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ANIVERSÁRIO
Revista Brasileira para Cegos comemora 80 anos
Imagem de membros da comissão editorial e colaboradores da RBC no Teatro Benjamim Constant, local da realização da cerimônia de aniversário de 80 anos da revista, segurando cartazes com as letras escritas em tinta no formato bastão e em pontos simbolizando a disposição da leitura braille. Os cartazes foram usados na dramatização das fases da RBC.
Foi uma cerimônia repleta de emoção, digna da importância do sistema de leitura e escrita em relevo para a autonomia da pessoa cega, realizada na manhã de hoje (8), no Teatro Benjamin Constant, aberta aos servidores e alunos e, também, transmitida on-line para o público externo.
O coordenador editorial das revistas em braille, ex-aluno e professor Heverton de Souza Bezerra da Silva, abriu os discursos explicando a importância do dia 8 de abril e apresentando a RBC como uma publicação que "educa, informa e diverte, contribuindo na dissiminação e oferta do texto em braille e no crescimento da cidadania consciente de direitos, deveres e possibilidades".
O diretor do DTE, Jefferson Gomes de Moura, destacou o pioneirismo do IBC na impressão braille e ressaltou que "a RBC e a Pontinhos (publicação para o público infantojuvenil) são os únicos periódicos nesse tipo de impressão produzidos no Brasil". O diretor enalteceu o ex-professor José Espínola Veiga, quem criou a RBC como "veículo de comunicação da palavra escrita em braille" e seus sucessores por manterem a excelência da qualidade da revista.
Já o diretor-geral João Ricardo Melo Figueiredo avançou no espírito de vanguarda do IBC e lembrou que a imprensa braille no instituto precedeu a própria impressão em tinta de livros como realidade nacional. "Com audácia entregamos conhecimento e um braille de qualidade em nossas publicações", disse, antes de defender o espaço e o uso do Sistema Braille para uma sociedade democrática, inclusiva e respeitosa.
Os presentes se emocionaram com as palavras e o acróstico do servidor do IBC, João Batista Alvarenga, quando ele narrou a trajetória do pequeno Azevedo, partindo para um país distante, sozinho, de navio... retornando não mais o menino cego e, sim, o jovem professor visionário. Emoção que continuou na fala da assessora de direção Maria da Glória de Souza Almeida, que prestou homenagena aos "jovens" Louis Braille e Jośe Álvares de Azevedo, reverênciou a criação e a difusão do Sistema Braille e resumiu o serviço do IBC/RBC como um "oferecer do voo espetacular da leitura, independente, aos cegos; quem lê ganha o mundo, sempre existirá uma palavra que interesse a alguém".
Um dos momentos mais aplaudidos foi o da apresentação do Grupo Vocal do DTE, formado principalmente pelos integrantes da Divisão de Imprensa Braille. O grupo fez uma dramatização da linha histórica da RBC, apresentando a criação da publicação, o desdobramento do conteúdo infantojuvenil na revista Pontinhos e a forma atual. Depois encerrou a cerimônia com algumas músicas e o tradicional parabéns para você.
Vídeos e depoimentos mostram uma RBC que muda histórias (falas na íntegra ao clicar sobre os nomes)
O documentário sobre a criação da RBC, mostrou o contexto histórico da criação da publicação e prestou também uma homenagem ao seu idealizador e criador, o professor José Espínola Veiga, que lecionou inglês no IBC de 1914 a 1959, sendo reconhecido pelos seus alunos e colegas como um dos servidores mais brilhantes e empreendedores que passaram pela Instituição.
"Ele era talentosíssimo e tinha três verdadeiras obsessões: divulgar o braille, o trabalho realizado pelo Instituto Benjamin Constant e promover a inclusão dos alunos com deficiência visual nas escolas regulares e na sociedade de uma maneira geral. E, na minha opinião, a RBC atende a esses três objetivos", contou o professor aposentado Marcello de Moura Estevão, de 92 anos — um ex-aluno que virou amigo do mestre.
