Guia de Orientação e Mobilidade PARTE 2 (TXT)
Atualizado 2023
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23/03/2023 10h30
Guia Orientacao e Mobilidade parte 2.txt — 71 KB
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<t-> Coleo Caminhos e Saberes Grupo de Estudos e Pesquisa em Orientao e Mobilidade (GEPOM) Rompendo barreiras Guia prtico de Orientao e Mobilidade do Instituto Benjamin Constant Impresso braille em 3 partes, na diagramao de 28 linhas por 34 caracteres, Instituto Benjamin Constant, 2022. Segunda Parte <p> Ministrio da Educao Instituto Benjamin Constant Departamento Tcnico-Especializado Diviso de Imprensa Braille Av. Pasteur, 350-368 -- Urca 22290-250 Rio de Janeiro -- RJ Brasil Tel.: (21) 3478-4442 Fax: (21) 3478-4444 E-mail: ~,ibc@ibc.gov.br~, ~,http:www.ibc.gov.br~, -- 2023 -- <P> GOVERNO FEDERAL PRESIDNCIA DA REPBLICA Jair Messias Bolsonaro MINISTRIO DA EDUCAO Victor Godoy Veiga INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT Joo Ricardo Melo Figueiredo DEPARTAMENTO DE PS-GRADUAO, PESQUISA E EXTENSO Elise de Melo Borba Ferreira DIVISO DE PS-GRADUAO E PESQUISA Luiz Paulo da Silva Braga <P> ROMPENDO BARREIRAS: GUIA PRTICO DE ORIENTAO E MOBILIDADE DO INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT <R+> _`[Imagem de fundo azul, centralizada, em que, na parte superior, em letras laranja, l-se: Rom- pendo barreiras; guia prtico de orientao e mobilidade do Instituto Benjamin Constant". Abaixo, centralizado, um desenho do globo terrestre, simulando uma crnio, com culos escuros e, na parte superior do globo, seis desenhos de pessoa com deficincia visual enfileirada, indicando o crescimento de uma criana, e da esquerda para a direita, temos: criana de olhos fechados, usando fralda, em p, segurando um brinquedo com um cabo longo; menino com culos escuros, shorte e camiseta, em p, andando com as mos esticadas para frente; jovem cm cuos escuros, cala comprida e camiseta, segurando no antebrao de outra pessoa; adulto com culos escuros, camiseta com a cela braille na frente e cala comprida, segurando uma bengala."_`] <R-> <P> <R+> Elaborado pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Orientao e Mobilidade (GEPOM), vinculado ao Centro de Estudos e Pesquisas (Cepeq) do Instituto Benjamin Constant (IBC): Advia Fernanda Correia Dias da Silva Lisnia Cardoso Tederixe Regina Ktia Cerqueira Ribeiro Thiago Sardenberg Vanessa Rocha Zardini Nakajima Descrio da imagem: Foto do grupo da cabea cintura com cinco pessoas sorrindo, todas de p com camisa tipo polo preta com as logomarcas do Grupo de Estudos e Pesquisa de Orientao e Mobilidade do lado esquerdo e do Instituto Benjamin Constant do lado direito. Da esquerda para direita: Thiago Sardenberg, Vanessa Zardini, Regina Ktia Cerqueira, Advia Dias e Lisnia Tederixe <R-> Membros Convidados: Fernanda Codeo Ferreira Monteiro Marcelo Miranda Petini Colaboradores convidados: Antnio Menescal Elcy Maria Andrade Mendes Elizabeth Ferreira de Jesus George Thomaz Harrison Indira Stephanni Cardoso Marques Maria da Gloria de Souza Almeida Thas Ferreira Bigate Reviso tcnica do contedo: Valria Rocha Conde Aljan Ilustraes: Jlio Matoso <p> Dados do livro em tinta Copyright `(C`) Instituto Benjamin Constant, 2022 ISBN 978-65-00-60906-6 <R+> Todos os direitos reservados. permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que no seja para venda ou qualquer fim comercial. A responsabilidade pelo contedo e pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra dos autores. <R-> Capa e diagramao Wanderlei Pinto da Motta Copidesque e reviso geral Laize Santos de Oliveira Marcela da Silva Abrantes <P> <R+> Coleo Caminhos e Saberes 1) Sistema Braille: simbologia bsica aplicada Lngua Portuguesa 2) Tcnicas de Clculo e Didtica do Soroban -- metodologia: menor valor relativo 3) Manual de Adaptao de Textos Para o Sistema Braille 4) Tcnicas de Clculo e Didtica do Soroban -- metodologia: maior valor relativo 5) Transcrio e Impresso Braille no Programa Braille Fcil 6) Manual de Produo do Livro Falado 7) Rompendo barreiras: guia prtico de Orientao e Mobilidade do IBC Organizao da coleo: At o n.o 5: Jeane Gameiro Miragaya A partir do n.o 6: Gabrielle de Oliveira Camacho Soares <R-> Todos os direitos reservados para Instituto Benjamin Constant Av. Pasteur, 350/368 -- Urca CEP: 22290-250 -- Rio de Janeiro -- RJ -- Brasil Tel.: 55 21 3478-4458 E-mail: ~,dpp@ibc.gov.br~, <trompendo barreiras> <t*1> Lista de figuras Segunda Parte Figura 93: Tcnica de bengala longa -- passagem por portas -- pessoa com deficincia visual com a bengala longa na vertical localiza a maaneta da porta ::::::::::::::::::::: 105 Figura 94: Tcnica de bengala longa -- subir escadas -- pessoa com deficincia visual se enquadra de frente para escada e identifica altura e profundidade no primeiro degrau :::::::::::::::::::: 107 Figura 95: Tcnica de bengala longa -- subir escadas -- pessoa com deficincia visual se enquadra de frente para escada e identifica a largura da escada ::::::::: 107 <P> Figura 96: Tcnica de bengala longa -- subir escadas -- pessoa com deficincia visual inicia a subida mantendo a bengala longa um degrau frente :::::::::::::::::::: 107 Figura 97: Tcnica de bengala longa -- descer escadas -- pessoa com deficincia visual inicia a descida localizado o corrimo e o primeiro degrau :::::::::::::::::::: 108 Figura 98: Tcnica de bengala longa -- descer escadas -- pessoa com deficincia visual inicia a descida apoiando a bengala longa na borda do degrau sua frente :::::::::::::::: 109 Figura 99: Tcnica de bengala longa -- escadas rolantes -- pessoa com deficincia visual se aproxima da placa de metal ::::::::::::::::::::: 111 <P> Figura 100: Tcnica de bengala longa -- escadas rolantes -- pessoa com deficincia visual apoia a mo direita no corrimo e posiciona-se com a bengala longa na vertical ::::::::: 111 Figura 101: Tcnica de bengala longa -- escadas rolantes -- ao final da escada rolante a pessoa com deficincia visual eleva a ponta do p ::::::::::::::: 111 Figura 102: Tcnica de bengala longa -- escadas rolantes -- para perceber o final da escada rolante a pessoa com deficincia visual pode ficar com um p em cada degrau ::::::::: 112 Figura 103: Tcnica de bengala longa -- travessia de ruas em reas residenciais -- pessoa com deficincia visual aguardando para iniciar a travessia ::::::::::::::::: 117 Figura 104: Tcnica de bengala longa -- travessia de ruas em reas residenciais -- pessoa com deficincia visual aguardando termina a travessia e identifica o meio-fio :::::::::::::::::: 117 Figura 105: Tcnica de bengala longa -- travessia de ruas em reas residenciais -- pessoa com deficincia visual realiza a varredura para subir a calada ::::::::::::::::::: 117 Figura 106: Tcnica de bengala longa -- travessia de ruas com sinais -- pessoa com deficincia visual aguarda o fechamento do sinal e realiza a travessia ::::::::::::::::: 119 <P> Figura 107: Tcnica de bengala longa -- acesso a elevadores -- pessoa com deficincia visual identifica o piso de alerta, indicando a entrada do elevador ::::::: 121 Figura 108: Tcnica de bengala longa -- acesso a elevadores -- pessoa com deficincia visual identifica se o elevador est no andar ::::::::::::: 121 Figura 109: Tcnica de bengala longa -- familiarizao de transportes/automveis -- pessoa com deficincia visual localiza a porta do carro e a abre :::::::::::: 124 Figura 110: Tcnica de bengala longa -- familiarizao de transportes/automveis -- pessoa com deficincia visual entra no carro e fecha a porta ::::::::::::: 124 Figura 111: Tcnica de bengala longa -- familiarizao de transportes/nibus -- pessoa com deficincia visual localiza e segura o corrimo, em seguida identifica o degrau para iniciar a subida :::::::::: 127 Figura 112: Contrastes recomendados para a instalao do piso ttil em relao ao piso adjacente ::::::::::::::::: 133 Figura 113: Mudana de direo formando ngulo entre 150 e 180 ::::::: 135 Figura 114: Sinalizao ttil direcional :::::::::: 135 Figura 115: Mapa com as faixas direcionais :::::::: 136 Figura 116: Mapa com encontro de faixas direcionais ::::::::::::::: 136 Figura 117: Smbolo da deficincia visual :::::::: 139 Figura 118: Smbolo da baixa viso ::::::::::::::: 140 Figura 119: Smbolo da audiodescrio :::::::::::: 140 Figura 120: Smbolo do co guia :::::::::::::::::::::: 141 Figura 121: Smbolo da surdocegueira ::::::::::::: 142 <P> <P> Sumrio Segunda Parte 3.9.10 Passagem por portas :::::::::::::::::::: 105 3.9.11 Subir escadas :::: 105 3.9.12 Descer escadas ::: 108 3.9.13 Escadas rolantes :::::::::::::::::: 109 3.9.14 reas residenciais :::::::::::::: 113 3.9.15 Solicitando ajuda ou informao ::::::::::::: 114 3.9.16 Travessia de ruas em reas residenciais ::::: 116 3.9.17 Travessia de ruas com sinais :::::::::::::::: 118 3.9.18 Acesso aos elevadores :::::::::::::::: 120 3.9.19 Familiarizao de transporte :::::::::::::::: 122 3.9.20 Tcnica do abandono (Drop-Off) ::: 129 3.10 Piso ttil :::::::::: 130 <P> 3.10.1 Formas de utilizao do piso ttil na Orientao e Mobilidade ::::::::::::::: 137 4. Smbolos de acessibilidade mais utilizados na Deficincia Visual ::::::::::::::::::: 139 Segunda seo :::::::::::::: 149 Orientao e Mobilidade: a construo de novas trajetrias ::::::::::::::: 149 Notas ::::::::::::::::::::: 185 <84> <trompendo barreiras> <t+105> 3.9.10 Passagem por portas A pessoa com deficincia visual, ao detectar uma porta, deve manter o contato com o objeto e colocar a bengala longa na vertical, arrast-la para a direita e para a esquerda at encontrar o trinco; uma vez localizado o trinco ou maaneta, abre a porta com a mo livre e passa. <85> <R+> Figura 93. