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Ibict coordena mesa sobre combate à desinformação e à anticiência
A estruturação da desinformação, como ela se espalha na sociedade, quem ganha com a disseminação e o impacto que as fake news podem causar na democracia dos países foram alguns pontos apresentados pelos participantes na mesa ‘Combate à desinformação e à anticiência’ coordenada pelo diretor do Ibict, Tiago Braga, na quinta-feira, 1º de agosto, durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Tiago Braga ressaltou que a desordem em informação provocada pelas falsas notícias atrapalha que a ciência cumpra sua missão basilar, que é a de promover o desenvolvimento do País. Compondo um cenário de policrises acontecendo ao mesmo tempo, tal como a ambiental e a geopolítica com guerras, a da desinformação “está no contexto das crises e é inclusive vetor de promoção delas”, explica.
Braga lembra que a firmeza de atuação da comunidade científica foi vista durante a pandemia. Ao mesmo tempo em que diversos pesquisadores buscavam soluções frente ao contexto social da época, eles eram intensamente atacados por apresentarem seus achados científicos. Para ele, é importante que a ciência encontre respostas para problemas causados pela desinformação e que os pesquisadores possam trabalhar. É nessa perspectiva que o Ibict atua na criação de um projeto para dar suporte tecnológico aos pesquisadores que forem agredidos.
O diretor falou sobre o conceito de pobreza informacional da pesquisadora Elfreda Chatman, fazendo uma relação com o tema da desinformação. E também apresentou as iniciativas do Ibict para combater a desinformação, como a Rede Minerva de pesquisa, que dará suporte a ações voltadas para a integridade da informação e o combate à desinformação de pesquisadores com uma infraestrutura informacional.
João Brant, secretário de Políticas Digitais, na Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, apresentou a visão da Presidência para o tema, que foi compartilhada durante a estruturação da presidência do Brasil no G20, abordando os impactos da desinformação para a sociedade como a instabilidade política e econômica, negacionismo, diminuição de cobertura vacinal e a violação de direitos. O secretário também falou sobre liberdade de expressão, consolidada nas dimensões individual e coletiva.
Além disso, Brant descreveu o conceito de integridade da informação, que reconhece a necessidade de produção, oferta e disponibilidade de informações precisas, consistentes e confiáveis. Ele descreveu os seis eixos defendidos pela presidência: regulação de mercados, educação midiática, jornalismo de interesse público, diversidade na comunicação, pesquisa e desenvolvimento, atuação direta com políticas públicas.
Cláudia Linhares Sales, representante da SBPC, ressaltou que a desinformação, junto com as mudanças climáticas são, atualmente, as maiores ameaças globais, segundo o Fórum Mundial de Economia de 2024. A pesquisadora apresentou conceitos e explicações sobre motivação para promover a desinformação, o processo de comunicação utilizado, envolvendo os desafios de quem produz, de quem comunica e quem consome a informação falsa.
Como conclusões, Cláudia apontou: a inteligência artificial pode ajudar a lidar com uma quantidade massiva de dados, mas é preciso regulamentação, e existe ruído na comunicação entre quem comunica e quem recebe a informação. Além disso, destacou que “não se enfrenta uma das maiores ameaças globais sem investimento”. Destacou ainda a importância da Popularização da Ciência neste contexto.
A cientista chamou atenção para o espaço que o Estado precisa ocupar na discussão sobre desinformação, pois hoje somente os atores privados e as grandes empresas podem falar sobre o assunto, pois o Estado não tem uma regulamentação. “O que temos são regras feitas pelas próprias plataformas, então precisamos legitimar o Estado como fonte para falar sobre os ambientes digitais.
Renata Mielli, coordenadora do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), destacou que é importante entender que essa desordem se iniciou de forma mais intensa quando construímos as condições de que todas as pessoas pudessem falar ao mesmo tempo sendo mediadas por algoritmos digitais. Na prática, a estrutura automatizada cria pequenos centros de conteúdo para cada pessoa “cada um, escuta uma parte do debate”.
Renata enfatizou que a regulamentação das plataformas digitais é ponto de partida para qualquer caminho apresentado na conferência. Indicou a necessidade de se ter uma visão crítica e soberana que queremos para o campo digital. Para ela, o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, lançado durante a conferência, traz elementos estruturantes para que o País “passe a refletir sobre os caminhos que queremos na arena digital”.
A íntegra da mesa ‘Combate à Desinformação e à anticiência’ pode ser conferida na página do Ibict no youtube.
A construção do debate:
A mesa foi construída a partir de ações colaborativas da academia, da sociedade civil e dos três poderes. Um dos subsídios foi o resultado da “Conferência Livre: Ciência no Combate à Desinformação”, que aconteceu em abril.