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ANIVERSÁRIO
Dia Nacional do Braille
O ano era 1844; a cidade, o Rio de Janeiro, sede do Império Brasileiro; o menino tinha 10 anos, era cego e se chamava José Álvares de Azevedo (nada a ver com Álvares de Azevedo — o Manuel — poeta, escritor e contista da segunda geração romântica brasileira, três anos mais jovem que o protagonista desta história). Filho de família rica e que valorizava a educação, foi enviado para a França com o objetivo de educar-se já que, na época, educação no Brasil era um luxo para poucos — videntes ou não. Porém, para as pessoas cegas havia a barreira da comunicação visual e a falta absoluta de educadores capazes de superá-la e ensinar o básico: ler e escrever.
No Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris, o menino foi apresentado ao sistema de leitura e escrita desenvolvido por um adolescente cego genial, de apenas 15 anos, chamado Louis Braille. Ser alfabetizado nesse sistema despertou em José a vontade de ensiná-lo ao maior número de cegos brasileiros que lhe fosse possível. E mais: o fez sonhar com uma escola no Brasil nos mesmos moldes do instituto francês, para ajudar seus compatriotas até então condenados a uma vida de eterna dependência da misericórdia alheia.
O entusiasmo juvenil concretizou-se em ações concretas, assim que voltou ao Brasil em 1850, com 16 anos. Atuou em duas frentes: a primeira foi política — empreendeu uma verdadeira campanha em prol da educação das pessoas cegas, procurando a adesão de pessoas influentes da corte e escrevendo artigos para jornais; a segunda foi como professor. Nessa frente ele foi tão eficiente, que impressionou o pai de sua primeira aluna — Adèle Sigaud, filha de José Francisco Xavier Sigaud, médico do Imperador D. Pedro II. Com o auxílio do Barão do Rio Bonito, Xavier Sigaud conseguiu uma audiência de José com o soberano. O resto faz parte da história da educação especializada brasileira. Quatro anos depois estava fundado o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, que 37 anos depois ganharia uma sede espetacular, na Praia da Saudade (hoje Praia Vermelha), com o nome que tem até hoje — Instituto Benjamin Constant.
Braille & Tecnologia: as interfaces da acessibilidade
A semente plantada por José Álvares de Azevedo vem sendo regada por gerações de homens e mulheres, cegos e videntes que, como ele, se dedicam ao ensino do braille, com todas as dificuldades que cercam qualquer atividade que dependa de qualificação profissional, recursos e de pessoas que se proponham a realizar uma tarefa desafiadora. Uma dessas dificuldades é o apelo fácil das tecnologias de acessibilidade que, apesar de maravilhosas e inclusivas, não conseguem substituir o suporte de ensino-aprendizagem que só um sistema de leitura e escrita pode dar. Este é um dos assuntos que serão abordados na live promovida pela Coordenação das Revistas em Braille do Instituto Benjamin Constant.
A live será conduzida pela professora Geni Abreu, coordenadora de Revisão Braille do IBC. Ela conversará com a ex-aluna do IBC e revisora da Divisão de Imprensa Braille, Natália Medeiros. Apesar da pouca idade, com apenas 28 anos, Natália é uma conhecedora profunda do sistema braille e coloca sua expertise à serviço da Divisão de Imprensa Braille, onde trabalha como revisora de textos das publicações do Instituto. Mesmo sendo usuária avançada das tecnologias de acessibilidade, ela sabe que nenhuma delas substitui o braille como instrumento de aprendizado, produção de conhecimento e bom uso da língua portuguesa.
O evento será às 18 horas, pelo canal das Revistas Pontinhos e RBC no Instagram.
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