Assim como ele, outros entrevistados do documentário falaram da importância da revista em suas vidas e nas de todos os cegos falantes da língua portuguesa. "A RBC e a Pontinhos, assim como as revistas Poliedro e Rosa dos Ventos [portuguesas], são incentivos para que, diante da informação, as pessoas cegas possam aprender o braille e, caso saibam, para que não o esqueçam", disse o funcionário público aposentado António Nunes, português, morador de Lisboa.
Em Vila Franca da Beira, distrito de Coimbra, a professora aposentada de inglês, alemão e braille Ana Fontes, é outra leitora assídua da RBC há mais de 30 anos. Apesar de ter suas preferências de texto, ela reconhece a necessidade de a revista abarcar uma grande diversidade de temas. "Lembro-me de um artigo que eu vi na revista da Danuza Leão e se chamava "Como se o amor fosse a única maravilha" e de um outro, cujo título era "Saudade é tudo aquilo daquilo que não vivi", que até passei para o computador", lembra.
Além de reconhecer a importância da revista para o uso do braille, a professora Ana Fontes elogiou o cuidado com que o código é disponibilizado nas edições da revista. "Já trabalhei com revisão de livros escolares em braille e admiro bastante o trabalho dos revisores da revista, pois raramente vejo erros nela", completou.
Para a ex-aluna e revisora de braille, Cláudia dos Anjos Vidal, de 56 anos, a revista tem sido uma fiel companheira desde os seus 13 anos, quando foi apresentada à publicação por uma amiga. "Eu fiquei logo apaixonada por ela — uma revista cultural, instrutiva, divertida e informativa", completou.
O documentário encerrou com a fala da professora Maria da Glória de Souza Almeida, que desejou muito sucesso à jovem senhora aniversariante. "O que hoje nós temos como legado da sociedade contemporânea é a informação. Por isso, desejo que a RBC mantenha sua tradição, mas que também nunca se coloque como velha. Que ela seja sempre uma jovem senhora, bonita, que ousa dar saltos de modernidade e se mantenha atual", disse a professora.
A festa da RBC contou também com a participação de admiradores que fizeram questão de prestar suas homenagens à publicação e à equipe responsável por ela. A jornalista e professora Joana Berlamino mora em João Pessoa/PB e sua convivência com a RBC começou na adolescência, por intermédio da revista fez amizades e acha "fundamental o braille físico, lido no toque do papel, isso não tem preço".
Se Joana fez amizades, a mineira Joice Guerra conheceu seu marido pela RBC. "A revista mostrou como o mundo era grande, ampliou horizontes, dessa maneira sou muito grata. O braille é uma questão de identidade, não substituível pela tecnologia", disse Joice, que compôs uma música especialmente para o evento onde ressalta a importância da revista na vida dela.
O Dia Nacional do Sistema Braille
A data de 8 de abril é uma homenagem ao nascimento de José Álvares de Azevedo, primeiro professor de braille do Brasil e idealizador do IBC. Cego, o patrono do IBC foi estudar na França quando ainda tinha 10 anos. Do Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris, Álvares de Azevedo trouxe a tecnologia da leitura e escrita em relevo desenvolvida por Louis Braille e a determinação de fundar uma escola, nos moldes da instituição francesa, para alfabetizar os cegos do Brasil.
O sonho virou realidade e a instituição brasileira completará 168 anos em setembro. Nela foi montada a primeira imprensa braille da América Latina (veja a última modernização) e há 8 décadas a Revista Brasileira para Cegos (RBC) faz parte da materialização desse ideal de disseminação da leitura independente das pessoas cegas. Atualmente, são 3.000 exemplares com tiragem trimestral, distribuída para todo o Brasil e diversos países de língua portuguesa.
Na programação festiva do Dia Nacional do Sistema Braille no IBC, além do evento de aniversário da RBC, promovido pelo Departamento Técnico Especializado (DTE), consta o Seminário Atualidade da Leitura Braille, realizado pelo Departamento de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão (DPPE) e disponível no canal do YouTube da DPP