Diretor-Geral do IBC João Ricardo Melo Figueiredo Comissão Editorial: Geni Pinto de Abreu Heverton de Souza Bezerra da Silva Hyléa de Camargo Vale Fernandes Lima João Batista Alvarenga Maria Cecília Guimarães Coelho Rachel Ventura Espinheira Colaboração: Carla Maria de Souza Daniele de Souza Pereira Regina Celia Caropreso Revisão: Carla Dawidman Transcrição autorizada pela alínea *d*, inciso I, art. 46, da Lei n.o 9.610, de 19/02/1998. Distribuição gratuita.
¨ I
¨ III
Revista Brasileira para
Cegos / MEC/Instituto
Benjamin Constant.
Divisão de Imprensa
Braille. n. 1 (1942) --.
Rio de Janeiro : Divisão
de Imprensa Braille, 1942 --. V.
Trimestral
Impressão em braille
ISSN 2595-1009
1. Informação -- Acesso. 2. Pessoa cega. 3. Cultura -- Cego. 4.
Revista --
Periódico. I. Revista
Brasileira para Cegos. II. Ministério da Educação. III. Instituto
Benjamin Constant.
¨ V
Sumário
Editorial ::::::::::::::: 1
Depois que ela se vai ::: 4
Preguiça de sofrer :::::: 8
Da taça até a boca :::::: 14
Desafios :::::::::::::::: 18
Pensamentos ::::::::::::: 25
No Mundo das Artes
Auta de Souza :::::::::: 27
Quem foi Maria Firmina
dos Reis, a primeira
romancista
brasileira ::::::::::::: 36
Maravilhas do Mundo
Macapá :::::::::::::::::: 39
Nossa Casa ::::::::::::: 49
Vida e Saúde ::::::::::: 55
Culinária ::::::::::::::: 69
Humor ::::::::::::::::::: 75
Espaço do Leitor ::::::: 79
Depois que ela se vai
Martha Medeiros
~,marthamedeiros@terra.~
com.br~,
“Oba, amanhã é dia de faxina!” Esse é o comentário entusiasmado de
quem deixou 17 copos sujos na pia, de quem não se deu o trabalho de
desvirar o vaso de terra que foi derrubado pelo gato no tapete da
sala, de quem deixou marcas de dedos no vidro da janela e o pó
acumulado no canto dos móveis.
“Oba, amanhã é dia de faxina!” É o brado dos que largam jornal velho
na área de serviço, dos que varrem os farelos de pão pra debaixo do
balcão da cozinha e dos que não passam nem um papel toalha no fogão
depois de um fim de semana de frituras.
“Oba, amanhã é dia de faxina”, diz o dono de um sobrado num domingo
à noite, ao perceber a semelhança do seu pátio com uma avenida após a
passagem de um bloco de carnaval. “Oba, amanhã é dia de faxina”,
exclamam duas preguiçosas que dividem um apê e que não largam o
celular nem para recolher os fios de cabelo grudados no ralo do box
ou para procurar a tarraxinha do brinco que escorregou para baixo da
cama. Uma faxineira na segunda-feira equivale a uma fada madrinha, a
uma visita de Nossa Senhora.
Medo! Amanhã é dia de faxina!
Medo? Também. A impecável faxineira deixará tudo brilhando, sem
vestígios do churrasco que o patrão fez para 20 amigos e sem vestígio
do desleixo das duas molengas que não levantaram da cama no domingo.
A faxineira encontrará a tarraxinha e deixará o apartamento um
brinco. Ficará tudo arrumadinho e fora do lugar. É esse o drama:
depois que ela se vai, a casa parece outra.
Você retorna à tardinha, depois de um dia de trabalho, e está tudo
quieto. O desengordurante com aroma de flores silvestres deixou um
cheirinho de limpeza no ar, mas o caderno de anotações em cima da sua
escrivaninha desapareceu. O porta-retratos com a foto da sua mãe
estará na quinta prateleira da estante e não na terceira. Sua pedra
espetacular trazida do Marrocos foi jogada no lixo. Os fios do seu
equipamento de som foram desconectados -- nem o cabo do seu roteador
escapou, você está off-line.
As fronhas foram colocadas do lado invertido, os copos foram
guardados em algum lugar misterioso, os tapetes estão trocados e sua
escultura do Buda foi parar no hall de entrada -- ficou melhor ali,
admita: sua funcionária tem tino para decoração.
“Oba, faxina!” Exclamação dos que ainda podem se dar ao luxo dessa
ajuda. Mas o medo ronda os que sofrem ao perceber que a caixa de
fósforos não estará na gaveta habitual, que não suportam ver seus
livros dispostos de outro jeito, que ficam fulos ao ver que o violão
foi colocado no armário em vez de encostado na parede. Cadê o
respeito pela nossa bagunça tão familiar? Quem somos nós sem nossos
desarranjos? Quem pode compreender a ordem da nossa desordem? Não é
hora de filosofar, e sim de descobrir onde a maluca enfiou o gato.
