Revista Brasileira para Cegos Edição Especial: Nossos Poetas -- 2019 -- Ministério da Educação Instituto Benjamin Constant Publicação Trimestral de Informação e Cultura Editada e Impressa na Divisão de Imprensa Braille Fundada em 1942 pelo Prof. José Espínola Veiga Av. Pasteur, 350/368 -- Urca Rio de Janeiro-RJ CEP: 22290-250 E-mail: ~,rbc@ibc.gov.br~, Site: ~,http:ÿÿwww.ibc.~ gov.br~, Livros Impressos em Braille: uma Questão de Direito Brasil, Pátria amada

Diretor-Geral do IBC João Ricardo Melo Figueiredo Comissão Editorial: Carla Maria de Souza, Heverton de Souza Bezerra da Silva, João Batista Alvarenga, Leonardo Raja Gabaglia e Regina Celia Caropreso. Colaboração: Daniele de Souza Pereira. Revisão: Carla Dawidman. Transcrição autorizada pela alínea *d*, inciso I, art. 46, da Lei n.o 9.610, de 19/02/1998. Distribuição gratuita. Arquivo da revista disponível para impressão em Braille: ~,http:ÿÿwww.ibc.gov.brÿ~ publicacoesÿrevistas~, ISSN 2595-1009

¨ I Sumário Introdução :::::::::::::: 1 Antônio Carlos Torres Hildebrandt A escolha ::::::::::::::: 2 A linguagem das mãos :::: 3 A música :::::::::::::::: 5 Poema pra mamãe ::::::::: 6 Celso Cosme das Chagas Silva Há :::::::::::::::::::::: 9 Você no coração ::::::::: 10 Climério da Silva Rangel Jr. O barquinho ::::::::::::: 11 Prelúdio pra Ana Cristina :::::::::::::: 12 Cidade grande ::::::::::: 13 Francisco de Assis Árbitro com alma :::::::: 14

Gabriel dos Santos Canto latino :::::::::::: 17 Canção de ninar ::::::::: 17 Meu irmão ::::::::::::::: 18 Glauco Cerejo Espelho d'água :::::::::: 19 O convite de Thanatus :::::::::::::: 21 Inês Helena Canto de esperança :::::: 25 O grande dia :::::::::::: 26 João Batista Alvarenga Benedicta, alma bendita :::::::::::::::: 28 Filhos e pais ::::::::::: 30 José da Silva Galdino Cortina ::::::::::::::::: 32 José Fernando Vieira da Silva (post mortem) Espera :::::::::::::::::: 33

¨ III José Walter de Figueiredo Amigo ::::::::::::::::::: 34 Anjo amigo :::::::::::::: 35 Leniro Alves Aos mestres ::::::::::::: 37 Questão de amor ::::::::: 38 Dor ::::::::::::::::::::: 40 Manoel Alves Guirra Aos jovens :::::::::::::: 41 Apenas palavras ::::::::: 44 Maria da Trindade Rebouças Confissão de uma noiva :::::::::::::::::: 45 Pedro Olímpio A fossa ::::::::::::::::: 47

Introdução Prezado leitor, Nesta edição especial resolvemos presenteá-lo com poemas escritos por pessoas cegas. Por certo você sentirá falta dos belos trabalhos de Virgínia Vendramini, Mayá Devi de Oliveira e Benedicta de Mello. Porém, certamente, elas ficarão felizes em saber que cederam espaço para a divulgação de autores menos conhecidos, contudo não menos talentosos. Optamos por apresentar os “Poetas de Gaveta”. Muita gente boa ainda ficou de fora, pois não havia espaço para todos. Quem sabe em um outro suplemento...? Esperamos que aprecie a seleção que fizemos com todo carinho, e que a poesia traga

bons sentimentos à sua vida nesses tempos tão difíceis. Um abraço. Comissão Editorial õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo Antônio Carlos Torres Hildebrandt A escolha De que esperam que lhes fale? De tragédia ou de ventura? Da guerra sangrenta e suja ou da paz ideal? Reparem: nossas possibilidades são infinitas. A musa pode ser a prostituta que se dá sem ter vontade ou a virgem que se guarda, mesmo tendo o corpo em brasa. Portanto, escolham o tema.

