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Pesquisadores de todo o país reforçam compromisso no combate à desinformação em carta conjunta
Pesquisadores, instituições de pesquisa e órgãos de fomento à ciência, uniram-se, recentemente, no compromisso pelo combate à desinformação por meio de uma carta elaborada durante a Conferência Livre: Ciência no Combate à Desinformação, promovida pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com apoio da Secretaria de Comunicação Social (Secom), da Presidência da República, e do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit), do Ministério da Saúde, nos dias 2 e 3 de abril de 2024. Cientistas de todo o país propuseram uma agenda conjunta de trabalho, destacando a importância da integridade da informação na construção de uma sociedade democrática, pacífica, inclusiva e sustentável.
Na carta, os signatários reconhecem a necessidade urgente de enfrentar os desafios trazidos pela disseminação em massa de desinformação, teorias da conspiração e discurso de ódio. O grupo propõe uma série de medidas, incluindo garantir acesso a dados provenientes de plataformas digitais para pesquisas, desenvolver parâmetros éticos para o uso de dados digitais e promover a curricularização dos estudos sobre desinformação e educação midiática. A garantia de acesso aos dados públicos gerados e armazenados por plataformas digitais é fundamental, tendo em vista que grande parte do debate sobre temas de interesse social ocorrem nelas.
As ações sugeridas no documento se dividem nas seguintes temáticas: infraestrutura e prática da pesquisa; promoção de conexões, interfaces e políticas de comunicação; e fomento e financiamento. Outras propostas são: a promoção de espaços de integração entre universidades, sociedade civil e demais atores; o desenvolvimento de políticas de comunicação pública em ciência; e o fomento à formação de pessoal qualificado e ao desenvolvimento tecnológico.
De acordo com o Diretor do Ibict, Tiago Braga, o compromisso expresso nesta carta “é um marco na compreensão de que a desinformação é um problema que precisa ser resolvido a partir da perspectiva da ciência. Ela também sinaliza algumas diretrizes que a comunidade científica identifica como fundamentais para que tenhamos uma sociedade democrática e aberta para o desenvolvimento social, ambiental e econômico do país”.
Leia abaixo a carta na íntegra:
Carta aberta: ciência no combate à desinformação
No Brasil, o acesso à informação é um direito constitucional decisivo para nossa democracia. O exercício pleno da cidadania, dos direitos políticos e da manifestação social republicana são objetivos perseguidos por todos e todas que desejam justiça social. Atualmente, essas múltiplas dimensões e a própria integridade da informação estão ameaçadas por uma dinâmica econômica e social, mediada por plataformas e por tecnologias controladas e restritivas, nocivas para a sociedade como um todo e para a própria democracia.
Na era digital atual, marcada por uma interconexão sem precedentes e avanços tecnológicos acelerados, o conceito de integridade da informação assume um papel crucial na construção de sociedades democráticas, pacíficas, inclusivas e sustentáveis. A integridade da informação transcende a simples precisão da informação, abordando também a forma como ela é disseminada e consumida dentro de um ecossistema de informação aberto, seguro e livre de discriminação e ódio, sendo fortemente conectada com a realidade social em que se insere. Esses princípios destacam a importância de promover um ambiente informacional onde todos tenham acesso a informações precisas e confiáveis, enfatizando o direito inalienável de buscar, receber e transmitir informações e ideias de todos os tipos sem interferência. Diante dos crescentes desafios impostos pela disseminação em massa de desinformação, das teorias da conspiração e do discurso de ódio – potencializados por avanços em inteligência artificial generativa –, a tarefa de fortalecer a integridade da informação se apresenta como um dos desafios mais prementes de nossa era, essencial para a promoção da confiança, do conhecimento e da liberdade de expressão.
Construir respostas eficazes contra campanhas de desinformação, promover a integridade informacional e fomentar ambientes saudáveis para a convivência pública são fundamentais para a consolidação da democracia e para o desenvolvimento do país. Esses fundamentos proporcionam as condições para que as políticas públicas baseadas em evidências sejam desenhadas, conduzidas e avaliadas consoante às demandas da sociedade. A Ciência deve ser protagonista no enfrentamento à desinformação, produzindo conhecimento e consolidando evidências, de modo a apoiar a formulação de políticas públicas e outras ações em prol do equilíbrio democrático, fomentando um ambiente de pesquisa colaborativo e diversos traçando estratégias para enfrentar os desafios que as sociedades digitais nos colocam, e colaborando com os esforços permanentes de divulgação científica e informacional.