::::::::::::::::::::::::
Preguiça de sofrer
Veja que espetáculo de
filosofia de vida
Zuenir Ventura
Há 26 anos, elas cumprem uma alegre rotina: às sextas-feiras pela
manhã sobem a serra e descem aos domingos à tarde, quando não
permanecem a semana toda lá, em sua casa de Itaipava, distante hora e
meia do Rio.
São quatro irmãs de sobrenome Sette: Mily, a mais velha, de 86 anos;
Guilhermina (84), Maria Elisa (76) e Maria Helena (73) -- mais a
cunhada Ítala (87), a prima Icléa (90) e a amiga de mais de meio
século, Jacy (78).
O astral e a energia da "Casa da sete velhinhas" são únicos. Elas
cuidam das plantas, visitam exposições, assistem a shows, leem, jogam
baralho, conversam, discutem política, veem televisão, fazem tricô,
crochê e, sobretudo, riem. Só não falam e não deixam falar de doença
e infelicidade.
Baixaria, nem pensar. Quando preciso tomar uma injeção de ânimo e
rejuvenescimento, subo até lá, como fiz no último sábado.
Já viajamos juntos algumas vezes, como a Tiradentes, por cujas
redondezas andamos de jipe, o que naquelas estradas de terra é quase
como andar a cavalo. Tudo numa boa.
Elas têm uma sede adolescente de novidade e conhecimento.
Modéstia à parte, são conhecidas como "As meninas do Zuenir". Me dão
a maior força.
Quando sabem que estou fazendo alguma palestra no Rio, tenho a
garantia de que a sala não vai ficar vazia. São meu público cativo e
ocupam em geral a primeira fila. Numa dessas ocasiões, com a casa
cheia, elas chegaram atrasadas e fizeram rir ao se anunciarem a sério
na entrada: "Nós somos as meninas do Zuenir".
Nos conhecemos nos anos 70, quando morávamos no mesmo prédio no Rio,
e Maria Elisa, que é química, passou a dar aulas particulares de
matemática para meus filhos, ainda pequenos, de graça, pelo prazer de
ensinar. Depois nos mudamos, continuamos amigos e nossa referência
passou a ser a casa de Itaipava, onde minha mulher e eu temos um
cantinho, um pequeno apartamento na parte externa da casa, os "Alpes
suíços".
No começo, o terreno não passava de um barranco de terra vermelha.
Hoje é
um jardim suspenso, com árvores e flores variadas que constituem uma
atração
para os pássaros. Dessa vez, não cheguei a tempo de ver a cerejeira
florida, mas em
compensação assisti a uma exibição especial de um casal de papagaios.
O interior da casa é um brinco, não fossem elas meio artistas, meio
artesãs, todas muito prendadas, como se dizia antigamente. Helena e
Jacy, por exemplo, tecem mantas e colchas de tricô e crochê que já
mereceram exposições. Mily desafia a idade preferindo as novas
tecnologias e a modernidade, sem falar no vôlei, de que é torcedora
apaixonada. Sabe tudo de computador e, com Jacy, frequenta todos os
cursos que pode: de francês a ética, de inglês a filosofia.
Na parede, Tom Jobim observa tudo. A foto é autografada para Elisa, de
quem ele foi colega no Andrews. Aliás, nesse colégio da Zona Sul do
Rio, Guilhermina trabalhou 53 anos, como secretária e professora de
Latim, que ela ensinava pelo método direto, ou seja, falando com os
alunos. Ficou muito feliz quando na praia ouviu, vindo de dentro do
mar, o grito de alguém no meio das ondas, provavelmente um surfista:
"Ave, magister!".
Amiga de personagens como o maestro Villa-Lobos, ela ajudou ou
acompanhou a carreira de dezenas de jovens que passaram por aquele
tradicional colégio, cujo diretor uma vez lhe fez um rasgado elogio
público, ressaltando o quanto ela era indispensável ao educandário.
No dia seguinte, ela pediu as contas, com essa sábia alegação: "Eu
quero sair enquanto estou no auge, não quando não souberem mais o que
fazer comigo".
Foi para casa e teve um choque, achando que não ia suportar a
aposentadoria.
Durou pouco, porque logo arranjou o que fazer. É tradutora e gosta
muito de timologia: adora estudar a vida das palavras desde suas
origens, principalmente quando são gregas.
Ah, nas horas vagas faz bijuterias. Para explicar como se
desvencilhou do vazio de deixar um emprego de 53 anos e começar nova
vida já velha, Guilhermina usou uma frase que se aplica a todas as
outras seis velhinhas e que eu gostaria de adotar também: "Tenho
preguiça de sofrer".
Não são o máximo as meninas do Zuenir?
“Ter problemas na vida é inevitável; ser derrotado por eles é
opcional.”