Depois, abram o caderno e se descubram nos versos de algum desses meus poemas. Vocabulário Musa: s. f. Qualquer divin- dade que inspire as artes, particularmente a poesia. :::::::::::::::::::::::: A linguagem das mãos Quando duas mãos se tocam, se unem e se apertam, um circuito elétrico se fecha e dois corações começam a bater descompassadamente. É a linguagem das mãos, silenciosa, direta, instantânea. Quantas perguntas e respostas estão contidas nesse gesto mútuo! Quantas ânsias, quantas incertezas, quantos sonhos, quantos medos! Quantas palavras que as bocas se recusam a pronunciar e que se fossem ditas quebrariam o encanto daquele momento mágico! Um aperto de mão tem o poder de transmitir toda a força, todo o calor de um sentimento que nenhuma palavra, por mais adequada que fosse, conseguiria descrever. Um aperto de mão é o primeiro, o mais puro, o mais singelo, o mais inequívoco sintoma do amor!

Vocabulário Mútuo: adj. Em que há troca ou correspondência de ati- tude ou sentimento. :::::::::::::::::::::::: A música É inegável que a música possui qualidades mágicas. Em suas roupagens múltiplas, provoca risos e lágrimas. Causa-nos emoções súbitas Nos leva a altitudes máximas. Faz com que se tornem lúdicas as atividades áridas. Por isso -- coisa fantástica! a sociedade das máquinas, que parece tão estúpida, tão arrogante e pragmática, se dobra, vencida e estática, ante os encantos da música! Vocabulário Pragmática: adj. Objetiva, positivista, positiva, prática e sensata. :::::::::::::::::::::::: Poema pra mamãe É, mãe! São setenta e sete. Você pintou o sete quando tinha sete, é fácil de ver. Agora, missão já cumprida (que vida comprida!), que venha mais vida pra você viver. Mais vida, com felicidade, com muita amizade, pra nossa unidade não se desfazer. É, mãe! Você me convence. O amor sempre vence,

nosso Fluminense também vai vencer. O samba não marca bobeira, levanta poeira e a nossa Mangueira vai sobreviver. É, mãe! A vida são tantas! Quantas coisas, quantas! Animais e plantas e gente também; retalhos, pedaços de histórias, derrotas, vitórias, fagulhas de glórias, saudade de alguém. Relembro seu colo macio, seu medo do frio, sentindo arrepio e o frio, cadê? Relembro seus ditos jocosos, seus risos gostosos,

seus pitos bondosos... relembro você. É, mãe! Sua vida eu contemplo. Você é meu templo, meu maior exemplo, meu canto de fé. É bom ouvir seus conselhos, tê-la como espelho, dizer de joelhos: mamãe, você é! Vocabulário Jocoso: adj. Que zomba de algo ou de alguém, diver- tido, irônico. Pitos: s. m. Advertências, broncas. õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo

Celso Cosme das Chagas Silva Há Há sempre um choro pra chorar Uma razão para sorrir Uma mulher pra se amar Um bom motivo pra curtir. Há sempre a noite, há sempre o dia Há sempre um sim, há sempre um não E há também a poesia Que nasce da inspiração. Há sempre a dor de uma partida Há sempre uma nova história E a esperança na conquista De uma vitória. Há sempre alguém que vai chegar Algo que vai acontecer