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- passagem por portas -- pessoa com deficincia visual com a bengala longa na vertical localiza a maaneta da porta. <R-> Fonte: Acervo pessoal. 3.9.11 Subir escadas Ao encontrar uma escada, a pessoa com deficincia visual deve fazer o enquadramento, ou seja, <P> colocar-se de frente para a escada. A partir disso, fazer o reconhecimento da altura, largura e comprimento dos degraus, bem como a localizao do corrimo com a bengala longa. A mo oposta que est segurando o corrimo segura a bengala longa, fazendo a empunhadura do lpis, apoiando-a no segundo degrau sua frente, e inicia a subida. Durante toda a subida, a pessoa com deficincia visual dever manter a bengala longa sempre um degrau sua frente. Quando a bengala longa no mais encontrar degraus, a pessoa saber que falta um degrau para chegar ao topo. No fim da subida e nos patamares, deve-se fazer uma varredura. Uma outra variao dessa tcnica a utilizao da bengala longa na posio diagonal. O professor, familiar ou acompanhante deve se posicionar sempre no degrau abaixo da pessoa com deficincia visual, visando maior segurana. <86> <R+> Figura 94. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- subir escadas -- pessoa com deficincia visual se enquadra de frente para escada e identifica altura e profundidade no primeiro degrau. Fonte: Acervo pessoal. Figura 95. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- subir escadas -- pessoa com deficincia visual se enquadra de frente para escada e identifica a largura da escada. Fonte: Acervo pessoal. <87> Figura 96. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- subir escadas -- pessoa com deficincia visual inicia a subida mantendo a bengala longa um degrau a frente. <R-> Fonte: Acervo pessoal. 3.9.12 Descer escadas Da mesma forma que na tcnica de subida de escadas, a pessoa com deficincia visual localiza a escada, coloca-se de frente para ela, faz o reconhecimento com a bengala longa da altura, largura e comprimento dos degraus, bem como a localizao do corrimo e inicia a descida. Nessa tcnica, utiliza-se a empunhadura de toque com a bengala longa em diagonal, apoiando-a na borda do degrau logo abaixo. Caso haja um patamar ou chegue ao final da escada, a pessoa com deficincia visual deve fazer uma varredura antes de dar continuidade ao seu deslocamento. O professor, familiar ou acompanhante deve se posicionar sempre um degrau frente da pessoa com deficincia visual. <88> <R+> Figura 97. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- descer escadas -- pessoa com deficincia visual inicia a descida localizado o corrimo e o primeiro degrau. Fonte: Acervo pessoal. Figura 98. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- descer escadas -- pessoa com deficincia visual inicia a descida apoiando a bengala longa na borda do degrau sua frente. <R-> Fonte: Acervo pessoal. <89> 3.9.13 Escadas rolantes importante ressaltar que algumas pessoas com deficincia visual se sentem desconfortveis ao ter que utilizar escadas rolantes, por ser um objeto em movimento. Por esse motivo, ao realizarmos essa tcnica com a pessoa com deficincia visual devemos ter muita ateno para respeitar o seu tempo e no desencoraj-la a fazer uso desse tipo de escada. As escadas rolantes, normalmente, possuem uma placa metlica de alerta que serve para identificar o seu incio e final. Aps perceber a mudana de textura do piso, a pessoa com deficincia visual dever fazer uma varredura com a bengala longa, deslocar-se para a direita at localizar e tocar o corrimo. Deve apoiar a mo levemente na borracha que o cobre, percebendo se ele se desloca no sentido do seu movimento, para frente, ou se ele se movimenta de maneira a empurrar a pessoa para trs, sentido contrrio ao seu movimento. Posiciona-se de frente para a escada, coloca a bengala longa na posio vertical, com empunhadura em lpis, um degrau a frente e entra na escada. Um dos ps deve estar com a ponta ligeiramente levantada para perceber o fim da escada e o p de apoio deve permanecer um pouco atrs para dar a passada. Ao chegar ao fim da escada, subindo ou descendo, ela deve dar sequncia a sua caminhada normalmente, sem fazer a varredura, e ter o cuidado de no demorar ou parar, a fim de evitar acidentes. <R+> Figura 99. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- escadas rolantes -- pessoa com deficincia visual se aproxima da placa de metal. Fonte: Acervo pessoal. <90> Figura 100. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- escadas rolantes -- pessoa com deficincia visual apoia a mo direita no corrimo e posiciona-se com a bengala longa na vertical. Fonte: Acervo pessoal. Figura 101. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- escadas rolantes -- ao final da <P> escada rolante a pessoa com deficincia visual eleva a ponta do p. Fonte: Acervo pessoal. OM Importante Uma variao dessa tcnica, na subida de escadas rolantes, solicitar que a pessoa com deficincia visual coloque um p em cada degrau, assim ela ir perceber que est se aproximando do final, pois o nvel entre os degraus esto se igualando. <91> Figura 102. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- escadas rolantes -- para perceber o final da escada rolante a pessoa com deficincia visual pode ficar com um p em cada degrau. <R-> Fonte: Acervo pessoal. <P> 3.9.14 reas residenciais Essa tcnica apresentada a pessoas com deficincia visual em ambientes externos. Inicialmene, deve haver alguns pontos comerciais e o mnimo de trfego possvel no local, para que ela possa compreender as suas caractersticas, como: tipo de calada, quarteires e obstculos como lixeiras, entradas e sadas de garagens, entre outros. Todas essas caractersticas devem ser informadas e depois experimentadas pela pessoa com deficincia visual. Com esses elementos e com as informaes fornecidas pelas pistas e pontos de referncia, a pessoa com deficincia visual ser capaz de compreender melhor o espao e assim formar o mapa mental do local. Para isso, importante que o percurso seja repetido at que o ambiente seja compreendido. comum iniciar essa vivncia utilizando o guia vidente e, posteriormente, retornar s tcnicas de bengala longa. <92> <R+> OM Importante A pessoa com deficincia visual deve estar atenta s dimenses da calada, pois esta pode variar ao longo do percurso, e ainda ao fato de estar caminhando paralelo rua, por isso em alguns momentos possivelmente no haver uma linha guia para se orientar. A pessoa deve ser orientada a caminhar na parte interna da calada, pois na parte externa, prximo ao meiofio, pode haver alguns obstculos fixos como hidrantes, lixeiras, postes, olegrios, (5) etc. <R-> 3.9.15 Solicitando ajuda ou informao A ajuda deve ser solicitada <R+> :::::::::::::::::::::::::::::::::: (5) As notas encontram-se no final do volume. <R-> quando a pessoa com deficincia visual sentir que est confusa ou "perdida" quanto ao percurso que deseja fazer, ou sempre que precisar. Quando estiver em um ambiente externo e no houver ningum sua volta, ela deve continuar caminhando e procurar essa ajuda em uma loja, ou com um vendedor am- bulante. Sempre que receber a informao desejada, a pessoa com deficincia visual deve expressar seu agradecimento. Essa atitude incentiva quem deu a informao a auxiliar outras pessoas com deficincia visual. <R+> OM Importante Em percursos longos e desconhecidos aconselhvel que a pessoa com deficincia visual confirme o percurso que est realizando, certificando-se de que o trajeto est correto. <R-> <P> 3.9.16 Travessia de ruas em reas residenciais Para realizar a travessia de ruas, a pessoa com deficincia visual se aproxima do meio-fio com a bengala longa em posio de toque, de preferncia na direo da faixa de pedestres. Ao identificar o meio-fio com a bengala longa, <93> deve fazer uma pequena pausa para ouvir o trnsito e estar a uma distncia segura da rua. Antes de iniciar a travessia, verifica a altura do meio-fio e realiza a varredura a uma distncia segura antes de comear a caminhar. S deve atravessar quando o som indicar que no h trnsito de veculos. Ainda assim, a travessia s deve ser realizada quando a pessoa com deficincia visual se sentir segura e confiante para faz-la. Ao chegar calada oposta, a pessoa com deficincia visual deve, novamente, fazer uma pequena varredura antes de iniciar sua caminhada. <R+> Figura 103. