Revista Brasileira
para Cegos
"Edição Especial 2020 --
História e Literatura"
Ano LXXVII
Ministério da Educação
Instituto Benjamin Constant
Publicação Trimestral de
Informação e Cultura
Editada e Impressa na
Divisão de Imprensa Braille
Fundada em 1942 pelo
Prof. José Espínola Veiga
Av. Pasteur, 350/368
Urca -- Rio de Janeiro-RJ
CEP: 22290-250
Tel.: (55) (21) 3478-4457/3478-4531
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Livros Impressos em
Braille: uma Questão
de Direito
Diretor-Geral do IBC
João Ricardo Melo
Figueiredo
Comissão Editorial:
Carla Maria de Souza
Geni Pinto de Abreu
Heverton de Souza Bezerra da Silva
Hyléa de Camargo Vale
Fernandes Lima
João Batista Alvarenga
Maria Cecília Guimarães Coelho
Rachel Ventura Espinheira
Colaboração:
Daniele de Souza Pereira
Regina Celia Caropreso
Revisão:
Carla Dawidman
Transcrição autorizada pela alínea *d*, inciso I, art. 46, da Lei n.o 9.610, de 19/02/1998.
Distribuição gratuita.
¨ I
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¨ III
Revista Brasileira para Cegos / MEC/Instituto Benjamin Constant.
Divisão de Imprensa Braille. n.o 1 (1942)
--. Rio de Janeiro : Divisão de Imprensa Braille, 1942 --. V.
Trimestral
Impressão em braille
ISSN 2595-1009
1. Informação -- Acesso. 2. Pessoa cega. 3. Cultura -- Cego. 4.
Revista – Periódico. I. Revista Brasileira para Cegos. II.
Ministério da Educação. III. Instituto Benjamin Constant.
CDD-003.#edjahga
Bibliotecário -- Edilmar Alcantara dos S. Junior -- CRB/7 6872
¨ V
Sumário
Editorial ::::::::::::::: 1
UFRJ – Universidade
Federal do Rio de
Janeiro 100 anos ::::: 2
Tributo a João Cabral
de Melo Neto e
Clarice Lispector –
100 anos :::::::::::::: 27
Editorial
Caros leitores,
Cem anos... é muito tempo... muito tempo de vida... muito tempo de
ida... muito tempo de tudo! Centenários são datas comemorativas que
emocionam mais que entristecem, porque muito tempo já se foi;
permanecem as lembranças, da vida ou da ida.
Bem melhor quando se comemora a vida! Há 100 anos nasciam dois
grandes autores da literatura brasileira, memória de um período de
reconstrução, pós Segunda Guerra Mundial, nascia a Geração de 45.
Atento à palavra e à forma, construiu sua obra com engenharia
poética, João Cabral de Melo Neto; intimista e reflexiva, trouxe um
texto profundo, com uma abordagem psicológica das personagens, em
eterna (re)construção, Clarice Lispector.
Esta edição especial da RBC apresenta, além do centenário de
nascimento desses dois ícones, os 100 anos da fundação da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Comemorações que se
entrelaçam à medida que a tessitura acadêmica é permeada por fios de
cultura, arte e ciência.
E assim... memoriais 100 anos! Repletos de memória... trajetória...
de vida e de ida...!
Boa leitura!
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
UFRJ – Universidade
Federal do Rio de Janeiro
100 anos
Em 7 de setembro de 1920, por meio do Decreto n.o 14.343, o
governo federal criou sua primeira universidade: a Universidade do
Rio de Janeiro (URJ). Foi longa a trajetória para a criação de
universidades no país. Diferentemente de outras áreas coloniais, no
Brasil, universidades e cursos superiores eram proibidos por lei e os
filhos das elites colonial e imperial se dirigiam às universidades
europeias, principalmente a de Coimbra, para concluir os estudos em
Direito e Medicina.
