Dinheiro traz felicidade?
Dinheiro traz felicidade?
Conheça os estudos de Kahneman sobre o tema e saiba mais sobre o Paradoxo de Easterling
Mas e aí, dinheiro traz felicidade? Depende. Segundo Kahneman, dinheiro não compra a experiência da felicidade, mas a falta de dinheiro traz sofrimento. A integrante da CINCONECTE, Elizabeth Krauter, fez um resumo para nos ajudar a entender:
Pesquisa realizada por Daniel Kahneman e Angus Deaton (Prêmio Nobel de Economia em 2015), publicada em 2010, mostra que existe uma relação entre nível de felicidade/bem-estar e renda. Segundo essa pesquisa, a felicidade de um americano médio aumenta significativamente com o aumento da renda, até que atinja o nível de renda anual de cerca de 75 mil dólares. Acima desse patamar, o aumento da renda não aumenta a sensação de felicidade/bem-estar.
A pesquisa foi rebatida por Matthew Killingsworth. Ele publicou um artigo em 2021, mostrando que a felicidade média aumenta consistentemente com a renda.
Para resolver o impasse, Kahneman juntou-se a Killingsworth e Barbara Mellers. Eles reanalisaram os dados coletados nos Estados Unidos em 2010 e 2021 e chegaram à conclusão de que pessoas felizes se sentem ainda melhores conforme ganham mais dinheiro; e entre pessoas infelizes, o bem-estar para de aumentar quando um certo nível de renda é alcançado.
Paradoxo de Easterling
Richard Easterlin (1974) estudou dados de autodeclaração de medida de felicidade e percebeu que, dentro de um país, pessoas mais ricas tendem a ser mais felizes do que pessoas mais pobres, mas, ao comparar diferentes países, aqueles com maior renda per capita não são necessariamente mais felizes do que os países com menor renda per capita. Além disso, ao longo do tempo, o aumento da renda per capita em um país não resulta em um aumento correspondente na felicidade média de sua população.
A partir destas conclusões, muitas reflexões a respeito do tema podem ser desenvolvidas e, claro, há um amplo debate, que está longe de terminar. Adriana Sbicca, integrante da CINCONECTE, lista algumas implicações que já apareceram nos estudos:
- A satisfação é relativa. Desse modo, a felicidade parece estar mais ligada à posição relativa de um indivíduo na distribuição de renda do que ao nível absoluto de renda. Isso significa que as pessoas se comparam aos outros ao seu redor, o que influencia seu sentimento de bem-estar;
- As pessoas tendem a se habituar a novos níveis de renda e consumo, um fenômeno chamado de habituação. Isto diminui o impacto positivo de aumentos de renda ao longo do tempo. Uma vez que necessidades básicas são atendidas, os aumentos adicionais de renda têm efeitos cada vez menores na felicidade;
- Há fatores não econômicos fortemente relacionados ao bem-estar. Saúde, relacionamentos sociais, segurança e liberdade pessoal podem ter um impacto maior na felicidade do que a renda, especialmente em níveis mais altos de renda. Desta forma, políticas públicas focadas apenas no crescimento econômico podem não levar a aumentos substanciais no bem-estar da população;
- Altos níveis de desigualdade de renda dentro de um país podem afetar negativamente a felicidade, mesmo que a renda média esteja aumentando. A percepção de injustiça e a polarização social podem contrabalançar os benefícios de um crescimento econômico;
- O paradoxo sugere a necessidade de políticas que vão além do crescimento econômico, incorporando elementos de bem-estar social, saúde mental, e equilíbrio entre vida pessoal e profissional para promover o bem-estar geral;
- A avaliação do progresso de uma sociedade pode exigir indicadores que vão além do PIB per capita, incorporando medidas de bem-estar subjetivo, saúde, educação e qualidade ambiental.
Referências:
EASTERLIN, R. “Does Economic Growth Improve the Human Lot? Some Empirical Evidence”. Published in: Nations and Households in Economic Growth: Essays in Honor of Moses Abramovitz (1974): pp. 89-125. Disponível em: https://mpra.ub.uni-muenchen.de/111773/ MPRA Paper No. 111773
EASTERLIN, R.; Angelescu, L.; Switek, M.; Sawangfa, O.; Zweig, J. “The Happiness-Income Paradox Revisited” IZA Institute of Labor Economics, IZA Discussion Paper No. 5799, 2011. Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1872747
KAHNEMAN, D.; DEATON, A. (2010) High income improves evaluation of life but not emotional well-being. Psychological and Cognitive Sciences, v. 107, n. 3, p. 16489-16493.
KILLINGSWORTH, M. A. (2021) Experienced well-being rises with income, even above $75,000 per year. Psychological and Cognitive Sciences, v. 118, n. 4, e2016976118. Disponível em: https://doi.org/10.1073/pnas.2016976118
KILLINGSWORTH, M. A.; KAHNEMAN, D.; MELLENS, B. (2023) Income and emotional well-being: a conflict resolved. Psychological and Cognitive Sciences, v. 120, n. 1, e2208661120. Disponível em: https://doi.org/10.1073/pnas.2208661120