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Ibama participa do 1º Encontro de Mulheres Indígenas Brigadistas Florestais, no Maranhão
- Foto: Marizilda Cruppe
Brasília (29/11/2023) - O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) esteve presente no 1º Encontro de Mulheres Indígenas Brigadistas Florestais, realizado entre os dia 7 e 9 de novembro, no Maranhão. Cerca de 50 mulheres brigadistas de quatro povos indígenas — Apinajé, Gavião, Krikati e Xerente — se reuniram durante três dias na aldeia São José, na Terra Indígena Krikati (MA).
Este foi o primeiro encontro para fortalecer a troca de experiências sobre manejo integrado do fogo, educação ambiental e iniciativas de prevenção a incêndios no país, principalmente na Amazônia Legal.O Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo/Ibama) conta com 2.110 brigadistas em todo o país. Deste total, 80 são mulheres, sendo 24 indígenas.
"A atuação das mulheres tem rompido o paradigma de que elas não possuem capacidade física e emocional para combater incêndios florestais e tem demonstrado que o trabalho conjunto com os homens, com a soma das habilidades que destacam-se em cada um, tem trazido benefícios para a brigada como unidade. A participação da mulher indígena contribui para o empoderamento feminino nessas comunidades e à percepção de que as indígenas podem atuar em outras atividades além daquelas historicamente desenvolvidas", destaca Paula Mochel, chefe da Divisão de Prevenção (Dpea/Prevfogo).
De acordo com Paula, o interesse das mulheres pelo trabalho como brigadista florestal tem aumentado. O Ibama/Prevfogo promove a realização de turmas de formação exclusivamente femininas.
Neste ano de 2023, o Ibama formou 80 brigadistas femininas, além de quatro brigadas voluntárias femininas, totalizando 100 voluntárias. "Há a percepção, por ambos os gêneros, de que as mulheres possuem capacidade física e emocional para atuar em conjunto com os homens nas diferentes ações que envolvem o manejo integrado do fogo", acrescenta Paula Mochel.O Ibama/Prevfogo vai continuar a incentivar a participação das mulheres, tanto nas brigadas do Programa Brigadas Federais - que são contratadas todos os anos no período crítico de incêndios florestais -, quanto nas brigadas voluntárias e comunitárias formadas pelo corpo de instrutores próprios. O objetivo é alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres, em alinhamento ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ONU) - que visa acabar com todas as formas de discriminação contra as mulheres, assegurando igualdade e oportunidades em todos os âmbitos sociais.
"Nós tínhamos 42 mulheres na formação da brigada voluntária. Para não deixar nenhuma de fora, nos organizamos em três frentes: a do sistema agroflorestal, da educação ambiental e do combate aos incêndios. Assim todas podem somar forças nesta luta", conta Cida Apinajé, uma das líderes da brigada voluntária Apinajé.
O encontro também conectou as mulheres umas às outras, mostrando que elas não estão sozinhas neste sonho. "Eu via as Xerente na internet contando sobre a brigada delas. Isso nos inspirou. Eu era coordenadora da Associação das Mulheres Indígenas do Maranhão (Amima) e abracei a causa. Esse encontro de mulheres é um avanço nesta luta para somar aos homens, trabalharmos de igual para igual. Estamos trabalhando cada vez mais para fortalecer a luta das mulheres indígenas", relata Maria Helena Gavião, vice-coordenadora da Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (Coapima).A relevância deste evento se dá no contexto da emergência climática e da importância da manutenção da vegetação nativa. Contudo, no universo das brigadas florestais indígenas, assim como em outros tipos de brigadas florestais, mulheres indígenas ainda enfrentam desafios para inclusão de gênero nas estratégias do manejo integrado do fogo.
"E foi difícil porque muitas mulheres tiveram que enfrentar os maridos, por eles não entenderem muitas vezes que é importante ir mostrar o trabalho e conversar com outras mulheres, como começamos a fazer neste encontro", diz Maria Helena Gavião. A proposta é tornar o encontro anual e expandi-lo para agregar outros povos indígenas e grupos de mulheres comunitárias tradicionais, como quilombolas e extrativistas. "A gente não quer parar por aqui, queremos espalhar para outras terras indígenas", finaliza Maria Helena.
De acordo com o Ibama/Prevfogo, existem em atividade 45 brigadas indígenas nas 505 terras indígenas do território nacional.
Conexões inspiradoras
Coletividade, parceria, troca de experiências e mulheres inspiradoras estiveram no foco das rodas de conversa. Durante o encerramento, as brigadas de cada povo indígena fizeram um planejamento de ações para 2024.
Foram incluídas desde propostas de formação e capacitação, construção de viveiros até a criação de material didático na língua de cada povo. “As mulheres têm um trabalho de prevenção e de educação ambiental. Quando vamos às escolas falar para as crianças sobre nossa rotina e como devemos cuidar do meio ambiente elas ficam motivadas. Ao contar as histórias, já ouvi de algumas que elas querem ser como nós quando crescerem. Isso é emocionante”, explica Ana Shelley Xerente, brigadista indígena contratada pelo Prevfogo, que começou na brigada voluntária feminina.
Rose Krikati, a mais jovem da brigada, com 18 anos, lembra que desde os 14 anos começou a se envolver nas reuniões. Ela conta que o trabalho de prevenção e de educação ambiental está fazendo com que os animais e os frutos - que não havia mais na aldeia - começassem a aparecer novamente. "Eu quero lutar pelo meu povo, pelos povos indígenas do Brasil. Nós mulheres brigadistas voluntárias nos sentimos fortes, inspiradas, com um olhar amplo, para garantir o futuro das outras gerações também. É um orgulho para nós estarmos ocupando um lugar onde queremos estar".Também estiveram presentes mulheres brigadistas representantes de instituições como o Ibama/Prevfogo e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). "A gente vê claramente que a prevenção de incêndios é cada vez mais fundamental e eficaz do que agir só quando os incêndios já estão acontecendo. As mulheres podem somar muito ao trabalho das brigadas oficiais trabalhando nestas frentes", reforça Paula Mochel.
Um encontro como esse começa a ser organizado muitos meses antes de ele acontecer de fato, por meio de alianças, parcerias, que apoiam em trilhas de aprendizagem, treinamentos e capacitações de todas as mulheres envolvidas. O Fundo Casa Socioambiental, por exemplo, conta com editais de apoio a brigadas voluntárias, sendo a das Apinajé uma das selecionadas em 2022.
O Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS), programa do Brasil, com apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), tem trabalhado a longo prazo nas formações das brigadas junto ao Ibama/Prevfogo e Funai, como os treinamentos das Brigadas Xerente e Apinajé.Jayleen Vera, coordenadora geral do USFS no Brasil, destaca o evento como um marco importante na luta destas mulheres e na proteção dos territórios: "Ouvimos exemplos excelentes de resultados de redução do impacto dos incêndios florestais, de engajamento das comunidades. Essas mulheres indígenas estão trazendo um novo olhar que conecta as anciãs, os anciãos, as crianças, as escolas em esforços para trazer para o chão o manejo integrado do fogo. Então o nosso papel como instituição parceira é impulsionar ainda mais isso”.
O 1º Encontro de Mulheres Indígenas Brigadistas Florestais foi realizado pelos Grupos de Mulheres Indígenas Brigadistas Apinajé, Awkê/Xerente, Gavião e Krikati, Amima, Coapima, Prevfogo/Ibama, Funai, USFS, com apoio da Usaid. Conta também com a parceria do Fundo Casa Socioambiental.
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