Ministério da Educação Instituto Benjamin Constant Departamento Técnico-Especializado Divisão de Imprensa Braille Av. Pasteur, 350-368 -- Urca 22290-250 Rio de Janeiro -- RJ Brasil Tel.: (21) 3478-4442 Fax: (21) 3478-4444 E-mail: ~,ibc@ibc.gov.br~, ~,http:ÿÿwww.ibc.gov.br~, -- 2023 --
GOVERNO FEDERAL PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Jair Messias Bolsonaro MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Victor Godoy Veiga INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT João Ricardo Melo Figueiredo DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO Elise de Melo Borba Ferreira DIVISÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA Luiz Paulo da Silva Braga
ROMPENDO BARREIRAS:
GUIA PRÁTICO DE
ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE
DO INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT
Dados do livro em tinta
Copyright `(C`) Instituto
Benjamin Constant, 2022
ISBN 978-65-00-60906-6
Figura 96: Técnica de
bengala longa -- subir
escadas -- pessoa com
deficiência visual inicia a
subida mantendo a bengala
longa um degrau à
frente :::::::::::::::::::: 107
Figura 97: Técnica de
bengala longa -- descer
escadas -- pessoa com
deficiência visual inicia a
descida localizado o
corrimão e o primeiro
degrau :::::::::::::::::::: 108
Figura 98: Técnica de
bengala longa -- descer
escadas -- pessoa com
deficiência visual inicia a
descida apoiando a bengala
longa na borda do degrau à
sua frente :::::::::::::::: 109
Figura 99: Técnica de
bengala longa -- escadas
rolantes -- pessoa com
deficiência visual se
aproxima da placa de
metal ::::::::::::::::::::: 111
Figura 100: Técnica de
bengala longa -- escadas
rolantes -- pessoa com
deficiência visual apoia a
mão direita no corrimão e
posiciona-se com a bengala
longa na vertical ::::::::: 111
Figura 101: Técnica de
bengala longa -- escadas
rolantes -- ao final da
escada rolante a pessoa com
deficiência visual eleva a
ponta do pé ::::::::::::::: 111
Figura 102: Técnica de
bengala longa -- escadas
rolantes -- para perceber o
final da escada rolante a
pessoa com deficiência
visual pode ficar com um
pé em cada degrau ::::::::: 112
Figura 103: Técnica de
bengala longa -- travessia
de ruas em áreas
residenciais -- pessoa com
deficiência visual
aguardando para iniciar a
travessia ::::::::::::::::: 117
Figura 104: Técnica de
bengala longa -- travessia
de ruas em áreas
residenciais -- pessoa com
deficiência visual
aguardando termina a
travessia e identifica o
meio-fio :::::::::::::::::: 117
Figura 105: Técnica de
bengala longa -- travessia
de ruas em áreas
residenciais -- pessoa com
deficiência visual realiza
a varredura para subir a
calçada ::::::::::::::::::: 117
Figura 106: Técnica de
bengala longa -- travessia
de ruas com sinais --
pessoa com deficiência
visual aguarda o fechamento
do sinal e realiza a
travessia ::::::::::::::::: 119
Figura 107: Técnica de
bengala longa -- acesso a
elevadores -- pessoa com
deficiência visual
identifica o piso de
alerta, indicando a
entrada do elevador ::::::: 121
Figura 108: Técnica de
bengala longa -- acesso a
elevadores -- pessoa com
deficiência visual
identifica se o elevador
está no andar ::::::::::::: 121
Figura 109: Técnica de
bengala longa --
familiarização de
transportes/automóveis --
pessoa com deficiência
visual localiza a porta do
carro e a abre :::::::::::: 124
Figura 110: Técnica de
bengala longa --
familiarização de
transportes/automóveis --
pessoa com deficiência
visual entra no carro e
fecha a porta ::::::::::::: 124
Figura 111: Técnica de
bengala longa --
familiarização de
transportes/ônibus --
pessoa com deficiência
visual localiza e segura o
corrimão, em seguida
identifica o degrau para
iniciar a subida :::::::::: 127
Figura 112: Contrastes
recomendados para a
instalação do piso tátil em
relação ao piso
adjacente ::::::::::::::::: 133
Figura 113: Mudança de
direção formando ângulo
entre 150° e 180° ::::::: 135
Figura 114: Sinalização
tátil direcional :::::::::: 135
Figura 115: Mapa com as
faixas direcionais :::::::: 136
Figura 116: Mapa com
encontro de faixas
direcionais ::::::::::::::: 136
Figura 117: Símbolo da
deficiência visual :::::::: 139
Figura 118: Símbolo da
baixa visão ::::::::::::::: 140
Figura 119: Símbolo da
audiodescrição :::::::::::: 140
Figura 120: Símbolo do cão
guia :::::::::::::::::::::: 141
Figura 121: Símbolo da
surdocegueira ::::::::::::: 142
Sumário
Segunda Parte
3.9.10 Passagem por
portas :::::::::::::::::::: 105
3.9.11 Subir escadas :::: 105
3.9.12 Descer escadas ::: 108
3.9.13 Escadas
rolantes :::::::::::::::::: 109
3.9.14 Áreas
residenciais :::::::::::::: 113
3.9.15 Solicitando ajuda
ou informação ::::::::::::: 114
3.9.16 Travessia de ruas
em áreas residenciais ::::: 116
3.9.17 Travessia de ruas
com sinais :::::::::::::::: 118
3.9.18 Acesso aos
elevadores :::::::::::::::: 120
3.9.19 Familiarização de
transporte :::::::::::::::: 122
3.9.20 Técnica do
abandono (Drop-Off) ::: 129
3.10 Piso tátil :::::::::: 130
3.10.1 Formas de
utilização do piso tátil
na Orientação e
Mobilidade ::::::::::::::: 137
4. Símbolos de
acessibilidade mais
utilizados na Deficiência
Visual ::::::::::::::::::: 139
Segunda seção :::::::::::::: 149
Orientação e Mobilidade: a
construção de novas
trajetórias ::::::::::::::: 149
Notas ::::::::::::::::::::: 185
<84>
colocar-se de frente para a escada. A partir
disso, fazer o reconhecimento da altura, largura e comprimento dos degraus, bem
como a localização do corrimão com a bengala longa. A mão oposta à que está
segurando o corrimão segura a bengala longa, fazendo a empunhadura do
lápis, apoiando-a no segundo degrau à sua frente, e inicia a subida.