A Universidade do Rio de Janeiro foi constituída a partir da
reunião de três escolas criadas no início do século XIX, após a vinda
da Família Real e da Corte Portuguesa para o Brasil: a Escola de
Engenharia (criada a partir da Academia Real Militar, em 1810), a
Faculdade de Medicina (criada em 1832 nas dependências do Real
Hospital Militar, antigo Colégio dos Jesuítas) e a Faculdade de
Direito (criada, em 1891, pela fusão das já existentes Faculdade de
Ciências Jurídicas e Sociais e Faculdade Livre de Direito da Capital
Federal). Mas essa reunião de estabelecimentos numa universidade não
implicou aproximação de relações e troca de saberes necessários à
existência do "espírito universitário". A universidade existia apenas
na letra da lei.
A universidade do Brasil nasceu com ideias de gigantismo e
profundamente *elitista*. Todas as suas unidades constituintes tinham,
antecedendo o nome, o adjetivo "nacional" para marcar a sua
vinculação ao governo federal e às suas políticas de centralização no
contexto do *Estado Novo* (1937-1945).
Nesta época, o Museu Nacional, que sofreu um incêndio em 2018,
foi incorporado à estrutura da universidade. Outras instituições
importantes criadas, na época, são o Colégio Universitário e o
Hospital das Clínicas.
A década de 1960 foi marcada por profundas transformações
sociais, econômicas e políticas, que levaram a fortes pressões
(sobretudo do movimento estudantil) para a reforma do ensino superior
no país, já que as universidades eram criticadas pelo distanciamento
em relação às graves questões sociais que marcavam a sociedade
brasileira. Em 1965, já no contexto de autoritarismo em que o país
vivia, o governo federal padronizou o nome das instituições
universitárias federais e, em 20 de agosto, foi sancionada a Lei n.o
4.759, que dispunha, em seu artigo primeiro, que as universidades e
escolas técnicas federais da União seriam qualificadas de "federais",
tendo a denominação do respectivo Estado. Assim, a UB foi
reorganizada e transformada em Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Sua organização se deu a partir da vinculação das unidades e
institutos em centros que ainda hoje lhe estruturam: Centro de
Ciências da Saúde (CCS), Centro de Letras e Artes (CLA), e outros.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro é uma *autarquia*, de
direito público, vinculada ao Ministério da Educação. A gestão da
universidade possui vários níveis e conselhos; o seu órgão máximo é a
reitoria, cujo representante é escolhido em uma lista tríplice com os
três nomes mais votados pelos eleitores (alunos, professores e
funcionários efetivos da instituição). Em geral, o Ministro da
Educação, responsável por escolher um dos nomes da lista, respeita a
vontade da maioria e nomeia como reitor o nome mais votado.
No dia 8 de junho de 2019, Denise Pires de Carvalho, tornou-se
a primeira mulher a assumir a reitoria da universidade.
Ingresso
Tal como em outras universidades públicas brasileiras, o
ingresso na Universidade Federal do Rio de Janeiro ocorre por meio de
concurso público realizado anualmente. Qualquer pessoa que tenha
concluído o ensino médio pode candidatar-se a uma das vagas
oferecidas. O ingresso também é possível por meio da transferência
externa, por isenção de vestibular (reingresso) e por convênios
internacionais.
Até o final da década de 1980, o concurso era realizado por
meio do vestibular unificado da Fundação Cesgranrio. Por discordar da
metodologia utilizada para avaliar os estudantes – em que as provas
consistiam quase exclusivamente de questões de múltipla-escolha –, a
universidade saiu desse convênio e passou a organizar o seu pró-
prio
concurso vestibular, denominado Concurso de Acesso aos Cursos de
Graduação. Este era composto somente de questões discursivas,
considerado, por muitos, um dos vestibulares mais difíceis e
exigentes por possuir provas bem elaboradas, em que o candidato
deveria discorrer sobre determinado assunto, em vez de apontar a
alternativa correta.
