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Pela primeira vez no Maranhão, indígenas recebem curso para mulheres para formação da brigada indígena feminina comunitária
EPIs completos adquiridos com esforços das parcerias para equipar as brigadas comunitárias. Foto: Bruno Kelly / USAID Brasil
Brasília (02/08/2024) - Entre os dias 22 e 26 de julho, a brigada comunitária Pycohp Cwyj Catiji Gavião, das mulheres indígenas Gavião, recebeu o Curso de Formação de Brigada de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, realizado pelo Prevfogo/Ibama no escopo do Acordo de Cooperação Técnica com a Funai, que abordou temas relacionados à prevenção e resposta aos incêndios florestais.
Um dos destaques da formação foi o dia do laboratório, em que as brigadistas tiveram a oportunidade de colocar em prática todos os aprendizados do curso, como técnicas de prevenção e conceitos de manejo integrado do fogo, como a queima prescrita, manuseio de ferramentas utilizadas nas atividades, além de ações de educação ambiental e proteção territorial no enfrentamento dos incêndios florestais por conta da crise climática.
Elas ainda receberam a visita de duas brigadistas do povo Xerente, que trocaram experiências e compartilharam histórias sobre suas trajetórias desde a formação da Brigada Comunitária das Mulheres Xerente, em 2021.
O objetivo é que as brigadas comunitárias formadas por mulheres indígenas atuem no apoio às brigadas contratadas pelo Prevfogo/Ibama. "Hoje a brigada comunitária tem uma função muito importante, tanto para agir na resposta a um incêndio florestal, quanto para prevenção, trabalhando muito na educação ambiental, trazendo ali o cacique, as pessoas que não sabem do assunto para perto dos trabalhos que a brigada vêm realizando dentro dos territórios", explica Bruno Eduardo, brigadista do Prevfogo/Ibama, do povo Wapichana, de Roraima, e um dos instrutores indígenas do curso.
Além disso, o curso é uma importante ferramenta de inclusão e empoderamento nas aldeias, mostrando que as mulheres podem ocupar qualquer espaço na gestão e proteção territorial. "O meu sonho daqui pra frente depois desse curso é trazer mais mulheres, para mostrar que nós temos essa capacidade de chegar aonde a gente quer. A gente tem reconhecimento do nosso território, a gente conhece as pessoas, a gente tem aquele contato com as famílias, aprende as nossas falas ancestrais e isso é super importante para nós como mulheres", conta Daiana Gavião, uma das brigadistas que participou do curso.
Nesta semana, entre os dias 29 de julho e 2 de agosto, mais 29 mulheres da brigada comunitária feminina do Povo Krikati, também no Maranhão, estão sendo formadas na Terra Indígena Krikati, na aldeia São José com o mesmo curso que está acontecendo no local.
Histórico
As brigadas comunitárias indígenas femininas começaram a ser formadas em diferentes períodos. A primeira a concluir o curso de formação voltado exclusivamente às mulheres, em 2021, foi a brigada feminina Xerente leia mais aqui. Em seguida, foram as Apinajé saiba aqui.
Segundo o Prevfogo/Ibama, 28% das mulheres brigadistas contratadas em 2024 no país são indígenas. O objetivo é aumentar este número e as brigadas comunitárias e voluntárias são um caminho para que as mulheres indígenas alcancem posições nas brigadas contratadas. Segundo Elisa Sette, chefe substituta da Divisão de Prevenção do Prevfogo, “um dos critérios para que as brigadas comunitárias e voluntárias recebam os cursos é ter os EPIs e garantia de que elas irão continuar atuando, principalmente na prevenção e previamente acordado com a Funai”. Ela destaca a importância das parcerias para garantir a segurança para atuação das brigadas.
Para Edilena Krikati, coordenadora regional da Funai no Maranhão, as mulheres indígenas destes territórios receberem cursos como este são a materialização de um sonho, que elas vêm lutando por muito tempo. "O principal intuito das brigadas, além de ajudar nessa questão da proteção territorial como um todo, da conservação dos territórios, dessa conscientização coletiva dos nossos povos, das nossas comunidades, a brigada também traz o empoderamento para a mulher, enquanto liderança, enquanto mulher, um espaço a mais a ser ocupado na nossa organização social e também uma demonstração para a sociedade do quanto nós, mulheres, podemos avançar."
Tanto as brigadas voluntárias quanto as comunitárias são muito importantes para contribuir nessa soma de esforços que, muitas vezes, uma só instituição não consegue enfrentar diante do desafio da crise climática e da dimensão continental do Brasil. Só no Prevfogo, ano passado, eram 99 brigadas, com pouco mais de 2 mil brigadistas. Essas parcerias com as comunidades são importantes pois elas irão proteger seus próprios territórios e ajudar a protegê-los dos incêndios, cada vez mais severos, no Brasil como um todo. "A gente tem percebido ao longo desses anos na cooperação, nas frentes de formação de mulheres, que elas têm desenvolvido atividades de prevenção que são significativas para a proteção dos territórios e atuado também em outras frentes, que também são tão valiosas quanto, como a restauração e a recuperação de áreas degradadas", acrescenta Helaine Matos, especialista em manejo integrado do Fogo no Serviço Florestal dos Estados Unidos, Programa Brasil.
Prevenção é a chave
Além das dimensões físicas do Brasil, onde muitas vezes é difícil fazer chegar a pronta resposta a um incêndio que poderia ser controlado, precocemente, por uma brigada comunitária ou voluntária até a chegada da brigada contratada. O país se encontra num contexto de agravamento da crise climática com secas cada vez mais severas, com o aumento da temperatura , o que torna os incêndios cada vez mais intensos e de grandes proporções. Segundo a Divisão de Monitoramento e Combate do Prevfogo, os dados já mostram a redução das chuvas no Estado do Maranhão com relação ao primeiro semestre do ano passado. Este ano, nos meses de abril a junho, houve uma redução significativa dos volumes de chuva no sul e em áreas a oeste e leste do Estado. Os totais ficaram abaixo do normal para o período. Ao mesmo tempo, as temperaturas registradas estão acima da média em todos os estados. Para o trimestre de agosto a outubro, a previsão indica chuvas abaixo do normal na maior parte do Maranhão sendo que no sul do estado a situação pode ser ainda mais crítica.Os cursos de formação de brigadas comunitárias são fruto da articulação interinstitucional envolvendo as mulheres indígenas Gavião e Krikati, as brigadas comunitárias das mulheres Xerente e Apinajé, do Tocantins, além da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da Coapima (Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão), do Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS) com apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID Brasil), e do World Wide Fund for Nature (WWF-Brasil).
O apoio do WWF-Brasil viabilizou a compra de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e outros materiais necessários para equipar as brigadistas indígenas comunitárias em formação, fundamentais para que as atividades de manejo integrado do fogo sejam realizadas em segurança. Treinamentos, cursos e apoio em longo prazo junto às brigadas fortalecem a autonomia e a capacidade das comunidades indígenas na prevenção e resposta aos incêndios florestais, promovendo a inclusão e o protagonismo das mulheres indígenas na gestão e proteção de seus territórios.
"Sem o nosso território não há saúde, não há educação, não há vida. Então a gente precisa manter ele em pé, a nossa floresta, nossa cultura. Então esse trabalho precisa estar sempre ativo, para que a gente possa proteger o território, que é o nosso lugar, a nossa terra", completa Maria Helena Gavião, vice-coordenadora da Coapima.
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