::::::::::::::::::::::::
Da taça até a boca
Cláudio Moreno
Anqueu, filho de Posêidon, era um dos heróis que tripulavam o navio
dos Argonautas, na lendária viagem de Jasão em busca do *velocino* de
ouro. Quando Tífis, o timoneiro, morreu de uma doença misteriosa, foi
Anqueu o escolhido para assumir o seu lugar, pois, sendo filho do
deus do mar, conhecia mais do que ninguém o lugar das estrelas no
céu e o ritmo oculto das marés. Guiado por sua mão segura, o navio
Argo foi e voltou da distante Cólquida, ingressando para sempre na
galeria dos mitos imortais.
Quando Anqueu voltou para seu reino em Samos, a *vindima* daquele ano
estava praticamente concluída, e os intendentes do palácio
apresentaram-se com uma excelente notícia: a parreira que ele tinha
plantado com as próprias mãos, alguns anos antes, tinha produzido
uma uva abundante, e o primeiro vinho feito com ela estava pronto
para ser bebido. Para Anqueu, esta era uma notícia realmente
especial, pois assim se desfazia a sombra de uma estranha maldição
que pairava sobre ele: um de seus servos, revoltado com o árduo
trabalho do plantio, havia predito que ele não viveria o bastante
para provar o produto deste vinhedo. Agora, porém, o vinho estava
ali, ao alcance de sua mão, na taça cheia que lhe estenderam. Com um
sorriso triunfante, Anqueu ergueu-a na luz para apreciar o belo tom
sanguíneo da bebida; depois, levou-a junto às narinas e aspirou o
perfume quase selvagem, que lhe trouxe à lembrança as encostas
ensolaradas de sua ilha. No entanto, antes de beber, mandou trazerem
à sua presença o servo que o amaldiçoara. "Olha bem", disse ele, "vou
engolir a tua profecia juntamente com este vinho!". O servo, contudo,
não se deu por vencido: "Senhor, lembra-te que da taça até a boca
muita coisa pode acontecer!". Nesse momento, com efeito, entrou um
lavrador esbaforido, gritando que um grande javali estava destruindo
as plantações. Sem hesitar, Anqueu depôs a taça sobre a mesa, pegou a
lança e saiu no seu encalço -- para morrer minutos depois, com a
artéria da coxa *seccionada* pela presa afiada do traiçoeiro animal.
Por que paraste, Anqueu? Por que foste perder tempo mandando buscar
o escravo, por que foste combater aquele estúpido javali? Eras sábio
para ler as estrelas e as profundezas do mar, mas ignoraste a mais
antiga das regras: quando a vida, que nem sempre é generosa, resolve
encher nossa taça, bebamos! Quando esse raro vinho está servido, não
é hora de acertar contas antigas, não é hora de se preocupar com os
negócios. É bebê-lo, ou perdê-lo para sempre, levando para a morte a
tortura de não saber, afinal, que gosto ele teria na boca.
Fonte: Zero Hora, Edição
n.o 14.491
Vocabulário
Vindima: s. f. Colheita de uvas.
b) Os produtos podem ser comprados à vista ou à prazo.
8- Eminente/Iminente
a) Pedro é uma figura iminente na empresa.
b) Pedro é uma figura eminente na empresa.
9- Exceção/Excessão
a) Para toda regra, há uma excessão.
b) Para toda regra, há uma exceção.
10- Em baixo/Embaixo
a) O documento caiu embaixo do móvel.
b) O documento caiu em baixo do móvel.
11- Só Mateus não vai viajar nessas férias. Seus amigos estão
curtindo fora do país, e ele vai ter de se contentar com as mensagens
deles. Sua tarefa é descobrir, através de cada mensagem, para que
país foi cada um dos amigos de Mateus.
6- Letra b. As palavras ligadas ao substantivo “óculos” devem ser
flexionadas para o plural.
7- Letra a. Não existe crase antes de palavra masculina. Portanto,
deve-se escrever: a prazo, a pé, a cavalo, a bordo.
8- Letra b. Eminente quer dizer notável. Iminente significa prestes a
acontecer.
9- Letra b. O correto é exceção. Cuidado para não confundir com
excesso.
10- Letra a. Embaixo é advérbio de lugar. Em baixo é adjetivo. (Ex:
Falavam em baixo tom.)
11- Clara visitou a Índia.
Érica e Guilherme visitaram a Itália.
Henrique visitou a Espanha.
Lucas visitou o Egito.
Pensamentos
“Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e
faz doces. Recomeça.” (Cora Coralina 1889-1985)
“Melhor professor nem sempre é o de mais saber e, sim, aquele que,
modesto, tem a faculdade de manter o respeito e a disciplina da
classe.” (Cora Coralina 1889-1985)
“O amigo não passa a mão
Quando fizemos algo errado
Está firme ao nosso lado
Puxa a orelha, chama a
razão!” (Cora Coralina
1889-1985)
“O grande livro que sempre me valeu e que aconselho aos jovens, um
dicionário. Ele é o pai, é tio, é avô, é amigo e é um mestre. Ensina,
ajuda, corrige, melhora, protege. Dá origem da gramática e o antigo
das palavras. A pronúncia correta, a vulgar e a gíria.” (Cora
Coralina 1889-
-1985)
“Amor pra mim é ser capaz de permitir que aquele que eu amo exista
como tal, como ele mesmo. Isso é o mais pleno amor. Dar a liberdade
dele existir ao meu lado do jeito que ele é.“ (Adélia Prado 1935)
“A gente nasce e morre só. E talvez por isso mesmo é que se precisa
tanto de viver acompanhado.” (Rachel de Queiroz 1910-2003)
“Falam que o tempo apaga tudo. Tempo não apaga, tempo adormece.”