Desde 2010, a universidade vem sendo favorável à utilização do
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) para seleção de candidatos.
Dessa forma, expandiu cada vez mais a sua participação no Exame, até
que, em 2011, decidiu extinguir o seu Concurso de Acesso e passou a
utilizar somente os resultados do
ENEM, selecionando candidatos por
meio do Sistema de Seleção Unificada (SiSU) do Ministério da
Educação. A universidade vem sendo uma das mais disputadas pelos
candidatos: no segundo semestre de 2012 obteve 103.829 inscrições,
sendo a instituição com maior procura no SiSU.
A UFRJ possui ações afirmativas, assim como outras
universidades de excelência internacional, implantadas em 2010.
Atualmente, 30% das vagas destinam-se à ação afirmativa, que possui
como critério estudantes da rede pública de todo o país que tenham
renda familiar *per capita* de até um salário mínimo e meio.
*Campi*
Rio de Janeiro
A Ilha do Fundão localiza-se na margem oeste da baía de
Guanabara. A principal infraestrutura da Universidade Federal do Rio
de Janeiro é a Cidade Universitária, situada na Ilha do Fundão, Zona
Norte do Rio de Janeiro, ocupando quase a totalidade de sua extensão.
A Ilha foi criada na década de 1950 pela união de várias ilhas
preexistentes por meio de aterros. Entretanto, as atividades
acadêmicas desse câmpus só iniciaram-se em 1970. O projeto inicial
previa que todos os cursos fossem transferidos para lá. O câm-
pus teve
seus prédios construídos por grandes arquitetos modernistas
brasileiros. Alguns dos projetos ganharam prêmios de arquitetura,
como o prédio da reitoria, projetado por Jorge Machado Moreira e
premiado na IV Bienal de São Paulo.
O câmpus possui alojamento (com 504 quartos) para alunos de
graduação, três restaurantes universitários (bandejões), centros
esportivos e agências bancárias. Em 2010, foi inaugurada a Estação de
Integração com o objetivo de oferecer maior segurança e comodidade à
comunidade acadêmica. Por ali passam diversas linhas intercampi e
internas, transitando 24 h por toda extensão da Cidade Universitária,
oferecidas gratuitamente, além das linhas regulares municipais e
intermunicipais que atendem a população oriunda da *Baixada
Fluminense*
e das regiões Metropolitana e Serrana.
O câmpus da Praia Vermelha, localizado na Urca, Zona Sul do Rio
de Janeiro, concentra, principalmente, cursos ligados às Ciências
Humanas. Seu prédio de maior destaque é o Palácio Universitário,
construído em estilo *neoclássico* entre 1842 e 1852 para o Hospício
Pedro II, inaugurado por Dom Pedro II dez anos mais tarde. Em 1949, o
edifício foi cedido à Universidade do Brasil, que restaurou e adaptou
as instalações para funcionar como sede.
Já na região central do Rio de Janeiro, estão distribuídas
diversas unidades isoladas. A Faculdade de Direito no Palácio do
Conde dos Arcos, que abrigou o Senado Federal; a Escola de Música
instalada desde 1913 no antigo prédio da Biblioteca Nacional; o
Observatório do Valongo no topo do Morro da Conceição; o Instituto de
Filosofia e Ciências Sociais e o Instituto de História, situados no
prédio que sediou a Escola Nacional de Engenharia, no Largo de São
Francisco de Paula.
No Plano Diretor UFRJ (2010-2020) há um projeto de
transformação do câmpus da Praia Vermelha em um grande centro
cultural, e de transferir a maior parte das atividades acadêmicas
desse câmpus, e das unidades isoladas, para a Cidade Universitária,
retomando o projeto inicial da Cidade Universitária de concentrar as
atividades universitárias na Ilha. Isso tem gerado discussões na
universidade pelo fato de boa parte dos alunos, professores e
funcionários das unidades a serem transferidas não aceitarem essa
concentração na Cidade
Universitária, visto a distância da Zona Sul à
Zona Norte e o trânsito *caótico* da Linha Vermelha.