Durante toda a subida, a pessoa com deficiência visual deverá manter
a bengala longa sempre um degrau à sua frente. Quando a bengala longa
não mais encontrar degraus, a pessoa saberá que falta um degrau para
chegar ao topo. No fim da subida e nos patamares, deve-se fazer uma
varredura. Uma outra variação dessa técnica é a utilização da bengala
longa na posição diagonal.
O professor, familiar ou acompanhante deve se posicionar sempre no
degrau abaixo da pessoa com deficiência visual, visando maior
segurança.
<86>
escada rolante a pessoa com deficiência visual eleva a ponta do pé.
Fonte: Acervo pessoal.
OM Importante
Uma variação dessa técnica, na subida de escadas rolantes, é
solicitar que a pessoa com deficiência visual coloque um pé em cada
degrau, assim ela irá perceber que está se aproximando do final, pois
o nível entre os degraus estão se igualando.
<91>
Figura 102. _`[não adaptada._`] Técnica de bengala longa -- escadas
rolantes -- para perceber o final da escada rolante a pessoa com
deficiência visual pode ficar com um pé em cada degrau.
3.9.14 Áreas residenciais
Essa técnica é apresentada a pessoas com deficiência visual em
ambientes externos. Inicialmene, deve haver alguns pontos comerciais
e o mínimo de tráfego possível no local, para que ela possa
compreender as suas características, como: tipo de calçada,
quarteirões e obstáculos como lixeiras, entradas e saídas de
garagens, entre outros. Todas essas características devem ser
informadas e depois experimentadas pela pessoa com deficiência visual.
Com esses elementos e com as informações fornecidas pelas pistas e
pontos de referência, a pessoa com deficiência visual será capaz de
compreender melhor o espaço e assim formar o mapa mental do local.
Para isso, é importante que o percurso seja repetido até que o
ambiente seja compreendido.
É comum iniciar essa vivência utilizando o guia vidente e,
posteriormente, retornar às técnicas de bengala longa.
<92>
3.9.16 Travessia de ruas em
áreas residenciais
Para realizar a travessia de ruas, a pessoa com deficiência visual
se aproxima do meio-fio com a bengala longa em posição de toque, de preferência na
direção da faixa de pedestres. Ao identificar o meio-fio com a
bengala longa,
<93>
deve fazer uma pequena pausa para ouvir o trânsito e estar a uma
distância segura da rua. Antes de iniciar a travessia, verifica a
altura do meio-fio e realiza a varredura a uma distância segura antes
de começar a caminhar. Só deve atravessar quando o som indicar que
não há trânsito de veículos. Ainda assim, a travessia só deve ser
realizada quando a pessoa com deficiência visual se sentir segura e
confiante para fazê-la. Ao chegar à calçada oposta, a pessoa com
deficiência visual deve, novamente, fazer uma pequena varredura antes
de iniciar sua caminhada.
OM Importante
A pessoa com deficiência visual deve se posicionar ao lado esquerdo
de obstáculos como postes, árvores, placas, dentre outros para permitir
que o condutor do veículo a visualize.
3.9.18 Acesso aos elevadores
Inicialmente, a pessoa com deficiência visual deve ser estimulada a
reconhecer os vários tipos de elevadores e suas variações, tanto os
modelos antigos de portas pantográficas como os modelos mais novos. A
pessoa com deficiência visual deve localizar o elevador pelas pistas
que ele oferece, como o som da campainha, o som da porta abrindo, ou
solicitar ajuda. Em seguida, identificar onde está o botão da
chamada, que em geral encontra-se na parede, à direita ou à esquerda
da porta. Caso haja alguém dentro do elevador ou próximo a ele, ela
deve perguntar se o elevador está subindo ou descendo. Se não houver
ascensorista ou outra pessoa no elevador, deve-se fazer uma varredura para
verificar se o elevador se encontra no andar e se há desnível. Ao
entrar, segurar a bengala
<96>
longa na empunhadura de lápis, ficar de frente
para a porta,
mantendo-a junto ao seu corpo, localizar e identificar o botão do
andar desejado e apertar o painel dos botões. Ao sair, ela deve fazer
uma rápida varredura com a bengala longa, dar alguns passos para
frente e, quando perceber que não vai interferir no trânsito de
pedestres, parar, orientar-se e tomar a direção desejada.
<97>
OM Importante
Nos elevadores antigos que possuem portas pantográficas, caso em que
a porta interna é sanfonada, a pessoa com deficiência visual deve ter
mais atenção para que a bengala longa esteja próxima ao corpo,
evitando que ela fique presa nessas aberturas. Como os elevadores são
diferentes, pode haver inúmeras possibilidades de acessibilidade.