E a euforia que há depois De se vencer. :::::::::::::::::::::::: Você no coração Você interpolou a minha vida Adicionou, multiplicou minha emoção Equacionou o que estava incorreto Sistema, teorema e fração. Veio com a sua geometria E com a sua fração equivalente Somou todos os números e afinal Determinou qual seria o quociente. A mais B, B mais C, dá sempre certo Menos com menos, menos com mais é a solução O que importa é a soma dos catetos E ter você juntinho do meu coração. Vocabulário Interpolou: v. Adicionou palavras ou frases num texto, modificando-o. õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo Climério da Silva Rangel Jr. O barquinho O barquinho vai Levando uma canção Buscando um coração Que se perdeu no mar E o barquinho vai Levando um pescador Que pesca um grande amor Que se perdeu no mar Seus olhos, mar azul, e o céu Se encontram num poema Que como o barquinho vai E o barquinho vem Trazendo o pescador E traz alguém Talvez uma canção Ou a tristeza De um grande amor Que quis viver demais Pra não morrer no mar :::::::::::::::::::::::: Prelúdio pra Ana Cristina Oh Deus, se realmente existe, dê vida a esse ser que quer nascer que quer sair apenas do pensar comprei um brinquedinho pra você sorri seu pranto de querer amei seu jeito de chorar e até fiz uma canção de ninar Ana Cristina se eu pudesse ser você talvez eu preferisse não nascer a vida é bem melhor antes da vinda e mesmo estando fora do universo serás sempre lembrada nos meus versos. :::::::::::::::::::::::: Cidade grande De manhã bem cedo antes do sol nascer ruídos, rumores, rapidamente rompem o silêncio; e durante o dia difícil é dizer quem é de quem. Ruídos rasgados de rodas rodando, rompendo, raspando, partindo ou chegando. E a gente tão tonto com tanto alvoroço nem tempo de almoço a gente faz; e em meio à torrente, nem tempo pra oi a gente tem mais.

Sinal abrindo, sinal fechando; e este ritmo gera um compasso; e a boca do túnel devora gigante o rio de aço. õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo Francisco de Assis Árbitro com alma Meu amor é passarinho arrumando o ninho, o grito da liberdade que é verdade. Luminosidade em plena noite escura! A doutrina mais pura da realidade. Meu amor é caso sério sem mistério e espero merecer sua promessa de bondade. Meu amor é a mais meiga presença. É emoção que pensa na felicidade. Meu amor é mais que a consciência da ausência do medo de amar. Meu amor é vento que auxilia navio querendo aportar. Meu amor é a fé do equilibrista, artista de um novo futuro. Meu amor é chama, é luz acesa, certeza de um tempo seguro. Meu amor é passaredo buscando o segredo escondido em cada face da verdade. Meu amor é árbitro com alma é voz que sempre acalma qualquer tempestade. Meu amor é teimosia de ser alegria, oprimido que resiste à mão selvagem.

Meu amor é o mais representante da mais nova notícia, da melhor mensagem. Meu amor é mais que a consciência da presença do prazer de amar. Meu amor é mais que primavera! É era nova pra chegar! Meu amor é a voz mais inocente do mais mirim dos deputados. Meu amor compõe o contingente do exército dos desarmados. Vocabulário Passaredo: s. m. Grande número de pássaros. õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo

Gabriel dos Santos Canto latino Quem trouxe essa descrença pra gente levou nossas vidas que eram os nossos filhos roubou os meus pais, e os meus irmãos, e nossa ilusão onde ficará? A canção que veio me perguntar. E eu não soube responder; e quem saberá: destino. Vamos dar as mãos, latinos pra salvar nossos meninos! :::::::::::::::::::::::: Canção de ninar Há de vir um dia e eu lhe adorar e dos seus problemas todos participar.