(Rachel de Queiroz 1910-2003)
“Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos
ferem e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que simplesmente
aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre.” (Cecília Meireles
1901-1964)
“Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por
perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o
fundamento mesmo da minha personalidade.” (Cecília Meireles 1901-1964)
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
No mundo das artes
Auta de Souza
Auta de Souza (Macaíba, 12 de setembro de 1876 -- Natal, 7 de
fevereiro de 1901) foi uma poetisa brasileira da segunda geração
romântica (ultrarromântica, byroniana ou Mal do Século), autora de
*Horto*.
Escrevia poemas românticos com alguma influência simbolista, e de
alto valor estético. Segundo Luís da Câmara Cascudo, é "a maior
poetisa mística do Brasil".
Filha de Elói Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina Rodrigues,
irmã dos políticos norte-rio-grandenses Elói de Sousa e Henrique
Castriciano, ficou órfã aos três anos, com a morte de sua mãe por
tuberculose, e no ano seguinte perdeu também o pai, pela mesma
doença. Sua mãe morreu aos 27 anos e seu pai aos 38 anos.
Durante a infância, foi criada por sua avó materna, Silvina Maria da
Conceição de Paula Rodrigues, conhecida como Dindinha, em uma chácara
no Recife, onde foi alfabetizada por professores particulares. Sua
avó, embora analfabeta, conseguiu proporcionar boa educação aos netos.
Aos onze anos, foi matriculada no Colégio São Vicente de Paula,
dirigido por freiras vicentinas francesas, e onde aprendeu Francês,
Inglês, Literatura (inclusive muita literatura religiosa), Música e
Desenho. Lia no original as obras de Victor Hugo, Lamartine,
Chateaubriand e Fénelon.
Quando tinha doze anos, vivenciou nova tragédia: a morte acidental de
seu irmão mais novo, Irineu Leão Rodrigues de Sousa, causada pela
explosão de um candeeiro.
Mais tarde, aos catorze anos, recebeu o diagnóstico de tuberculose, e
teve que interromper seus estudos no colégio religioso, mas deu
prosseguimento à sua formação intelectual como autodidata.
Continuou participando da União Pia das Filhas de Maria, à qual se
uniu na escola. Foi professora de catecismo em Macaíba e escreveu
versos religiosos. Jackson Figueiredo a considera uma das mais altas
expressões da poesia católica nas letras femininas brasileiras.
Começou a escrever aos dezesseis anos, apesar da doença. Frequentava
o Club do Biscoito, associação de amigos que promovia reuniões
dançantes onde os convidados recitavam poemas de vários autores, como
Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias, Castro Alves, Junqueira Freire e
os potiguares Lourival Açucena, Areias Bajão e Segundo Wanderley.
Aos dezoito anos, passou a colaborar com a revista Oásis, e aos vinte
escrevia para A República, jornal de maior circulação e que lhe deu
visibilidade para a imprensa de outras regiões. Seus poemas foram
publicados no jornal O Paiz, do Rio de Janeiro. No ano seguinte,
passaria a escrever assiduamente para o prestigiado jornal A Tribuna,
de Natal, e seus versos eram publicados junto aos de vários
escritores famosos do Nordeste. Entre 1899 e 1900, assinou seus
poemas com os pseudônimos de Ida Salúcio e Hilário das Neves, prática
comum à época.
Também foi publicada nos jornais A Gazetinha, de Recife, e no jornal
religioso Oito de Setembro, de Natal, e na Revista do Rio Grande do
Norte, onde era a única mulher entre os colaboradores.
Venceu a resistência dos círculos literários masculinos e escrevia
profissionalmente em uma sociedade em que este ofício era quase que
exclusividade dos homens, já que a crítica ignorava as mulheres
escritoras. Sua poesia passou a circular nas rodas literárias de todo
o país, despertando grande interesse. Tornou-se a poetisa
norte-rio-
-grandense mais conhecida fora do estado.
Por volta de 1895, Auta conheceu João Leopoldo da Silva Loureiro,
promotor público de sua cidade natal, com quem namorou durante um ano
e de quem foi obrigada a se separar pelos irmãos, que se preocupavam
com seu estado de saúde. Pouco depois da separação, ele também
morreria vítima da tuberculose. Esta frustração amorosa se tornaria o
quinto fator marcante de sua obra, junto à religiosidade, à
orfandade, à morte trágica de seu irmão e à tuberculose. A poetisa,
então, encerrou seu primeiro livro de manuscritos, intitulado
Dhálias, que mais tarde seria publicado sob o título de *Horto*. Este
foi publicado em 1900 e recebeu o prefácio de Olavo Bilac, o poeta
brasileiro mais célebre daquela época.