Caso não se sinta familiarizado ou orientado, solicite ajuda.
roleta, ônibus articulado, porta de entrada
e saída etc.).
metrô, contudo, em algumas cidades, no
metrô, os agentes auxiliam no embarque e desembarque de passageiros com
deficiência, garantindo a essas pessoas maior segurança.
3.9.20 Técnica do abandono
(Drop-Off)
Na literatura, essa técnica é descrita como uma finalização do
treinamento de OM para verificar se aluno assimilou os conceitos e se
sente confiante para aplicar as técnicas aprendidas ao longo do
programa. Para isso, devem ser analisados alguns critérios quanto ao
desempenho da pessoa com deficiência visual: adequação das técnicas,
segurança, eficiência e o grau de independência.
OM Importante
mais específicas para instalação dos pisos táteis.
A NBR 16537 estabelece critérios e parâmetros técnicos que devem ser
observados na elaboração de projetos e instalações de sinalização tátil em pisos.
<102>
Pisos táteis são faixas em alto-relevo fixadas no chão, caracterizadas por textura
e cor contrastantes em relação ao piso adjacente, destinadas a constituir alerta
ou linha-
-guia e a fornecer informações importantes para locomoção da pessoa
com deficiência visual. Essa sinalização é padronizada e universal, permitindo
que a pessoa com deficiência visual se locomova sozinha, com autonomia e segurança,
facilitando a acessibilidade a locais desconhecidos (ABNT, 2016).
Existem dois tipos de pisos táteis: o de alerta e o direcional. A sinalização
tátil de alerta possibilita a identificação de perigos, informa sobre a existência
de desníveis ou outras situações de risco permanente, mudança de direção
ou opções de percursos. Geralmente são encontrados no início e final de escadas,
elevadores, término de rampas, estações de trem, metrô e paradas de
ônibus. Por outro lado, a sinalização tátil direcional indica a direção a ser seguida,
orienta o sentido de deslocamento e funciona como uma linha guia (ABNT,
2016).
Requisitos gerais para colocação do piso tátil:
a mudança com sinalização tátil de alerta
(Figura 113).
equivalente ao triplo da largura
da sinalização tátil. A área de alerta deve ser posicionada mantendo-se pelo
menos um dos lados em posição ortogonal a uma das faixas direcionais.
3.10.1 Formas de utilização do
piso tátil na Orientação e
Mobilidade
Embora existam normas para colocação dos pisos táteis, observa-se a
dificuldade de instalação desses, pois a padronização no que se refere à largura
das calçadas é relativamente recente. O ideal seria que as calçadas tivessem
espaços adequados para faixa de acesso, faixa livre e faixa de serviço.
As faixas de serviço são as que causam maiores problemas, pois a colocação
de caixas de internet, luz, esgoto, postes, árvores etc., são instaladas aleatoriamente
nas calçadas, podendo confundir o usuário. Isso ocorre devido ao crescimento
urbano desordenado nas cidades.
<106>
Sugerimos que ao utilizar o piso tátil, a pessoa com deficiência
visual caminhe sobre o piso utilizando a técnica de toque,
principalmente em ambientes
externos. Contudo aqueles que não se adaptam a essa orientação, podem se
posicionar lateralmente ao piso tátil utilizando-o como linha guia. Uma outra
variação é para ambientes internos, em que é utilizada a técnica de bengala
longa em diagonal deslizando-a sobre o piso tátil.
4. Símbolos de acessibilidade
mais utilizados na Deficiência
Visual
• Deficiência Visual: O símbolo de pessoas com deficiência visual indica a existência
de recursos, mobiliário e serviços com indicações em braille,
audiodescrição e presença de piso tátil.
_`[Figura 117 "Símbolo da deficiência visual", em que se vê a
silhueta de uma pessoa segurando uma bengala apontando para frente,
tocando o chão._`]
Fonte: ABNT, 2020.
• Baixa Visão: Indica que a pessoa com deficiência visual possui baixa visão, ou
seja, apresenta redução de campo e/ou acuidade visual, após todos os procedimentos
clínicos, cirúrgicos e correção com óculos
comuns, gerando prejuízo
na realização das atividades cotidianas.
<107>
_`[Figura 118 "Símbolo da baixa visão", em que se vê o desenho de um
olho com algumas listras e um traço vertical ao centro._`]
Fonte: ABNT, 2020.
• Audiodescrição: Esse serviço torna a televisão, o vídeo e projeção de filmes de
cinema mais acessíveis para pessoas cegas ou com baixa visão. A descrição
dos elementos visuais é fornecida por um descritor de áudio treinado por meio
do Programa de Áudio Secundário (SAP) de televisores e monitores equipados
com som estéreo.
_`[Figura 119 "Símbolo da audiodescrição", em que se vê, em letras
maiúsculas, as letras
"AD" com três faixas verticais arredondadas._`]
Fonte: ABNT, 2016.
• Cão Guia: A Lei 11.126 de 2005 (BRASIL, 2005) obriga que todos os locais
públicos e privados de uso coletivo aceitem cão-guia como acompanhante de
pessoas com deficiência visual.
_`[Figura 120 "Símbolo do cão guia" em que se vê a silhueta de uma
pessoa e de um cachorro ao lado._`]
Fonte: ABNT, 2009.