Duque de Caxias – Xerém
Por meio do curso de graduação em Biofísica, no segundo
semestre de 2008, a UFRJ iniciou suas atividades em Xerém, uma região
com grande potencial industrial e tecnológico no município de Duque
de Caxias. Com o objetivo de colaborar com o *Inmetro*, a Universidade
estabeleceu parceria com a Prefeitura Municipal de Duque de Caxias e
com a Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico e Políticas
Sociais. Atualmente são oferecidos, além de *Biofísica*, os cursos de
*Biotecnologia* e *Nanotecnologia*, ambos implantados no primeiro
semestre de 2010. Já no ano seguinte, deu-se início ao mestrado
profissional em Formação Científica para Professores de Biologia, com
público-alvo licenciado em Ciências Biológicas, que buscam
atualização e aperfeiçoamento. Os alunos têm à disposição a
infraestrutura e os laboratórios do Inmetro, apesar de muitos ainda
realizarem seus estágios curriculares na Cidade Universitária, assim
como a maioria dos docentes, cujos laboratórios estão no campus sede.
A inauguração do câmpus universitário em área do Inmetro cedida à
UFRJ foi, inicialmente, prevista para meados de 2012.
Macaé – Capital Nacional
do Petróleo
Complexo universitário do câmpus de Macaé no norte fluminense.
A presença da UFRJ em Macaé vem desde a década de 1980, em que
pesquisadores do Instituto de Biologia realizavam pesquisas em lagoas
da Região dos Lagos. Em parceria com a Prefeitura Municipal de Macaé,
em 1994, foi instituído o Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé
(NUPEM). O reconhecimento da presença e importância da universidade
no município foi visível, tanto que a Prefeitura doou um terreno de
29 mil m² onde foi instalada a infraestrutura inicial, formando um
centro universitário. Em 2005, o NUPEM foi oficializado como órgão
suplementar do Centro de Ciências da Saúde, e no ano de 2006, pela
primeira vez, iniciou-se um curso de graduação presencial da UFRJ
fora do Rio de Janeiro – a licenciatura em Ciências Biológicas na
sede do
NUPEM. Em 2007, a Prefeitura Municipal de Macaé inaugurou um
complexo universitário com dois prédios construídos, de um total de
sete previstos, para receber cursos de graduação, pós-graduação e
extensão; nessa solenidade também ocorreu a assinatura do Protocolo
de Intenções entre a Prefeitura e a UFRJ, para que em 2008 fossem
iniciados os cursos de Química e Farmácia, aumentando para três o
número de cursos oferecidos pela universidade em Macaé. Na
atualidade, o *campus* está distribuído fisicamente em três polos
(Universitário, Barreto e Ajuda) e ofertados os seguintes cursos de
graduação: Licenciatura em Ciências Biológicas, Bacharelado em
Ciências Biológicas, Licenciatura em Química, Bacharelado em Química,
Enfermagem e Obstetrícia, Engenharia (Produção, Civil e Mecânica),
Farmácia, Medicina e Nutrição. O *campus* também conta com dois
programas de pós-graduação, em Ciências Ambientais e Conservação e em
Produtos *Bioativos* e *Biociências*. O nome do ex-reitor Aloísio
Teixeira – que dirigiu a instituição entre 2003 e 2011 – passou a
integrar a denominação do campus em 2012, vindo a ser chamado de
Campus UFRJ-Macaé Professor Aloísio Teixeira, em homenagem a uma
figura decisiva no processo de interiorização da universidade.