Auta de Souza veio a falecer em 7 de fevereiro de 1901, a uma hora e
quinze minutos, em Natal, em decorrência da tuberculose. Foi
sepultada no cemitério do
Alecrim, em Natal, mas em 1904 seus restos
mortais foram transportados para o jazigo da família, na parede da
Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Macaíba, sua cidade natal.
Em 1936, a Academia Norte-Riograndense de Letras dedicou-lhe a
poltrona XX, como reconhecimento à sua obra.
Em 1951, foi feita uma lápide, tendo como epitáfio versos extraídos
de seu poema Ao Pé do Túmulo.
Em 12 de setembro de 2008, durante as comemorações do nascimento da
poetisa em sua cidade natal, foi lançado o documentário "Noite Auta,
Céu Risonho", escrito e dirigido por Ana Laudelina Ferreira Gomes,
professora e pesquisadora da UFRN, e produzido pela TV Universitária,
em parceria com o Núcleo Câmara Cascudo de Estudos
Norte-Riograndenses.
O documentário teve um orçamento de 20 mil reais e levou quatro meses
para ser gravado. Suas cenas foram filmadas em Macaíba, Recife e
Natal e Auta foi interpretada pela atriz potiguar Marinalva Moura.
Poemas musicados
Catorze de seus poemas foram musicados por artistas regionais, como
Abdon Álvares Trigueiro, Cirilo Lopes, Eduardo Medeiros, Heronides de
França e Cirineu Joaquim de Vasconcelos, embora sem registro em
partitura. Apenas dois de seus poemas têm registro fonográfico
(Rezando e Caminho do Sertão). Os demais foram transmitidos apenas
pela tradição oral, em modinhas cantadas na escola e em festividades.
O poeta paulistano Mário de Andrade, em sua obra Um Turista Aprendiz,
cita alguns desses poemas musicados, que ouvira em sua viagem a
Natal, na década de vinte: Agonia do Coração, Ao Cair
da Noite, Ao
Luar, Caminho do Sertão e outros.
Fontes:
~,http:ÿÿantigo.~
acordacultura.org.brÿ~
heroisÿheroiÿautadesouza~,
~,https:ÿÿwww.~
mensagemespirita.com.brÿ~
autorÿauta-de-souzaÿ~
biografiaÿ~,
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Quem foi Maria Firmina dos
Reis, a primeira romancista
brasileira
Há quase dois séculos, em 1825, nascia em São Luís, no Maranhão,
Maria Firmina dos Reis. Ela entrou para a história da literatura
brasileira por ser a primeira romancista do país.
Começou a carreira como professora e levou anos para conseguir
publicar seu primeiro e mais importante livro, *Úrsula*. Isso porque,
além de ser mulher, Maria Firmina dos Reis era negra, e a escravidão
ainda imperava no Brasil.
*Úrsula* foi publicado em 1859 e se tornou relativamente popular à
época, não apenas por conta da autora, mas também por sua narrativa.
O livro relata a perversidade da escravidão e a realidade do Brasil
do ponto de vista dos negros.
Isso era inédito até então, já que a maior parte dos escritores
reconhecidos eram brancos ou narravam a vida da parcela mais rica e
escravocrata da população. Quando Maria Firmina dos Reis apresentou
os escravos como figuras humanizadas, sua obra causou uma ruptura
importante.
O trabalho da escritora ficou esquecido até meados dos anos 1960,
quando um historiador encontrou um de seus livros em um sebo e o
trouxe à luz novamente. Ainda assim, até hoje a fisionomia de Maria
Firmina dos Reis é um mistério: todas as imagens que se tem dela são
apenas especulações.
A seguir, trecho do romance *Úrsula*, publicado em 1859, e considerado
*precursor* da temática abolicionista na literatura brasileira:
"Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de
cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de
cruéis tormentos e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário
à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias
brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão, fomos amarrados
em pé e, para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como
animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos
potentados da Europa".
Fonte:
https:ÿÿrevistagalileu.globo.~
comÿCulturaÿnoticiaÿ2019ÿ~
10ÿquem-foi-maria-firmina-~
dos-reis-primeira-~
romancista-brasileira.html~,
Vocabulário
2- Monumento do Marco Zero
do Equador
Talvez a atração mais visitada de Macapá, o monumento marca o local
onde a linha imaginária do Equador, que divide a Terra em Hemisfério
Norte e Sul, corta a cidade. Mexe com a curiosidade dos turistas e
permite que você esteja com um pé em cada hemisfério.
Durante o Equinócio de Primavera (março) e Outono (setembro), quando
o dia e a noite têm a mesma duração, o sol se encaixa no círculo do
monumento e seus raios incidem perfeitamente sobre a linha. Nesses
dias, costuma haver uma programação especial no local.