Seja o que eu não pude ser, e muito mais! Seja amor, amor, amor demais! Sua infância seja um céu seus natais papai Noel e quando você crescer e maior for seu saber para mim, uma criança, você sempre há de ser hei de sempre te embalar venha que eu quero te amar e cantar para sempre sua canção de ninar. :::::::::::::::::::::::: Meu irmão Olha meu amigo a todo instante estás comigo olha, se um dia a gente precisar, sabe, meu amigo, de nos separar, vamos nos preparar pra dor quando chegar; pisar devagar. Olha, meu irmão, eu já não tenho medo mais da solidão; ah! eu tenho os bares da cidade; ah! eu tenho o meu violão; tenho a minha canção. Mas Deus há de ajudar e a gente nunca se separar! Meu irmão, tomara que não! õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo Glauco Cerejo Espelho d'água No teu espelho, não me vejo a mim Quem me sorri, há muito me deixou Nele, apenas o vulto de alguém que ainda não sabia ser quem sou

Em teu espelho, escrevo o meu nome Expondo-te o aço, revelo o brilho destes olhos que me sondam a alma por detrás do vidro, traçando-me a trilha Com teu espelho, concentra-se o foco Reflito a luz, convergindo ao passado Cruzo a ponte e retorno ao mesmo beco a um retrato na memória guardado Nesse espelho onde busco a minha face lâmina líquida, baça e profunda imprime-se alguém que nunca envelhece que não se deforma ao sabor das ondas

Ainda que essas águas sejam turvas revolvo-as em concêntricas curvas lançando-me, pedra, a um fundo mergulho E mesmo que teu espelho se parta não me furto a reter o que importa Desfaço o laço e amasso o embrulho Vocabulário Baça: adj. Sombria, escura. :::::::::::::::::::::::: O convite de Thanatus Sabe quando uma casa se torna castelo? Quando por mais que se estique, o braço não encontra parede? Quando por mais que se estenda, a mão não alcança o teto? Quando o grito escapa do peito sem o eco de suas verdades? Sabe quando o sol poente não mais lhe ofusca? Quando o frio é tanto, que arde como fogo? Quando o silêncio, canto de sereia, alardeia o perigo? Quando fome e sede juntas lambem o fundo da cumbuca? Sabe quando uma cama se torna penhasco? Quando por mais que se deite, o olhar não lhe alcança o leito? Quando embora alta a noite, sonhar não aclara seus medos? Quando o suspiro exala do peito feito aroma do frasco?

Sim... ontem, hospedei sentimentos banidos descuidado, abriguei-me à sombra de miasmas iludido, dei guarida a pálidos fantasmas. Hoje, compreendo a razão dos conflitos Pois eis que chega o momento de colar os cacos saltar o abismo que se me apresenta dizer não ao convite de Thanatus suportar até o fim essa dor odienta Só assim, cessará qualquer gemido Então, drenada a chaga da alma suntuoso salão será erguido onde virá brilhar suave chama Resplendente futuro sei que nos aguarda Doutro lado do muro, leite fresco e mel Revelar o tesouro oculto na arca Remover da memória embaçado véu Eis a vida que adormecera em mim, despertando em arte Pois o amor quando findo, levara da vida a graça De fato, há então que se estabelecer tal morte para que, em futuro imediato, novo amor se faça Vocabulário Miasmas: s. m. Fig. Emanação a que se atribuía, antes das descobertas da microbiologia, a contaminação das doenças infecciosas e epidêmicas.

Thanatus: s. p. Na mitologia grega, era a personificação da morte. õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo Inês Helena Canto de esperança Abandonei o meu mundo e por caminhos diferentes, saí buscando alegria. Quis ser feliz, minha gente. De um sonho fiz esperança tão pura de um amanhecer e vivi feito criança, sonhando, sempre a correr. Andei por muitas estradas, desertos, por outros mundos buscando sempre o amor sem encontrar. E num lugar bem distante, então o amor aconteceu;