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- travessia de ruas em reas residenciais -- pessoa com deficincia visual aguardando para iniciar a travessia. Fonte: Acervo pessoal. Figura 104. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- travessia de ruas em reas residenciais -- pessoa com deficincia visual termina a travessia e identifica o meio-fio. Fonte: Acervo pessoal. <94> Figura 105. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- travessia de ruas em reas residenciais -- pessoa com deficincia visual realiza a varredura para subir a calada. Fonte: Acervo pessoal. <P> OM Importante A pessoa com deficincia visual deve se posicionar ao lado esquerdo de obstculos como postes, rvores, placas, dentre outros para permitir que o condutor do veculo a visualize. <R-> 3.9.17 Travessia de ruas com sinais Proceder da mesma forma como descrito no item anterior (travessia de ruas residenciais), porm sempre que possvel solicitar ajuda. Caso isso no seja possvel, preste ateno na abertura e fechamento do sinal de trnsito (a durao do ciclo), enquanto verifica as pistas sua volta. Assim, a pessoa com deficincia visual poder distinguir a durao do ciclo e do tempo disponvel para atravessar a rua. <95> <P> <R+> Figura 106. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- travessia de ruas com sinais -- pessoa com deficincia visual aguarda o fechamento do sinal e realiza a travessia. Fonte: Acervo pessoal. OM Importante O sinal sonoro uma adaptao do sinal (semforo), sendo um dispositivo que emite som, vibrao e estmulo visual, servindo de orientao para que pessoas com necessidades especficas possam realizar a travessia com mais segurana. Quando o tempo de travessia estiver prximo de acabar, o sinal sonoro ficar mais rpido. Em locais onde haja sinais sonoros, deve-se ter os mesmos cuidados da travessia de rua sem sinal sonoro. <R-> <P> 3.9.18 Acesso aos elevadores Inicialmente, a pessoa com deficincia visual deve ser estimulada a reconhecer os vrios tipos de elevadores e suas variaes, tanto os modelos antigos de portas pantogrficas como os modelos mais novos. A pessoa com deficincia visual deve localizar o elevador pelas pistas que ele oferece, como o som da campainha, o som da porta abrindo, ou solicitar ajuda. Em seguida, identificar onde est o boto da chamada, que em geral encontra-se na parede, direita ou esquerda da porta. Caso haja algum dentro do elevador ou prximo a ele, ela deve perguntar se o elevador est subindo ou descendo. Se no houver ascensorista ou outra pessoa no elevador, deve-se fazer uma varredura para verificar se o elevador se encontra no andar e se h desnvel. Ao entrar, segurar a bengala <96> longa na empunhadura de lpis, ficar de frente para a porta, mantendo-a junto ao seu corpo, localizar e identificar o boto do andar desejado e apertar o painel dos botes. Ao sair, ela deve fazer uma rpida varredura com a bengala longa, dar alguns passos para frente e, quando perceber que no vai interferir no trnsito de pedestres, parar, orientar-se e tomar a direo desejada. <R+> Figura 107. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- acesso a elevadores -- pessoa com deficincia visual identifica o piso de alerta, indicando a entrada do elevador. Fonte: Acervo pessoal. Figura 108. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- acesso a elevadores -- pessoa com deficincia visual identifica se o elevador est no andar. Fonte: Acervo pessoal. <P> <97> OM Importante Nos elevadores antigos que possuem portas pantogrficas, caso em que a porta interna sanfonada, a pessoa com deficincia visual deve ter mais ateno para que a bengala longa esteja prxima ao corpo, evitando que ela fique presa nessas aberturas. Como os elevadores so diferentes, pode haver inmeras possibilidades de acessibilidade. Caso no se sinta familiarizado ou orientado, solicite ajuda. <R-> 3.9.19 Familiarizao de transporte necessrio que se faa a familiarizao de todos os tipos de transportes com a pessoa com deficincia visual. Se possvel, em transportes pblicos (nibus, trem, metr, barcas), devemos adaptar a tcnica de familiarizao de ambientes e deixar a pessoa com DV explorar o veculo ou barca. Essa explorao/familiarizao deve ser realizada preferencialmente em um veculo vazio e parado. Automvel necessrio apresentar os diferentes modelos de automveis, assim como todos os objetos, para que a pessoa com deficincia visual possa formar conceitos sobre eles de maneira concreta. Ela deve conhecer as partes principais do carro para poder estabelecer sua posio em relao a ele. Ao localizar o carro, utilizando a bengala longa com a tcnica do toque, ela vai deslizar a mo livre na parte superior do carro e, ento, localizar a janela e o trinco utilizando a tcnica de rastreamento de objetos e abrir a porta. Uma das mos deve estar sobre o teto do carro e o corpo posicionado paralelo a esse, com uma das mos no teto e a outra na porta. Aps identificar o assento do carro, fazer a varredura do banco com o dorso da mo, entrar no carro, dobrar a bengala longa e fechar a porta. Durante o percurso, a bengala longa deve permanecer fechada. <98> <R+> Figura 109. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- familiarizao de transportes/automveis -- pessoa com deficincia visual localiza a porta do carro e a abre. Fonte: Acervo pessoal. Figura 110. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- familiarizao de transportes/ /automveis -- pessoa com deficincia visual entra no carro e fecha a porta. Fonte: Acervo pessoal. <99> OM Importante A pessoa com deficincia visual deve abrir e fechar a porta. Essa medida evita possveis acidentes. No caso da conduo com o guia vidente, esse deve se certificar de que a pessoa est completamente dentro do carro antes de fechar a porta. <R-> nibus Para a realizao dessa tcnica a pessoa com deficincia visual j deve ter conhecido as partes externas e internas do nibus. Inicialmente, caso a pessoa esteja acompanhada de um guia vidente, o guia far o sinal para o nibus. Quando o nibus estiver parado e com a porta aberta, a pessoa com deficincia visual deve segurar o corrimo da porta para subir as escadas e aguardar a aproximao do guia. Uma vez que ambos estejam dentro do nibus, o guia deve conduzir a pessoa com deficincia visual at a roleta. Ela deve passar na roleta primeiro e aguardar para que o guia vidente passe logo depois. Durante todo o tempo, a pessoa com deficincia visual deve segurar nos balastres (hastes que ficam na parte lateral dos bancos ou na parte superior dos nibus) para que fique em segurana. Em seguida, deve-se localizar um banco vazio e sentar-se. Prximo chegada ao seu destino, o guia vidente dever informar a pessoa com deficincia visual que elas iro descer do nibus. Eles devem se dirigir at a porta de sada. O guia vidente desce primeiro e a pessoa com deficincia visual desce logo em seguida, localizando e segurando o corrimo na porta, para que haja mais segurana. Caso a pessoa com deficincia visual esteja sozinha, ela deve utilizar a bengala longa para localizar a roleta, o banco e a sada do nibus, e se for necessrio pedir ajuda a algum passageiro ou ao motorista. Durante o trajeto, caso a pessoa esteja em p, a bengala longa deve permanecer rente ao seu corpo, seguindo a linha mdia; e se estiver sentada, deve optar por acomodar