Notícias
Artigo analisa crescimento e desafios das unidades de Ciências Comportamentais aplicadas a políticas públicas em todo o mundo
Figura com "Distribuição de órgãos de políticas públicas comportamentais em todo o mundo", elaborada por Faisal Naru
Nos últimos anos, as Ciências Comportamentais têm ganhado cada vez mais espaço entre governantes, incorporando nas políticas públicas novas formas de compreender o comportamento humano. O crescimento do campo das chamadas “Políticas Públicas Comportamentais” (Behavioral Public Policy – BPP) está sendo acelerado: em 2018, contavam-se 201 organizações voltadas para políticas públicas comportamentais; em 2024, o número passou para 631 em todo o mundo. Nesses mesmos seis anos, de 47 países que utilizavam a abordagem comportamental para melhor adequação das políticas públicas, hoje já são 68 países.
É o que apresenta o levantamento realizado por Faisal Naru, especialista em políticas públicas comportamentais da instituição britânica Think Test Do. No artigo Behavioral public policy bodies: New developments & lessons, disponível na íntegra aqui, Naru traz breve histórico das primeiras organizações BPP, surgidas no final dos anos 2000 nos Estados Unidos e Europa. Elas foram especialmente motivadas pela emergente credibilidade do campo, trazidas pelos estudos de dois ganhadores do Prêmio Nobel: Daniel Kahneman (2002) e Richard Thaler (2017). Juntam-se a eles outros prestigiosos líderes da área, como Cass Sunstein, Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer.
Seguindo a tendência mundial, o Brasil lançou em 2023 a pioneira unidade de Ciências Comportamentais do Governo Federal, a CINCO, vinculada à Diretoria de Inovação do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. E não apenas o Brasil. Naru ressalta o impressionante aumento dessas organizações no sul global: de 32 unidades em 2018 para 126 em 2024, em países da América Latina, Ásia, Oriente Médio e África.
Alguns destaques do artigo indicam uma tendência crescente e o potencial das unidades em auxiliar governos a resolver problemas complexos de forma eficaz sob a lente das Ciências Comportamentais:
- Acelerada expansão global: desde 2018, o número de unidades de Ciências Comportamentais aplicadas a políticas públicas no mundo cresceu de 201 para 631, ou seja, um aumento de 214% em todos os continentes;
- Crescimento no sul global: em países do sul global, o aumento de unidades foi particularmente expressivo, passando de 32, em 2018, para 126, em 2024. No Brasil, o número subiu de duas para sete unidades, incluindo a CINCO;
- Variedade de áreas de políticas públicas: saúde é a área mais trabalhada pelas unidades, seguida de políticas sociais (com problemas complexos como violência, por exemplo) e mudanças climáticas (veja gráfico abaixo).
Faisal mostra que, ainda que o interesse no uso de Ciências Comportamentais em políticas públicas tenha crescido nos últimos anos, há importantes desafios. Entre eles, estabelecer expectativas claras sobre os impactos e limites das Ciências Comportamentais, superar a distância entre a pesquisa e a aplicação prática nas políticas públicas, e até mesmo assegurar a sua sustentabilidade. Além da necessidade de criação de ecossistemas de apoio com a colaboração de especialistas internos e externos, a fim de maximizar o impacto e garantir a continuidade dos projetos.