cresci e me fiz amante, sorri e o amor viveu. E hoje chego cantando: Amigos o amor existe; verdade, é belo, espalhem; não há razão para ser triste. Abandonei o meu mundo e por caminhos diferentes, busquei paz e alegria; quis ser feliz, minha gente. :::::::::::::::::::::::: O grande dia Dá-me Senhor, um dia bem feliz! Afasta de mim esta solidão amarga que me tortura a todo momento, dá-me de volta, o meu querido amor. Afasta dos meus olhos cansados e tristes, esta vontade louca de chorar para que neste dia, eles possam brilhar. Quando nascer o grande dia, eu quero para enfeitá-lo: o sorriso feliz das crianças, a alegria de todas as flores e ternura entre os casais; eu quero o céu mais azul, quero o sol mais ardente e sobre o mundo, eu quero paz. Quero ainda sobre o mar, muitas jangadas, a areia por ele beijada e as canções mais lindas quero ouvir cantar. Quando findar o dia e a noite chegar, quero ver sobre a terra derramada, a mais pura poesia e no céu, todas as estrelas a brilhar. Mais tarde, quando quase adormecida estiver a natureza e ainda existir luz da lua sobre a cidade; quando se aproximar o fim da beleza, eu quero morrer para não sentir saudade. õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo João Batista Alvarenga Benedicta, alma bendita (Dedicado a Benedicta de Mello -- in memoriam) Para o Instituto Benjamin Constant, do teu Nordeste tu buscaste vários desamparados! E na esperança de um melhor amanhã, pediste por eles e por eles lutaste. Desejavas apenas que fossem instruídos, e ao trabalho encaminhados. Desta forma agiste, porque assim fora contigo. À vida retribuíste, o que havias dela colhido. Abriste tua casa a muitos necessitados. Mais que isto: abriste mão de tua privacidade. E a eles deste guarida, ofereceste comida, e a sorte então lançada, em busca de oportunidade. Eu pergunto: -- Quantos têm esta vontade? E além de tudo nos deixaste páginas maravilhosamente grafadas! Com o teu sentimento nelas impresso e escancarado! Amor e dor ali claramente retratados. Explicitadas: decepção e realidade. E do ser humano, a emoção e a dualidade. A minha família é a ti, muito agradecida. Estás guardada no coração. Porque na hora mais desvalida, nos estendeste a tua mão. Somos alguns daqueles teus assistidos. Aqui está expressa a nossa gratidão. :::::::::::::::::::::::: Filhos e pais Dizem que filhos, melhor não tê-los. Porém, se eles não nos tiverem, como o saberão? Para nós, faz parte desta "profissão": Ter a dádiva de concebê-los. À luz oferecê-los. Venham como vierem, recebê-los. Na sobrevivência, mantê-los.

Todo dia, levá-los e trazê-los. Nos jogos de brincadeira, deixá-los vencer-nos. De qualquer perigo, protegê-los. Num possível desatino, retê-los. No aperto, sendo para o seu bem, socorrê-los. Na atitude de desrespeito, repreendê-los. No inevitável revés, reerguê-los. E no doloroso conflito, compreendê-los. Mas o que não desejamos realmente, é devolvê-los. Em nós, que pretensamente tudo isso vivemos, e na condição de filhos, que graças a Deus somos e seremos, volta a infindável questão: Tê-los?...

Não tê-los?... E então, já o sabemos? Nós pais, com nossa devida autoridade, podemos aprender com eles agora; e com sabedoria e humildade, aprederemos com eles também pela vida afora. Vocabulário Desatino: s. m. Disparate, absurdo, despropósito. Revés: s. m. Infortúnio, adversidade, contrariedade. õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo José da Silva Galdino Cortina O tempo não para Mas, minha cara Aqui é hora, eu vou ficar Vem que eu tenho medo De partir e não chegar Que importa a viola Se nela só sei buscar Lembranças de um coração Que ficou enterrado Na curva do rio Vem Fecha cortina da tristeza Corre a abraçar este peito nu Que a natureza trouxe o frio õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo José Fernando Vieira da Silva (post mortem) Espera Tenha-me no seu coração Antes que o adeus chegue um dia E o amanhã será lindo Como flores se abrindo Só quero tê-la ao meu lado Dizendo frases de amor Sonhando num paraíso E dentro dele o sorriso Que se traduz em amor Espere um pouco meu bem Dê-me somente uma flor Quero por toda esta vida Sua imagem querida Quero sentir seu calor õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo José Walter de Figueiredo Amigo (Dedicado a Luiz Antonio Millecco -– in memoriam) Amigo, qual borboleta que se libertou Você bateu asas e também voou Em busca das flores de outro jardim Amigo, mas a distância que nos separou Não existe pra aquele que já superou O tempo e o espaço, no Eterno Sem-Fim No jardim da fraternidade Que você sempre cultivou