<108>
• Surdocegueira: Este símbolo indica pessoas que apresentam deficiência visual
associada à deficiência auditiva em diferentes graus. Elas podem se utilizar de
diferentes formas de comunicação como a Língua de Sinais, do alfabeto manual,
o
Tadoma (forma de comunicação que consiste em fazer leitura labial por meio
do tato), o Sistema Braille, dentre outras. A Língua de Sinais é considerada a
língua natural dos surdos. Nela, a comunicação é construída no espaço por
meio de movimentos das mãos em diferentes modos e pontos de contato no
corpo.
_`[Figura 121 "Símbolo da surdocegueira" em que se vê o desenho da
lateral do rosto de uma pessoa, com uma mão com o dedo indicador
apontando para a orelha, uma seta dessa mão para outra mão que tem o dedo indicador apotnando para o olho._`]
Fonte: ABNT, 2008.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). *NBR 16537:
Acessibilidade -- Sinalização tátil no piso -- Diretrizes para elaboração de
projetos e instalação*. Rio de Janeiro, 2016.
-- B
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. *Programa de
Capacitação de Recursos Humanos
do Ensino Fundamental*: De-
ficiência Visual. v. 3.
Brasília, DF: MEC: SEESP, 2001.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. *Atendimento
educacional especializado para alunos com deficiência visual*. Brasília, DF: MEC:
SEESP, 2007.
BRASIL. Secretaria de Educação Especial. *Subsídios para a Organização e
Funcionamento de serviços de Educação Especial*: Área de deficiência visual.
Brasília, DF: MEC: SEESP, 1995.
-- F
FELIPPE, João Álvaro de Moraes. *Caminhando juntos*: manual das habilidades
básicas de orientação e mobilidade: volume IV. São Paulo: Conselho Brasileiro
de Oftalmologia: Laramara, 2018. (Série Deficiência Visual).
-- I
Instituto Benjamin Constant (IBC). Divisão de Desenvolvimento e Produção de
Material Especializado. *Orientação e Mobilidade*: Rua de mão dupla
-- calçadas,
rua de mão dupla -- canteiro central, ruas transversais -- quarteirões. Rio de
Janeiro: IBC, 2015.
Instituto Benjamin Constant (IBC). *Orientações gerais para o relacionamento
com a
pessoa cega*. Rio de Janeiro: IBC, [20-?]. Disponível em
~,www.ibc.gov.br~, Acesso em: 27 out. 2021.
Segunda Seção(6)
<111>
Orientação e Mobilidade: a
construção de novas trajetórias
Maria da Gloria de Souza
Almeida (1)
Elcy Maria Andrade Mendes (2)
O processo civilizatório da humanidade somente efetivou-se pela natureza
libertária do homem.
Na trajetória evolutiva do ser humano fica patente o espírito indômito que
animava aquele ser em formação.
A exploração de ambientes, a vivência das cavernas, a descoberta do
fogo, a criação de ferramentas de defesa e de instrumento de trabalho, o
desbravamento de territórios inabitáveis, a constatação da supremacia do mais
forte sobre o mais fraco são marcas irrefutáveis da força de um
elemento que não possuía grilhões que o
detivessem ou amarras que o
ancorasse. Seu instinto de sobrevivência fê-lo cruel, mas
impulsionou-o a seguir sempre adiante. Enfrentou
intempéries, defrontou-se com o desconhecido, venceu o inóspito. Matou
e morreu, destruiu e construiu, moveram-no o medo e a coragem.
Ao correr dos tempos, substituiu a ação meramente brutal, a violência,
pelo raciocínio prático. Nascia, aos poucos, o pensamento lógico. Em princípio,
uma urdidura rudimentar cujos fios tênues fortaleceram-se lentamente durante
<112>
a caminhada; caminhada que abria vertentes infindáveis que fundamentaram a
infinitude e complexidade do pensar humano.
Expansionista por essência e por necessidade, tornou-se nômade. Percorreu
distâncias inimagináveis, fundou comunidades, agrupou seres, avançou em
direção à conquista de uma nova ordem: o
posicionamento do homem frente a si
mesmo. Era a prova cabal do
surgimento de um outro agente; agente transformador
que protagonizava o alargamento e a compreensão do universo; agente
mobilizador de estruturas, criador de muitos mundos, inventor de ideias, provocador
de mudanças, incentivador do novo, preservador do passado. Quebrou
velhos paradigmas e formulou ousados preceitos. Com sua índole paradoxal,
apostou, revolucionou, acertou e errou. Entretanto, possibilitou a ascensão do
gênero humano em todas as esferas existentes.
As sociedades emergiram de sua tendência gregária. A construção extraordinária
dos arcabouços do conhecimento, da cultura, das artes e das ciências
provém daquele ser primitivo que lutou para manter-se vivo, que lutou contra
elementos naturais, inimigos visíveis e ocultos. Provém daquele ser embrionário
que desenvolveu condições e competências físicas, que aprendeu a enxergar
além dos
limites de sua visão, ainda estreita e
turva. Todavia, o fator preponderante
dessa evolução longa e espinhosa foi a aquisição da linguagem articulada:
a aquisição da fala. Linguagem e pensamento fundiram-se em uma relação
simbiótica que ofereceu ao homem a faculdade de raciocinar e de
expressar-se
em padrões desejáveis. A fala humanizadora, capacidade única e absoluta, somente
afeta ao homem, transformou-o em um ser pensante, um ser reflexivo.
Portanto, apto a engendrar e a gestar múltiplos ideários que se converteram em
ações e produções concretas e perenes.
Os milênios sucederam-se. Modificaram-se comportamentos e
fomentaram-se novos e diferenciados anseios. O homem continuou e continua a trilhar a
estrada do possível e do impossível, do provável e do improvável, do real e da
fantasia.