A estrutura é boa, há uma pequena apresentação sobre a construção do
monumento, lojinha e guias que acompanham a visita. Os guias ainda
podem fazer uma demonstração de como você consegue equilibrar um ovo
ou moeda no exato local onde passa a Linha do Equador.
Nos arredores do Marco Zero, ainda ficam o Sambódromo e o curioso
estádio Zerão, também cortado pelo Equador. É o único estádio em que
um time joga no Hemisfério Norte e o outro no Sul.
Endereço: Rod. Juscelino Kubitscheck -- Jardim Marco Zero.
3- Orla de Macapá
A orla da cidade é urbanizada e é um convite para uma caminhada
(apesar do calorão e umidade do clima equatorial) ou para um
piquenique, algo que os macapaenses fazem muito.
A parte mais interessante fica perto da fortaleza, onde existem
vários quiosques com bares e restaurantes. Esse é um ótimo lugar para
curtir a noite também, com música ao vivo e ruas fechadas com
atrações para as crianças.
4- Trapiche Eliezer Levy
Esse píer construído na década de 40 ganhou novos ares nos últimos
anos. O trapiche avança por mais de 400 m sobre o Rio Amazonas e tem
uma boa estrutura turística, além de possibilitar uma visão diferente
de Macapá, do rio para a cidade.
Bem ao lado do Trapiche fica a Pedra do Guindaste, onde está uma
imagem de São José, padroeiro da cidade.
5- Casa do artesão
É o melhor local para conhecer e comprar o artesanato local. Mas o
centro comercial fecha uma vez por mês para limpeza justamente num
fim de semana. Já à noite, na pracinha em frente, barraquinhas vendem
objetos artesanais como bijuterias e lembrancinhas.
6- Orla do Araxá
Localizada entre o Centro e o Marco Zero, na Rua do Araxá, a Orla do
Araxá é um complexo com uma prainha nas águas (barrentas) do Rio
Amazonas, quiosques, bares e quadras esportivas. Costuma ter mais
movimento nos finais de tarde.
7- Feirinha
Um ótimo lugar para provar a culinária popular local é na feirinha ao
lado da Casa do Artesão. As banquinhas vendem, entre outras coisas, o
famoso tacacá (iguaria da região amazônica feita com caldo de tucupi
e que leva camarão e jambu) e açaí salgado, com charque e camarão,
por exemplo. Os preços são camaradas e o local é bem limpinho.
8- Museu Sacaca
Oficialmente conhecido como Centro de Pesquisas Museológicas, o Museu
Sacaca é uma instituição cultural e científica, com área de
aproximadamente 12 mil metros quadrados, que mostra detalhes do
estilo de vida do estado e da Amazônia. O espaço abriga ações
museológicas de pesquisa e preservação, relacionando o
saber
científico com o saber popular dos povos amazônicos, além de divulgar
as pesquisas realizadas pelo IEPA, por meio de exposições e
atividades didáticas.
A primeira curiosidade é com o nome “Sacaca”, uma homenagem ao
curandeiro Raimundo Santos Souza, que ajudou na difusão da medicina
natural no Amapá. Inaugurado em 1997, o museu tem o objetivo de
promover ações museológicas de pesquisa, preservação e comunicação.
Tem como principal destaque o circuito expositivo a céu aberto,
construído com a participação das comunidades indígenas, ribeirinhas,
extrati-
vistas e produtoras de farinha do estado.
as superfícies de vidro
e espelho de sua casa.
próximo ou que está prestes a ocorrer.
Pró-ativos: adj. Que buscam identificar e resolver possíveis problemas
com antecedência.
Arroz especial
Ingredientes: 1 peito de frango em cubos; 1 cebola média picada; alho
a gosto; 4 colheres de sopa de óleo; 1 xícara e meia de arroz lavado
e escorrido; 1 vidro de palmito picado; 1 lata de molho de tomate;
meia lata de milho verde; 2 tabletes de caldo de galinha; 3 xícaras
de água quente.
Modo de preparo: Na panela de pressão, frite a cebola e o peito de
frango em óleo. Junte o arroz e refogue. Junte o palmito, o milho, o
molho de tomate e os tabletes de caldo de galinha dissolvidos em água
quente. Feche a panela de pressão e conte 5 minutos após o início da
fervura. Retire a pressão da panela, abra e verifique se o arroz está
no ponto. Se não estiver, feche a panela e conte mais 3 minutos assim
que começar a fazer barulho. Para dar um charme ao prato, sirva
polvilhado com salsa picada. Fica cremoso, leve e saboroso.
Torta de frango com *cream
cheese* -- Rende 8
porções.
Ingredientes da massa: 500 g de farinha de trigo; 100 g de manteiga
sem sal; 10 g de sal; 5 g de açúcar; 1 ovo; 1 limão espremido; raspas
de limão; água gelada.
