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Dia do Trabalho
Juntando a garra com o apoio pra vencer
As histórias são variadas. Uns, nasceram cegos ou com baixa visão e chegaram ao Instituto Benjamin Constant ainda crianças, para cursarem a educação básica; outros nasceram, cresceram, aprenderam uma profissão como videntes e, de repente, ficaram cegos ou começaram a perder gradativamente a visão. Todos têm em comum as enormes barreiras físicas e atitudinais que precisam superar para mostrar o potencial que têm para produzir, sustentar suas famílias e contribuir para o desenvolvimento do País.
Pessoas como Marcelo Veloso, de 38 anos, que perdeu a visão aos 14 anos e que, depois de um período em casa, sem saber o que fazer, retomou os estudos no IBC, como aluno interno, em 1999, no 5º ano, onde completou o ensino fundamental. Treze anos depois voltou ao IBC para aprender aquele que seria o ofício que mudaria completamente sua perspectiva profissional: o de massoterapeuta.
“Minha vida é dividida em antes e depois da massoterapia”, conta Marcelo que recentemente foi contratado por um clube de regatas carioca. Além do clube, ele se divide entre seus clientes particulares, que atende em casa, e as parcerias que faz com uma série de empresas para atuar em eventos, mas reconhece o quanto teve que caminhar para sentir que havia conquistado seu lugar entre seus pares na profissão.
"A falta de acessibilidade à informação ainda é muito grande na escola, nas empresas, em todos os lugares, assim como a discriminação e a falta de valorização do profissional que somos. Precisamos fazer um esforço enorme para mostrar que o nosso trabalho é tão bom quanto o de um bom profissional vidente. Isso começa a melhorar, graças ao esforço da gente, à lei da inclusão e também à conscientização de muitos empregadores", completou.
Esta é também a opinião de Bruce Maciel de Souza (foto abaixo), frequentador assíduo dos cursos de capacitação do IBC desde que começou a perder a visão por conta da degeneracão macular quando tinha por volta dos 25 anos de idade. Hoje, com 40 anos, formado em radialismo e com apenas 10% de resíduo visual, Bruce atua como comunicador em programas de rádio e recentemente foi um dos 21 contratados da primeira turma de atendentes formada com pessoas com deficiência de todo o Brasil. Ele acredita que aos poucos a presença das pessoas com deficiência visual no mercado de trabalho vem aumentando, mas que o Brasil ainda tem muito a avançar para que esses profissionais tenham mais oportunidade de mostrar seus potenciais.
“Ainda são poucas vagas para pessoas cegas e com baixa visão e a falta de acessibilidade atrapalha demais a qualificação desse público. Sem recursos tecnológicos, fica muito difícil fazer um mestrado ou doutorado, mas a gente tem que fazer nossa parte para abrir cada vez mais as portas desse mercado. É difícil? Sim! Mas não podemos nos acomodar, preferir ficar em casa recebendo o benefício da LOAS (Lei Orgânica de Assistência Social) do que ir à luta”, completa Bruce.
E é para ajudar trabalhadores como Marcelo e Bruce que desde 2012 o IBC tem um núcleo para dar suporte aos seus reabilitandos — primeiro ele se chamava Núcleo de Capacitação e Empregabilidade (Nucape), mas desde janeiro do ano passado que teve o nome alterado para Núcleo de Apoio à Inclusão no Trabalho (NAIT).
Além de promover cursos, o NAIT atua como mediador entre trabalhadores e empresas, informando as vagas abertas aos profissionais interessados e divulgando os cursos que o IBC oferece aos empregadores em potencial. O Núcleo também elabora e atualiza e encaminha currículos dos profissionais que atende, além de inscrevê-los em concursos e processos seletivos. Ou seja, trata-se de um trabalho de comunicação permanente com o objetivo de dar visibilidade ao talento e potencial dos trabalhadores com deficiência visual, segundo a coordenadora do NAIT, a psicóloga Sônia Gomes.
“O NAIT tem procurado entender a situação e as necessidades de cada cadastrado para pensar em ações que possam auxiliar em alguns requisitos solicitados pelas empresas, especialmente na área de informática. Neste cenário um pouco mais tranquilo em relação à pandemia, o desafio agora é conseguir parcerias com empresas para que possamos romper alguns estereótipos relacionados às pessoas com deficiência visual, conseguir sensibilizar gestores para a abertura de oportunidades e fazer com que nossos cadastrados não percam a esperança de conseguir um trabalho e continuem se atualizando e buscando prosseguir seus estudos, na medida do possível”, concluiu Sônia.
“É difícil, reconheço. Nós, trabalhadores cegos e com baixa visão, matamos um leão por dia para provarmos nosso valor enquanto profissionais e, por isso, reconheço a importância do trabalho do NAIT. No Dia do Trabalho, o sentimento é de gratidão a todos os profissionais que nos ajudaram e ajudam e da Instituição em si. Foi nela que eu aprendi a profissão que mudou minha vida”, concluiu Marcelo.