O crescimento humano é um direito que não deve se enclausurar apenas
em discursos, normas preestabelecidas ou marcos legais. A sociedade contemporânea
precisa penetrar profundamente no âmago desse direito, despojando-se
do olhar autoritário dos ditames definitivos. O homem nasceu com a vocação
<113>
para ser livre, e de sua liberdade forjou-se sua autonomia. Somos herdeiros dessa
autonomia que exige de nós a preservação da liberdade em qualquer contexto e
sob qualquer alegação. A liberdade é a força motriz que aciona e incrementa o
enfrentamento de duros desafios e a realização de recônditos desejos.
Um questionamento se faz necessário:
Como inserir a Orientação e Mobilidade no bojo de discussões tão amplas
e diversas, sendo esse um assunto demasiadamente específico?
O ponto-chave da questão em pauta, remete-nos ao conceito de "ir e vir",
direito assegurado a todos os cidadãos brasileiros, constante no Artigo 5º, XV da
Constituição Federal de 1988, que trata da liberdade de locomoção no país em
tempo de paz. Este é um direito inalienável que ampara toda e qualquer pessoa,
independentemente das condições que a afetam ou nas quais se encontra, desde
que não firam os pressupostos legais. Contudo, nossa abordagem tem como foco
o direito do indivíduo cego. Ele também, como cidadão, está sob a cobertura da
Lei; porém, analisamos aqui um direito peculiar que atinge esse sujeito: o direito
à liberdade, o direito a uma vida própria sem monitoramentos ou cerceamento
total do homem.
A cegueira, em especial, coloca o indivíduo em uma posição desvantajosa,
espelhando desvalia, que o imaginário da sociedade converte em representações
sociais extre-
mamente precarizadas e pondo
invariavelmente em destaque as
carências ou possíveis déficits, deixando opacas as reais possibilidades ou
potencialidades impensáveis. Aquele indivíduo concretiza a configuração da própria
deficiência; ele é a deficiência. Assim, palavras como incompetência, incapacidade,
inadequação, impropriedade, entre outras tantas, circulam pela existência
desse sujeito desde sempre, conferindo-lhe rótulos negativos que se transformam
em estigmas difíceis de eliminar. A negação recorrente causa prejuízos imprevisíveis
e incalculáveis, decreta o aniquilamento psíquico e emocional.
É preciso estarmos atentos e dispostos a reverter a prática nociva da
exclusão explícita e a atitude perversa da exclusão implícita.
É imprescindível validarmos a ideologia da afirmação, consagrando a pedagogia
dos "sins", abandonando, ainda que tardiamente, a pedagogia danosa
dos "nãos".
<114>
Espanta-nos, sobremaneira, que
uma visão tão diminuta e ultrapassada
ainda prospere de alguma forma em tão diferentes contextos. Todavia,
compreende-se com clareza que esse olhar eivado de obscurantismo
atrela-se ao preconceito.
Podemos ser mais agudos: esse olhar restritivo é elemento estruturante
do preconceito.
A sociedade tem como marco balizador o que chamamos "homem padrão",
aquele sujeito que detém todas as condições ideais, sendo analisado sob a
perspectiva de padrões de normalidade previamente estabelecidos. Ao saírem
desse padrão, aqueles que possuem algum déficit ou privação passam a constituir
diferentes categorias mi-
noritárias que, em geral, veem
seu direito ao crescimento
intelectual, social e humano amesquinhado.
Façamos uma reflexão sobre o que nos diz o filósofo francês Michel Foucault:
"As minorias são objeto
de dominação". O pensamento de Foucault traduz o peso destrutivo das representações sociais que acompanham as pessoas com
deficiência, desde épocas mais remotas.
É importante sinalizar que uma sociedade excludente forma homens débeis,
fracos, que se permitem encapsular nas impermeáveis paredes de sua deficiência.
Por isso, faz-se imperativo que a educação atue com pertinência e rigor
em todos os níveis de ensino, como também em todas as faixas etárias.
O universo da positividade e dos propósitos a serem alcançados precisa
mostrar-se pleno à pessoa com deficiência visual. Desde a infância, valores como
identidade, autoconfiança, autoestima, coragem, senso de liberdade devem ser
apresentados e cultivados criteriosamente. O estabelecimento de objetivos coerentes
e bem definidos leva à busca de conquistas. O conformismo não é compatível
com o êxito. Logo, a pessoa com deficiência visual não pode ficar à margem
de si mesma. A falta de motivação, o mergulho na acomodação e a desvalorização
das pró-
prias qualidades conduzem à inércia e ao fatal alijamento da vida.
Entende-se, pois, que o processo de crescimento global da criança e do jovem,
como a emancipação social e econômica do adulto, dependem de uma ação pedagógica
e psicológica consciente e que esteja em conformidade com as verdadeiras
necessidades de cada indivíduo, seja qual for sua posição ou condições
gerais.
<115>
Voltemos ao foco.
A Orientação e Mobilidade compõe o conjunto de disciplinas que prepara o
aluno com deficiência visual para entender o mundo que o rodeia, apropriandose
dele, tanto quanto possível. Apenas a educação cumpre papel tão relevante.
A criança, o adolescente e o jovem têm seus alicerces plantados na escola.
Seu conhecimento, seu acervo de saberes vários, suas relações sociais e afetivas
são armazenados no decurso do processo educativo.
Outra questão se coloca:
E o jovem e o adulto que perderam a visão fora do período de escolarização?
