetos que promovem processos científicos em colaboração com comunidades locais no Estado de São Paulo. “Esses são projetos com a perspectiva de coprodução do conhecimento”.
A membra do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen/Ministério do Meio Ambiente), Cristiane Pankararu, abordou o tema do painel a partir da perspectiva dos povos originários. Segundo a especialista, o Brasil possui mais de 305 povos indígenas e as universidades e o ecossistema de C&T ainda não reconhecem os saberes tradicionais como tecnologias e conhecimentos científicos legítimos.
“Essa ciência diminui a minha ciência, minha raiz e matéria-prima. As minhas ciências estão em constante ebulição, transformação, movimento de informar para formar. Essas informações são passadas na oralidade, no cotidiano, no observar e fazer. O nosso laboratório é sensitivo. É pela sensibilidade que aprendemos as nossas ciências”, diz Pankararu.
Para ela, a ciência deve trazer a prática da escuta das comunidades e desenvolver soluções reais para resolver os problemas encontrados nos territórios. Entre os desafios a serem enfrentados, estão a regularização das terras, o combate às mudanças climáticas e ao desmatamento, o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas sobre o seu patrimônio cultural, os direitos de propriedade intelectual sobre os seus conhecimentos tradicionais, recursos genéticos e expressões culturais tradicionais.
“A ciência só terá eficácia se regularizar a situação territorial dos povos indígenas e tradicionais, respeitar a legislação vigente que nos reconhece como sujeitos detentores de direitos e não como objetos. E terceiro, precisa reconhecer que as ciências produzidas em nome da sociedade precisam respeitar a diversidade”, conclui Pankararu.
Confira abaixo a íntegra do Eixo IV - Futuros Compartilhados: Modelos Colaborativos para Integração Ciência/Sociedade.
https://www.youtube.com/watch?v=D6_VTYc5c00
Texto: Carolina Cunha
Foto: Rodrigo Cabral (ASCOM/MCTI)