Diante disso, os profissionais e organizações signatárias deste documento, reunidos na Conferência Livre: Ciência no Combate à Desinformação, promovida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), no âmbito da 5a Conferência Nacional CT&I, decidiram propor uma agenda conjunta de trabalho que se baseia nos seguintes pontos:
Infraestrutura e prática da pesquisa
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Garantia de acesso a dados: a ação das plataformas digitais de impedir ou dificultar o acesso a dados tem inviabilizado o desenvolvimento de pesquisas, diagnósticos e estratégias de enfrentamento à desinformação e ao discurso de ódio. Ações conjuntas entre instituições públicas, universidades, meios de comunicação social e sociedade civil são essenciais para garantir políticas e regulamentações nacionais que permitam o desenvolvimento seguro, estável e confiável de estudos aplicados sobre plataformas digitais que operam no Brasil.
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Discussão sobre parâmetros e princípios éticos de pesquisa e uso de dados digitais: elaboração de guias de práticas para pesquisas, fóruns regulares de diálogo, análise e atualização sobre o acesso e uso dos dados pela sociedade, pelo mercado e pelo Estado, mecanismos de transparência e reprodução de tecnologias e metodologias, bem como para o compartilhamento de dados e transferência tecnológica.
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Geração de diagnósticos sobre: a) padrões relacionais, estratégias e atitudes envolvidos na disseminação da desinformação ou em modos de combatê-la; e b) dinâmicas de reprodução e (re)atualização de informações falsas no ecossistema informacional vigente, especialmente em temas que podem gerar danos coletivos à sociedade brasileira.
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Estimular a curricularização e o ensino dos estudos do campo da desinformação e de educação midiática, no âmbito da educação básica, dos cursos de graduação e pós-graduação no Brasil.
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Construir ações e políticas voltadas ao fortalecimento da cultura científica no país, sobretudo por meio de estratégias nos campos da comunicação, educação e cultura, buscando chegar aos mais diversos públicos e territórios.
Promoção de conexões, interfaces e políticas de comunicação
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Promoção de espaços perenes de integração entre universidades, sociedade civil e demais atores afeitos ao tema, que fomentem a conexão entre pesquisa e comunicação no suporte à elaboração de políticas públicas.
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Construção de espaços e dispositivos de acompanhamento do debate social em plataformas digitais públicas pelo poder público.
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Conexão da pauta da integridade da informação com pautas de defesa da democracia, do combate às desigualdades sociais, da promoção da saúde pública e da preservação do meio-ambiente.
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Desenvolvimento de políticas públicas de comunicação e informação voltadas para o cidadão, a partir das redes públicas de saúde, segurança, educação, cultura, dentre outras.
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Construção de base de dados abertos para a pesquisa acadêmica, checagem de fatos e diagnósticos avaliativos sobre fenômenos associados à melhoria da integridade informacional em mídia sociais.
Fomento e financiamento
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Construção de uma agenda democrática e estratégica no Brasil sobre estudos de integridade da informação, o ecossistema de desinformação e as plataformas digitais, que poderá embasar futuras propostas de financiamento de pesquisa e de combate à desinformação.
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Fomento continuado à formação de pessoal altamente qualificado e a pesquisas com impacto e tempestividade, no âmbito da comunicação, das humanidades, da integridade da informação e do acompanhamento do debate social sobre políticas públicas.
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Fomento ao desenvolvimento tecnológico e de estruturas digitais, como servidores, armazenamento, soluções e ferramentas nacionais de código aberto para comunicação e suporte à pesquisa sobre desinformação.
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Fortalecimento dos laboratórios de pesquisa que investigam as dinâmicas de desinformação, discurso de ódio e radicalização política, considerando as diferenças e contextos regionais.
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Fomento a políticas e ações de comunicação pública em ciência.
O compromisso com os princípios acima delineados é um primeiro passo na construção de um espaço comunicacional efetivamente democrático, justo e íntegro. Para tal, é essencial que os diversos setores – comunidade científica, sociedade civil, imprensa e representantes de instituições públicas atuem em conjunto. Somente assim, poderemos fomentar as bases de estado republicano cujo desenvolvimento social, ambiental e econômico alicerce nosso país de forma soberana. Esses são pilares essenciais para que avancemos enquanto sociedade.
Brasília, 3 de abril de 2024.