Nasceu a flor da saudade Do vazio que você deixou Agradecemos com alegria Tantos frutos para colher Borboletas, também um dia Vamos encontrar você. :::::::::::::::::::::::: Anjo amigo Anjo amigo, tu que estás sempre comigo Te tornaste meu abrigo Nas batalhas que eu preciso conquistar Desta vida, que me vira pelo avesso Mas sem isso eu não cresço E é preciso que eu comece a despertar Anjo amigo, quantas lutas, companheiro! Tu que és sempre o primeiro

A mostrar-me o caminho a seguir Quantas vezes pela minha rebeldia Tu falavas e eu não ouvia Muitas quedas eu sofri Anjo divino, tu iluminas meu caminho Pra livrar-me dos espinhos Que ferem meu coração Eu agradeço à Divina Providência Pela tua paciência E tanta dedicação Anjo amigo, me perdoa a fraqueza E também pela tristeza Que, de certo, muitas vezes te causei Quantas dores eu teria evitado Se atendesse ao teu chamado Só tu sabes quantos males eu passei

Anjo amigo, uma coisa eu te peço Que na hora do regresso Para a pátria de onde um dia eu saí Tu estejas novamente ao meu lado Pra que num abraço apertado Eu continue junto a ti. õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo Leniro Alves Aos mestres Bendito seja quem teve a missão De ser o mais nobre semeador Que em cada mente, em cada coração, Com mãos divinas, que são mãos de amor, Regou a terra em cada cidadão Que traz em si o gosto de aprender.

Pois de ensinar fez sua profissão, Fez plantação: semente do saber. por mais que o homem, tão pequeno, cresça, por mais que alguém aos outros apareça como pessoa de raro valor todos terão guardados num cantinho, a gratidão maior, a do carinho por algum velho mestre, um professor. :::::::::::::::::::::::: Questão de amor Questão que por meu cérebro se lança: do amor, o que será que você pensa? Pra mim, é usufruir das semelhanças

buscando aprender com as diferenças. E ai do que cultiva desavenças, com estas o amor jamais avança e o que me dá certeza desta crença: saber que mágoas ficam na lembrança. E, me permita este devaneio: o coração assim se parte ao meio e então dois pratos da mesma balança se fazem um vazio e o outro cheio e se o que pesa é o lado feio o amor sucumbe e a história cansa. Vocabulário Devaneio: s. m. Divagação, delírio. Sucumbir: v. Ser dominado pelo desânimo, abater-se. :::::::::::::::::::::::: Dor Que não se veja em mim um defensor De tudo quanto seja sofrimento Porém não posso estar tão desatento A uma verdade que sabe se impor: A cada passo onde haja algum tropeço, Nas injustiças quando são sentidas, Nas muitas frases que são proferidas Cujo sentido seja "eu não mereço!!!" Que não se esconda, pois, esta verdade Que é apanágio da humanidade, Que salta aos olhos do observador: Terá o homem o dom de se irmanar Sempre que a vida souber lhe ensinar qual o sentido da palavra dor. Vocabulário Apanágio: s. m. Atributo, condição. Irmanar: v. Tornar(-se) unido e fraterno como irmão(s). õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo Manoel Alves Guirra Aos jovens Aqueles que te cercavam dos necessários cuidados, no tempo em que indefeso, deles nunca prescindias,