Ingredientes do recheio: 600 g de frango desfiado; 40 g de cebola; 10
g de manteiga; 10 g de salsinha; 10 g de caldo de galinha; 10 g de
alho; 5 g de páprica; 5 g de óleo; *cream cheese* e parmesão a gosto.
Modo de preparo da massa: Esfarele a manteiga com a farinha e uma
pitada de sal, acrescentando logo após um pouquinho de açúcar, o suco
e as raspas de limão. Acrescente os ovos à mistura. Coloque a água
gelada aos poucos, até obter uma massa homogênea. Embale e leva à
geladeira por uma hora. Retire a massa da geladeira e coloque sobre
uma bancada. Com um rolo de massa, abra-a em formato circular. Em uma
forma de 25 cm de fundo falso, envolva toda a base e a altura,
moldando-a. Coloque no forno e asse a massa por 20 minutos a 250
graus. Reserve a massa para processo de montagem.
Modo de preparo do recheio: Refogue o alho, a cebola, o óleo e a
manteiga. Deixe caramelizar. Acrescente o frango desfiado e o caldo
de galinha, a páprica, a salsinha e o sal.
Montagem: Em uma base de massa já pronta (aproximadamente 500 g) e
assada envolta em uma assadeira de fundo falso, faça uma camada de
*cream cheese* por toda a base e a altura. Coloque o recheio de frango
e acrescente uma camada de *cream cheese*. Finalize com parmesão em
todo o topo da torta. Leve ao forno a 260 graus por, aproximadamente,
20 minutos, até gratinar.
Picolé de bombom de
brigadeiro
Ingredientes: 150 g de chocolate em barra; uma lata de creme de
leite; uma lata de leite condensado; 150 ml de leite.
Para a casca: 200 g de chocolate -- granulado ou confeitos coloridos.
Modo de preparo: Pique o chocolate e derreta junto com o creme de
leite em banho-maria. No liquidificador, bata o leite condensado, o
leite e a mistura de chocolate. Coloque em forminhas de picolé e leve
ao freezer até endurecer.
Para a calda: Derreta a outra parte de chocolate em banho-maria e
reserve até esfriar. Depois que o picolé já tiver endurecido, tire
das forminhas e mergulhe na calda. É importante que o picolé esteja
bem firme e gelado para a calda endurecer.
Sugestão: Decore o picolé com granulado ou confeitos coloridos por
cima.
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
Humor
Confusão na faculdade
Tudo começou quando os meninos da turma de Direito colocaram nas
camisas a seguinte frase: “Seu namorado não faz direito? Vem cá que
eu faço”.
Daí os meninos de Medicina colocaram: “Ele pode até fazer direito,
mas ninguém conhece seu corpo melhor do que eu”.
E os rapazes da Administração: “Não adianta fazer direito, conhecer
bem o corpo e não saber administrar o que tem”.
Aí os de Economia calaram a boca do pessoal colocando assim: “De que
adianta fazer direito, conhecer o corpo, saber administrar, se a
mulher gosta mesmo é de dinheiro”.
Daí as meninas da Nutrição colocaram todo mundo no chinelo dizendo:
“De que adianta, fazer direito, conhecer o corpo, saber administrar e
ter dinheiro se, no fim, a gente tem que ensinar a comer”.
Um ancião de cabelos brancos entrou numa joalheria ao anoitecer de
uma sexta-feira com uma bela jovem ao seu lado. Ele disse ao
joalheiro que queria um anel especial para sua namorada. O joalheiro
deu uma olhada no mostruário e escolheu um anel no valor de R$10.000.
O velho disse:
-- Não, eu gostaria de ver algo muito mais especial.
O joalheiro foi ao seu estoque especial no cofre e trouxe outro
anel.
-- Este custa R$40.000.
Os olhos da jovem brilhavam e todo o seu corpo tremia de emoção.
-- Eu levo! -- declarou o velho.
O joalheiro perguntou como seria efetuado o pagamento, e o velho
disse:
-- Por cheque, mas eu sei que você deve se certificar de que meu
cheque está bom, então vou emiti-lo agora, e você pode ligar para o
banco na segunda-feira para verificar os fundos. Passarei para pegar
o anel na segunda-feira à tarde.
Na segunda-feira de manhã, o joalheiro ligou para o velho e disse:
-- Senhor, não há dinheiro nessa conta!
O velho respondeu:
-- Eu sei, eu sei, mas você não imagina o fim de semana maravilhoso
que eu passei.
Renatinha, zangada com seu marido, liga para ele:
-- Seu ordinário, vagabundo, pilantra! Onde você se enfiou?
-- Oi, amor, desculpa por não te ligar antes.
-- Onde você está seu irresponsável?
-- Lembra daquela joalheria em que você viu aquele lindo anel de
diamantes? -- pergunta ele, todo solícito.
-- Sim, amorzinho, lindo, paixão da minha vida.
-- Então, tô no bar ao lado!
O sargento pergunta para o soldado:
-- Qual seu nome?
-- Ricardo, senhor.