Polos de Educação a
Distância
Os cursos a distância funcionam por meio do consórcio do Centro
de Educação Superior a Distância do Rio de Janeiro (CEDERJ), firmado
entre a UFRJ e as seguintes instituições: Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Universidade Federal Fluminense
(UFF), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ),
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e Centro Federal de
Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ). Ministrados
na modalidade semipresencial, quando é necessária a participação de
alunos em determinadas atividades presenciais, a UFRJ oferece os
cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas, Física e Química. Ao
final do curso, o aluno recebe o diploma igual ao aluno presencial
matriculado na universidade, de acordo com o polo escolhido. O
ingresso é por meio do vestibular do próprio consórcio.
Parque Tecnológico do Rio
Na Cidade Universitária está instalado o Parque Tecnológico do
Rio, um complexo tecnológico voltado para pesquisas em energia,
petróleo e gás. Em parceria com a Petrobras, a UFRJ objetiva
transformar a área de 350 mil m² no maior centro global de pesquisa
tecnológica do setor petrolífero, tendo em vista que a exploração do
*pré-sal* necessita de desenvolvimento de novas tecnologias. Talvez,
seja por isso que comparações com o *Vale do Silício*, na Califórnia,
tornaram-se comuns. Destacam-se: Centro de Pesquisas Leopoldo Américo
Miguez de Mello
(CENPES), Centro de Pesquisas de Energia Elétrica
(CEPEL), Centro de Tecnologia Mineral
(CETEM), Instituto Alberto Luiz
Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (COPPE).
SiBI – Sistema de
Bibliotecas e Informação
da UFRJ
O SiBI, órgão suplementar do Fórum de Ciência e Cultura (FCC),
é gerenciador das 45 bibliotecas da UFRJ, e tem por objetivo
principal a interação de suas bibliotecas com a política educacional
e administrativa da Universidade, servindo de apoio aos programas de
ensino, pesquisa e extensão. Dessa forma, *fomenta*-se a colaboração e
a produção técnico-científica, cultural, literária e artística, por
meio do
desenvolvimento de serviços e produtos de informação.
Fontes adaptadas:
~,http:ÿÿsiarq.ufrj.brÿ~
imagesÿbufrjÿ2018ÿ27-~
2018.pdf~,
~,https:ÿÿxn--conexo-7ta.~
ufrj.brÿartigosÿuma-breve-~
historia-da-ufrj~,
~,https:ÿÿpt.wikipedia.orgÿ~
wikiÿUniversidade{-~
Federal{-do{-Rio{-de{-~
Janeiro~,
Vocabulário:
Autarquia: s. f. Entidade autônoma, auxiliar e descentralizada da
administração pública, porém fiscalizada e controlada pelo Estado,
cuja finalidade é executar serviços que interessam a coletividade.
Baixada Fluminense: região geográfica do Rio de Janeiro, que pertence
ao Grande Rio.
Bioativo: s. m. Composto que tem um efeito sobre um organismo vivo,
tecido ou célula.
Biociência: s. f. Nome genérico das ciências que estudam os seres
vivos, seu ecossistema, sua evolução, formas de reprodução etc.
Biofísica: s. f. Ramo da medicina que estuda os processos físicos que
ocorrem nos organismos.
Biotecnologia: s. f. Estudo e desenvolvimento de organismos
geneticamente modificados e sua utilização para fins produtivos.
Campus: s. m. Área que compreende os edifícios e terrenos de uma
universidade. Plural: Campi.
Caótico: adj. Confuso, bagunçado, anárquico.
Elitista: s. m. Sistema que favorece os melhores elementos de um
grupo, ou de uma minoria que detém prestígio e poder, em detrimento
de seus demais componentes.
Estado Novo ou Terceira República Brasileira: Regime político
brasileiro instaurado por Getúlio Vargas. Era caracterizado pela
centralização do poder, nacionalismo, anticomunismo e por seu
autoritarismo.
Fomentar: v. Estimular.
