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Ibict e o desafio de entrelaçar os saberes científico no tecido social
Desde que foi fundado, há quase 70 anos, a missão do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) de entrelaçar o conhecimento científico ao tecido da sociedade tem sido cumprida, em parte graças à publicação de artigos científicos por pesquisadores. Foi o que aconteceu recentemente, quando um artigo científico escrito por uma pesquisadora do Ibict e um colega do Institut de Recherche pour le Develóppement, da França, virou referência para uma peça de teatro e uma questão de vestibular.
Trata-se do artigo assinado por Liz-Rejane Issberner e Philippe Léna, “Antropoceno: os desafios essenciais de um debate científico”, que saiu em abril de 2018 em francês, inglês, espanhol, português e mais quatro idiomas, no Correio da Unesco, a convite da equipe editorial da sede da UNESCO em Paris. A pesquisadora foi escolhida entre especialistas de todo o mundo, de acordo com os critérios de seleção adotados pelas publicações da UNESCO: alto nível de especialização no campo em questão, neste caso o Antropoceno; excelente domínio da língua e da escrita. A UNESCO também garante que os autores sejam representativos de todas as regiões do mundo.
O Correio da Unesco foi criado em 1948 pelas Nações Unidas e conserva sua missão original de servir como uma plataforma para o diálogo entre culturas e proporcionar um fórum para o debate internacional. A edição de número 2 de 2018, foi dedicada ao tema do Antropoceno que se refere à época em que as ações humanas começaram a provocar alterações biofísicas em escala planetária.
Embora os alarmes sobre a degradação acelerada dos recursos do planeta tenham soado há mais de 50 anos, quando ainda era possível evitar o pior, o debate permaneceu confinado à esfera acadêmica até recentemente. Segundo os autores, estamos testemunhando uma forma de negação coletiva, fruto de uma fé ingênua no progresso, de uma ideologia consumista e de poderosos lobbies econômicos.
A noção do Antropoceno franqueia a entrada das ciências sociais e humanas no reino das ciências naturais, o que exige um movimento de insurreição contra as fronteiras disciplinares que nos alienaram do mundo natural desde o iluminismo. O movimento de insurreição proclamado pelas ciências sociais é contra o confinamento do conhecimento em domínios incomunicáveis, o que nos impediu de ver que a humanidade, ou parte dela, está transformando o planeta em um lugar cada vez mais inóspito.
“O artigo sobre o Antropoceno é uma exortação à insurreição contra esses limites disciplinares e, de certa forma, atinge seu objetivo, que é enviar uma mensagem à sociedade sobre a ameaça que paira sobre o planeta”, diz Liz-Rejane Issberner, pesquisadora titular do Ibict e professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação IBICT/UFRJ.
O artigo é uma das referências citadas como bibliografia da obra teatral LOW COST [Paisagem Cênica sobre a Crise Climática], criação do grupo mexicano L.A.S (Laboratorio de Artistas Sostenibles) e que foi encenada de maio a julho deste ano na Cidade do México. A peça teatral mexicana é uma provocação para descobrir a necessidade urgente de repensar a nossa relação com o meio ambiente, bem como repensar os modos de vida da sociedade contemporânea, colocando ênfase na crise climática que o nosso planeta Terra atravessa atualmente.
No ano passado, o artigo de Liz-Rejane Issberner e Philippe Léna também foi utilizado como texto de apoio em uma questão de atualidades da prova de história do Vestibular Unicamp 2023. A questão 64 abordou a urgência do tema mudanças climáticas e impactos da ação humana na natureza. Os textos de apoio fornecem elementos importantes para a resolução das questões, demandando uma leitura atenta de seus conteúdos.
Para a pesquisadora, esses são exemplos de como o trabalho de pesquisa ultrapassou o debate nos meios acadêmicos e passou a reverberar na sociedade de forma transdisciplinar. “Nossos trabalhos acadêmicos deveriam transpor os muros da academia e ganhar o mundo”, ressalta Liz-Rejane Issberner.
Liz Rejane Issberner é líder do grupo de pesquisa ECOINFO (Informação, conhecimento, inovação e sustentabilidade ambiental), ligado ao PPGCI-Ibict. O grupo desenvolve estudos e pesquisas nas áreas de: inovação, ecoinovações, sustentabilidade socioambiental, Questões do Antropoceno, políticas e informação em meio ambiente, participação social nas políticas socioambientais.