os que qual anjos velavam teu sono noites e dias, mais não dormem porque jovens demandam zelos dobrados. Aqueles que em ti forjaram o sorriso que contagia, expressão de alegria e satisfação permanentes, querem ver-te sempre alegre, satisfeito, sorridente, por isto te monitoram: passos, atos, companhia... Quem ama não é malvado, arbitrário, ditador, quando nega um pedido provocando mágoa, pranto; é, antes, quem foi um dia, jovem, também, tem, portanto, conhecimento bastante para antever toda dor, causada aos que se julgam muito espertos e aos que agem,

por impulso de momento, num rasgo de empolgação, aos pais que negligenciam ou ludibriados são, por quem pensa saber tudo, ou, que basta ter coragem. Aqueles que te acolheram como presente de Deus, querem dar-te o tratamento que recebe o tesouro, cujo valor não comparo ao diamante, ao ouro; então trata-os de igual modo. És deles como são teus. Vocabulário Forjar: v. Criar situação falsa, inventar, maquinar, simular. Ludibriar: v. Enganar, iludir, burlar. Prescindir: v. Deixar de contar com, dispensar. :::::::::::::::::::::::: Apenas palavras Posso dizer que sou feliz, porém, não ser; porque nem tudo o que se diz é o que se sente; também, pra quê falar de si a toda gente, se há muito poucos que se importam, pra valer? Posso dizer: vou vê-la um dia; e jamais ir; pois certas frases são, somente protocolos. Posso dizer: Desejo ver-te, intrassolo! mas, se adoeces, logo apreço-me em agir. Posso dizer palavras mil, ou, amiúde, Valor nenhum terão, por tom, por quantidade; Só poderão anunciar sua verdade, quando aliadas forem às suas atitudes. Vocabulário Amiúde: adv. Frequentemente. Apreço-me: s. m. Estima, consideração em que temos alguém ou alguma coisa. Intrassolo: adv. de lugar. Debaixo da terra, no subsolo. õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo Maria da Trindade Rebouças Confissão de uma noiva Não chorei de emoção ao pé do altar. Foram lágrimas tristes, de desgosto. Que jorraram, rolando sem parar, Desmentindo o sorriso de meu rosto! Sem querer, chorei muito neste dia...

De tristeza incontida e desespero De ver todo um passado de poesia Transformar-se num presente sem esmero! Revoltei-me, prevendo um mar de tédio! Nesse dia, a cruel desilusão Me mostrou a saudade sem remédio! Dor atroz esmagou-me o coração E marcou, em minh'alma, cicatrizes! Fui covarde ocultando aquele não; Fui mais uma, entre as noivas infelizes. Vocabulário Esmero: s. m. Cuidado ex- tremo na realização de qual-

quer obra ou tarefa, buscan- do a perfeição, capricho. õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo Pedro Olímpio A fossa À tarde eu esperei você à noite eu esperei você e o domingo se acabou e a esperança se acabou talvez tenha chovido aí prefiro acreditar assim eu acho até que um jornal noticiou o temporal domingo bem cedinho eu vou buscar você e a gente vai sair e a gente vai sonhar e a gente vai se amar com tanto amor, amor demais à tarde eu vou telefonar contar meus planos ou brigar à noite eu vou lembrar você talvez eu sonhe com você aqui as coisas vão iguais em mim as coisas vão iguais apenas muito medo amor domingo eu esperei você talvez eu chore um pouco se perder você mas isso é natural a gente é tão igual a gente se integrou e se entregou com tanto amor aí está meu coração algum orgulho é natural um pouco triste é natural domingo eu esperei você saudades de você amor um beijo pra você amor eu vou fechar esta canção eu vou guardar o violão õxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxo

Transcrição: Rosemari Paula Revisão Braille: João Batista Alvarenga