Esta é uma outra vertente de uma Instituição multifacetada como o Instituto
Benjamin Constant. Agrega-se a outros tipos de alunos atendidos, a
figura do reabilitando. Em mais de três décadas, homens e mulheres abalados pela
cegueira ou por sua iminente chegada, traziam em si a desesperança e um enorme
vazio existencial. A complexidade do problema que se abatia sobre eles era
ex-
traordinária e incompreensível. As perdas sofridas acumulavam-se em diferentes
nichos; cada um guardando em sua natureza as
características de sua
importância, de sua dor e da irreversibilidade da situação vivenciada: família,
profissão, renda, independência.
O programa reabilitacional do Instituto Benjamin Constant procurou, desde
seus primeiros movimentos, oferecer ao reabilitando uma programação de
aulas e atividades que preenchessem suas expec-
tativas e aumentassem seu interesse
pela consecução de uma nova realidade. Esta promoveria um tempo de
reconstrução interna, favorecendo o aparecimento de outras oportunidades que
estruturassem uma vida que exibisse novos perfis.
Mais uma vez, justifica-se uma interrogação:
Como reconstruir uma vida quando se perdeu a liberdade, a independência,
a autonomia?
De novo, o conceito "de ir e vir" sustenta o direito do homem à liberdade
e à procura da realização dos seus anseios, desejos e
premências cotidianas. A
Orientação e Mobilidade torna-se o símbolo do processo reabilitacional de um
indivíduo cego.
<116>
Sabe-se que, para o cego, o espaço quando não faz parte da vivência
diária aproxima-se da ideia do desconhecido aflitivo que assusta e amedronta. O
domínio espacial converte-se, para ele, numa prática quase impossível. Entretanto,
com o desenvolvimento de metodologias, técnicas e estratégias, a Orientação
e Mobilidade passa a trabalhar as percepções, os sentidos remanescentes,
despertando e aprimorando capacidades e competências que habilitam o cego a
readquirir, ainda que de forma especial, uma autonomia suficiente
para lançar-se
novamente a uma vida efetiva. Assim, embora dentro de outros parâmetros,
tenta recolocar-se num mundo que, em muitos momentos, parecia-lhe ser tão
somente um recorte em sua memória.
Eis a imprescindível presença da Orientação e Mobilidade, seja na educação,
seja no processo de reabilitação de pessoas com deficiência visual.
O desespero, o medo, o constrangimento, o desânimo, entre outros sentimentos
altamente negativos, não podem se sobrepor à superação de limites e
ao enfrentamento de impossibilidades. A energia, o encorajamento, a vontade de
viver, ao contrário, entranham-se na prática dessa área de atuação. A Orientação
e Mobilidade é mais que uma disciplina, é muito mais que uma simples atividade.
Ela devolve o indivíduo cego, em particular, à sociedade. Sua reinserção na educação,
no mundo do trabalho, na cultura, no lazer e no esporte só acontece se a
antiga independência, mesmo ganhando novas feições, retornar para ele como
um signo de ressurgimento. O ressurgimento de um novo homem.
A locomoção independente do indivíduo com deficiência visual exige a
presença de profissionais competentes e uma série de cuidados na veiculação
dos exercícios e das práticas executadas, garantindo uma locomoção realmente
autônoma e mais segura.
A Orientação e Mobilidade encarrega-se de exercer junto ao público com
deficiência visual não só o ensino técnico, mas também, um alerta quanto à
imperiosa necessidade de trabalhar-se a força interior que vai fortalecer a aquisição
da autoconfiança por parte do indivíduo cego, surdocego ou mesmo com
baixa visão na utilização da bengala, instrumento que substituíra a
figura do secular acompanhante-guia.
Pode-se dizer que essa locomoção significa a ruptura do isolamento que a
cegueira, na maioria dos casos, impõe àquele indivíduo afetado por ela.
<117>
A história coloca em relevo, desde tempos imemoriais, a figura do cego,
na caminhada evolutiva do homem, sempre contraditória e
envolta em uma
espessa névoa de mitos e de representações díspares. Aquele indivíduo sobrevivia
em meio a crenças e conceitos que o punham em posições que alternavam
a ideia do bem e do mal. Dons divinos contrapunham-se a punições cruéis, a
castigos severos que metaforizavam a própria morte.
A mitologia, a literatura, o teatro, o cinema e a Bíblia Sagrada registram o
vigor e o estranhamento encantatório que a cegueira transmitia ao imaginário da
humanidade de então. Diferentemente das demais deficiências, a cegueira não
demonstrava um impedimento absoluto. Ao longo dos milênios, por meio do
desenvolvimento do intelecto, do incremento do pensamento filosófico, da criação
e abrangência das ciências, despertou-se para o exercício da análise verdadeiramente
crítica e mais profunda dessas questões. O indivíduo cego passou a
ser percebido como um ser pensante, um ser reflexivo, senhor de uma
potencialidade que se alargava e enraizava à medida que esse outro conceito a
seu respeito era apreendido, compreendido e fomentado por oportunidades reais
de crescimento em todas as esferas humanas -- social, educacional, cultural,
artística e laboral.
O recorrente protagonismo de personagens cegos na história da humanidade,
sejam personalidades reais, sejam agentes de ficção, atestam que a cegueira
impõe limites, mas não decreta, cabalmente, impedimentos irreversíveis.
Tomemos dois personagens cegos que ilustrarão nosso assunto -- Isaac e
Tirésias.
O Velho Testamento, no Livro do Êxodo, faz referência ao *cajado* como
instrumento guia, favorecendo a locomoção. Pela primeira vez,
utilizava-se a
ideia do uso daquele objeto para auxiliar o deslocamento no ato de andar de uma
pessoa cega.