-- Tá maluco soldado? Não sei em qual escola você estudou, mas aqui
ninguém chama o outro pelo primeiro nome. Sem intimidades. Sobrenome,
soldado?
-- Paixão, senhor. Ricardo Paixão!
-- Então, Ricardo, como eu estava te falando...
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
Espaço do Leitor
Testemunho de vida
Chamo-me José Moura da Cunha, nasci a 9 de outubro de 1977, na
maternidade Júlio Dinis, no Porto, mas sempre vivi na freguesia de
Lamoso (Paços de Ferreira), com os meus pais.
Quando nasci, ninguém se apercebeu que eu era cego porque os meus
olhos estavam normais, apesar de ir muitas vezes ao médico de
família, devido à bronquite. Nem o referido médico descobriu o que se
estava a passar comigo. Os meus pais viram que algo de anormal estava
a acontecer, porque eu tenho uma tia mais velha do que eu alguns
meses e verificaram que eu não fazia o mesmo que ela. Ela apanhava as
coisas do chão, e eu não.
Então foram comigo a uma médica oftalmologista, do Porto, e ela
encaminhou-me para o hospital de Santo Antônio. Depois de ter feito
todos os exames, concluíram que a minha deficiência era irreversível
e que tinha sido provocada por uma doença, toxoplasmose, que a minha
mãe contraiu quando estava grávida e trabalhava numa quinta em
contato com animais. Os meus pais ainda pensaram em levar-me ao
estrangeiro, mas a equipe médica informou a eles que não valia a pena.
Aos três anos fui para um infantário, onde tive apoio especial que me
era dado por uma educadora habilitada que vinha do Porto três vezes
por semana. Aos seis anos, entrei na escola primária e continuei a
ter o mesmo apoio. Frequentei essa escola durante dois anos, mas
acharam que era melhor que eu fosse para um colégio de educação
especial (S. Manuel, no Porto). No início não foi nada fácil ficar lá
interno durante oito dias, pois sentia imensas saudades de casa uma
vez que tinha apenas sete anos. Quando saí de lá, senti muitas
saudades dos amigos que deixei. Aí concluí a primária e depois fui
para a Escola EB 2,3, em Freamunde. Nos tempos livres, ajudava os
meus pais a trabalhar na quinta de Pegas (acartava a erva do campo
para casa, vigiava o motor no tempo de rega, ia a correr pelo campo
fora sem bengala para desligar o motor, ralava as uvas, levava os
bois para o campo). Quando não tinha nada para fazer, jogava a bola
na eira. A minha baliza era a porta do palheiro.
Quando acabei o 9º ano, fui estagiar para a câmara de Paços de
Ferreira, onde trabalhava meio dia por semana. Não fiquei lá a
trabalhar porque me disseram que só me podiam admitir com o 12º ano.
Tive mais duas experiências de trabalho em duas fábricas têxteis que
abriram falência.
Após ter passado pelo mundo do trabalho, frequentei o Centro de
Reabilitação da Areosa, na cidade do Porto, para onde me deslocava
uma vez por semana. Lá tive Mobilidade, AVD (Atividades da Vida
Diária), Artesanato e Informática.
Para além disso, fui coordenador da Fraternidade durante quatro anos.
Frequentei o Centro de Dia de Carvalhosa, durante cerca de cinco
anos, onde fazia ginástica, hidroginástica, jogava dominó, passeava
à volta do centro com os idosos, ajudava-os a fazer algumas coisas em
que eles tinham mais dificuldade devido à sua idade, anualmente ia
uma semana para a praia de Mindelo, fazia jogos com as crianças do
infantário pertencente ao já mencionado Centro de Dia.
Atualmente estou na Casa de Acolhimento Sol Nascente, na qual me
encontro desde o dia 4 de outubro de 2013, onde me sinto muito bem.
Nessa instituição, realizo várias atividades: AVD, informática,
mobilidade, hidroterapia, artesanato, entre outras.
Nos tempos livres e aos fins de semana, tocava bombo no rancho de
Santa Maria de Lamoso, onde gostei muito de andar porque me
deslocava a outras terras e me encontrava com amigos de infância;
leio livros e revistas; vou à casa da minha avó e família; ouço rádio…
Em conclusão, sinto-me bem com a minha deficiência, não tenho
complexos com as pessoas com quem vivo cotidianamente. Sempre que
noto uma pessoa invisual em baixo, tento ajudá-la dentro das minhas
possibilidades.
Quando me convidam para ir a algum local explicar como vivemos o dia
a dia, levo algumas ferramentas de trabalho, assim como: bengala,
telemóvel, computador, revistas e a máquina de escrever braille.
Muita gente fica admirada ao ver a minha capacidade, principalmente
as crianças, que fazem muitas perguntas.
Daquilo que aprendi, não estou arrependido devido ao fato de ser útil
para a minha vida futura. Um ponto que não me passou da ideia foi
ajudar os colegas invisuais dentro daquilo que sei.
Nota
Primária: Ensino fundamental 1.
Quinta: Fazenda.