a bengala longa da maneira que for mais confortvel. <100> <R+> Figura 111. _`[no adaptada._`] Tcnica de bengala longa -- familiarizao de transportes/ /nibus -- pessoa com deficincia visual localiza e segura o corrimo, em seguida identifica o degrau para iniciar a subida. Fonte: Acervo pessoal. OM Importante Os modelos de nibus variam, sendo necessrio que a pessoa com deficincia visual seja informada sobre essas possveis variaes (presena ou ausncia de <P> roleta, nibus articulado, porta de entrada e sada etc.). <R-> Trem Em ambientes de transportes ferrovirios, a pessoa com deficincia visual deve estar com o seu passe livre em mos ou em fcil acesso e dirigir-se roleta, sozinha ou acompanhada de um guia vidente. As estaes podem ter variaes arquitetnicas (escadas comuns e/ou rolantes, bilheterias, roletas, plataformas, bancos, sanitrios, bancas de jornal, lanchonetes etc.), sendo necessria a familiarizao do ambiente. Uma vez percebida a aproximao do trem na plataforma, a pessoa com deficincia visual, por meio da pista auditiva, deve seguir o fluxo dos demais passageiros e localizar a porta. Sempre que possvel, ela deve solicitar ajuda. H <101> semelhanas entre o trem e o <P> metr, contudo, em algumas cidades, no metr, os agentes auxiliam no embarque e desembarque de passageiros com deficincia, garantindo a essas pessoas maior segurana. 3.9.20 Tcnica do abandono (Drop-Off) Na literatura, essa tcnica descrita como uma finalizao do treinamento de OM para verificar se aluno assimilou os conceitos e se sente confiante para aplicar as tcnicas aprendidas ao longo do programa. Para isso, devem ser analisados alguns critrios quanto ao desempenho da pessoa com deficincia visual: adequao das tcnicas, segurana, eficincia e o grau de independncia. OM Importante <R+> A Equipe do GEPOM preconiza que, no treinamento de OM, essa tcnica seja realizada de maneira processual, para verificar as competncias e habilidades desenvolvidas durante o treinamento e corrigir possveis dificuldades, antes de dar continuidade a uma nova etapa do programa. <R-> 3.10 Piso ttil Originalmente chamado de bloco Tenji (nome dado ao Sistema Braille em japons), o piso ttil foi criado no Japo por Seiichi Miyake, na dcada de 1960. A primeira Norma Tcnica referente acessibilidade, foi criada em 1985, sendo denominada NBR 9050 (ABNT, 2004) . Desde ento, j passou por quatro revises, importantes para correo de possveis falhas. Porm, somente em 2016, foi publicada a NBR 16537 (ABNT, 2016), que traz normativas e diretrizes <P> mais especficas para instalao dos pisos tteis. A NBR 16537 estabelece critrios e parmetros tcnicos que devem ser observados na elaborao de projetos e instalaes de sinalizao ttil em pisos. <102> Pisos tteis so faixas em alto-relevo fixadas no cho, caracterizadas por textura e cor contrastantes em relao ao piso adjacente, destinadas a constituir alerta ou linha- -guia e a fornecer informaes importantes para locomoo da pessoa com deficincia visual. Essa sinalizao padronizada e universal, permitindo que a pessoa com deficincia visual se locomova sozinha, com autonomia e segurana, facilitando a acessibilidade a locais desconhecidos (ABNT, 2016). Existem dois tipos de pisos tteis: o de alerta e o direcional. A sinalizao ttil de alerta possibilita a identificao de perigos, informa sobre a existncia de desnveis ou outras situaes de risco permanente, mudana de direo ou opes de percursos. Geralmente so encontrados no incio e final de escadas, elevadores, trmino de rampas, estaes de trem, metr e paradas de nibus. Por outro lado, a sinalizao ttil direcional indica a direo a ser seguida, orienta o sentido de deslocamento e funciona como uma linha guia (ABNT, 2016). Requisitos gerais para colocao do piso ttil: <R+> ser antiderrapante tanto em reas internas como externas; ter relevo contrastante em relao ao piso adjacente, para ser claramente percebida por pessoas com deficincia visual que utilizam a tcnica de bengala longa; ter contraste de luminncia em relao ao piso adjacente, para ser percebida por pessoas com baixa viso. <R-> Algumas informaes sobre contrastes recomendados para a instalao do piso ttil em relao ao piso adjacente e tambm sobre mudanas de direes so exemplificadas a seguir. <103> <R+> _`[Figura 112 "Contrastes recomendados para a instalao do piso ttil em relao ao piso adjacente", em que apresenta a relao de cores entre o piso ttil e o piso adjacente, adaptada em duas partes: 1`) Aceitvel: vermelho com bege, branco e amarelo. amarelo com cinza escuro, preto, marrom, lils, verde e azul. azul com bege e branco. laranja com preto. verde com bege e branco. lils com bege e branco. marrom com bege e rbanco. preto com bege e branco. cinza escuro com branco. 2`) No Usar vermelho com cinza escuro, preto, marrom, pink, lils, verde, laranja. azul e vermelho. amarelo com bege, branco, pink, laranja e amarelo. azul com cinza escuro, preto, marrom, pink, lils, verde, laranja e azul. laranja com bege, branco, cinza escuro, marrom, pink, lils, verde, laranja. verde com cinza escuro, preto, marrom, pink, lils e verde. lils com cinza escuro, preto, marrom, pink e lils. pink com com cinza escuro, preto, marrom, pink. marrom com cinza escuro, preto e marrom. preto com cinza escuro e preto. cinza escuro com bege e cinza escuro. Branco com bege e branco. bege com bege._`] <R-> Fonte: ABNT, 2016. Mudana de direo Quando houver mudana de direo formando ngulo entre 150 e 180, no necessrio sinalizar <P> a mudana com sinalizao ttil de alerta (Figura 113). <R+> Figura 113 _`[no adaptada._`] Mudana de direo formando ngulo entre 150 e 180. <R-> Fonte: ABNT, 2016. <104> Quando houver mudana de direo com ngulo entre 90 e 150, deve haver sinalizao ttil de alerta, formando reas de alerta com dimenso equivalente ao dobro da largura da sinalizao ttil direcional. <R+> Figura 114 _`[no adaptada._`] Sinalizao ttil direcional. <R-> Fonte: ABNT, 2016. Quando houver o encontro de trs faixas direcionais, deve haver sinalizao ttil formando reas de alerta com dimenso <P> equivalente ao triplo da largura da sinalizao ttil. A rea de alerta deve ser posicionada mantendo-se pelo menos um dos lados em posio ortogonal a uma das faixas direcionais. <R+> Figura 115 _`[no adaptada._`] Mapa com as faixas direcionais. <R-> Fonte: ABNT, 2016. <105> Quando houver o encontro de quatro faixas direcionais, deve haver sinalizao ttil de alerta com o triplo da largura da sinalizao ttil direcional, sendo posicionada nos dois lados da sinalizao ttil direcional indicativa dos fluxos existentes. <R+> Figura 116 _`[no adaptada._`] Mapa com encontro de faixas direcionais. <R-> Fonte: ABNT, 2016. <P> 3.10.1 Formas de utilizao do piso ttil na Orientao e Mobilidade Embora existam normas para colocao dos pisos tteis, observa-se a dificuldade de instalao desses, pois a padronizao no que se refere largura das caladas relativamente recente. O ideal seria que as caladas tivessem espaos adequados para faixa de acesso, faixa livre e faixa de servio. As faixas de servio so as que causam maiores problemas, pois a colocao de caixas de internet, luz, esgoto, postes, rvores etc., so instaladas aleatoriamente nas caladas, podendo confundir o usurio. Isso ocorre devido ao crescimento urbano desordenado nas cidades. <106> Sugerimos que ao utilizar o piso ttil, a pessoa com deficincia <P> visual caminhe sobre o piso utilizando a tcnica de toque, principalmente em ambientes externos. Contudo aqueles que no se adaptam a essa orientao, podem se posicionar lateralmente ao piso ttil utilizando-o como linha guia. Uma outra variao para ambientes internos, em que utilizada a tcnica de bengala longa em diagonal deslizando-a sobre o piso ttil. <R+> OM Importante Essas orientaes foram consideradas a partir das observaes nos usurios com patologias que afetam a sensibilidade ttil e tambm pessoas com mobilidade reduzida que necessitem de utilizao de muletas ou bengala de apoio concomitantemente com bengala longa. <P> 4. Smbolos de acessibilidade mais utilizados na Deficincia Visual Deficincia Visual: O smbolo de pessoas com deficincia visual indica a existncia de recursos, mobilirio e servios com indicaes em braille, audiodescrio e presena de piso ttil. _`[Figura 117 "Smbolo da deficincia visual", em que se v a silhueta de uma pessoa segurando uma bengala apontando para frente, tocando o cho._`] Fonte: ABNT, 2020. Baixa Viso: Indica que a pessoa com deficincia visual