Inmetro: Sigla que representa Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial é uma autarquia federal,
vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior e atua em conjunto com a RBMLQ-I (Rede Brasileira de
Metrologia Legal e Qualidade Industrial) exercendo a fiscalização do
cumprimento das leis metrológicas e a da qualidade de produtos e
serviços vigentes no País.
Nanotecnologia: s. f. Tecnologia que opera em sistema nanométrico,
dedicado ao desenvolvimento de circuitos elétricos, com extensões ou
tamanhos equiparados aos átomos e moléculas.
Neoclássico: s. m. Estilo arquitetônico que surgiu entre 1750 e 1850.
Pré-sal: s. m. Área de reservas petrolíferas que fica debaixo de uma
profunda camada de sal, formando uma das várias camadas rochosas do
subsolo marinho. Compreende uma faixa que se estende ao longo de 800
quilômetros e tem este nome porque se formou antes da outra rocha de
camada salina.
Renda *per capita*: loc. adj. É um indicador econômico utilizado para
avaliar a situação econômica de um país. Corresponde à renda média da
população em um determinado ano ou período e é calculada por meio da
divisão da Renda Nacional pelo número de habitantes.
Vale do Silício: Apelido da região da baía de São Francisco onde
estão situadas várias empresas de alta tecnologia, destacando-se na
produção de circuitos eletrônicos, na eletrônica e informática.
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
Tributo a João Cabral de
Melo Neto e Clarice
Lispector – 100 anos
Neste ano de 2020, comemoramos o centenário de nascimento de
dois grandes nomes da Literatura brasileira: João Cabral de Melo Neto
(1920-1999) e Clarice Lispector (1920-1977). Ambos pertenceram à
Geração de 45, que representou um grupo de literatos brasileiros da
terceira geração do Modernismo. A fase modernista surgiu com a
"Revista Orfeu" (1947), e teve representantes tanto na prosa quanto
na poesia.
A seguir, apresentamos o contexto histórico no qual se insere a
Geração de 45. É importante apresentar essa abordagem para melhor
compreendermos como a literatura reflete as questões pelas
quais a
sociedade passa em um determinado momento da história.
Contexto histórico
A Geração de 45, terceira geração modernista (1945-
-1980), nasce
no contexto pós Segunda Guerra e marca o início da Guerra Fria, da
corrida armamentista, e o fim de muitos governos totalitários e de
movimentos como o nazismo alemão. No Brasil, a Geração de 45 teve
início após a ditadura Vargas, período de redemocratização do país.
Os novos tempos são de Guerra Fria e de governos eleitos pelo voto
popular, incluindo o voto feminino. Nesse cenário, surgem escritores
que exploram a forma literária, tanto em prosa quanto em poesia, sob
novos parâmetros, além de aprofundarem os temas de conteúdos
inovadores. Este novo grupo de escritores representou uma arte mais
preocupada com a palavra e a forma – no caso de João Cabral e
Guimarães Rosa – ao mesmo tempo em que explorava assuntos
essencialmente humanos, como na obra de Clarice Lispector. Tanto a
prosa quanto a poesia foram exploradas nesse período, no entanto, de
maneira mais *intimista*, regionalista e urbana.
É nesse contexto histórico e literário que surgem os nossos
homenageados: João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector.
João Cabral de Melo Neto
O pernambucano João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife em 6
de janeiro de 1920. Filho de Luís Antônio Cabral de Melo e de Carmen
Carneiro Leão Cabral de Melo, João era primo de Manuel Bandeira e
Gilberto Freyre. Passou parte da infância nas cidades pernambucanas
de São Lourenço da Mata e Moreno. Mudou-se com a família, em 1942,
para o Rio de Janeiro, quando publicou o seu primeiro livro "Pedra do
Sono". Começou a atuar no serviço público, em 1945, como funcionário
do DASP (Departamento de Administração do Serviço Público). No mesmo
ano, inscreveu-se para o concurso do Ministério das Relações
Exteriores e passou a integrar, em 1946, o quadro de diplomatas
brasileiros.