Após ter perdido a visão,
Isaac, filho de Abrão, passou a empregar seu
cajado de pastor, que usava no pastoreio de seus rebanhos, limpando caminhos,
afastando pequenos tropeços, apontando direções ao gado na imensidão dos
campos, agora para locomover-se com maior autonomia.
<118>
O primitivo cajado que servia para muitos como elemento de apoio para o
corpo enfraquecido e debilitado, mas também, como uma espécie de ferramenta
de trabalho, muitos milênios mais tarde, em outro estágio da civilização humana
inspiraria a criação da bengala, equipamento de exploração de múltiplos espaços
e ambientes, fator de segurança e, certamente, objeto concreto para um caminhar
independente.
A mitologia grega nos traz a figura de Tirésias, sábio e adivinho.
Encontramos em uma das versões existentes acerca dessa personagem
mítica, o seguinte relato:
Tirésias foi levado à presença de Zeus e de Hera. Ambos o questionaram
a respeito do problema:
Quem sentia mais prazer no ato sexual. O elemento masculino ou o elemento
feminino?
Tirésias, sem titubear, respondeu:
-- O elemento feminino.
Enfurecidos e irredutíveis, os deuses aplicaram em Tirésias, um terrível
castigo: ficaria cego para sempre. Com tudo, Zeus e Hera concederam-lhe o
"dom da premonição", dando-lhe ainda, um bastão *mágico* a fim de que ele o
guiasse pelas trilhas da vida.
Mais uma vez, vemos um instrumento-guia minimizando as dificuldades e
desvalias de um indivíduo privado da visão.
É importante deter-nos sobre como o bastão que passaria a ajudar a Tirésias
foi designado. O adjetivo *mágico* determinava o significado relevante do objeto
doado. Os deuses tiraram-lhe os
olhos, a capacidade de ver; entretanto, a magia
do bastão lhe conferiria a possibilidade de continuar vivendo apesar do infausto
acontecimento. O bastão *mágico* era o anúncio de uma nova realidade existencial.
Chegamos ao século XX. Muitas lutas foram travadas; muitos comportamentos
sofreram mudanças. A visão de mundo do homem foi-se estendendo e
procurando novos rumos. As épocas transcorriam, guardando olhares diversos e
práticas que refletiam esses mesmos olhares. A religião, o pragmatismo, o
cientificismo, entre tantas e diferenciadas tendências e posturas, estabeleceram
<119>
os ditames que norteariam a análise dos sujeitos com deficiência sobre diferentes
ângulos.
Os anos de 1900 vieram carregados de desejos reformistas.
Eram tempos de ebulição; era hora
de fazer-se a revisão da sociedade; era o momento para
deixar de lado velhos modelos, desgastadas condutas. A educação, as artes, a
cultura, o trabalho exigiam o aparecimento de um homem novo que pensasse a
construção de um mundo novo. Porém, a efervescência do século XX não ficou
restrita ao aprimoramento e elevação do espírito humano. O poder instigava os
conflitos sociais e políticos que geraram inquietações, culminando com a
deflagração de duas grandes guerras mundiais, que se desdobraram em confrontos
pontuais anos a fio.
Finda a Primeira Guerra Mundial (1914 -- 1918), viu-se o resultado nefasto
de um confronto entre nações que somente trouxe destruição e problemas
atinentes a todas as guerras: morte, enfermidade, empobrecimento dos povos
mais frágeis, dominação autoritária.
Na ocasião, muitos combatentes ficaram cegos. Assim, soldados franceses,
ingleses e americanos começaram a fazer uso de um bastão para que pudessem
se deslocar com maior segurança e certa independência.
Ao término da Segunda Guerra Mundial (1939 -- 1945), cresceu
exponencialmente o número de soldados que adquiriram cegueira irreversível ou
alguma deficiência visual. A partir da constatação desse fato, muitos estudiosos
dedicaram-se à pesquisa, buscando a melhoria do bastão (bengala), o que favoreceria
enormemente a orientação e mobilidade daqueles homens atingidos e
impactados pela cegueira ou por uma violenta redução da visão.
Entre os inúmeros pesquisadores do assunto, destaca-se o médico oftalmologista
americano e treinador de atletismo para pessoas
com deficiência visual,
o Dr. Richard Hoover, que pertencia ao quadro médico do Hospital Valley Forge
(Estados Unidos). Logo o médico percebeu as deficiências
do bastão empregado
e sua inconveniência. Imediatamente, projetou um outro bastão, agora feito de
metal com formato tubular, com as seguintes medidas:
1,42 m de comprimento;
1,2 cm de diâmetro;
186 g de peso.
<120>
Este instrumento tinha a ponta arredondada. O equipamento visava ao
aprendizado da técnica que se denominou Orientação e Mobilidade.
Hoover entendeu que a bengala com medidas fixas não supriria as necessidades
de todos os indivíduos cegos, já que as pessoas têm peso e altura diferentes.
Deste modo, novamente projetou outros modelos, personalizando-os.
Portanto, a bengala tornou-se mais eficiente.
A técnica programada para a
Orientação e Mobilidade estabelecida por
Hoover, constitui-se em três etapas:
forjamento de homens fortes e decisivos,
já que não há afirmação possível se não houver espíritos livres e personalidades
equilibradas.
O primeiro Curso de Orientação e Mobilidade realizou-se, em nosso país,
por iniciativa da Fundação para o Livro do Cego no Brasil, hoje Fundação Dorina
Nowill com sede em São Paulo. Em 1957, aconteceu o primeiro curso de treinamento
para instrutores de Orientação e Mobilidade.