possui baixa viso, ou seja, apresenta reduo de campo e/ou acuidade visual, aps todos os procedimentos clnicos, cirrgicos e correo com culos comuns, gerando prejuzo na realizao das atividades cotidianas. <107> _`[Figura 118 "Smbolo da baixa viso", em que se v o desenho de um olho com algumas listras e um trao vertical ao centro._`] Fonte: ABNT, 2020. Audiodescrio: Esse servio torna a televiso, o vdeo e projeo de filmes de cinema mais acessveis para pessoas cegas ou com baixa viso. A descrio dos elementos visuais fornecida por um descritor de udio treinado por meio do Programa de udio Secundrio (SAP) de televisores e monitores equipados com som estreo. _`[Figura 119 "Smbolo da audiodescrio", em que se v, em letras maisculas, as letras <P> "AD" com trs faixas verticais arredondadas._`] Fonte: ABNT, 2016. Co Guia: A Lei 11.126 de 2005 (BRASIL, 2005) obriga que todos os locais pblicos e privados de uso coletivo aceitem co-guia como acompanhante de pessoas com deficincia visual. _`[Figura 120 "Smbolo do co guia" em que se v a silhueta de uma pessoa e de um cachorro ao lado._`] Fonte: ABNT, 2009. <108> Surdocegueira: Este smbolo indica pessoas que apresentam deficincia visual associada deficincia auditiva em diferentes graus. Elas podem se utilizar de diferentes formas de comunicao como a Lngua de Sinais, do alfabeto manual, o Tadoma (forma de comunicao que consiste em fazer leitura labial por meio do tato), o Sistema Braille, dentre outras. A Lngua de Sinais considerada a lngua natural dos surdos. Nela, a comunicao construda no espao por meio de movimentos das mos em diferentes modos e pontos de contato no corpo. _`[Figura 121 "Smbolo da surdocegueira" em que se v o desenho da lateral do rosto de uma pessoa, com uma mo com o dedo indicador apontando para a orelha, uma seta dessa mo para outra mo que tem o dedo indicador apotnando para o olho._`] Fonte: ABNT, 2008. <R-> Finalizamos aqui a primeira parte do Guia Prtico de Orientao e Mobilidade do Instituto Benjamin Constant com as informaes das tcnicas de OM. Apresentaremos em seguida contedos especficos relacionados a essa rea escritos pelos nossos colaboradores convidados, com expertise em suas reas de atuao, possibilitando um dilogo interdisciplinar na rea de OM e suas especificidades. Os textos da segunda seo foram organizados propondo uma cronologia da histria de OM no IBC. :::::::::::::::::::::::: <109> Referncias <R+> -- A ALMEIDA, Camilla Esprito Santo; DIAS, Matheus Neiva. *Projeto de implantao de adaptaes que visem acessibilidade para pessoas com deficincia no prdio do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro*. 2019. Projeto de Graduao (Graduao em Engenharia Civil) -- Escola Politcnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019 Disponvel em: ~,http:repositorio.poli.ufrj.~ brmonografias~ monopoli10029509.pdf~, Acesso em: 02.mai.2022. ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS (ABNT). *NBR 9050: Acessibilidade a edificaes, mobilirio, espaos e equipamentos urbanos*. Rio de Janeiro, 2004. ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS (ABNT). *NBR 14022: Acessibilidade em veculos de caractersticas urbanas para o transporte coletivo de passageiros*. Rio de Janeiro, 2009. ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS (ABNT). *NBR 9050: Acessibilidade a edificaes, mobilirio, espaos e equipamentos urbanos*. Rio de Janeiro, 2015. <P> ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS (ABNT). *NBR 16537: Acessibilidade -- Sinalizao ttil no piso -- Diretrizes para elaborao de projetos e instalao*. Rio de Janeiro, 2016. -- B BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Especial. *Programa de Capacitao de Recursos Humanos do Ensino Fundamental*: De- ficincia Visual. v. 3. Braslia, DF: MEC: SEESP, 2001. BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Especial. *Atendimento educacional especializado para alunos com deficincia visual*. Braslia, DF: MEC: SEESP, 2007. BRASIL. Secretaria de Educao Especial. *Subsdios para a Organizao e Funcionamento de servios de Educao Especial*: rea de deficincia visual. Braslia, DF: MEC: SEESP, 1995. -- F FELIPPE, Joo lvaro de Moraes. *Caminhando juntos*: manual das habilidades bsicas de orientao e mobilidade: volume IV. So Paulo: Conselho Brasileiro de Oftalmologia: Laramara, 2018. (Srie Deficincia Visual). -- I Instituto Benjamin Constant (IBC). Diviso de Desenvolvimento e Produo de Material Especializado. *Orientao e Mobilidade*: Rua de mo dupla -- caladas, rua de mo dupla -- canteiro central, ruas transversais -- quarteires. Rio de Janeiro: IBC, 2015. Instituto Benjamin Constant (IBC). *Orientaes gerais para o relacionamento com a pessoa cega*. Rio de Janeiro: IBC, [20-?]. Disponvel em ~,www.ibc.gov.br~, Acesso em: 27 out. 2021. <R-> oooooooooooo <110> <P> <P> Segunda Seo(6) <111> Orientao e Mobilidade: a construo de novas trajetrias Maria da Gloria de Souza Almeida (1) Elcy Maria Andrade Mendes (2) O processo civilizatrio da humanidade somente efetivou-se pela natureza libertria do homem. Na trajetria evolutiva do ser humano fica patente o esprito indmito que animava aquele ser em formao. A explorao de ambientes, a vivncia das cavernas, a descoberta do fogo, a criao de ferramentas de defesa e de instrumento de trabalho, o desbravamento de territrios inabitveis, a constatao da supremacia do mais forte sobre o mais fraco so marcas irrefutveis da fora de um elemento que no possua grilhes que o <P> detivessem ou amarras que o ancorasse. Seu instinto de sobrevivncia f-lo cruel, mas impulsionou-o a seguir sempre adiante. Enfrentou intempries, defrontou-se com o desconhecido, venceu o inspito. Matou e morreu, destruiu e construiu, moveram-no o medo e a coragem. Ao correr dos tempos, substituiu a ao meramente brutal, a violncia, pelo raciocnio prtico. Nascia, aos poucos, o pensamento lgico. Em princpio, uma urdidura rudimentar cujos fios tnues fortaleceram-se lentamente durante <112> a caminhada; caminhada que abria vertentes infindveis que fundamentaram a infinitude e complexidade do pensar humano. Expansionista por essncia e por necessidade, tornou-se nmade. Percorreu distncias inimaginveis, fundou comunidades, agrupou seres, avanou em direo conquista de uma nova ordem: o posicionamento do homem frente a si mesmo. Era a prova cabal do surgimento de um outro agente; agente transformador que protagonizava o alargamento e a compreenso do universo; agente mobilizador de estruturas, criador de muitos mundos, inventor de ideias, provocador de mudanas, incentivador do novo, preservador do passado. Quebrou velhos paradigmas e formulou ousados preceitos. Com sua ndole paradoxal, apostou, revolucionou, acertou e errou. Entretanto, possibilitou a ascenso do gnero humano em todas as esferas existentes. As sociedades emergiram de sua tendncia gregria. A construo extraordinria dos arcabouos do conhecimento, da cultura, das artes e das cincias provm daquele ser primitivo que lutou para manter-se vivo, que lutou contra elementos naturais, inimigos visveis e ocultos. Provm daquele ser embrionrio que desenvolveu condies e competncias fsicas, que aprendeu a enxergar alm dos limites de sua viso, ainda estreita e turva. Todavia, o fator preponderante dessa evoluo longa e espinhosa foi a aquisio da linguagem articulada: a aquisio da fala. Linguagem e pensamento fundiram-se em uma relao simbitica que ofereceu ao homem a faculdade de raciocinar e de expressar-se em padres desejveis. A fala humanizadora, capacidade nica e absoluta, somente afeta ao homem, transformou-o em um ser pensante, um ser reflexivo. Portanto, apto a engendrar e a gestar mltiplos iderios que se converteram em aes e produes concretas e perenes. Os milnios sucederam-se. Modificaram-se comportamentos e fomentaram-se novos e diferenciados anseios. O homem continuou e continua a trilhar a estrada do possvel e do impossvel, do provvel e do improvvel, do real e da fantasia. O crescimento humano um direito que no deve se enclausurar apenas em discursos, normas preestabelecidas ou marcos legais. A sociedade contempornea precisa penetrar profundamente no mago desse direito, despojando-se do olhar autoritrio dos ditames definitivos. O homem nasceu com a vocao <113> para ser livre, e de sua liberdade forjou-se sua autonomia. Somos herdeiros dessa autonomia que exige de ns a preservao da liberdade em qualquer contexto e sob qualquer alegao. A liberdade a fora motriz que