Atuou como diplomata até 1990, quando se aposentou. João Cabral
morreu em 9 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro, com 79 anos. O
escritor foi vítima de um ataque cardíaco.
João Cabral e a Literatura
Era rigoroso com seus poemas, apresentando uma estrutura mais
fixa e com versos rimados. Seu estilo não é marcado pelo
sentimentalismo; é mais objetivo, racional. A obra de João Cabral de
Melo Neto pode ser considerada construtivista. Não tinha romantismo
em seus escritos, o poeta descrevia as percepções do real,
concretizando as sensações. Além disso, buscava as oposições na sua
poesia.
"Morte e Vida Severina" foi, sem dúvida, a obra que o
consagrou. Com forte crítica social, é um poema onde se misturam o
*lírico*, o *épico* e o dramático. Foi publicado em 1955. Nele, o
escritor retrata a *saga* de um retirante nordestino que sai do sertão
em direção ao sudeste do Brasil para buscar melhores condições de
vida. A obra foi adaptada para a música, teatro e cinema.
Seus livros foram traduzidos para diversas línguas (alemão,
espanhol, inglês, italiano, francês e holandês) e sua obra é
conhecida em diversos países.
Poemas de João Cabral de
Melo Neto
Trazemos uma curiosidade; entre os poemas de João Cabral, um
deles homenageou Clarice Lispector:
Contam de Clarice Lispector
Um dia, Clarice Lispector
intercambiava com amigos dez mil anedotas de morte,
e do que tem de sério e circo.
Nisso, chegam outros amigos,
vindos do último futebol,
comentando o jogo, recontando-o.
refazendo-o, de gol a gol.
Quando o futebol *esmorece*,
abre a boca um silêncio enorme
e ouve-se a voz de Clarice:
Vamos voltar a falar de morte?
Tecendo a Manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia *tênue*,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
Trecho do Poema Morte e
Vida Severina
— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na *freguesia*,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta *sesmaria*.
Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas.
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte Severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte Severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na *sina*:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença *emigra*.
Clarice lispector
*Haya Pinkhasovna* Lispector nasceu no dia 10 de dezembro de 1920
na cidade ucraniana de *Tchetchelnik*. Descendente de judeus, seus pais
*Pinkhas* Lispector e Mania *Krimgold* Lispector, passaram os primeiros
momentos de vida de Clarice fugindo da perseguição aos judeus durante
a Guerra Civil Russa (1918-1920). Diante disso, chegam ao Brasil, em
1921, e vivem nas cidades de Maceió, Recife e Rio de Janeiro, onde
passaram algumas dificuldades financeiras.
Desde pequena, Clarice estudou várias línguas (português,
francês, hebraico,
*ídiche*, inglês) e teve aulas de piano. Era boa
aluna na escola e gostava de escrever poemas.
Após a morte de sua mãe, em 1930, Clarice terminou o terceiro
ano primário no Collegio Hebreo-Idisch-
-Brasileiro. Mais tarde, sua
família foi viver no Rio de Janeiro. Em 1939, com 19 anos, ingressou
na Escola de Direito da Universidade do Brasil e começou a dedicar-se
totalmente à sua grande paixão: a Literatura. Fez cursos de
Antropologia e Psicologia e, em 1940, publicou seu primeiro conto
intitulado "Triunfo". Após a morte de seu pai, em 1940, Clarice
começou a sua carreira de jornalista. Nos anos seguintes, trabalhou
como redatora e repórter na Agência Nacional, no Correio da Manhã e
no Diário da Noite.
Em 1943, casou-se com o Diplomata Maury Gurgel Valente, com
quem teve dois filhos. Seu primogênito, Pedro, foi diagnosticado com
*esquizofrenia*. Seu segundo filho, Paulo, foi afilhado do escritor
Érico Veríssimo. Devido à profissão de seu marido, Clarice viveu em
muitos países do mundo, Itália, Inglaterra, Suíça e Estados Unidos. O
relacionamento durou até 1959, quando se separaram e Clarice retornou
ao Rio com seus filhos.