Em 1959, ofereceu-se o primeiro curso de Orientação e Mobilidade para
professores no Instituto de Reabilitação da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (USP).
A partir das décadas seguintes, os cursos tomaram impulso e avançaram.
O Instituto Benjamin Constant promoveu seu primeiro Curso de Orientação
e Mobilidade no ano de 1983; este patrocinado pelo Centro Nacional de Educação
Especial (CENESP), órgão do Ministério da Educação ao qual o Instituto Benjamin
Constant era subordinado à época. Ministrou o referido curso a professora Celina
Bittencourt de M. Campos, professora das classes de Educação Especial do Município
do Rio de Janeiro, posteriormente docente da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ). Recém chegada da Europa, trazia para o Rio de Janeiro métodos e
técnicas inovadoras para a área da Orientação e Mobilidade.
A partir da formação inicial de três professores -- Lucia Maria Filgueiras da
Silva Monteiro, Paulo Sérgio de Miranda e Sandra Jabour Wagner -- principiava o
atendimento de Orientação e Mobilidade na Instituição. Naquele período, a área
ficava a cargo dos professores de Educação Física, cuja coordenação estava
sob a responsabilidade do professor Antônio João Menescal Conde.
Na década de 1980, o Curso de Capacitação de Professores na Área da
Deficiência Visual havia retornado após algumas reformulações. O Curso de
Orientação e Mobilidade passou a ser oferecido, capacitando professores de todo
<123>
o país. Estavam à frente da docência dos cursos, as professoras Nelza Maria
Gonçalves da Silva e Sandra Jabour.
Em 1984, realizou-se concurso público para o preenchimento do quadro
de professores efetivos. Pela primeira vez, o Instituto Benjamin Constant abria
vaga para a Orientação e Mobilidade. Foi aprovada para o cargo a professora Elcy
Maria Andrade Mendes.
Em 1994, criava-se oficialmente, a Divisão de Reabilitação de Jovens e
Adultos; desde então, incrementou-se a Orientação e Mobilidade, que antes, tivera
um pequeno atendimento no setor denominado Práticas Educativas nos anos
de 1980.
O Programa de Reabilitação crescia e a Orientação e Mobilidade monopolizava
o interesse dos reabilitandos; constatava-se, ano a ano, a importância
dessa disciplina no processo reabilitacional de dezenas de pessoas que vinham
procurar um novo rumo para suas vidas.
No começo, a prioridade no atendimento dessas pessoas era para os indivíduos
matriculados na reabilitação. Os alunos concluintes do Ensino Fundamental,
contudo, eram inseridos nesse atendimento que lhes proporcionaria dar o
passo inicial para sua independência. Era a abertura de novas possibilidades de
crescimento para aqueles adolescentes.
Atualmente, os alunos a partir do 5º ano, já podem frequentar as aulas de
Orientação e Mobilidade, uma vez que a Escola agora possui uma equipe de
professores que atende ao Departamento de
Educação. É uma excelente iniciativa,
posto que, desde cedo, os sentimentos de liberdade e autonomia devem ser
cultivados.
Sobre o tripé liberdade, independência, autonomia assentam-se os postulados
que regem a orientação e mobilidade. Rasgar horizontes, apontar caminhos,
mostrar saídas trazem ao indivíduo com deficiência visual o avivamento de
suas esperanças perante a queda de um percurso construído, via de regra, com
esforço e sacrifício e que agora via perder-se abruptamente sem que tivesse um
menor controle ou ingerência sobre aquele desaparecimento, muitas vezes, inesperado.
O que parecia irremediável, ganha uma sobrevida. O que parecia término
de uma existência útil, transmuda-se em novos tempos.
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Reflitamos com Miguel Torga, escritor português, que nos fala:
"O destino destina e eu faço o resto".
Como nos diz o autor, o destino determina para muitos deficiências, debilidades,
fragilidades e empecilhos. No entanto, a educação e a condução competente
da formação e da reconstrução dessas vidas, modifica o preestabelecido e
impele esses sujeitos à transposição de seus obstáculos.
O atendimento próprio e de fato direcionado às especificidades e necessidades
das pessoas com deficiência visual mobiliza seu íntimo, alenta seu espírito.
A deficiência fora-lhe legada, mas o resto está em suas mãos. O resto é a vida
com todas as suas dificuldades, paradoxos, desafios, belezas, possibilidades,
declínios e ascensão.
Não é precipitado nem ingênuo afirmar que a Orientação e Mobilidade é a
mola propulsora desse salto, que tira a pessoa com deficiência visual do vácuo
para projetá-la a uma vida construtiva.
O homem precisa ser artífice de sua história, condutor do seu destino,
senhor das suas vontades, dono das suas escolhas.
Propiciemos, pois, à pessoa com deficiência visual assenhorear-se de si
mesma, revertendo ela própria os possíveis impedimentos que a imobilizem, os
muitos entraves que a tolhem, os infinitos desejos que lhe são proibidos.
õoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõoõo
Notas
Professora aposentada de
alfabetização e Assessora da Direção-Geral do Instituto
Benjamin Constant.
(2) Graduada em Fonoaudiologia (Universidade Estácio de Sá), Especialista em Psicomotricidade
(Centro Cultural Henry Dunant), Especialista em Orientação e Mobilidade (Instituto Benjamin
Constant). Professora aposentada de Orientação e Mobilidade do Instituto Benjamin Constant e
Ex-Assessora da Direção-Geral do Instituto Benjamin Constant.