aciona e incrementa o enfrentamento de duros desafios e a realizao de recnditos desejos. Um questionamento se faz necessrio: Como inserir a Orientao e Mobilidade no bojo de discusses to amplas e diversas, sendo esse um assunto demasiadamente especfico? O ponto-chave da questo em pauta, remete-nos ao conceito de "ir e vir", direito assegurado a todos os cidados brasileiros, constante no Artigo 5, XV da Constituio Federal de 1988, que trata da liberdade de locomoo no pas em tempo de paz. Este um direito inalienvel que ampara toda e qualquer pessoa, independentemente das condies que a afetam ou nas quais se encontra, desde que no firam os pressupostos legais. Contudo, nossa abordagem tem como foco o direito do indivduo cego. Ele tambm, como cidado, est sob a cobertura da Lei; porm, analisamos aqui um direito peculiar que atinge esse sujeito: o direito liberdade, o direito a uma vida prpria sem monitoramentos ou cerceamento total do homem. A cegueira, em especial, coloca o indivduo em uma posio desvantajosa, espelhando desvalia, que o imaginrio da sociedade converte em representaes sociais extre- mamente precarizadas e pondo invariavelmente em destaque as <P> carncias ou possveis dficits, deixando opacas as reais possibilidades ou potencialidades impensveis. Aquele indivduo concretiza a configurao da prpria deficincia; ele a deficincia. Assim, palavras como incompetncia, incapacidade, inadequao, impropriedade, entre outras tantas, circulam pela existncia desse sujeito desde sempre, conferindo-lhe rtulos negativos que se transformam em estigmas difceis de eliminar. A negao recorrente causa prejuzos imprevisveis e incalculveis, decreta o aniquilamento psquico e emocional. preciso estarmos atentos e dispostos a reverter a prtica nociva da excluso explcita e a atitude perversa da excluso implcita. imprescindvel validarmos a ideologia da afirmao, consagrando a pedagogia dos "sins", abandonando, ainda que tardiamente, a pedagogia danosa dos "nos". <114> <P> Espanta-nos, sobremaneira, que uma viso to diminuta e ultrapassada ainda prospere de alguma forma em to diferentes contextos. Todavia, compreende-se com clareza que esse olhar eivado de obscurantismo atrela-se ao preconceito. Podemos ser mais agudos: esse olhar restritivo elemento estruturante do preconceito. A sociedade tem como marco balizador o que chamamos "homem padro", aquele sujeito que detm todas as condies ideais, sendo analisado sob a perspectiva de padres de normalidade previamente estabelecidos. Ao sarem desse padro, aqueles que possuem algum dficit ou privao passam a constituir diferentes categorias mi- noritrias que, em geral, veem seu direito ao crescimento intelectual, social e humano amesquinhado. Faamos uma reflexo sobre o que nos diz o filsofo francs Michel Foucault: <P> "As minorias so objeto de dominao". O pensamento de Foucault traduz o peso destrutivo das representaes sociais que acompanham as pessoas com deficincia, desde pocas mais remotas. importante sinalizar que uma sociedade excludente forma homens dbeis, fracos, que se permitem encapsular nas impermeveis paredes de sua deficincia. Por isso, faz-se imperativo que a educao atue com pertinncia e rigor em todos os nveis de ensino, como tambm em todas as faixas etrias. O universo da positividade e dos propsitos a serem alcanados precisa mostrar-se pleno pessoa com deficincia visual. Desde a infncia, valores como identidade, autoconfiana, autoestima, coragem, senso de liberdade devem ser apresentados e cultivados criteriosamente. O estabelecimento de objetivos coerentes e bem definidos leva busca de conquistas. O conformismo no compatvel com o xito. Logo, a pessoa com deficincia visual no pode ficar margem de si mesma. A falta de motivao, o mergulho na acomodao e a desvalorizao das pr- prias qualidades conduzem inrcia e ao fatal alijamento da vida. Entende-se, pois, que o processo de crescimento global da criana e do jovem, como a emancipao social e econmica do adulto, dependem de uma ao pedaggica e psicolgica consciente e que esteja em conformidade com as verdadeiras necessidades de cada indivduo, seja qual for sua posio ou condies gerais. <115> Voltemos ao foco. A Orientao e Mobilidade compe o conjunto de disciplinas que prepara o aluno com deficincia visual para entender o mundo que o rodeia, apropriandose dele, tanto quanto possvel. Apenas a educao cumpre papel to relevante. <P> A criana, o adolescente e o jovem tm seus alicerces plantados na escola. Seu conhecimento, seu acervo de saberes vrios, suas relaes sociais e afetivas so armazenados no decurso do processo educativo. Outra questo se coloca: E o jovem e o adulto que perderam a viso fora do perodo de escolarizao? Esta uma outra vertente de uma Instituio multifacetada como o Instituto Benjamin Constant. Agrega-se a outros tipos de alunos atendidos, a figura do reabilitando. Em mais de trs dcadas, homens e mulheres abalados pela cegueira ou por sua iminente chegada, traziam em si a desesperana e um enorme vazio existencial. A complexidade do problema que se abatia sobre eles era ex- traordinria e incompreensvel. As perdas sofridas acumulavam-se em diferentes nichos; cada um guardando em sua natureza as caractersticas de sua importncia, de sua dor e da irreversibilidade da situao vivenciada: famlia, profisso, renda, independncia. O programa reabilitacional do Instituto Benjamin Constant procurou, desde seus primeiros movimentos, oferecer ao reabilitando uma programao de aulas e atividades que preenchessem suas expec- tativas e aumentassem seu interesse pela consecuo de uma nova realidade. Esta promoveria um tempo de reconstruo interna, favorecendo o aparecimento de outras oportunidades que estruturassem uma vida que exibisse novos perfis. Mais uma vez, justifica-se uma interrogao: Como reconstruir uma vida quando se perdeu a liberdade, a independncia, a autonomia? De novo, o conceito "de ir e vir" sustenta o direito do homem liberdade e procura da realizao dos seus anseios, desejos e <P> premncias cotidianas. A Orientao e Mobilidade torna-se o smbolo do processo reabilitacional de um indivduo cego. <116> Sabe-se que, para o cego, o espao quando no faz parte da vivncia diria aproxima-se da ideia do desconhecido aflitivo que assusta e amedronta. O domnio espacial converte-se, para ele, numa prtica quase impossvel. Entretanto, com o desenvolvimento de metodologias, tcnicas e estratgias, a Orientao e Mobilidade passa a trabalhar as percepes, os sentidos remanescentes, despertando e aprimorando capacidades e competncias que habilitam o cego a readquirir, ainda que de forma especial, uma autonomia suficiente para lanar-se novamente a uma vida efetiva. Assim, embora dentro de outros parmetros, tenta recolocar-se num mundo que, em muitos momentos, parecia-lhe ser to somente um recorte em sua memria. <P> Eis a imprescindvel presena da Orientao e Mobilidade, seja na educao, seja no processo de reabilitao de pessoas com deficincia visual. O desespero, o medo, o constrangimento, o desnimo, entre outros sentimentos altamente negativos, no podem se sobrepor superao de limites e ao enfrentamento de impossibilidades. A energia, o encorajamento, a vontade de viver, ao contrrio, entranham-se na prtica dessa rea de atuao. A Orientao e Mobilidade mais que uma disciplina, muito mais que uma simples atividade. Ela devolve o indivduo cego, em particular, sociedade. Sua reinsero na educao, no mundo do trabalho, na cultura, no lazer e no esporte s acontece se a antiga independncia, mesmo ganhando novas feies, retornar para ele como um signo de ressurgimento. O ressurgimento de um novo homem. <P> A locomoo independente do indivduo com deficincia visual exige a presena de profissionais competentes e uma srie de cuidados na veiculao dos exerccios e das prticas executadas, garantindo uma locomoo realmente autnoma e mais segura. A Orientao e Mobilidade encarrega-se de exercer junto ao pblico com deficincia visual no s o ensino tcnico, mas tambm, um alerta quanto imperiosa necessidade de trabalhar-se a fora interior que vai fortalecer a aquisio da autoconfiana por parte do indivduo cego, surdocego ou mesmo com baixa viso na utilizao da bengala, instrumento que substitura a figura do secular acompanhante-guia. Pode-se dizer que essa locomoo significa a ruptura do isolamento que a cegueira, na maioria dos casos, impe quele indivduo afetado por ela. <117> <P> A histria coloca em relevo, desde tempos