A escritora foi naturalizada brasileira e se declarava
pernambucana. Seu nome, Clarice, foi uma das formas que seu pai
encontrou de esconder toda a família quando chegaram ao Brasil.
Clarice faleceu no dia 9 de dezembro de 1977, véspera de seu
aniversário de 57 anos, na cidade do Rio de Janeiro, vítima de câncer
de ovário.
Clarice e a Literatura
Conhecida como uma das melhores escritoras brasileiras,
escreveu romances, contos, crônicas, literatura infantil. De
personalidade singular e forte, pouco se importava com as críticas. O
seu estilo é marcado pela inovação, e introduz características novas
à Literatura nacional. Os textos enfocam o inconsciente; na sua
literatura, os sentimentos e sensações dos personagens são muito
importantes.
Também compôs poemas repletos de lirismo. Destacaremos alguns
deles, como exemplo de sua grande obra.
Mas há Vida
Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida, há o
amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.
Sonhe
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância
das pessoas que passam por suas vidas.
Trecho do último livro
"hora da estrela”
“Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra
molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a
pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre
houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de
muito trabalho.
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a
escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de
acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros
*apocalípticos*? Se esta história não existe passará a existir. Pensar
é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que
estou escrevendo. Deus é o mundo. A verdade é sempre um contato
interior inexplicável. A minha vida a mais verdadeira é
irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a
signifique. Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-se ao
próprio último ou primeiro pulsar. A dor de dentes que perpassa esta
história deu uma fisgada funda em plena boca nossa. Então eu canto
alto agudo uma melodia sincopada e estridente – é a minha própria
dor, eu que carrego o mundo e há falta de felicidade. Felicidade?
Nunca vi palavra mais doida,
inventada pelas nordestinas que andam
por aí aos montes.”
Fontes alteradas:
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Vocabulário:
Apocalíptico: adj. Evoca ou profetiza o fim dos tempos.
Emboscada: s. f. Ataque inesperado e traiçoeiro; cilada, armadilha.
Emigrar: v. Sair da sua região ou do seu país para se estabelecer em
outro.
Esmorecer: v. Desanimar, tornar sem ânimo, sem forças; enfraquecer.
Esquizofrenia: s. f. Distúrbio psíquico que afeta a consciência do
próprio eu, as relações afetivas, a percepção e o pensamento.
Estridente: adj. Que tem som agudo e penetrante.
Freguesia: s. f. Distrito de uma paróquia. Pequena povoação.
*Iídiche*: s. m. Língua germânica das comunidades judaicas da Europa
central e oriental, baseada no alto-alemão do século XIV, com
acréscimo de elementos hebraicos e eslavos.
Intercambiar: v. Fazer troca de uma coisa por outra; trocar.
Intimista: adj. Movimento literário que prioriza a expressão dos
sentimentos mais íntimos.
Lírico: adj. Composição poética para ser cantada com acompanhamento
da lira, um instrumento de cordas.
Lirismo: s. m. Caráter subjetivo ou romântico da arte em geral.
Saga: s. f. Narrativa ou história de ficção com mais de uma parte ou
repleta de incidentes.
Sesmaria: s. f. Terreno abandonado ou inculto que os reis de Portugal
cediam aos novos povoadores.
Sincopada: adj. Que deixou de possuir um ou mais sons ou sílabas
intermediárias.
Sina: s. f. Fatalidade a que supostamente tudo no mundo está sujeito;
destino, sorte.
Tênue: adj. Que é fino; de pouca espessura; frágil.
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Transcrição: Diogo Silva Muller Dunley
Revisão Braille: João
Eterno Nascimento