imemoriais, a figura do cego, na caminhada evolutiva do homem, sempre contraditria e envolta em uma espessa nvoa de mitos e de representaes dspares. Aquele indivduo sobrevivia em meio a crenas e conceitos que o punham em posies que alternavam a ideia do bem e do mal. Dons divinos contrapunham-se a punies cruis, a castigos severos que metaforizavam a prpria morte. A mitologia, a literatura, o teatro, o cinema e a Bblia Sagrada registram o vigor e o estranhamento encantatrio que a cegueira transmitia ao imaginrio da humanidade de ento. Diferentemente das demais deficincias, a cegueira no demonstrava um impedimento absoluto. Ao longo dos milnios, por meio do desenvolvimento do intelecto, do incremento do pensamento filosfico, da criao e abrangncia das cincias, despertou-se para o exerccio da anlise verdadeiramente crtica e mais profunda dessas questes. O indivduo cego passou a ser percebido como um ser pensante, um ser reflexivo, senhor de uma potencialidade que se alargava e enraizava medida que esse outro conceito a seu respeito era apreendido, compreendido e fomentado por oportunidades reais de crescimento em todas as esferas humanas -- social, educacional, cultural, artstica e laboral. O recorrente protagonismo de personagens cegos na histria da humanidade, sejam personalidades reais, sejam agentes de fico, atestam que a cegueira impe limites, mas no decreta, cabalmente, impedimentos irreversveis. Tomemos dois personagens cegos que ilustraro nosso assunto -- Isaac e Tirsias. O Velho Testamento, no Livro do xodo, faz referncia ao *cajado* como instrumento guia, favorecendo a locomoo. Pela primeira vez, utilizava-se a ideia do uso daquele objeto para auxiliar o deslocamento no ato de andar de uma pessoa cega. Aps ter perdido a viso, Isaac, filho de Abro, passou a empregar seu cajado de pastor, que usava no pastoreio de seus rebanhos, limpando caminhos, afastando pequenos tropeos, apontando direes ao gado na imensido dos campos, agora para locomover-se com maior autonomia. <118> O primitivo cajado que servia para muitos como elemento de apoio para o corpo enfraquecido e debilitado, mas tambm, como uma espcie de ferramenta de trabalho, muitos milnios mais tarde, em outro estgio da civilizao humana inspiraria a criao da bengala, equipamento de explorao de mltiplos espaos e ambientes, fator de segurana e, certamente, objeto concreto para um caminhar independente. A mitologia grega nos traz a figura de Tirsias, sbio e adivinho. Encontramos em uma das verses existentes acerca dessa personagem mtica, o seguinte relato: Tirsias foi levado presena de Zeus e de Hera. Ambos o questionaram a respeito do problema: Quem sentia mais prazer no ato sexual. O elemento masculino ou o elemento feminino? Tirsias, sem titubear, respondeu: -- O elemento feminino. Enfurecidos e irredutveis, os deuses aplicaram em Tirsias, um terrvel castigo: ficaria cego para sempre. Com tudo, Zeus e Hera concederam-lhe o "dom da premonio", dando-lhe ainda, um basto *mgico* a fim de que ele o guiasse pelas trilhas da vida. Mais uma vez, vemos um instrumento-guia minimizando as dificuldades e desvalias de um indivduo privado da viso. importante deter-nos sobre como o basto que passaria a ajudar a Tirsias foi designado. O adjetivo *mgico* determinava o significado relevante do objeto doado. Os deuses tiraram-lhe os olhos, a capacidade de ver; entretanto, a magia do basto lhe conferiria a possibilidade de continuar vivendo apesar do infausto acontecimento. O basto *mgico* era o anncio de uma nova realidade existencial. Chegamos ao sculo XX. Muitas lutas foram travadas; muitos comportamentos sofreram mudanas. A viso de mundo do homem foi-se estendendo e procurando novos rumos. As pocas transcorriam, guardando olhares diversos e prticas que refletiam esses mesmos olhares. A religio, o pragmatismo, o cientificismo, entre tantas e diferenciadas tendncias e posturas, estabeleceram <119> os ditames que norteariam a anlise dos sujeitos com deficincia sobre diferentes ngulos. Os anos de 1900 vieram carregados de desejos reformistas. Eram tempos de ebulio; era hora <P> de fazer-se a reviso da sociedade; era o momento para deixar de lado velhos modelos, desgastadas condutas. A educao, as artes, a cultura, o trabalho exigiam o aparecimento de um homem novo que pensasse a construo de um mundo novo. Porm, a efervescncia do sculo XX no ficou restrita ao aprimoramento e elevao do esprito humano. O poder instigava os conflitos sociais e polticos que geraram inquietaes, culminando com a deflagrao de duas grandes guerras mundiais, que se desdobraram em confrontos pontuais anos a fio. Finda a Primeira Guerra Mundial (1914 -- 1918), viu-se o resultado nefasto de um confronto entre naes que somente trouxe destruio e problemas atinentes a todas as guerras: morte, enfermidade, empobrecimento dos povos mais frgeis, dominao autoritria. <P> Na ocasio, muitos combatentes ficaram cegos. Assim, soldados franceses, ingleses e americanos comearam a fazer uso de um basto para que pudessem se deslocar com maior segurana e certa independncia. Ao trmino da Segunda Guerra Mundial (1939 -- 1945), cresceu exponencialmente o nmero de soldados que adquiriram cegueira irreversvel ou alguma deficincia visual. A partir da constatao desse fato, muitos estudiosos dedicaram-se pesquisa, buscando a melhoria do basto (bengala), o que favoreceria enormemente a orientao e mobilidade daqueles homens atingidos e impactados pela cegueira ou por uma violenta reduo da viso. Entre os inmeros pesquisadores do assunto, destaca-se o mdico oftalmologista americano e treinador de atletismo para pessoas com deficincia visual, o Dr. Richard Hoover, que pertencia ao quadro mdico do Hospital Valley Forge (Estados Unidos). Logo o mdico percebeu as deficincias do basto empregado e sua inconvenincia. Imediatamente, projetou um outro basto, agora feito de metal com formato tubular, com as seguintes medidas: 1,42 m de comprimento; 1,2 cm de dimetro; 186 g de peso. <120> Este instrumento tinha a ponta arredondada. O equipamento visava ao aprendizado da tcnica que se denominou Orientao e Mobilidade. Hoover entendeu que a bengala com medidas fixas no supriria as necessidades de todos os indivduos cegos, j que as pessoas tm peso e altura diferentes. Deste modo, novamente projetou outros modelos, personalizando-os. Portanto, a bengala tornou-se mais eficiente. A tcnica programada para a Orientao e Mobilidade estabelecida por Hoover, constitui-se em trs etapas: <R+> A primeira incluiu um *guia vidente*; A segunda utiliza tcnicas de *autoajuda* pela pessoa com deficincia visual; A terceira introduz o emprego da *bengala longa*. <R-> O avano das pesquisas e dos estudos, a partir das trs etapas fixadas por Hoover frente possibilidade concreta de o cego ganhar autonomia no processo de "ir e vir", faz-nos compreender a importncia das tcnicas de Orientao e Mobilidade e os saltos qualitativos dados no decurso de tantas dcadas. A Orientao e Mobilidade no apenas oferece pessoa com deficincia visual a explorao de espaos, o reconhecimento de lugares e ambientes, a competncia de perceber obstculos, o desejo de ex- pandir-se com um ser autnomo, dilatando sua independncia e decidindo os rumos que pretende ou quer trilhar. Conclui-se, pois, que a Orientao e Mobilidade no prescreve to somente elementos materiais (bengala, co-guia) ou metodologias e tcnicas no ato do deslocamento independente. Ela infunde no indivduo cego, em particular, autoconfiana, autoestima, respeito. Respeito por si prprio. Respeito por parte da sociedade, ainda que esta d provas irrefutveis de uma conduta discriminatria e indiferente em muitas ocasies e incontveis momentos. A Orientao e Mobilidade anima e equilibra o psiquismo do jovem que se inicia em uma vida autnoma. A Orientao e Mobilidade regenera e reequilibra o psiquismo do adulto que perdeu a viso e sua autonomia. <121> As reflexes propostas neste texto nos impelem a analisar com critrio e profundidade o papel da Orientao e Mobilidade na existncia de pessoas com deficincia visual. A faixa etria, efetivamente, no importa. O que se levanta a imperativa necessidade de instrutores ou professores serem formados para cumprirem tarefa to importante no desenvolvimento do processo educacional e reabilitacional de pessoas cegas ou com baixa viso. Ante uma responsabilidade e questo igualmente delicadas, no apenas pedaggica, como tambm humanamente, primordial que haja uma formao de qualidade que atinja o maior nmero possvel de profissionais. No plausvel deixar esse ensino to especfico e fundamental em mos pouco ou nada qualificadas. A promoo de cursos robustos e bem avaliados, uma exigncia pedaggica, no uma afirmao incua. A Orientao e Mobilidade vem luz no Brasil, com maior alcance, a partir dos anos de 1940. Esse assunto vai aos poucos, firmando-se como uma necessidade educativa e de carter social. Nos fins dos anos 1950, surgiam novas concepes e posturas pedaggicas acerca da educao de pessoas com deficincia. A Educao Especial era sacudida por outros ares. Um feixe de ideias mais largas e progressistas chegava da Europa e dos Estados Unidos. Ganhavam corpo e muitos adeptos. Eram teorias que principiavam a questionar antigas prticas pedaggicas e desgastados modelos curriculares. Os princpios de normalizao e de integrao do aluno com deficincia j se faziam presentes nas abordagens acadmicas e na adoo de medidas que, mesmo lentas, movimentavam os Sistemas Educacionais do pas. Este conjunto de fatos e a busca por rumos diferentes alavancaram pensamentos e posies. A Escola era alvo agora de movimentos de mudanas de concepo. Uma filosofia de maior afirmao do indivduo com deficincia, impunha-se; a independncia e a valorizao de um processo educativo que estivesse em consonncia com seu tempo davam os primeiros sinais. Eram passos midos e incertos, no entanto muitos apostaram na reverso de um status firmado em sculos de invisibilidade e excluso. A ideologia libertadora do homem enraizava-se por toda parte naqueles tempos. As pessoas com deficincia no podiam estar apartadas desse projeto humanstico-educacional, j era o prenncio do futuro conceito de incluso. Porm, <122> as grandes mudanas na educao no se processam rapidamente. O estabelecimento de novas diretrizes caminha, muitas vezes, quase imperceptvel. Vemos muitas dcadas passar. A construo de uma sociedade inclusiva somente se efetivar, quando essa mesma sociedade se abrir para todos, reconhecendo o direito de cada indivduo viver segundo sua realidade e expectativas. As atitudes afirmativas dependem do <P> forjamento de homens fortes e decisivos, j que no h afirmao possvel se no houver espritos livres e personalidades equilibradas. O primeiro Curso de Orientao e Mobilidade realizou-se, em nosso pas, por iniciativa da Fundao para o Livro do Cego no Brasil, hoje Fundao Dorina Nowill com sede em So Paulo. Em 1957, aconteceu o primeiro curso de treinamento para instrutores de Orientao e Mobilidade. Em 1959, ofereceu-se o primeiro curso de Orientao e Mobilidade para professores no Instituto de Reabilitao da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo (USP). A partir das dcadas seguintes, os cursos tomaram impulso e avanaram. O Instituto Benjamin Constant promoveu seu primeiro Curso de Orientao e Mobilidade no ano de 1983; este patrocinado pelo Centro Nacional de Educao Especial (CENESP), rgo do Ministrio da Educao ao qual o Instituto Benjamin Constant era subordinado poca. Ministrou o referido curso a professora Celina Bittencourt de M. Campos, professora das classes de Educao Especial do Municpio do Rio de Janeiro, posteriormente docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Recm chegada da Europa, trazia para o Rio de Janeiro mtodos e tcnicas inovadoras para a rea da Orientao e Mobilidade. A partir da formao inicial de trs professores -- Lucia Maria Filgueiras da Silva Monteiro, Paulo Srgio de Miranda e Sandra Jabour Wagner -- principiava o atendimento de Orientao e Mobilidade na Instituio. Naquele perodo, a rea ficava a cargo dos professores de Educao Fsica, cuja coordenao estava <P> sob a responsabilidade do professor Antnio Joo Menescal Conde. Na dcada de 1980, o Curso de Capacitao de Professores na rea da Deficincia Visual havia retornado aps algumas reformulaes. O Curso de Orientao e Mobilidade passou a ser oferecido, capacitando professores de todo <123> o pas. Estavam frente da docncia dos cursos, as professoras Nelza Maria Gonalves da Silva e Sandra Jabour. Em 1984, realizou-se concurso pblico para o preenchimento do quadro de professores efetivos. Pela primeira vez, o Instituto Benjamin Constant abria vaga para a Orientao e Mobilidade. Foi aprovada para o cargo a professora Elcy Maria Andrade Mendes. Em 1994, criava-se oficialmente, a Diviso de Reabilitao de Jovens e Adultos; desde ento, incrementou-se a Orientao e Mobilidade, que antes, tivera um pequeno atendimento no setor denominado Prticas Educativas nos anos de 1980. O Programa de Reabilitao crescia e a Orientao e Mobilidade monopolizava o interesse dos reabilitandos; constatava-se, ano a ano, a importncia dessa disciplina no processo reabilitacional de dezenas de pessoas que vinham procurar um novo rumo para suas vidas. No comeo, a prioridade no atendimento dessas pessoas era para os indivduos matriculados na reabilitao. Os alunos concluintes do Ensino Fundamental, contudo, eram inseridos nesse atendimento que lhes proporcionaria dar o passo inicial para sua independncia. Era a abertura de novas possibilidades de crescimento para aqueles adolescentes. Atualmente, os alunos a partir do 5 ano, j podem frequentar as aulas de Orientao e Mobilidade, uma vez que a Escola agora possui uma equipe de professores que atende ao Departamento de Educao. uma excelente iniciativa, posto que, desde cedo, os sentimentos de liberdade e autonomia devem ser cultivados. Sobre o trip liberdade, independncia, autonomia assentam-se os postulados que regem a orientao e mobilidade. Rasgar horizontes, apontar caminhos, mostrar sadas trazem ao indivduo com deficincia visual o avivamento de suas esperanas perante a queda de um percurso construdo, via de regra, com esforo e sacrifcio e que agora via perder-se abruptamente sem que tivesse um menor controle ou ingerncia sobre aquele desaparecimento, muitas vezes, inesperado. O que parecia irremedivel, ganha uma sobrevida. O que parecia trmino de uma existncia til, transmuda-se em novos tempos. <124> Reflitamos com Miguel Torga, escritor portugus, que nos fala: "O destino destina e eu fao o resto". Como nos diz o autor, o destino determina para muitos deficincias, debilidades, fragilidades e empecilhos. No entanto, a educao e a conduo competente da formao e da reconstruo dessas vidas, modifica o preestabelecido e impele esses sujeitos transposio de seus obstculos. O atendimento prprio e de fato direcionado s especificidades e necessidades das pessoas com deficincia visual mobiliza seu ntimo, alenta seu esprito. A deficincia fora-lhe legada, mas o resto est em suas mos. O resto a vida com todas as suas dificuldades, paradoxos, desafios, belezas, possibilidades, declnios e ascenso. No precipitado nem ingnuo afirmar que a Orientao e Mobilidade a mola propulsora desse salto, que tira a pessoa com deficincia visual do vcuo para projet-la a uma vida construtiva. <P> O homem precisa ser artfice de sua histria, condutor do seu destino, senhor das suas vontades, dono das suas escolhas. Propiciemos, pois, pessoa com deficincia visual assenhorear-se de si mesma, revertendo ela prpria os possveis impedimentos que a imobilizem, os muitos entraves que a tolhem, os infinitos desejos que lhe so proibidos. oooooooooooo <P> <P> Notas <R+> (5) Balizador utilizado na calada que permite, de forma eficaz, o bloqueio de veculos, elimina o transtorno da deteriorao superficial, da acessibilidade e proporciona menor custo de manuteno do passeio. (6) Afirmaes, opinies e conceitos expressados nos textos desta seo so de responsabilidade dos autores. (1) Doutora em Literatura (Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro), Mestre em Letras (Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro), Especialista em Alfabetizao de Deficientes Visuais (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) e Graduada em Licenciatura em Letras (Universidade Federal Fluminense). <P> Professora aposentada de alfabetizao e Assessora da Direo-Geral do Instituto Benjamin Constant. (2) Graduada em Fonoaudiologia (Universidade Estcio de S), Especialista em Psicomotricidade (Centro Cultural Henry Dunant), Especialista em Orientao e Mobilidade (Instituto Benjamin Constant). Professora aposentada de Orientao e Mobilidade do Instituto Benjamin Constant e Ex-Assessora da Direo-Geral do Instituto Benjamin Constant. <R-> xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxo Fim da Segunda Parte